Archive for Junho, 2017

Bacchianos em ação

28 de Junho de 2017

Esse neologismo faz alusão ao Deus do vinho e ao mesmo tempo uma homenagem a um grande amigo e maestro do encontro. Num agradável almoço onde fui convidado, pudemos desfrutar de belos vinhos numa turma bem animada. O menu foi baseado em frutos do mar escoltados por grandes brancos, sobretudo franceses.

bacchi louis roederer e margaux

elegância e refinamento de ambos

Na recepção dos convivas, Louis Roederer Brut Premier em Magnum dava o tom da festa. Um champagne com as três cepas clássicas maturado pelo menos três anos sur lies, o mesmo período exigido para os raros millésimes. Champagne de padrão alemão, preciso em todos os detalhes.

bacchi menu chef rouge

menu afinado com os vinhos

O grande branco do Chateau Margaux em Magnum, Pavillon Blanc 2006, foi um show à parte. Que classe! que delicadeza de vinho! um Sauvignon Blanc fermentado em barrica à moda bourguignonne, com muita elegância, fina textura, e longa persistência.

bacchi puligny chassagne e leroy

flight extremamente didático

Iniciando pela Borgonha, as diferenças claras entre um Puligny-Montrachet e um Chassagne-Montrachet. O primeiro, mais leve, mais gracioso, bem de acordo com um terreno mais pedregoso. Já o segundo, mais encorpado, mais denso, refletindo um terroir mais argiloso. Para completar, um Chassagne Montrachet comunal da Maison Leroy, numa classificação hierárquica inferior aos dois primeiros Premier Cru.

É bom enfatizar as diferenças dos vinhos Leroy. A chamada Maison Leroy trabalha como “Négociant”, comprando uvas ou vinhos recém-vinificados para educa-los em seus domínios. Já o chamado Domaine Leroy são os vinhos “mise en bouteille au domaine”, ou seja, vinhos de alta costura. Daí a razão deste Chassagne-Montrachet em questão não possuir uma guarda tão longa. Tratava-se de um vinho cansado que já passou por seu apogeu.

bacchi criots ermitage chapoutier e guigal

 ponto alto do almoço

Continuando com os Borgonhas, este Criots-Batard-Montrachet no centro da foto, trata-se do mais raro entre a família Montrachet. São apenas 1,57 hectares de vinhas para todos os produtores. Este Henri Boillot provado esbanjou delicadeza, classe, mas com muita profundidade, e seu característico toque cítrico. Acompanhou muito bem a vieira gratinada em bechamel, foto abaixo.

bacchi vieira gratinada bechamel

 delicadeza entre vinho e prato

Quanto aos dois Ermitages, cada qual brilhou em seu estilo próprio. O Guigal Ex-voto safra 2010, um vinho perfeito, 100 pontos Parker. As vinhas muito antigas (entre 50 e 90 anos) com rendimentos muito baixos, geram vinhos elegantes e concentrados. Apesar de 30 meses trabalhado em barricas novas, não se sente o impacto das mesmas. Pelo contrário, a fruta é exuberante com toques de funcho e anis. Ainda jovem e muito prazeroso, tem pernas para muitos anos em adega. Ficou muito bem com o prato de polvo e arroz negro. Os sabores um tanto exóticos de ambos casaram perfeitamente. As uvas são Marssane (90%) e Roussanne (10%).

No segundo Ermitage safra 1999, uma seleção parcelar do Chapoutier chamada “De ´L´Orée” com vinhas entre 60 e 70 anos (inteiramente Marssane), o vinho não tem um trabalho de barrica tão intenso. Mesmo assim, seus aromas já de vinho envelhecido, mostram um lado resinoso, lembrando favo de mel e algo floral. Denso e longo em boca.

bacchi corton charlemagne tondonia e dom perignon

um espanhol no meio da França

Encerrando o almoço, o trio acima manteve o alto nível. Para acompanhar este lindo camarão com a sopa de frutos do mar (foto abaixo), nada menos que o Corton-Charlemagne Jacques Prieur safra 2008. Um Grand Cru que alia elegância e personalidade como poucos. Já delicioso e longo, mas podendo alçar outros voos.

bacchi camarão e sopa do mar

prato de rara delicadeza

O branco espanhol Viña Tondonia Gran Reserva safra 1994 por incrível que pareça, ainda jovem, cor clara e brilhante. Sua elaboração requer precisão e paciência, pois o mesmo é fermentado em barricas de carvalho americano e posteriormente, sofre diversas trasfegas para outras barricas, se oxigenando e se clarificando de forma natural por cerca de 10 anos (este foi engarrafado em 2005). Com seus sabores marcantes, acompanhou bem uma seleção de queijos franceses, mostrando toda sua versatilidade.

chef rouge assiette fromage

finalizando à francesa “comme il faut”.

Ao final, brindando um aniversariante da confraria com Dom Pérignon safra 2004, uma cuvée de luxo de grande prestigio, ficando cerca de oito anos sur lies antes do dégorgement. Ainda jovem, apesar de seus 13 anos, seus aromas e textura cremosa são envolventes, encerrando com fecho de ouro o encontro.

Obrigado a todos pela oportunidade! abraços,

 

Proibido para menores de 50 anos

24 de Junho de 2017

Nosso querido confrade Ivan entende bem deste tema. Brincadeiras à parte, vamos falar de vinhos envelhecidos e execrarmos mais uma vez aquela velha máxima: “quanto mais velho, melhor”. Pouco vinhos no mundo têm esta capacidade de envelhecer e melhorar com o tempo durante anos a fio. E aqui, estou falando de décadas. Certamente, os grandes Bordeaux costumam entram em cena. E se existem frases verdadeiras sobres vinhos antigos, a mais importante é seguramente esta: “não existem grandes safras, e sim grandes garrafas”.

dois monumentos da Borgonha

Antes de continuarmos o tema, é preciso fazer um parêntese imenso sobre os vinhos brancos de entrada no jantar. Duas feras acima de qualquer suspeita. Vinhos de grande exclusividade e prestígio. Estamos falando de Montrachet DRC e Domaine d´Auvenay da impecável Madame Leroy, conforme foto acima.

A julgar simplesmente pela bela safra de 2009 na Borgonha, não seria motivo suficiente para enfatizar a excelência deste Domaine d´Auvenay Puligny-Montrachet Les Folatières Premier Cru. Apenas 900 garrafas elaboradas nesta safra (vide foto da direita). Isso sim é exclusividade!. O vinho estava tão maravilhoso, a ponto de deixar meio sem jeito o Montrachet DRC safra 2011, o que não é pouca coisa. Peitar um vinho deste quilate e pô-lo no bolso, não é para qualquer um. Os aromas e sua textura em boca são inacreditáveis. Sua leve opacidade na taça, nos permite supor a quase inexistente manipulação em seu engarrafamento. Realmente, uma preciosidade. Obrigado Super Mário!

chef rouge la mission 1953

vinho e prato em perfeita sintonia

Voltando aos velhinhos, o La Mission 1953 estava fantástico, sobretudo nos aromas. Como diria o grande sommelier italiano Enrico Bernardo, campeão mundial com apenas 27 anos, esse vinho lembrava a atmosfera de adegas úmidas escavadas na rocha. Seus aromas terciários plenamente desenvolvidos, mostram até onde esses bordaleses podem chegar. Sua elegância e sutileza o aproximou muito de seu rival Haut-Brion. A combinação com a polenta trufada e foie gras foi um escândalo. Maravilhoso!

chef rouge la mission 59 e 55

Duas Magnum: duzentos pontos em jogo

Outro grande destaque foi o La Mission 1959, um dos nota 100 de Parker, em grande forma. Em boca, perfeito, taninos abundantes e muito finos. Já está delicioso com seus aromas de tabaco e chocolate, mas ainda em quinta marcha, buscando novos horizontes. É mais um 1959 histórico. A combinação com o Confit de Pato e Maça Assada com Especiarias foi incrível, mostrando sintonia na riqueza de sabores de ambos.

chef rouge confit pato maça assada

confit de pato para taninos possantes

Já o La Mission 55, o grande vinho desta safra em Bordeaux, também um nota 100 inconteste, não estava numa noite feliz. Foi aberta inicialmente uma Magnum, e depois uma standard (750 ml). Em nenhuma delas mostrou verdadeiramente seu potencial. A Magnum, um vinho um pouco cansado, sem o brilho habitual. A standard melhor, mas ainda assim não totalmente perfeita. O histórico dessas garrafas é sempre um mistério …

chef rouge costeletas vitelo e cepes

costeletas de vitela e cèpes

Outro ponto alto do encontro, foram os pratos de acompanhamento desses velhinhos no restaurante Chef Rouge. Além de bem executados, seus sabores estavam sintonizados com as sutilezas desses caldos etéreos. Senão, vejamos: polenta com trufas e foie gras, costeletas de vitela com cogumelos frescos e confit de pato com maçã delicadamente assada. A foto acima mostra esses cogumelos gigantes e frescos, equivalentes aos funghi porcini. Com a maioria de nossos “velhinhos” fico muito interessante.

chef rouge pontet canet 1929

A cor deste 1929 impressiona na taça

A partir da foto acima, começam os vinhos mais polêmicos e problemáticos. Além do histórico incerto dessas garrafas muito antigas, temos o problema da falsificação. Para complicar a questão, o gosto pessoal de cada um entra em jogo, conflitando opiniões. Para alguns, determinado vinho pode estar maravilhoso, enquanto que para outros, o mesmo vinho pode estar em decadência. A linha tênue entre evolução plena de um vinho e sua fase decadente e oxidativa produz inexoravelmente opiniões contraditórias.

O vinho acima por exemplo, Pontet Canet 1929 em Magnum, impressiona pela cor. De fato, o vinho ainda tem vida, estrutura, mas sem muita complexidade aromática. Levando-se em conta a idade, foi pessoalmente uma experiência incrível. 90 pontos Parker.

chef rouge latour 26 beychevelle 45

dupla de muita História

Só o fato de provar safras que transmitem tempos que não voltam mais, já é um privilégio por si só. O Beychevelle 1945 talvez seja o vinho mais polêmico com notas muito discrepantes. Parker chega a dar 95 pontos, enquanto Wine Spectator não passa de 82 pontos. Aqui, a felicidade de encontrar uma grande garrafa é fundamental. Pessoalmente, na garrafa degustada, percebemos a potência e concentração do glorioso ano da vitória, mas senti que este vinho já teve melhores dias.

Latour 1926, Parker fornece 93 pontos com a ressalva de se deparar com uma boa garrafa. Novamente, opinião pessoal, por se tratar de um Latour, o senhor do Médoc, esperava um pouco mais de vigor, um pouco mais de imponência. Nesses velhinhos, é impressionante como os aromas terciários de tabaco, chocolate e minerais se evidenciam. O problema maior realmente é a boca. Muitas vezes eles perdem um pouco o equilíbrio, evidenciando ora uma acidez mais aguda, ora um tanino mais rugoso.

chef rouge latour 26 e margaux 1900

o imortal Margaux 1900

Já tive a felicidade de prova-lo em plena forma, reiterando a imortalidade deste grandioso Margaux. Infelizmente, não foi o caso da garrafa acima. Partindo de uma falsificação grosseira de rolha, o vinho estava irreconhecível. Melhor nem perdermos tempo com um líquido mentiroso como este.

chef rouge yquem 90 e queijos

a combinação clássica

Nada como adoçar a boca com um belo Yquem 1990, ainda com o vigor de seus vinte e poucos anos. 99 pontos Parker, será com certeza um velhinho muito saudável. A combinação com queijos como Comté, Reblochon, Port Salut, entre outros, dispensa comentários, fechando “comme il faut” uma refeição à francesa.

chef rouge bordeaux envelhecidos

a turma toda com alguns direto para a UTI

Fechando o semestre em alto estilo, mais uma vez o agradecimento pela companhia de todos nesta experiência maravilhosa através do tempo. Só mesmo os grandes vinhos são capazes de registrar tempos sem internet, tempos de mais gentilezas, tempos de guerras estúpidas, e o próprio vinho que essencialmente em sua simplicidade é motivo de prazer e comunhão, sem especulações, distorções, e valores que atualmente o afasta da pessoas. Boas férias a todos!

De vez em quando a gente vai pro céu …

10 de Junho de 2017

A morte é uma viagem sem volta, mas para dar uma olhadinha no céu e voltar, vale a pena. Um dos atalhos mais seguros nesta vereda são os grandes Bordeaux. E neste almoço de comemoração de um dos confrades, as passagens para o céu estavam reservadas. Nas boas vindas ao paraíso, que tal um Dom Pérignon 1971 Oenothèque degorjado em 2006! Fora da nomenclatura atual, trata-se de um P3 (terceira plenitude), dentro do conceito da casa de manter por longo tempo o vinho em contato com as leveduras. Para atingir o nível máximo, somente as melhores partidas de cada ano têm estrutura e folego para tal fim.

o pulo do gato: 35 anos sur lies

E este P3 estava divino. Não há adega no mundo que conserve tão bem um champagne como a proteção natural das leveduras na garrafa (contato sur lies). Além de conferir complexidade e textura inigualáveis, as borbulhas se mantêm vivas, presentes, e ultra delicadas. Uma maravilha de sabor mesclando leves toques amanteigados, cítricos de toda sorte e algo como pêssegos confitados. É como estar nas nuvens.

gero haut brion 89 double magnum

o paraíso existe!

Para começar a brincadeira, foi aberta uma Double Magnum de Haut Brion 1989, 100 pontos indiscutíveis, que permeou todo o almoço. Sabe aquele vinho que ainda não está pronto, que ainda vai durar por décadas, mas que mesmo assim já é maravilhoso, este é o Haut Brion 89, prazer em conhece-lo. Pensem em aromas complexos, taninos ultra finos, profundidade, equilíbrio, e persistência, notáveis. Realmente, excepcional!

briga de gente grande

Para um primeiro confronto, duas taças lado a lado: Latour 1988 e Margaux 1990. O primeiro, não está entre os grandes Latours, mas é um Latour. Isso por si só, já o credencia a um vinho brilhante. Ainda novinho e uma montanha de taninos a serem lapidados por longos anos em adega. A estrutura de um Latour faz dele o senhor do Médoc. Já o Margaux 1990 foi o infanticídio do almoço. Praticamente um feto, tímido, tentou se soltar aos poucos, mas ainda sem pernas para caminhar sozinho. Digamos assim, um monstrinho engarrafado. Contudo, não tenham dúvidas, será um dos grandes Margaux da história. Para quem não tem paciência, decanta-lo por pelo menos duas horas.

gero risoto de codorna

em sintonia com os bordeaux

Fazendo uma pausa com os vinhos, o delicioso almoço onde desfilaram vários pratos, o da foto acima, risoto de codornas com o próprio molho, foi o que mais harmonizou com os caldos bordaleses, sobretudo os mais delicados e de aromas terciários.

Já em outra Dimensão …

Agora totalmente no paraíso, chega a Santíssima Trindade: Haut Brion 1959, Margaux 1947, e o rei Petrus 1947. Para tudo! não se pontua, não se compara, só se aprecia. É neste estágio, que poucos vinhos se diferenciam dos demais, mesmo entre os grandes. A cor do Margaux 47 é simplesmente inacreditável, conforme foto abaixo. A imagem não precisa de palavras.

gero margaux 1947

um grande Bordeaux não mostra a idade

Novamente o Haut Brion em cena, e com a mesma consistência, elegância e classe. Que Bordeaux maravilhoso! onde o tempo só faz muda-lo de aparência com a pátina da idade. Um dos maiores da safra 1959, por sinal, meu ano.

como é bom envelhecer!

Passando a régua, Petrus 1947 com engarrafamento na Bélgica. Sim, naquela época uma parte do Petrus era engarrafada na Bélgica, onde as barricas eram exportadas. O “mis en bouteille au Chateau” não era tão rígido. Até mesmo os Cognacs, muitos deles eram mandados em barricas para envelhecer no porto de Londres, por exemplo. Engarrafamentos à parte, estava divino, muito longe daqueles Petrus fechados, que relutam em amadurecer. Este completamente desnudo, mostrando tudo que um vinho como esse é capaz de proporcionar. Ultra macio, equilibradíssimo, com tudo no lugar. Seus aromas terciários remetiam a uma floresta de cogumelos. Finalmente, um Petrus no ponto de ser tomado.

gero latour 82

O Senhor do Médoc

Saindo um pouco do céu, mas ainda no paraíso, mais um nota 100 entra em cena para fazer par com o Haut Brion 89, Chateau Latour 1982, uma legenda de vinho. Com muito fôlego pela frente, já se mostra extremamente prazeroso com toda aquela imponência que lhe é peculiar. Notas de couro fino, tabaco, o clássico cassis, e um mineral estupendo. Foi muito didática a comparação dessas duas comunas (Pauillac e Pessac-Léognan) em termos de terroir, sobretudo por questões de solo e de blend. Onde a participação da Merlot no Haut Brion é mais enfática, e em contrapartida a participação da Cabernet Sauvignon, imperativa no Latour, percebemos claramente a maior robustez deste emblemático Pauillac. A preferência aqui é antes de mais nada, pessoal. Dois monumentos da margem esquerda.

gero bas armagnac 1959

taças: a tradicional e a técnica

Após muito papo, sobremesa e cafezinhos, a festa tem que continuar. E agora, já fora da mesa. O grande sommelier do grupo, mestre Beato, nos presenteou com um Bas Armagnac da safra 1959, engarrafado em 1987. O Domaine Boingnères é um dos mais reputados nesta apelação. Aliás, Bas-Armagnac é o melhor terroir da região, moldando as aguardentes mais finas e delicadas. O longo tempo de permanência em barricas de carvalho diluiu completamente o excesso de álcool inicial, sem necessidade de retificação com água. É a chamada parte dos anjos (part des anges), onde a evaporação natural nas adegas faz perder cerca de meio grau alcoólico por ano. Não havia melhor bebida para encerrarmos mais esta orgia.

gero partagas lusitanias gran reserva

aqui se separa os homens dos meninos

Os Puros evidentemente, escoltaram devidamente este néctar, o qual foi lentamente sorvido. Um dos Havanas em destaque, foto acima,  foi o Partagas Lusitanias Gran Reserva. De grande fortaleza e persistência, seus tabaco é envelhecido por pelo menos cinco anos. Esse em questão, um Double Corona, é da safra 2007.

O que mais dizer senão agradecer a todos, pela companhia, energia positiva, e grande generosidade dos confrades. Parabéns Moreira! Vida longa!

Grand Cru Tasting 2017

8 de Junho de 2017

Mais um grande evento proporcionado pela importadora Grand Cru na belíssima Casa da Fazenda, no Morumbi. Muita coisa pra provar e como sempre, não deu tempo para tudo. De todo modo, seguem abaixo alguns vinhos pinçados sob vários critérios; qualidade evidentemente, preços interessantes, exotismo, dentre outros.

Borbulhas

Cave Geisse como sempre, dando o tom da festa. Que espumante bem feito, enchendo de orgulho os brasileiros. Informações precisas nos contra rótulos tais como: safra, data do dégorgement, e açúcar residual, normalmente com 6g/l, bem abaixo dos limites legislativos. Dependendo da complexidade e do seu bolso, as opções são elaboradas de 12 em 12 meses sur lies. A de 48 meses sur lies provada em Magnum, Cuvée Sofia, mostra um equilíbrio e complexidade ímpares.

grand cru tasting 2017 geisse cuvee sofia magnum

um espumante nacional a ser batido

Entre Proseccos, Cavas, e Franciacorta, fica o destaque para o Brolese Extra Brut Rosé da Tenuta Villa Crespia em Franciacorta. Muito fresco, aromático, de estilo leve, tratando-se de um rosé. Prevalência de Pinot Nero no corte juntamente com Chardonnay. 30 meses sur lies confere a esta cuvée a necessária complexidade sem nenhuma interferência de barrica.

grand cru tasting 2017 brolese rose franciacorta

Pinot Nero e Chardonnay

Por fim, os belos champagnes Billecart-Salmon. De estilo elegante e muito frescor, seu rosé é um dos clássicos neste tipo de champagne. Destaque também para seu vintage 2006, mostrando complexidade e textura cremosa. Enquanto este rosé pode ser grande parceiro com sushi de atum, o vintage 2006 pode escoltar aves ou lagostas em molhos suavemente cremosos de cogumelos.

grand cru tasting 2017 billercar salmon vintage 2006 e rose

a diversidade em champagne

Brancos

Vários estilos, regiões e uvas. Começando pelos mais frescos e verticais, vamos aos dois da foto abaixo, em seus respectivos terroirs. O Rias Baixas Albariño, mais leve, bom frescor e textura agradável,  quebrando um pouco aquela acidez aguda. Já o Pioneer Block da vinícola Saint Clair, provem de um dos setores chamado Arthur, setor 24. A exuberância de fruta tropical aliada ao grande frescor, faz deste branco um exemplo típico de Sauvignon Blanc moderno da sub-região de Marlborough, nordeste da Ilha Sul neozelandesa.

grand cru tasting 2017 rias baixas laxasgrand cru tasting 2017 sauvignon pionner block 2013

intensidades crescentes

Agora dois Chardonnays com frescor, boa textura e preços razoáveis, conforme foto abaixo. O da esquerda, da linha Max Reserva da Errazuriz, mostra um bom balanço entre fruta e madeira, além de frescor muito agradável. Já o da direita, um Chardonnay argentino de Valle de Uco, mostrando muita fruta e bela acidez. Textura um pouco mais delgada que o anterior, mas mantendo frescor em destaque. Preços, 129 e 89 reais, respectivamente.

chardonnays equilibrados

Fechando os brancos, o vinho abaixo vem do Douro com uvas locais: Viosinho, Rabigato, Códega e Gouveio. O vinho é fermentado e amadurecido em barricas francesas por nove meses com bâtonnage, aos moldes dos brancos da Borgonha. Branco de corpo, estrutura, fruta bem integrada com a barrica, textura densa, e longa persistência. Vinho para estar à mesa, e não para bebericar.

grand cru tasting 2017 van zellers branco 2014

branco gastronômico

Tintos

Começando com os tintos, logo de cara, Casanova di Neri. Que Brunello di Montalcino! profundo, equilibrado, complexo, e longo em boca. Mesmo seu Rosso, normalmente uma espécie de segundo vinho, partindo de parreiras mais jovens, bate muito Brunello por aí. Em resumo, se você vai gastar algum dinheiro com Brunellos, o caminho é este tendo o Rosso como bela alternativa. Realmente, um porto seguro.

grand cru tasting 2017 casanova di neri

altamente confiáveis

Nessa mesma linha de raciocínio, Bodegas Mauro nos mostra que denominação de origem por si só não quer dizer muita coisa. Um Vino de la Tierra digno das melhores mesas. Apesar de sair levemente da área demarcada de Ribera del Duero, está na famosa rota da “milla de oro”, trecho de aproximadamente 15 quilômetros onde se concentram as principais bodegas da região. Sempre muito equilibrado, sedoso, taninos finos, e longa persistência aromática. Vinho para ganhar degustações às cegas com figurões.

grand cru tasting 2017 bodegas mauro

o grande enólogo Mariano Garcia (doutor Vega-Sicilia)

Agora abaixo, dois estilos bem diferentes, mas igualmente interessantes de tinto. O da esquerda, um Cabernet Franc da Valle de Uco sem madeira em solo calcário. Expressão vibrante de fruta bem delineada, muito equilibrado, e com forte caráter mineral. Foge um pouco do perfil desta cepa no Loire, mas tem muita personalidade. Já o da direita, um Pinot Noir autentico de Novo Mundo, porém muito bem feito. Fruta exuberante com um suporte de acidez bem interessante. A madeira bem colocada apresenta somente 35% de barricas francesas novas. Com vinhedos bem localizados e solos apropriados à uva, é uma linha da Saint Clair (Pioneer Block), vinícola neozelandesa, que privilegia o terroir.

frescor e maciez em harmonia

Da Itália, duas expressões distintas entre sul e norte. O tinto da esquerda trata-se de um Nero d´Avola siciliano com uvas passificadas no pé, resultando num vinho rico em fruta, corpo, e maciez. Mesmo assim, mantem um bom frescor, num final marcante e equilibrado. Por 99 reais, vale a pena prova-lo. No tinto da direita, um clássico Barolo. Sem grande complexidade, mas com tudo no lugar, é bastante acessível para sua idade diante da habitual austeridade desses vinhos. Taninos afáveis e fruta bem presente. Por 269 reais para um Riserva, é um bom início para quem vai se aventurar nesta denominação cheia de meandros.

norte e sul da Itália com vinhos acessíveis

tintos doces: estilos bem diferentes

Na foto acima, enquanto o Porto Vintage à esquerda da bela safra 2011 esbanja força, estrutura e uma montanha de taninos, vislumbrando longa guarda, o tinto da direita em estilo colheita tardia, está muito mais pronto para ser apreciado. Sua doçura é encantadora com um frescor até certo ponto surpreendente. Ideal para queijos densos e curados, assim como frutas secas e passificadas como tâmaras, por exemplo. Voltando ao Porto, para consumi-lo neste momento, é imperativo pelo menos duas horas de decantação. Novamente, a diferença marcante e justificada nos preços: 149 reais para o Primitivo Dolce Naturale, e 699 reais para o Porto Vintage Churchill´s.

grand cru tasting 2017 grappa e bas armagnac

tudo vem da uva

Passando a régua, dois estupendos destilados (foto acima), já pensando nos Cohibas, Partagas e Bolívar, Puros de grande fortaleza. Primeiro, uma Grappa Riserva da exclusivíssima Tenuta Ornellaia, um dos cortes bordaleses mais prestigiados na elite dos grandes tintos. Cuidadosamente destilada, esta bebida passa ao menos três anos em barricas francesas da propriedade. Altamente recomendada sobretudo para o terço final de um Puro, seus aromas de fruta em caroço explodem na boca. Grande força e persistência aromática.

Seu par na foto, mostra um belo Armagnac envelhecido da melhor porção de seu terroir, Bas-Armagnac. O envelhecimento em toneis por 20 anos indica que a bebida mais jovem deste blend tem a data indicada. Macio, profundo e muito persistente. Digno de Puros como Montecristo nº2, Partagas Lusitanias ou Cohiba Behike.

Enfim, um breve relato dos muitos vinhos apresentados no evento, tentando abranger gostos e bolsos diferentes. Agradecimentos à importadora Grand Cru pelo convite, numa organização acolhedora e bem focada.

Pauillac x Pessac-Léognan

5 de Junho de 2017

Neste artigo de número 700, vamos falar de um assunto extremamente prazeroso no meu ponto de vista, vinhos de Bordeaux. O título acima já diz tudo, um embate entre essas duas comunas clássicas de margem esquerda, de estilos bem diferentes. Para isso, nada melhor que colocar duas taças lado a lado, de vinhos de mesmo quilate, de mesmo padrão de qualidade, e principalmente, de safras qualitativamente equivalentes.

lynch bages 1995

76% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot, 7% Cabernet Franc, 2% Petit Verdot

15 meses em barricas francesas (60% novas)

Pauillac

Chateau Lynch-Bages 1995, também chamado covardemente como “Mouton dos pobres”. Na hierarquia desta badalada comuna que tem nada menos que três dos cinco primeiros de Bordeaux, segundo a classificação de 1855 (Lafite, Mouton e Latour), Lynch-Bages ocupa lugar de destaque num segundo ou terceiro escalão. Safras como 1989, praticamente perfeita, tem pontuações altíssimas e ainda com muito vigor para ser desfrutada.

Nesta safra especificamente de 95, o vinho obteve 89 pontos Parker. Tinto de corpo médio a bom, estrutura tânica relativamente discreta para um padrão Lynch-Bages, embora com taninos presentes e de alta qualidade. Os aromas de cassis, cedro, e um toque de grafite (mineral), são marcantes e bastante típicos. Muito bem equilibrado e de persistência aromática relativamente boa porém, sem grandes emoções. Concordo plenamente com Parker quanto à pontuação, a despeito de muitos marinheiros de primeira viagem poderem se emocionar e pontuá-lo indevidamente.

domaine chevalier 2004

53% Cabernet Sauvignon, 35% Merlot, 6% Cabernet Franc, 6% Petit Verdot

16 a 18 meses em barricas francesas (um terço novas)

Pessac-Léognan

Comuna nos subúrbios da cidade de Bordeaux, tem como tesouros os magníficos Chateaux Haut-Brion e La Mission. Num patamar inferior e de equivalência relativa à sua respectiva comuna se comparado ao vinho anterior, Domaine de Chevalier prima muito mais pelos seus ótimos brancos, partindo de uma opinião bem pessoal. Contudo, a safra 2004 com seus 13 anos, encontra-se num bom momento para ser desfrutada, salientando que ainda tem um bom platô de evolução.

Comparando as taças lado a lado, notamos de cara a comprovação das cores, levando em conta a diferença de tempo nas safras e as características de cada comuna. Enquanto o Pessac-Léognan apresenta uma cor de intensidade média com conotações de borda tendendo a um leve atijolado, o Pauillac mostra uma cor um pouco mais acentuada e menos evoluída. A diferença de idade entre ambos são de nove anos. Isso mostra claramente que os Pauillacs são vinhos mais longevos, demoram mais em sua evolução, e apresentam uma estrutura tânica bem mais firme. 

Aromaticamente, as diferenças e as respectivas tipicidades continuam a confirmar a teoria. Pessac-Léognan muito mais aberto, mais abordável, mostrando seus toques elegantes de notas animais (couro, estrabaria), e de ervas finas, além de um frutado vigoroso. Já o Pauillac, mais sisudo, mais austero, mostrando toda a aristocracia da comuna. Parker confere 90 pontos para este 2004, Domaine de Chevalier.

Reforçando as diferenças de terroir entre as comunas, observamos que a porcentagem de Cabernet Sauvignon no corte de Pauillac é sensivelmente mais alta, ressaltando a tão propalada austeridade. Em contrapartida, a maior participação da Merlot no corte de Pessac-Léognan, reforça o caráter de precocidade do vinho. A maior proporção de argila e areia nestes solos de Graves, favorece o plantio e amadurecimento da Merlot.

O polêmico Parker pode ter todas as ressalvas quando julga por exemplo, vinhos da Borgonha, do sul da França, da Espanha, e outras regiões que não são propriamente sua praia. Agora, uma pessoa que provou exaustivamente todos os grandes chateaux de Bordeaux nas principais safras do século XX, tem competência de sobra para pontua-los sem bairrismos. Suas notas são extremamente seguras e consistentes.

Taninos, os vilões à mesa

Análises e comparações à parte dos vinhos acima degustados sem interferência da comida, vamos agora à mesa para observarmos o desempenho de ambos. O prato era uma carne de panela num caldo de longo cozimento acompanhado de batatas ao forno com azeite e alecrim. Domaine de Chevalier saiu na frente, mostrando corpo adequado ao prato, acidez na medida certa, taninos brandos e razoavelmente resolvidos. Enfim, um vinho mais afável aos sabores e simplicidade do prato. Já o Pauillac, não desceu de seu pedestal. Um tinto aristocrático,  cerimonial, e principalmente com uma carga tânica dissonante com o prato.

queijo saint paulin

Em seguida, tivemos um queijo Saint-Paulin bem fresco, macio, e de aromas bem delicados. É um dos queijos clássicos no acompanhamento de Bordeaux jovens e frutados. Novamente, Domaine de Chevalier tomou conta da cena. Seus taninos brandos aliados a uma boa acidez, deram o frescor e suavidade exigidas pelo queijo. Muitas vezes em enogastronomia, vinhos mais simples adequam-se melhor em várias situações, são mais ecléticos.

rondelli de salmão defumado

A entrada

Antes dos bordaleses, tivemos uma entrada de salmão levemente defumado, cream cheese, e espinafre picadinho, tudo enroladinho numa espécie de rondelli, conforme foto acima. É um prato de textura densa e ao mesmo tempo, de sabor relativamente delicado.

gerovassiliou sauvignon blanc 2005

A harmonização ficou por conta do Domaine Gerovassiliou Sauvignon Blanc grego estilo fumé, foto acima. O vinho foi fermentado e amadurecido em barricas de carvalho francês. Sua textura mais rica e seu lado fumé foram os pontos relevantes na harmonização. Epanomi, é uma microrregião bem ao norte da Grécia. Importadora Mistral (www.mistral.com.br).


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