Archive for the ‘Argentina’ Category
15 de Fevereiro de 2020
Quando pensamos numa região francesa com tamanha variedade de vinhos, estilos e solos, além da extensão do rio Loire em todo seu percurso, percebemos melhor o conceito de terroir e sua interação com clima, solos e uvas.

panorama geral da região
O Loire tem aproximadamente 57 mil hectares de vinhas com cerca de 50 apelações de vinhos. Seu percurso ronda perto de 800 quilômetros de extensão. Suas quatro cepas e quatro vinhos principais são pela ordem: Cabernet Franc, Chenin Blanc, Melon de Bourgogne (Muscadet), e Sauvignon Blanc. Por estas características seus melhores vinhos são brancos (41% à base de Chenin Blanc, um pouco de Muscadet e Sauvignon Blanc), tintos e rosés (43% à base de Cabernet Franc), e 14% de espumantes (localmente chamado de Fines Bulles).
De toda a produção, os franceses ficam com 79% (253 milhões de garrafas) e a exportação fica com 21% (67 milhões de garrafas), provando que os franceses entendem de vinhos de estilos variados e são muito gastronômicos. Os outros países não entenderam totalmente a questão, tendo muito a fazer em termos de exportação, sobretudo em países de terceiro mundo.

Clima Atlântico sendo rechaçado ao longo do continente
Na região atlântica do Muscadet a infuência marinha é muito grande. À medida que vamos caminhando para Angers e Saumur, esta influência vai diminuindo com maior impacto do clima continental. Aqui estão sobretudo as apelações Muscadet, Savennières (Chenin seco) e os famosos Coteaux du Layon, englobando Quarts de Chaume e Bonnezeaux.

A geologia comandando o terroir
Neste contexto, temos total infuência do maciço armoricano (massif armoricain), uma das mais antigas geologias com rochas ígneas do tipo granito, mica, e gneiss. Gera vinhos delgados e de muita boa acidez como o Muscadet. Em relação à Chenin Blanc, cepa do médio Loire, sob a ação do xisto (rocha metamórfica), gera Chenin Blanc seco de incrível acidez e mineralidade como o Savennières. Já os doces Coteaux du Lyon com incrível acidez gera vinhos profundos e equilibrados. Os Quarts de Chaume e Bonnezeaux são vinhos intensos e profundos, segundo padrões do Loire.
Em contrapartida a região de Saumur e sobretudo Tours estão amplamente dominados pelo calcário da bacia parisiense (massif parisien), uma bacia sedimentar. Os vinhos têm muito boa acidez, mas são sutis e delicados. É o caso dos tintos à base de Cabernet Franc, e os Chenins sob a denominação Vouvray.
É facil fazer a experiência de um quarts de chaume com um vouvray moelleux. Os dois são Chenin Blanc, mas um de xisto, outro de calcário. O Quarts de Chaume vai parecer mais intenso e robusto, enquanto o Vouvray vai parecer mais delicado e elegante, embora com ótima acidez. Apesar da aparente fragilidade, o Vouvray suporta envelhecimento em garrafa bastante prolongado, por anos. É a expressão mais fiel dos vinhos alemães na França. Foto abaixo.
um de xisto, outro de calcário
a personalidade do calcário
O da esquerda feito no Valle de Uco, Argentina, o da direita, um típico Cabernet Franc de Tours. A leveza e a mineralidade dos dois são notáveis. O primeiro de uma área específica do Valle de Uco, Guatallary, é um terroir aluvial com presença de calcário ativo importante. O segundo nesta região de Tours, o calcário se faz presente, mostrando leveza e elegância. Em terras distantes entre si, o calcário une estilos de vinhos semelhantes. O primeiro é importado pela Grand Cru e o segundo importado pela World Wine (uma referência desta apelação). Fotos acima.
Cabernet Franc
No caso da Cabernet Franc, a mesma coisa. Apelações como Chinon e Bourgueil de Tours, sobretudo, são de uma delicadeza que a Cabernet Franc não encontra em outras paragens. É o solo calcário comandando o estilo delicado e elegante do vinho. Já os tintos de Saumur-Champigny são dominados mais pelo xisto que encomtrar em Saumur, portanto um pouco mais intensos e estruturados.

bem típico da apelação
Sauvignon Blanc
No caso do Sauvignon Blanc do extremo Loire, bem a leste, as apelações Sancerre e Pouilly-Fumé são muito interessantes. A própria apelação Pouilly-Fumé em determinados solos lembram os bons Chablis pela mineralidade, embora de cepas diferentes. Num destes solos calcários, temos o Kimmeridgiano ou Kimméridgen, o qual são solos de animais marinhos (ostras, sobretudo) calcinados na rocha. São os solos encontrados em Chablis e na própria apelação Pouilly-Fumé, que conferem aos vinhos a incrível mineralidade.
muito típico de Vouvray
Um belo espumante elaborado pelo método clássico com notas de mel e brioche, lembrando alguns champagnes. Importado pela Mistral.
Fines Bulles
Podemos dividir os espumantes em apelações mais conhecidas e regionais. Por exemplo: Anjou e Cremant de Loire. No primeiro, o solo é dominado por xistos, conferindo aromas de damascos e mel, e uma presença mais floral da Sauvignon e Chardonnay. São espumantes mais densos que os demais. Já Cremant de Loire, os solos são muito variados, mas os espumantes costumam ser mais estruturados que a média da região.
Os espumantes de Saumur vêm de solos de transição com um pouco de xisto e a maioria calcário. São espumantes de médio corpo com notas de frutas brancas, amêndoas grelhadas e baunilha.
Por fim, os espumantes de Touraine e Vouvray. São feitos pelo método champenoise, sobretudo os Vouvray. As notas são de mel, brioche e frutas em compotas. São delicados e elegantes, regidos pelo calcário.
vinho verde típico com leveza e off-dry
Este Vinho Verde elaborado pela Adega Guimarães dá uma boa ideia de tipicidade, frescor e leveza. Trazido pela importadora Grand Cru.
Vinho Verde x Mucadet
A região do Vinho Verde em Portugal tem influência oceânica e origens antigas do mesmo maciço que a região do Nantes, Maciço Armocariano, ou seja, granito. Só que esta região está na latitude 41 a 42 N, enquanto Nantes, a região do Muscadet está na latitude 47 N. As uvas também não são as mesmas. Enquanto na região do vinhos verdes, temos Arinto, Trajadura, Loureio e Azal, entre outras, a região de Muscadet tem uma só uva que se chama Melon de Bourgogne, uma uva bem mais discreta. Com isso, a região dos vinhos verdes com uvas mais aromáticas e latitude mais baixa, consegue elaborar vinhos aromaticamente mais expressivos, embora conserve leveza e acidez. Já a região do Muscadet, bem mais fria e uma uva menos expressiva, dá vinhos mais discretos aromaticamente, também com muita acidez. Portanto, o perfil do vinho em termos de leveza e frescor se conserva nos dois casos, pelo subsolo granítico.
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12 de Dezembro de 2019
As pessoas que gostam de vinho geralmente têm seus limites para compra-los. Nesta época do ano, Natal e Ano Novo são momentos que permitem provar algo novo, algo diferente, às vezes acima daquilo que bebemos no dia a dia. Pensando na questão, vamos imaginar três tipos de pessoas que efetivamente existem e movimentam este mercado de vinhos cada vez mais pungente.
P1 – pessoas que têm certa dificuldade em comprar vinhos caros que podem comprometer seu orçamento. Vez por outra, se arriscam numa garrafa mais sofisticada.
P2 – pessoas que estão acostumadas a comprar bons vinhos, mas não podem comprar os ícones mundiais ou vinhos que atingem grande prestígio com preços alarmantes.
P3 – pessoas que buscam alta qualidade sem se importar com preços. Normalmente, frequentam grandes leilões internacionais e negociam grandes adegas particulares.
Feitas as descrições, vamos a algumas sugestões para as festas, sugerindo os tipos de vinhos mais procurados para estas ocasiões.

Borbulhas
Para o grupo P1, a melhor dica é ficar com os espumantes nacionais. É o nosso melhor tipo de vinho e tem preços interessantes comparados à concorrência. Cave Geisse, Pizzato, Valduga, e Chandon, são produtos seguros. Saindo um pouco do comum, o Chandon Excellence é uma boa experiência com preços um pouco mais elevados.
Para o grupo P2, Cavas mais sofisticados com longo tempo sur lies (contato com as leveduras) são muito interessantes. O espumante Ferrari, pessoalmente o melhor da Itália, é sempre uma pedida certa. Os belos Franciacorta, italianos da Lombardia, também devem ser lembrados.
Para o grupo P3, vamos falar só de champagne, a perfeição das borbulhas. E aí as opções são muitas. Nas cuvées de luxo, Dom Perignon, Cristal, todos da Krug, e Bollinger RD, são perfeitos. Dos champagnes fora do circuito conhecido, Jacquesson e Agrapart merecem ser conhecidos. Para os mais exóticos, Jacques Selosse dá um banho de enogastronomia.

Para o Tender
Tradicional nas mesas brasileiras, esta iguaria é uma peça de pernil cozida e defumada. Geralmente ele é servido com molho agridoce e frutas no acompanhamento. De todo modo, é uma entrada, um prato relativamente leve, mas saboroso. É claramente um cenário para vinhos brancos de certa doçura.
Para o grupo P1, os moscatéis nacionais, tipo Asti Spumante, são os mais certeiros, bom e barato. Como o Brasil dispõe de alta tecnologia na vinificação, estes espumantes são muito bem feitos, não devendo nada aos comerciais e originais italianos, na maioria das vezes.
Para o grupo P2, podemos pensar nos belos Torrontés argentinos, especialmente os de Salta. Alguns vinhos da casta Viognier com toques florais podem dar certo. Uruguai e Argentina tem bons exemplares. Gewurztraminer é outra pedida, embora a baixa acidez seja um problema. Procure por safras mais novas.
Para o grupo P3, os Riesling alemães com vários graus de doçura são ótimos, especialmente os do Mosel, mais leves. A Alsace é a opção francesa mais confiável. No vale do Loire, os Vouvray com vários graus de doçura são muito interessantes, incluindo os espumantes, Fines Bulles ou Péttilant com a uva Chenin Blanc. O produtor Huet é referência absoluta.

Para o Peru
Peru, Chester, e todas as aves natalinas de carnes brancas e macias se incluem neste contexto. A carne em si é relativamente neutra. O molho e acompanhamentos são o que calibram melhor a escolha do vinho. Tanto branco como tinto podem acompanhar este prato.
Para o grupo P1. Um bom Chardonnay nacional como da Pizzato é uma bela opção. Na Argentina e Chile também há opções em conta. Como a carne tem pouca gordura, um bom Chardonnay fornece maciez ao conjunto. O grande problema são o molho e os acompanhamentos que podem ser agridoces. Neste caso, o Chardonnay deve ser bem frutado ou partir para um intenso Gewruztraminer. Se a opção for por um tinto, um bom Pinot Noir resolve o problema. A serra Catarinense tem bons exemplares, assim como no Chile. Alguns bons Cabernet Franc nacionais são opções interessantes. Em resumo tintos de certa leveza e taninos moderados.
Para o grupo P2, podemos pensar em Chardonnay um pouco mais sofisticados do Chile. Sol de Sol da Viña Aquitania e Amelia do grupo Concha Y Toro são bem confiáveis. Os Chardonnay tops da Catena, Argentina, ficam no mesmo nível. Um bom Cava com pelo menos 24 meses sur lies é outra bela opção. A importadora Clarets traz o confiável Juves y Camps. Do lado dos tintos, Pinot Noir chileno dos vales frios são ótimos, especialmente os da Casa Marin importado pela Vinci. A Nova Zelândia prima por bons Pinot Noir. A importadora Premium é especialista no assunto.
Para o grupo P3, a Borgonha é a glória. Berço espiritual das duas uvas, Chardonnay e Pinot Noir, temos várias e ótimas opções. No caso dos brancos, Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet e Meursault, são as melhores pedidas de acordo com o peso do prato. No caso dos tintos, comunas de vinhos mais leves como Volnay e Chambolle-Musigny são mais adequadas. Como alternativa ao Chardonnay, um ótimo Pinot Gris da Alsace é divino.
Para o Panetone, Rabanada e Frutas Secas
Para o grupo P1, novamente os moscateis nacionais fazem bonito com o panetone. Para a rabanada e as frutas secas, nada melhor que um bom vinho do Porto. Há muitas ofertas no mercado, dando preferência aos Tawny que vão melhor com a canela da rabanada e tem tudo a ver com as frutas secas.
Para o grupo P2, os moscateis continuam de pé com o panetone. Uma escolha mais sofisticada seria um bom Cava Sec com doçura adequada. Não estranhem, eu disse Sec. No caso do Porto, podemos partir para um Reserva, de nível e concentração maiores. Um Passito di Pantelleria para as rabanadas e frutas secas é uma opção original.
Para o grupo P3, o panetone é acompanhado de champagne Sec pelos mesmos motivos acima. Quanto ao Porto, podemos pensar na gama mais sofisticada de Tawny que são os de datas declaradas (10, 20, 30, 40 anos) ou o Porto Colheita com longo envelhecimento em pipas. Evidentemente os grandes Madeiras não estão de fora. Os Melhores Boal ou Malmsey são os de doçura mais adequada.
Enfim, tudo é festa e o que vale mesmo são os amigos e a família. Essas são apenas algumas sugestões neste vasto universo do vinho. Além disso, há outros pratos nas festas não abordados neste artigo como bacalhau, leitoa, pernil de cordeiro, e outras iguarias. Seguem alguns links deste blog para consulta: Espumante Brut, Carne de Porco, Arroz de Pato / Harmonização: Ano Novo / Bacalhau e seus Vinhos
Boas Festas!
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Etiquetas:alsace, ano novo, asti spumante, boal, casa marin, catena, cava, cave geisse, ceia natal, champagne, chester, enogastronomia, espumante, franciacorta, Harmonização, juve y camps, malmsey, moscatel, mosel, natal, Nelson Luiz Pereira, panetone, passito di pantelleria, peru, pizzato, rabanada, riesling, sol de sol, sommelier, tender, vinho do porto, vinho madeira, vinho sem segredo
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19 de Novembro de 2019
Finalmente, a lista dos 100 melhores vinhos da revista americana Wine Spectator. Sempre muito polêmica, suas notas mexem com os preços dos mais bem pontuados. Como sempre, a premiação se concentra nos americanos, franceses, e italianos. Espanha e Portugal em números modestos, e o restante, na maioria Novo Mundo, completam a lista. Todos os vinhos: http://www.winespectator.com
Além dos Top Ten já anunciados e comentados em artigo anterior, segue minha lista Top Ten baseada na lista dos 100 melhores anunciada. Escolhi dez vinhos dentre os noventa abaixo do Top Ten.

Moccagatta Barbaresco Bric Balin 2015
97 pontos (11° colocado)
Barbaresco de estilo mais moderno. O vinhedo Bric Balin tem vinhas desde 1957 até 1985 com 3,4 hectares. O vinho passa cerca de 18 meses em barricas francesas. Sempre muito bem pontuado, tem corpo e ótimo poder de fruta. Importadora Vinci.

Domaine Huet Vouvray Demi-Sec Le Mont 2018
95 pontos (15° colocado)
Huet é referência absoluta na apelação Vouvray com a uva Chenin Blanc no Loire. O vinhedo Le Mont parte de um terroir pedregoso (sílex) em meio a argila. O vinho tem 17 g/l de açúcar residual em perfeita harmonia. Excelente para pratos delicados e agridoces. É a versão alemã dos brancos franceses. Importadora Premium.

Castellare di Castellina Chianti Classico 2017
94 pontos (17° colocado)
Belo produtor de Castellina in Chianti, região clássica desta denominação. O vinho é baseado em Sangiovese com uma pitada de Canaiolo. Seu amadurecimento dá-se em tonéis de madeira francesa por sete meses. Sempre muito consistente e de muita tipicidade. Importadora Vinci.

Guigal Côte-Rôtie Brune et Blonde 2015
96 pontos (21° colocado)
Talvez o maior especialista na apelação Côte-Rôtie, Guigal elabora este vinho baseados nos vinhedos Côte Blonde (solo xistoso rico em sílica e calcário) e Côte Brune (solo rico em óxido de ferro). Os rendimentos são baixos e o blend é calcado na uva tinto Syrah com uma pitada da branca Viognier. Passa 36 meses em toneis de madeira, sendo 50% novos. Excelente pedida por preços honestos. Quem tem acesso à famosa trilogia (La Turque, La Mouline, e La Landonne) está no céu. Importadora Interfood.

Marques de Murrieta Rioja Finca Ygay Reserva 2015
92 pontos (40° colocado)
Um clássico da Rioja com vinhos sempre consistentes. Nesta safra temos 80% Tempranillo, 12% Graciano, 6% Mazuelo, 2% Garnacha. Passa 18 meses em barricas de carvalho americano. Um vinho sedutor e marcante. Dignifica o estilo clássico dos grandes Riojas. Importadora World Wine.

Quinta do Noval Vintage Port 2017
98 pontos (53° colocado)
Uma das cinco melhores Casas do Porto, os Vintages da Noval são complexos e longevos. Nesta estupenda safra 2017 temos um Porto para esquecer na adega. Muito concentrado e estruturado para longo envelhecimento. Para quem não tem paciência, decanta-lo por ao menos quatro horas. Importadora Adega Alentejana.

Poliziano Vino Nobile di Montepulciano 2016
92 pontos (54° colocado)
Poliziano é a grande referência quando se fala na denominação Vino Nobile di Montepulciano, a sul do Chianti Classico. Elaborado com 85% Prugnolo Gentile (Sangiovese) e 15% das uvas Canaiolo, Merlot, e Colorino. Passa entre 14 e 16 meses em madeira inerte de várias dimensões. Um toscano clássico. Importadora Mistral.

Marquis d´Angerville Volnay Champans 2016
95 pontos (67° colocado)
D´Angerville é juntamente com Domaine Lafarge as maiores referências na apelação Volnay. No caso de D´Angerville temos um lado mais viril de Volnay com vinhos aptos a longo envelhecimento. Geralmente passam de 15 a 18 meses em barricas francesas, sendo no máximo 20% novas. Champans trata-se de um de seus Premier Cru. Importadora Premium.

Chateau Pichon Lalande Pauillac 2016
97 pontos (97° colocado)
Um clássico de Pauillac, sempre pregando surpresas às cegas para os Premiers desta comuna. Um tinto muito sedutor, taninos sempre bem moldados, e embora possa ser acessível em tenra idade, envelhece com muita nobreza. Mais um dos grandes Bordeaux da ótima safra 2016. Várias importadoras podem tê-lo.

Dominique Piron Morgon Côte du Py 2017
92 pontos (99° colocado)
Morgon é um dos Crus de Beaujolais do ótimo produtor Dominique Piron. Côte du Py é uma colina de solo granítico dentro da apelação Morgon com vinhas acima de 50 anos. Amadurecimento parcial em madeiras inertes de várias dimensões. Um Beaujolais diferenciado e muito gastronômico. Importadora Decanter.
Enfim, uma lista europeia, sem a presença dos americanos, pois estes últimos são inacessíveis em nosso mercado. Todos os vinhos listados tem importação no Brasil, embora não da safra específica mencionada. Como consequência, fica como sugestão para os vinhos deste final de ano.
De um modo geral, os Top 100 deste ano deram ênfase para os Cabernets e Pinot Noir americanos, os tintos da Toscana, especialmente Chianti Classico, e os Bordeaux da safra 2016.
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19 de Outubro de 2019
Achaval Ferrer, uma das bodegas argentinas mais premiadas, sempre com notas altíssimas nos melhores guias, sobretudo com sua encantadora trilogia de Malbecs: Finca Altamira, Finca Mirador, e Finca Bella Vista. É uma das minhas bodegas preferidas, no mesmo nível de Catena, Cobos e Noemia.
Num evento exclusivo de lançamento, a importadora Clarets mostrou boa parte da linha no agradável restaurante de carnes Cór. Desde os varietais de entrada de gama, passando pelo ótimo Quimera, e finalmente chegando na trilogia mencionada.
A ideia da Bodega é bem simples e de excelência. Buscar vinhedos que expressem o terroir com rendimentos muito baixos. No nível mais acessível, temos uma parreira para cada garrafa. No nível intermediário, temos duas parreiras para uma garrafa. E para a trilogia, temos três parreiras para cada garrafa, rendimentos encontrados somente nos grandes vinhos europeus. Para se ter uma ideia dessa exigência, são menos de meio quilo de uvas por parreira.
Os vinhedos se concentram em zonas nobres de Mendoza. Na zona Alta do Rio Mendoza, temos vinhedos em Luján de Cuyo, além de áreas bem situadas no Valle de Uco. Algumas das vinhas são de parreiras centenárias ainda em pé franco.
Começando pela linha básica de varietais como Malbec, Cabernet Sauvignon, e Cabernet Franc, as uvas vem dos vinhedos em Pedriel, Medrano, La Consulta, e Tupungato. Os dois primeiros em zonas mais baixas, aportam corpo e estrutura, enquanto La Consulta e Tupungato no Valle de Uco, conferem frescor e elegância. Vinhos muito equilibrados, extraídos na medida certa, trabalhando com rendimentos em torno de 30 hectolitros por hectare, fatores que para este padrão de vinho, estão bem acima da média dos concorrentes.
Já no segundo nível dos vinhos, temos o consistente Quimera. Aqui se trabalha com mescla de vinhedos e mescla de varietais, portanto um corte. O vinho baseia-se na Malbec com aporte das uvas Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Petit Verdot. Um trabalho de doze meses em barricas francesas. São 36 hectares de vinhas com rendimentos em torno de 18 hectolitros por hectare. Um vinho de concentração impressionante que deve ser decantado.
A Trilogia dos Malbecs
Começando pela Finca Mirador, um vinhedo de seis hectares com vinhas de 1921 em Medrano a 700 metros de altitude. O solo tem 80 cm de uma capa argilo-limosa com subsolo arenoso e pedregoso. Os rendimentos são de apenas 12 hectolitros por hectare e o amadurecimento em barricas francesas por 15 meses.
Já na Finca Bella Vista, estamos em Pedriel, Luján de Cuyo, a 980 metros de altitude. Esta Finca tem mais de cem anos com vinhas todas em pé franco. São 12 hectares de vinhas com rendimentos de 14 hectolitros por hectare. O solo começa limo-arenoso e se aprofunda em areia e pedras.
Por fim, temos Finca Altamira, um vinho premiadíssimo, localizado em La Consulta, Valle de Uco, a 1050 metros de altitude. São seis hectares de vinhas datadas de 1925 plantadas em pé franco. Nestas condições temos 400 gramas de uvas por planta. Um vinho que alia concentração, elegância e extremo equilíbrio.
Champagne Philipponnat dando o tom do jantar
A recepção não poderia ser melhor, champagne Philipponnat de entrada aguçando as papilas para uma sequência de tintos da bodega em questão. Champagne de muita delicadeza, frescor notável, e muito equilíbrio. Embora com dois terços de Pinot Noir em sua composição, é um champagne de extrema leveza, ideal para aperitivar.
o cartão de visitas da bodega
Muito se conhece de uma bodega pelos vinhos de entrada que a mesma oferece. Achaval Ferrer e sua linha de varietais mostra tipicidade, concentração, e vinhos muito bem acabados. O destaque de entrada ficou com o Cabernet Franc, um tinto muito elegante para esta categoria de vinho. Ficou muito bem a linguiça artesanal, enfatizando as notas apimentadas. Já os bolinhos e os croquetes ficaram muito bem com o Malbec, sobretudo pelas texturas. Um Malbec de muito frescor e pureza de frutas. Por fim, o Cabernet Sauvignon mostrou taninos bem trabalhados e um ótimo equilíbrio em boca.
um tinto deliciosamente gastronômico
Nesta segunda etapa, um salto de concentração gigantesco. Este blend da bodega chamado Quimera é realmente muito bem elaborado. Mesmo em safras distintas, seu padrão de qualidade é elevado. Na safra 2015, temos um vinho mais redondo, de bom corpo e taninos abundantes e macios. Já na safra 2016, um vinho mais elegante, mais fresco, com certas nuances não encontradas na outra safra. De todo modo, Quimera foi o parceiro ideal das carnes dry aged servidas, harmonizando com perfeição seus potentes taninos com a suculência dos cortes New York Strip e Prime Ribe, bife de chorizo e bife ancho, respectivamente.
vinhos que expressam terroir
Por fim, a trilogia esperada, todos da safra 2014. O caminho começa pelo Finca Mirador, um tinto de boa presença em boca, taninos finos, e longa persistência aromática. Seu grande mérito é equilibrar bem potência e elegância. Em seguida, Finca Bella Vista. Um tinto impactante, de bom corpo, taninos poderosos e muito finos. Uma fruta quase doce, e um final bastante expansivo, bem de acordo com os Malbecs de Luján de Cuyo. Finalmente, Finca Altamira, Valle de Uco. Um tinto com um frescor impressionante. O mais mineral da trilogia, fruta vibrante, e um equilíbrio notável. Pede carnes de textura mais macia e com algum teor de gordura para confrontar sua rica acidez. Um final de prova marcante, delineando claramente a proposta dos três tintos em expressar seus respectivos terroirs.
um final elegantemente doce …
Fechando o jantar, a importadora Clarets mostrou mais um pouco de seu rico arsenal francês, Chateau Doisy-Védrines. Um Sauternes delicado da região de Barsac. Próximo ao Chateau Climens, os vinhos de Barsac primam pela delicadeza e toques florais. Acompanhou muito bem a sobremesa de abacaxi grelhado e sorbet de manga. Os toques tropicais foram muito bem com o vinho.
Agradecimentos à importadora Clarets pela oportunidade, personificada na presença do simpático casal, Guilherme Lemes e Keren Marchioro. Seguindo a tradição de jantares especiais, a Clarets mostrou mais uma vez sincronização e detalhismos impecáveis. Parabéns pela nova aquisição com a bodega Achaval Ferrer, sempre uma referência aos melhores vinhos mendocinos.
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26 de Agosto de 2019
Mais uma final Masterchef e mais pratos para harmonizar. Como sempre, Vinho Sem Segredo faz um exercício de enogastronomia com pratos do programa de competição culinária mais conhecido e mais polêmico do Brasil. Desta feita, os cozinheiros Rodrigo Massoni e Lorena Dayse fizeram uma final disputadíssima onde a escolha foi muito mais pessoal que técnica.
Vamos então aos vinhos harmonizados, começando com as entradas, seguidas dos pratos principais e as sobremesas.
Entradas
Tortellini de Camarão em Caldo Asiático
Executado por Rodrigo Massoni, é um prato elegante e ao mesmo tempo aromático com uma pegada tailandesa, mas longe do forte apimentado. Precisa de vinhos elegantes, evidentemente brancos de textura mais delicada pela fluidez do caldo. Aqui tem que ser um Chardonnay elegante bem trabalhado na madeira. Dos grandes Borgonhas, um Puligny-Montrachet parece ser ideal. Em sua melhor versão, um Chevalier-Montrachet de Madame Leflaive, por exemplo. Tem acidez, aromas delicados e textura perfeita para o prato. Como alternativa italiana, o belo Chardonnay de Angelo Gaja, Gaia & Rey de safra recente.
Ravioli recheado com Caranguejo e Emulsão de Bacuri
Nesta entrada executada por Lorena Dayse, outro prato delicado com uma pegada agridoce pela emulsão do bacuri, fruta típica do nordeste. Temos a textura delicada do massa gelatinosa, a tendência adocicada da carne de caranguejo, e a crocância da tapioca, formando um conjunto harmonioso. O branco ideal neste caso é um Riesling alemão do tipo Kabinett, de textura delicada e um toque off-dry, casando bem com os sabores do prato. Acho que um bom riesling do Mosel é o ideal. Como alternativa, um alsaciano do produtor Marcel Deiss cumpriria bem o papel.
Pratos Principais
Barriga de Porco com Feijão de Santarém
Outra execução de Rodrigo Massoni, trata-se de um prato gorduroso e bastante saboroso por todos os condimentos envolvidos como cebola, pimentão, pimenta, ervas, molho de soja, salsão, bacon, entres outros. Não é um prato que exija muitos taninos do vinho, pois a carne é bem macia. Todos esses sabores e um toque defumado pelo bacon e a pururucada no acabamento da carne, nos leva a um vinho de presença, boa acidez e aromas marcantes. Um Rioja Gran Reserva de escola tradicional como La Rioja Alta 904. Um tinto espanhol com intensidade para o prato e acidez suficiente para o lado gorduroso e para a acidez do vinagrete no feijão. Como alternativa, um bom Barbera barricato, bem balanceado e de excelente produtor, é uma opção a contento.
Carneiro ao Leite de Coco e Baião de Dois
Neste prato de Lorena Dayse acho que está explicado sua derrota na final. A carne de carneiro que é um pernil desossado e picado em cubos é um tipo de carne mais adequada aos assados do que os refogados. É uma carne que carece de gordura e colágeno para longos cozimentos. Embora o leite de coco tenha casado bem com os sabores, não foi suficiente para levantar o sabor do prato. O baião de dois foi muito bem como guarnição. Um bom Chateauneuf-du-Pape como Chateau de Beaucastel é um tinto do sul da França capaz de levantar os sabores do prato e combinar bem com o aromático baião de dois apresentado. Um bom Brunello di Montalcino seria uma alternativa interessante para se testar.
Sobremesas
Sorvete de Coco com Gengibre e Limão
Neste último prato de Rodrigo Massoni, uma sobremesa com pegada asiática novamente pelas presenças do gengibre e limão. O toque de açúcar na sobremesa é bem sutil. O vinho precisa ser delicado, não muito doce, mas com uma acidez marcante. Portanto, os icewines canadenses são ideais, sobretudo com sorvetes. O frescor destes vinhos realçam a delicadeza da sobremesa. Se houver a possibilidade como alternativa, o original Eiswein alemão cai muito bem, inspiração para a especialidade canadense, o vinho do gelo.
Sorvete de Coco e Abacaxi na Cachaça com Crumble de Mel
Uma sobremesa de Lorena Dayse, parecida com o do seu oponente, também com sorvete de coco. Aqui temos um pouco mais de riqueza de sabores e um toque de doçura extra, porém sem perder a delicadeza. O mel, o abacaxi, a cachaça, o creme de leite, exige um vinho de maior presença como um bom Late Harvest. Uma das melhores referências neste estilo de vinho é o sul-africano Vin de Constance do produtor Klein Constantia. Um vinho deliciosamente doce com as uvas Muscat de Frontignan, mas de equilíbrio notável. Um vinho que casa bem com a riqueza de sabores da sobremesa, sem exageros. Como alternativa, a vinícola argentina Terrazas faz um interessante vinho doce à base de Petit Manseng (uva nobre do sudoeste francês) em vinhedos de altitude com mil metros. Um vinho delicado e muito bem equilibrado.
Enfim, é sempre bom exercitarmos a enogastronomia, procurando combinações novas, e testando várias tendências, nunca esquecendo do bom senso e alguns princípios básicos. Enfatizando novamente, este é apenas um exercício de enogastronomia, independente do sua opinião sobre o programa, sempre muito polêmica. Que venham outras experiências!
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1 de Agosto de 2019
Para quem gosta de peixes e frutos do mar, mesmo no inverno há receitas reconfortantes, de sabores intensos, que chegam borbulhando nas mesas. É o caso das moquecas, tão populares no Brasil, sobretudo as capixaba e baiana. Além delas, as famosas caldeiradas, além de risotos e outros arrozes com frutos do mar. Neste artigo, vamos passar por essas iguarias, propondo as melhores harmonizações.
Moquecas
Se você não gosta de leite de coco e dendê, vá de moqueca capixaba. Muito aromática e saborosa, costuma ter menos corpo e textura mais delicada que a baiana. O caminho é ir por brancos aromáticos, de boa acidez, e que tenham sabores de ligação com o prato. Um belo Sauvignon Blanc do Novo Mundo vai muito bem, e os chilenos estão bem do lado. Procure pelos vales frios do Chile como Casablanca, San Antônio ou Limari. O Sauvignon Blanc Terrunyo da gigante Concha Y Toro é uma bela pedida. Um Alvarinho de boa textura como Soalheiro ou Palácio da Brejoeira são opções muito interessantes também. Vinhos das importadoras Mistral e Vinci, respectivamente.
moqueca capixaba e a famosa panela de barro
Partindo agora para a moqueca baiana, mais encorpada, mais intensa, mais apimentada, o branco precisa ter mais força e textura para aguentar o prato. Evidentemente, os bons Chardonnays com alguma passagem por madeira são a primeira escolha. Alguns Chenin Blanc do Loire com certo envelhecimento também dão bom casamento. Os traços de marmelo e notas amendoadas destes vinhos casam bem com os sabores do dendê. Vinhos elaborados com Sémillon fermentado em barricas também têm sucesso com o prato. Como dica, Bodega Ritticelli faz um ótimo Sémillon na Patagônia argentina importado pela Winebrands que vale a pena.
Caldeiradas, Ensopados
A receita original da caldeirada leva uma série de ingredientes em camada incluindo cebola, pimentão, temperos, batatas em rodelas não muito finas, peixes e frutos do mar crus, além de água. Tudo é cozido junto. No final, torna-se quase uma sopa de frutos do mar. Neste caso, o vinho deve ter uma textura mais delgada, boa acidez, e mineralidade presente. Os vinhos verdes mais leves são boas pedidas, além de bons exemplares dos brancos do Dão. Brancos de Rueda e alguns albariños espanhóis mais leves podem acompanhar bem.
bordaleses de elite como Pape Clément
(os brancos bordaleses são baseados na Sémillon que dão textura e estrutura ao vinho, enquanto a Sauvignon Blanc fornece acidez e aromas ao conjunto)
Outros ensopados inspirados na caldeirada podem ter sabores mais pronunciados e textura do caldo mais espessa. O vinho deve acompanhar esta crescente, ganhando corpo e estrutura. Um bom branco bordalês da região de Pessac-Leognan (antigamente Graves) é uma pedida original e surpreendente.
Caldeirada: Cantina do Marinheiro
Uma das mais tradicionais Caldeiradas na Cantina do Marinheiro, bairro do Brás, fundada em 1942. Pratos bem servidos, à moda antiga.
Risotos, Arrozes
Neste caso onde o arroz está presente, tudo é uma questão de textura e intensidade de sabores dos caldos. Os chamados arrozes caldosos, onde o aspecto fica entre um risoto e uma sopa, geralmente são mais delicados. Os vinhos devem acompanhar estas características, sendo relativamente leves, minerais e elegantes. Rieslings alemães do Mosel, e até alguns austríacos podem surpreender.
arroz de mariscos
(uma das sete maravilhas de Portugal da região de Leiria. Um arroz caldoso muito saboroso. Juntamente com o leitão da Bairrada e outras iguarias, são patrimônios gastronômicos de Portugal)
À medida em que vamos dando mais untuosidade e sabores ao arroz, chegamos aos belos risotos com arroz arborio ou carnaroli que dão aquela textura aveludada no prato. Brancos à base de Chardonnay, Sémillon, e Viognier, têm textura e intensidade de sabor para o prato.
Chateauneuf-du-Pape Blanc de elite
(Uma obra-prima do Chateau de Beaucastel elaborado com 100% Roussanne, uva de difícil cultivo e baixos rendimentos. Sabores exóticos e marcantes)
Uma harmonização original seria com os brancos do Rhône. Os do Rhône-Norte como Hermitage e Condrieu, são mais elegantes e com mais acidez. Os Hermitages precisam de tempo para envelhecer. Já os Condrieu (elaborado com Viognier) são mais aromáticos e florais. Quanto aos do Rhône-Sul, emblematizados sob a apelação Chateauneuf-du-Pape, são mais gordos, aromáticos, e macios. Alguns carecem de acidez e muitas vezes não envelhecem adequadamente. Portanto, prefira os mais jovens.
Enfim, uma ampla seleção de pratos de inverno com peixes e frutos do mar, fazendo uma refeição saborosa e saudável. Não caia nas indicações de vinhos tintos que alguns “professores pardais” indicam por aí. Nós já consumimos tão pouco os vinhos brancos que não vale a pena correr riscos. Afinal, belas e variadas opções não faltam no mercado, conforme explanação acima. Bom Apetite!
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6 de Julho de 2019
Em uma de suas explanações, Angelo Gaja faz uma analogia interessante entre as uvas Nebbiolo e Cabernet Sauvignon com os atores John Wayne e Marcello Mastroianni. Diz ele: se John Wayne (Cabernet Sauvignon) entrasse numa sala, ele ocuparia o centro da mesma em uma posição de destaque, sendo o centro das atenções numa figura muito carismática. Já Marcello Mastroianni (Nebbiolo), ficaria no canto da sala, meio introspectivo, sem se promover muito. De fato, apesar de grande ator, Marcello tinha o mérito de realçar as mulheres com quem trabalhava, deixando elas brilharem, enriquecendo as cenas. Assim é a Nebbiolo, uma uva que faz pensar, meio misteriosa, mas de grande brilho na enogastronomia, enaltecendo os pratos que a acompanha.
Foi exatamente este cenário que se apresentou num belo almoço com alguns Cabernets famosos do mundo e uma das joias de Gaja, seu vinhedo Sori San Lorenzo da ótima safra 97. Todo mundo só falou dos Cabernets que de fato eram maravilhosos sem darem muito bola para o estupendo Gaja. Comentaremos os vinhos oportunamente.
A propósito, Gaja faz um ótimo Cabernet no Piemonte chamado Darmagi. Um vinhedo escondido do seu pai durante certo tempo que quando descoberto, o velho Giovanni exclamou: Darmagi, em dialeto piemontês, que pena!
ótimo prato de inverno
Como sempre, aqueles branquinhos para aquecer os motores. Dois belos exemplares da Borgonha tanto em produtores, como em vinhedos e safras. Roulot é um monstro em Meursault. Seus vinhos estão cada vez mais valorizados e com toda a justiça. Esse exemplar do vinhedo Perrières 2009 tem 96 pontos mais do que justos. Um Premier Cru com caráter de Grand Cru. Uma elegância, uma sofisticação, e personalidade, marcantes. O vinho tem uma tensão e mineralidade incríveis sem perder aquela textura amanteigada dos Meursaults. Já o Chevalier de Niellon, excelente produtor, estava um pouco prejudicado, um pouco cansado. Vinho de grande elegância e presença, num equilíbrio perfeito com aquela textura mais delgada dos Pulignys. Talvez seja um problema de garrafa, mas seus aromas estavam evoluídos demais pelo tempo de safra. Essa polentinha com frutos do mar (foto acima) caiu muito bem para acompanhar a dupla de brancos.
um Cabernet de respeito!
Esse foi o vinho mais comentado do almoço, lembram, John Wayne, pois é. Pouca gente sabe que esta linha Estiba Reservada não tem nada de Malbec. É um corte de 85% Cabernet Sauvignon e 15% Cabernet Franc com 18 meses em carvalho francês novo. Um vinho servido às cegas que lembrou alguns franceses, americanos, australianos, chilenos, e tantos outros palpites. O fato é que Catena nesta alta gama de vinhos colocou a Argentina no pódio dos grandes tintos do mundo. Um vinho elegante, de grande personalidade, taninos finos, numa safra histórica na Argentina. Este vinhedo Agrelo faz parte de Lujan de Cuyo, zona alta do rio Mendoza, uma das mais prestigiadas e tradicionais do terroir mendocino. Solo pedregoso e aluvial tão propício ao cultivo dos Cabernets.
outro Cabernet de respeito
Saindo de Mendoza, vamos para Bolgheri, litoral toscano onde o marquês Mario Incisa dela Rocchetta realizou seu sonho de fazer um Bordeaux na Toscana com mudas de Cabernet Sauvignon trazidas do Chateau Lafite. Em 1968, sua primeira safra, Sassicaia mostrou ao mundo um vinho toscano de grande refinamento sem uma classificação oficial. Nascia assim o termo “super tuscan” ou “supertoscano”.
Nos exemplares acima, o 2008 com 97 pontos é um dos melhores Sassicaias já elaborados com muita maciez e taninos ultrafinos. Bom corpo, belo equilíbrio e um final persistente. No caso de 2005, a comparação chega a ser cruel. Não que 2005 não seja bom, mas perde para seu concorrente em refinamento. Seu taninos são mais duros e sua persistência é menor. Deve evoluir bem por mais alguns anos, tornando-se mais macio. De toda forma, Sassicaia segue sendo um dos grandes Cabernets do mundo.
belos pratos para tintos
O almoço no restaurante Gero seguiu na sequência de belos pratos para acompanhar os tintos como este Paccheri, espécie de rigatoni gigante, com um molho reduzido de carne com muito umami, saborosíssimo. O risoto de parmesão com pato desfiado também estava muito bem executado. Sempre contando com a gentileza e fidalguia do maître Ismael.
Chateau Palmer em Magnum
Safra muito prazerosa e precoce, Palmer 98 esbanja elegância. Elaborado com 52% Merlot, 43% Cabernet Sauvginon, e 5% Petit Verdot, o vinho é macio em boca, taninos bem trabalhados, e um final bastante harmônico. Talvez sua nota não seja tão alta devido à persistência aromática não muito longa. Bom momento para bebe-lo, sobretudo acompanhando um lombo de cordeiro no próprio molho e purê de mandioquinha. Mais um belo prato do almoço.
uma das joias de Gaja
Finalmente, chegamos ao esquecido Nebbiolo, lembra do começo, Marcello Mastroianni. Pois é, poucos comentaram deste belo tinto com 98 pontos e uma elegância impar. O melhor da década de 90. Sorì San Lorenzo faz parte da trilogia de vinhedos de Angelo Gaja em Barbaresco (Sori Tildin e Costa Russi são os outros dois). Notem que no rótulo a partir de 96, a denominação Barbaresco muda para Langhe, pois Gaja introduziu uma pitada de Barbera no blend de seu Nebbiolo. Para que isso fosse permitido, precisou mudar a denominação para Langhe, uma legislação mais moderna e mais branda para eventuais mudanças. De fato, o nome Gaja fala mais alto do que a pomposa denominação Barbaresco.
Neste exemplar, um aroma refinado lembrando alcaçuz, notas tostadas, defumadas, e um toque terroso. Em boca é muito equilibrado com uma acidez refrescante. O vinho está vivo, sem sinais de decadência e taninos finíssimos. Acompanhou muito bem o cotechino com lentilhas, um embutido italiano dos mais refinados. Um tinto muito distinto lembrando vinhos franceses, especialmente os Côte-Rôtie do norte do Rhône, talvez com uma carga de taninos maior. Seguramente, um dos cinco melhores vinhos italianos. Gaja não brinca em serviço!
creme de mascarpone e chocolate para encerrar
Na foto acima, temos um Passito do mestre Quintarelli, talvez a maior referência na zona de Valpolicella. A partir de um blend de uvas Garganega, Sauvignon Blanc, Trebbiano di Soave, colhidas tardiamente e postas para secar (appassimento), o mosto fermenta lentamente, deixando um importante teor de açúcar residual. O vinho passa entre cinco e seis anos em pequenas barricas francesas. Um vinho já evoluído, inclusive na cor, com notas de frutas secas, mel e toques tostados. Pronto para ser tomado. Já seu oponente, o todo poderoso Yquem 89, esbanja frescor, exuberância, sem nenhum sinal de decadência. Vinho untuoso, muito equilibrado, e final extremamente longo. Belo fecho de refeição!
Só me resta agradecer aos confrades pela excelente companhia, boa conversa, e imensa generosidade. Com dois dos confrades de notável carinho pela Itália, o painel não poderia ser melhor. Que Bacco sempre nos guie nesta longa jornada de prazeres!
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28 de Novembro de 2018
Como um dos Diretores de Degustação da ABS-SP, neste artigo faço uma seleção dos dez melhores vinhos degustados na entidade ao longo de 2018. Alguns dos critérios escolhidos foram preço acessível, disponibilidade do produto, originalidade, e uma seleção com vários tipos de vinhos. É evidente que se trata de uma escolha pessoal onde alguns outros vinhos também interessantes ficaram de fora. Enfim, os dez escolhidos seguem abaixo.
1. Huet Vouvray Pétillant Brut 2007
Este é o único espumante da lista, e ainda assim um Pétillant (pouquíssimo gás dissolvido no vinho). Essa era a maneira tradicional de se elaborar Vouvray na chamada Old School. Apelação importante do Loire onde reina a casta Chenin Blanc. O produtor dispensa comentários, Domaine Huet. Esse vinho, a princípio um branco tranquilo, é engarrafado com algum açúcar residual natural, muito comum na região. Com o passar do anos em adega, ele adquire uma pequena quantidade de gás dissolvida, resultado de lenta fermentação daquele açúcar residual pelas leveduras naturais presentes no vinho. O resultado é um vinho extremamente gastronômico, de rica textura, e leve efervescência das borbulhas. Aromas elegantes e complexos denotando mel de flor de laranjeira, maracujá, amêndoas, e notas de pâtisserie. Pode ser uma bela opção para entradas com foie gras ou patês de caça, especialmente aves. Um vinho que vale no mínimo, pela curiosidade. Importadora Premium (www.premiumwines.com.br).
2. Viña Aquitania Sol de Sol Chardonnay 2009
Se não for o melhor, está entre os melhores Chardonnays chilenos. Mais do que ser muito bom, provou que pode envelhecer bem, pois este exemplar com quase dez anos, estava em seu esplendor. Ainda muito rico em frutas tropicais, madeira bem integrada, e um equilíbrio notável. Tem um estilo europeu, bem diferente do que se espera de um vinho chileno. Já um clássico do Chile, é elaborado com uvas do frio Valle de Malleco, bem ao sul do país. Importadora Zahil.

Descorchados: 92 pontos
3. Matias Riccitelli Old Vines Sémillon 2017
Um branco que foge totalmente dos padrões argentinos, velhas vinhas de Sémillon plantadas no anos 70 na fria região da Patagônia, bem ao sul do país. O vinho é amadurecido por seis meses em barricas (60%) e tanques de concreto (40%). O contato com as leveduras após a fermentação por algumas semanas, confere textura e complexidade ao conjunto. Bela riqueza aromática, mesclando ervas, mel, baunilha, e pêssegos. Sempre macio, sem perder o fresco. Notável persistência aromática. Importadora Winebrands.
números 4 e 6
4. Travaglini Gattinara DOCG 2012
Travaglini é a grande referência quando falamos de Nebbiolo da DOCG Gattinara. Localizada bem ao norte da denominação Barolo, seus vinhos primam muito mais pela elegância e sutileza, do que pela potência. Com toques florais e de alcaçuz, este tinto é muito equilibrado e elegante. Seus taninos são delicados para a casta em questão, além de expansivo em boca. Preço bem razoável para Nebbiolos deste porte. Importadora World Wine.
5. Cantina Cellaro Due Lune IGT 2013
Com a Sicilia em voga, este é o segundo de uma série de italianos da lista. Um corte clássico da ilha com Nerello Mascalese predominando (70%) e Nero d´Avola como coadjuvante (30%). O vinho passa cerca de oito meses em barricas francesas. Um tinto moderno, mas de muita tipicidade, com bom poder de fruta, toques tostados elegantes, florais, e chocolate escuro. Bem balanceado em boca, taninos de boa textura, e final bem acabado. Preço bem honesto para o que oferece. Importadora Casa Flora.
6. Castellare di Castellina Chianti Classico 2014
Dos vários toscanos degustados ao longo de 2018, este Chianti Classico chamou a atenção pela elegância e por seu preço honesto. Madeira bem colocada, aromas típicos da Sangiovese, e taninos muito bem moldados. Seu belo frescor o torna muito gastronômico. Vinícola tradicional da região histórica de Castellina in Chianti. Importadora Mistral.
números 5 e 7
7. Chateau Fayau Bordeaux Superieur 2015
Premiando a bela safra 2015 de tintos bordaleses, este Chateau relativamente simples, mostrou tipicidade, equilíbrio, elegância, e sobretudo bom preço. Neste típico corte bordalês, uma expressiva porcentagem de Cabernet Franc presente, dá um toque a mais de elegância ao conjunto. Pronto para ser tomado. Importadora Mistral.
8. Vinhas da Ciderma Grande Reserva 2007
Nas últimas degustações do ano, apareceu este belo tinto do Douro com castas locais, esbanjando classe e vivacidade. Embora já com dez anos de evolução, não denuncia a idade. Muita fruta no aroma, toques resinosos e de alcaçuz com taninos de ótima textura. Madeira bem equilibrada e bela expansão em boca. Ótimo momento para ser apreciado. Importadora Premium.
números 9 e 10
9. Quinta do Noval Porto LBV Unfiltered 2009
Podemos considera-lo como um mini-vintage, tal a concentração e qualidade deste Porto. Cor retinta, aromas de frutas escuras, toques florais, de torrefação e algo mineral. Seus taninos são densos e muito bem construídos. Doçura e equilíbrio notáveis, além de uma bela persistência aromática. Convém decanta-lo para aeração e também na separação dos sedimentos, já que não é filtrado. Dentro da categoria LBV é dos mais distintos. Importadora Adega Alentejana (www.alentejana.com.br).
10. Alois Kracher Noble Reserve Trockenbeerenauslese
Finalizando a lista, um belo vinho botrytisado da Áustria. O produtor Alois Kracher é referência na região de Burgenland, famosa pela regularidade em propiciar o fenômeno da “podridão nobre”. Num corte inusitado de Welschriesling (Riesling Itálico), Chardonnay, e Traminer, o vinho é maturado em grandes toneis de madeira inerte. Com 195 g/l de açúcar residual, sua doçura é perfeitamente equilibrada por uma revigorante acidez. Os aromas marcantes de Botrytis, mel, flores, e pêssegos, são notáveis. Untuoso em boca e de grande persistência aromática. Pela complexidade e estilo de vinho, tem um preço bem convidativo na importadora Mistral. Vale lembrar, neste tipo de vinho estamos falando em meia-garrafa.
Passando por vários tipos, estilos, preços, e regiões de vinhos, espero que esta lista possa ajuda-los nas compras e presentes no fim de ano com a aproximação das festas e comemorações. As safras e preços podem ter sido alteradas ao longo do ano, mas nada que prejudiquem a qualidade e indicação destes vinhos. A maioria varia entre 150 e 300 reais. Aproveitem!
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14 de Novembro de 2018
Em evento comemorativo da Revista Adega, foram escolhidos alguns painéis temáticos para degustação de vinhos pouco comuns em nosso dia a dia. O evento realizado no charmoso Hotel Unique foi muito bem montado com serviço dos vinhos preciso a cargo das sommelières Gabriela Monteleone e Gabriele Frizon.
abrindo os trabalhos
Nesta primeira degustação, foi escolhido o ícone da Familia Torres, um dos grupos vinícolas mais importantes no cenário internacional, o tinto Mas La Plana Cabernet Sauvignon, cuja primeira safra de 1970, mais conhecido como Gran Coronas Etiqueta Negra, ganhou o importante concurso francês Gault-Millau em 1979, frente a notáveis tintos bordaleses.
As primeiras vinhas datam de 1966, plantadas na Catalunha, nordeste da Espanha, mais precisamente na região de Penedès. Com o passar do tempo, as vinhas criaram raízes, refletindo nos vinhos um terroir mais preciso. Conforme foto acima, a vertical começou com o ano 1977, terminando com o exemplar de 2013. Os vinhos são importados pela Devinum (www.devinum.com.br).
perfis em evolução
A garrafa em magnum do ano 1977 estava perfeita com total evolução do vinho. Neste exemplar, percebemos um caráter notadamente espanhol nos aromas, denotando notas de coco referente ao carvalho americano. Lembra muitos os Riojas Gran Reservas. Seus toques balsâmicos, de frutas secas e em compota, bala de cevada, mostravam aromas sedutores. Em boca, embora ainda prazeroso, percebia-se o peso da idade, com um final de boca mais seco, mostrando que a fruta está indo embora. As garrafas remanescentes devem ser tomadas rapidamente, aproveitando ainda a exuberância de seus aromas, confirmando a distinção deste tinto.
Já o 1989, mostra o auge deste estilo mais tradicional, embora não seja tão marcadamente espanhol. A cor já com borda atijolada pela idade, mostra a evolução de seus aromas terciários com notas de ervas secas, café, tabaco, e algo defumado. Em boca, apresenta mais vigor que o vinho anterior, mas segue na linha de elegância com perfeito equilíbrio. Um vinho que se encontra num ótimo momento para ser tomado com todos os seus aromas e taninos plenamente desenvolvidos.
safra em double magnum
Aqui chegamos no ponto alto da degustação nesta bela safra de 1999. É bem verdade que o formato double magnum ajudou no perfeito estado da garrafa. Além disso, nesta fase da bodega, percebe-se um vinho claramente de padrão internacional, elaborado integralmente com barricas francesas. O vinho encontra-se já muito prazeroso se devidamente decantado. Contudo, ainda há segredos a serem revelados. A cor tem um tendência discretamente atijolada de borda. Os aromas são intensos de fruta concentrada, notas de café, chocolate, um tostado fino, e um toque mineral. Apresenta-se com bom corpo, bela estrutura tânica, e muito boa persistência aromática. Seus taninos são finos e muito bem equilibrados com demais componentes. Talvez algo perto de dez anos para atingir o apogeu. Belo exemplar.
belas promessas
Duas safras em evolução, mas com diferenças marcantes. O 2006 não mostra ser um grande ano. Ao longo da degustação seus aromas sempre muito tímidos. Fruta discreta, toques de especiarias e um tostado fino, apenas. Em boca, mostrou-se ser o menos encorpado e o menos persistente entre todos. Seus taninos não eram tão finos como os demais. Falta um pouco de meio de boca. Embora ainda novo, não deve ser muito longevo.
Já o 2013 é outra história. Tinto de muito vigor, cor compacta, e uma montanha de taninos. Deve ser decantado por pelo menos duas horas. Um pouco fechado de inicio, mas seus aromas foram abrindo progressivamente com frutas escuras, toques minerais e de alcaçuz, além de uma nota de charcutaria (embutidos). Belo corpo, macio, taninos de ótima textura, e persistência aromática expansiva. Este sim, vai longe em adega.
pausa para o almoço
Uma pausa paro o almoço na cobertura do hotel Unique. Tomate confitado com creme de burrata de entrada, tartar de angus com salada, fritas e mostarda como prato principal, e crème brûlée de chá mate como sobremesa. O espumante rosé Desirée da Bueno Vinhos acompanhou adequadamente o refrescante almoço.
grandes promessas
Continuando o dia, partimos para a degustação de tintos argentinos da família Zuccardi. Trata-se de um inovador projeto no Valle de Uco, mais precisamente em Altamira num local extremamente pedregoso de solo aluvial com presença de carbonato de cálcio. O engenheiro Alberto Zuccardi está à frente da vinícola intitulada Piedra Infinita. São vinhas ainda muito jovens, mas com ótimo potencial. Na foto acima, os exemplares que mais me agradaram.
São vinhos de cores muito concentradas, praticamente sem nenhuma evolução de borda. As duas safras apresentaram aromas de frutas escuras intensas e bastante frescas, toques florais, minerais e de café. Encorpados, macios, e de muito frescor em boca. Os taninos são abundantes e finos. Bem equilibrados em álcool e de muito boa persistência aromática. A diferença básica das safras 2013 e 2015 são as porcentagens invertidas entre madeira e concreto. Na safra 2013 predomina a madeira, enquanto na safra 2015, o concreto. Aromaticamente, há um sutil predomínio das notas de café em 2013, enquanto a mineralidade é mais presente na safra 2015. Tintos ainda muito jovens em franca evolução. Esses tintos são importados pela Grand Cru (www.grandcru.com.br).
Tendências e Descobertas
Neste último painel, foram apresentados alguns vinhos mais distintos, diferentes, e de padrão pouco usual. Comento dois dos que gostei mais, de uvas e estilos totalmente diferentes entre si.
mineralidade de Limari
Aparentemente, mais um Sauvignon Blanc de vale frio do Chile. O que diferencia este vinho é sua presença em boca, calcada numa acidez marcante, refrescante, acompanhada por uma salinidade muito revigorante. Os fortes aromas herbáceos até incomodam um pouco, embora seja acompanhado de fruta bastante fresca, além de um intrigante toque esfumaçado (algo mineral, já que não passa em madeira). Bela persistência aromática. Importado pela World Wine.
biodinâmica na veia
Este teria que ser o Gran Finale, o majestoso Coulée de Serrant de Nicolas Joly. Este é um branco que deve ser decantado com horas de antecedência, tal a profundidade de seus aromas. Por ser de fato tão jovem, safra 2014, pessoas que não estão acostumadas a ele podem não entender completamente todo seu potencial. Trata-se de um vinhedo exclusivo, um verdadeiro patrimônio viticultural francês. O vinho é elaborado à base de Chenin Blanc dentro dos mais rígidos preceitos biodinâmicos. A cor é muito intensa, já começando pelo dourado. Com a evolução do vinho em garrafa, torna-se alaranjado, até podendo ser confundido com os famosos Laranjas, tão em voga. Seus aromas vão se revelando aos poucos, a medida que o vinho vai sendo aerado. Notas de marmelo, damascos, ameixa amarela, fruta em caroço, e outras frutas exóticas vão aparecendo. Toques florais e de especiarias, notadamente o curry, vão se intensificando. Em boca, lembra um vinho tinto por sua estrutura portentosa. Macio e ao mesmo tempo com incrível frescor num equilíbrio harmônico. Sua persistência aromática reverbera por minutos. Um lição para quem quer saber o que é um grande vinho branco. Sensacional. Nota 95+ de Parker. Importadora Clarets (www.clarets.com.br).
Meus agradecimentos à Revista Adega por mais esta iniciativa, sempre procurando mostrar painéis de vinhos criativos e educativos, ampliando cada vez mais a cultura do vinho em nosso país. Os anfitriões Christian Burgos e Eduardo Milan sempre muitos gentis e solícitos com todos os convidados. Abraços a todos!
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18 de Março de 2018
Vira e mexe, pinta aquela curiosidade sobre as uvas mais plantadas no mundo. As famosas uvas francesas, ditas internacionais, logo vêm à mente, guiadas por nossa intuição. É claro que elas são importantes e mundialmente conhecidas, mas algumas de nomes absolutamente desconhecidos, têm expressiva área plantada em regiões e países pouco divulgados na mídia. É o caso da uva tinta Kyoho, a mais plantada na China e no mundo. Segue ranking abaixo, na primeira tabela.
Kyoho é uma uva híbrida desenvolvida no período pós segunda guerra mundial. É uma uva de mesa, uma espécie de moscatel, de sabor bem doce. Uva de grande rendimento e resistente a doenças. Em 2015, alcançou 365 mil hectares de cultivo mundial com de 90% na China. É uma uva essencialmente asiática com foco no Japão, Coreia, e Tailândia.
distribuição mundial dos vinhedos
Cabernet Sauvignon
Esta é a segunda uva mais plantada no mundo com 341 mil hectares de vinhas. Disseminada pelo mundo, tem destaque na França, Chile, Estados Unidos, Australia e China. Neste último país, China, seu cultivo entre as castas internacionais é muito expressivo, superando com folga exemplares como Merlot, Chardonnay e Carmenère.
Sultanina
Esta é a terceira uva mais plantada no mundo com 273 mil hectares de vinhas. Uva branca de mesa de origem afegã, antiquissíma. Fundamentalmente utilizada para uva passa, é muito cultivada no Oriente Médio (Turquia e Irã), Ásia Central e Estados Unidos. De sabor muito doce e extremamente produtiva.
Merlot
Mais uma uva internacional com 266 mil hectares de área plantada. Assim como a Cabernet Sauvignon, a Merlot é dissiminada mundo afora. É a uva mais plantada em Bordeaux e também na França com 112 mil hectares de vinhas. Tem boa difusão na Itália também.
Tempranillo
Uva espanhola que assume vários nomes na própria Espanha, além de Portugal, país vizinho. Seus 231 mil hectares de vinhas estão essencialmente na Espanha com 88% da área mencionada. Tem certa expressão na Argentina e Austrália. Em Portugal sob os nomes de Tinta Roriz no Douro e Aragonês no Alentejo, participa de vinhos clássicos regionais.
Airén
Já foi por muito tempo a uva mais plantada no mundo, e ainda é a mais plantada na Espanha. Com seus 218 mil hectares de vinhas majoritariamente na região de La Mancha, presta-se essencialmente à destilação para Brandies e vinhos simples de corte. Com sua produção em forte queda, em mais alguns anos a Tempranillo assume definitivamente a primeira posição na Espanha.
setas: tendência de alta/baixa
Chardonnay
Finalmente, a primeira uva branca internacional neste ranking em sétimo lugar com 210 mil hectares de vinhas. Assim como a Cabernet Sauvignon, é uma uva vastamente cultivada mundo afora. Sua fama vem dos grandes brancos da Bourgogne, além dos belos champagnes onde sua vocação para a espumatização é notável.
Syrah
A Syrah assume a oitava colocação com 190 mil hectares de vinhas plantadas. Embora seja cultivada em vários países, a Austrália conta com 40 mil hectares de vinhas, sendo a uva mais plantada no país dos cangurus. Ainda assim, a França assume a liderança mundial com 64 mil hectares cultivados essencialmente no vale do Rhône. Países como Chile e África do Sul produzem belos vinhos com esta uva.
Espanha: maior vinhedo do mundo
Grenache ou Garnacha
Assumindo a nona colocação, a Grenache conta com 163 mil hectares de vinhas. De origem espanhola, esta uva é bastante cultivada na França, sobretudo no vale do Rhône. França e Espanha perfazem 87% da área mundial cultivada. Normalmente, gera vinhos macios, redondos, e cheios de fruta.
Red Globe
Na décima colocação, mais uma surpresa da China, a uva tinta de mesa Red Globe. Com 159 mil hectares de vinhas em forte ascensão, assumirá em pouco tempo a nona colocação. Mais de 90% de seu cultivo está na China. Uva de grande vigor e altos rendimentos.
Cabernets: números modestos
Sauvignon Blanc
A grande rival da Chardonnay em termos de estilo e projeção, assume a décima primeira colocação com 123 mil hectares de vinhas mundo afora. É a uva mais plantada na Nova Zelândia, onde tem estilo próprio. A França é seu país de origem com maior área cultivada, mas países como Chile e África do Sul apresentam destaque em seu cultivo.
Pinot Noir
No décimo segundo lugar, a temperamental Pinot Noir com 112 mil hectares de vinhas plantadas. Uva de dificil cultivo e raramente expressiva fora da Borgonha, sua terra natal. Países mais frios como Alemanha e Suiça tentam dar um ar mais delicado ao vinho. Já nos países do Novo Mundo, seus vinhos costumam ser extraídos, descaracterizando sua essência.
distribuição equilibrada
Ugni Blanc ou Trebbiano
Em décimo terceiro lugar, temos a Ugni Blanc com 111 mil hectares de vinhas. Na França com 82 mil hectares plantados, é a segunda mais plantada em território francês com ampla destinação ao fabrico de Cognac e Armagnac. Na Itália assumindo o nome Trebbiano, presta-se a vinhos brancos bem simples e espumantes relativamente neutros.
onde estão as viníferas?
Nosso Brasil
Depois de nove uvas de mesa com mais de 60% da área de cultivo de vinhas no Brasil, aparece em décimo lugar com mil hectares de vinhas, a famosa Cabernet Sauvignon. Essencialmente, ainda somos um país de uvas de mesa e de suco de uva. Por sinal, a industria do suco vai de vento em popa. A maciça maioria de vinhos não é de uvas viníferas.
Conclusão
A China como vinhedo será certamente a área mais plantada no mundo, embora sua destinação seja uvas de mesa como volume. Entretanto, qualquer incremento no setor de vinhos costuma ser relevante, dada as dimensões do país.
A França no setor de vinhos vai continuar por muito tempo ditando as regras, haja vista a influência e penetração de suas principais uvas, ditas internacionais, mundo afora.
A Malbec na Argentina e a Riesling na Alemanha continuam como uvas emblemáticas de seus respectivos países, sem concorrentes à altura em outros países de produção bem mais modesta. Na Alemanha temos 24 mil hectares de Riesling e na Argentina, 40 mil hectares de Malbec.
Os Estados Unidos têm sólida posição mundial em seu quarto lugar com grande equilíbrio em seu vinhedo, entre vinhos, uvas passas, e uva de mesa. Uma grande liderança entre os países do Novo Mundo.
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