Archive for Abril, 2010

Sommellerie: Temos um novo campeão

28 de Abril de 2010

Gerard Basset: Os concursos não serão mais os mesmos

Após uma pesadíssima bateria de provas práticas e teóricas com tempos de execução extremamente limitados, classificaram-se como de costume, três candidatos para a finalíssima do Campeonato Mundial de Sommeliers, promovido pela ASI (Association de la  Sommellerie Internacionale), desta feita em Santiago do Chile, em 15 de abril corrente.

Concorreram David Biraud pela França, Paolo Basso pela Suiça e o mítico Gerard Basset pela Inglaterra. A despeito da prova em si, o título é mais do que merecido para Gerard Basset. Finalista em cinco mundiais, Master of Wine e Master Sommelier, credenciais dficílimas mesmo para os mais tarimbados na área. Os concursos por hora, ficarão sem o mesmo brilho com a saída de Basset, já que por questões de regulamento, não poderá mais competir. Talvez, forças ocultas não o deixaram ganhar desde 1992, competição realizada no Brasil, para que sempre tivéssemos sua presença,sua persitência e seu carisma.

Título justificado, vamos ao que interessa. A prova absolutamente igual para os três candidatos transcorreu na seguinte sequência:

  • Um minuto para o candidato justificar a profissão de sommelier (pergunta bem ao estilo Miss Universo)
  • Cinco minutos para servir uma mesa com quatro pessoas, sendo que, dois drinks Negrone (receita oficial) para os cavalheiros e duas taças de champagne para as damas (abrir a garrafa e executar o serviço corretamente)
  • Em outra mesa com três pessoas, cinco minutos para indicar harmonizações a seu gosto sobre seis vinhos indicados numa lista, entre os quais, Champagne Moët & Chandon 1990, Vin de Constantia 2000, um riesling australiano, um Pinot Noir do Oregon, um saquê e um Malbec argentino.
  • Na última mesa, decantar um tinto chileno para seis pessoas em seis minutos.
  • Encerrado o serviço de salão, degustar quatro vinhos às cegas: um branco seco, dois tintos secos e um vinho branco doce. Aqui comprovamos na prática que é humanamente impossível adivinhações, mesmo para estes superdotados.

Resposta certa   Paolo Basso   David Biraud     Gerard Basset

Viognier        Sauvignon Blanc   Sauvignon Blanc    Pinot Blanc

Tempranillo          Pinot Noir                Pinot Noir            Pinot Noir

Vinho de corte    Nebbiolo   Cabernet Sauvignnon   Sangiovese

Ice Wine             Riesling                    Passito                  Ice Wine

O vinho de corte era o Clos de Los Siete, argentino sob a batuta de Michel Rolland, mesclando Malbec, Merlot, Cabernet Sauvignon e Syrah.

  • A seguir, degustação às cegas de oito bebidas (licores e destilados): eau de vie de figo, eau de vie de ameixa, Single Malt, Cognac VSOP, Pisco chileno (estava na cara este tipo de bebida), Vodka, Licor de canela e Amarula
  • A seguir, correção de uma suposta carta de vinhos entre tintos e brancos, onde o nome de vinhos, regiões, denominações eram as armadilhas.
  • Por úlitmo, foram mostradas cinco fotos para serem identificadas: Table Mountain (África do Sul), Opus One, Pichon Baron (Pauillac), Cinque Terre (Ligúria) e vinhas em Lanzarote nas Ilhas Canárias (Espanha)

Depois de tudo isso, é bom fazer um check-up antes de qualquer bebida. Ninguém é de ferro!

 

 

 

Harmonização: Feijoada e Vinho

25 de Abril de 2010

“Feijoada só é completa com maca e ambulância na porta”

Esta frase antológica é de Stanislaw Ponte Preta, saudoso cronista falecido em 1968, cujo nome verdadeiro era Sérgio Porto. Satírico e mordaz combatente da ditadura.

Tradicionalíssima nos cardápios de quartas e sábados, é um prato vigoroso, que exige enorme autocontrole em saber parar na hora certa. Além do prato em si, os acompanhamentos podem ser numerosos e desafiadores: pimenta de vários calibres, torresmo, costelinha, farofa, couve, mandioca, laranja que ninguém é de ferro, entre outros.

Caipirinha e cerveja são de longe seus eternos parceiros. O vinho, sabendo adaptar-se neste ambiente, pode ser uma opção alternativa, nem que for só para variar. Mas por favor, sem pagode.

Talvez este seja o prato mais polêmico quanto à escolha do vinho, chegando ao absurdo de alguns indicarem champagne. O vinho deve ser relativamente simples e rústico, em sintonia com as características do prato. Outro fator esclarecedor é o sal que não deve ser parâmetro na harmonização. Feijoada bem feita tem os pertences devidamente dessalgados, continuando este cuidado até a finalização do prato.

A meu ver, a escolha do vinho deve levar em conta a época do ano. Uma coisa é a feijoada fumegante no verão em uma área externa com temperatura acima de 30ºC. Outra coisa é a feijoada servida no inverno, em ambiente climatizado. Isto permite escolhas de vinho distintas.

No caso do verão, a opção de um vinho tinto medianamente encorpado, com boa acidez e tanicidade moderada, pode fornecer o frescor que a situação requer. Essas características permitem que o vinho possa ser servido ligeiramente refrescado, em torno de 15ºC. Embora possa faltar um pouco de corpo e vigor ao vinho, a função da acidez em cortar gorduras e principalmente promover um agradável frescor ao palato é mais relevante neste caso. Vinhos como Barbera (não barricato), Tempranillo Joven de Toro (tem a rusticidade na medida certa) e vinhos do Douro relativamente jovem, levemente amadeirados, podem cumprir bem o papel.

Já no inverno, podemos equilibrar melhor as forças no que diz respeito a corpo e estrutura. O importante é não abrirmos mão da acidez, fator muito mais presente em vinhos do Velho Mundo. Juntamente com os taninos, a acidez vai combater de forma eficiente as gorduras do prato, mantendo um frescor agradável. A força do vinho e toques amadeirados encontram eco nas diversas carnes defumadas e de sabores pronunciados. Nosso atual campeão brasileiro, o sommelier  Guilherme Correa, costuma indicar um vigoroso Bairrada, vinho elaborado próximo a Coimbra com a indomável uva tinta denominada Baga. Já o campeão mundial, sommelier  Enrico Bernardo, indica um Syrah do Rhône sob várias apelações: Saint-Joseph, Crozes-Hermitage e Côte-Rôtie. Particularmente, esta última, muito sofisticada para o prato.

Outras indicações possíveis são vinhos do Dão Reservas, Douros Reservas, Barbera Barricato, Tempranillo Crianza ou Reserva de estilo mais tradicional.

A França também tem  resposta para sua feijoada local, o Cassoulet. É bem verdade que no caso, trocamos o feijão preto pelo branco, além de outros ingredientes e processos de elaboração diferenciados. Contudo, o vigor do prato é semelhante e sendo proveniente da região do sudoeste francês, tintos vigorosos e rústicos como Madiran (uva Tannat) e Cahors (uva Malbec, localmente conhecida como Côt) são as escolhas clássicas.

As opções para brancos e espumantes não encontram sintonia com sabores e corpo do prato, embora possam fornecer frescor suficiente e agradável. Além disso, os estilos mais encorpados, amadeirados e potentes, carecem de acidez mais pronunciada.

Opções de rosés mais encorpados podem ser tentadas para um clima de verão. O famoso rosé de Tavel (Rhône) de safra relativamente recente é um exemplo clássico. Vários exemplares do Novo Mundo obtidos pelo método de sangria (contato relativamente prolongado com as cascas na fermentação) são opções a serem testadas.

Uma coisa é certa. Para este prato não existe unanimidade. E viva Nelson Rodrigues!

Harmonização: Frango Xadrez e Vinho

21 de Abril de 2010

A qualquer hora, um dos campeões do Delivery!

Atire a primeira pedra quem já não discou para os chineses. Mesmo que não seja seu prato favorito, é uma bela solução numa hora de apuros. E até mesmo nestas horas, uma prosaica garrafa de vinho pode e deve tornar o momento agradável e muito mais interessante sensorialmente.

As variações da receita são inúmeras, mas vamos dividí-las com legumes ou com amendoim. Os ingredientes onipresentes são frango em cubos, pimentões, cebola e shoyu. Os legumes podem incluir cenouras, brócolis, acelga, entre outros. O amendoim é uma questão de gosto, pode ser acrescentado ou não.

O prato tem peso médio (normalmente peito de frango)  e é relativamente simples. Portanto, nada de vinhos sofisticados. Lembre-se que temos pimentões que costumam ofuscar sutilezas de grandes vinhos. Um ponto importante é a textura do molho, bastante aveludada quando o prato é bem executado. A crocância dos ingredientes é também uma marca registrada da culinária chinesa.

Uma das melhores opções é um bom espumante, inclusive os nacionais de leve a médio corpo. A acidez e efervescência destes vinhos animam o prato, limpando agradavelmente o paladar da delicada textura oleosa do molho. Se sua opção for pelos legumes, opte por um espumante do método Charmat, onde os sabores frutados e florais vão de encontro ao sabor do prato. Proseccos de boa procedência no estilo Extra-Dry (não tão secos como o Brut) são benvindos.

Se a opção for com amendoim, os espumantes pelo método Champenoise (método Tradicional ou Clássico são sinônimos) apresentam melhor sintonia. Os aromas advindos do contato relativamente prolongado com as  leveduras, além de uma eventual mineralidade, casam melhor com o perfil de frutas secas dado pelo amendoim. Um Cava (espumante espanhol elaborado obrigatoriamente pelo método Clássico) relativamente simples é uma ótima pedida. Não desperdiçe um Cava sofisticado, nem tão pouco um Champagne com amendoins. Não estamos falando de avelãs, amêndoas, nem nozes, e sim de uma semente tupiniquim.

Além dos espumantes, vinhos brancos relativamente leves, frescos e frutados caem bem. Evite vinhos de aromas austeros e minerais como um Chablis por exemplo. O mesmo vale para os tintos. Um Sancerre (Pinot Noir do Loire), um Dolcetto, um Tempranillo Joven ou nacionais sem passagem por madeira são alternativas interessantes.

Por fim, a culinária chinesa é extremamente rica e vai muito além do nosso frango xadrez. Em linhas gerais, os brancos alemães combinam muito bem, principalmente com molhos agridoces e receitas com carne suína. Oportunamente, falaremos sobre o assunto.

 

Harmonização: Carpaccio e vinho

17 de Abril de 2010

 

Carne com a cara do verão

Embora hoje em dia carpaccio tenha várias versões e não seja somente de carne bovina, estamos nos referindo àquele criado no lendário Harry´s Bar de Veneza com as devidas adaptações que individualizam cada receita.

Sem entrar em polêmica sobre a receita ideal, na maioria das versões  resume-se em lâminas de carne dispostas sobre  a superfície do prato besuntadas com um molho à base de mostarda, azeite e alcaparras (por favor devidamente dessalgadas). Eventualmente podemos acrescentar ao molho  aceto balsâmico e cebolas finamente fatiadas em cubinhos.

Aqui observamos o quão importante é a textura de um determinado alimento, no caso, a carne bovina. É evidente que quando pensamos em carne vermelha, imediatamente lembramos de um belo vinho tinto, muitas vezes encorpado.

Neste exemplo, a lâmina de carne oferece uma textura tão delicada que a força de um tinto não é mais necessária. O que realmente determina a escolha do vinho são as armadilhas do molho onde comumente temos acidez, picância e eventualmente uma tendência salgada. Devemos lembrar também que este prato trata-se de uma entrada, embora esporadicamente, pode tornar-se o prato principal para os adeptos de uma dieta saudável.

 Com esses elementos podemos pensar até num vinho branco leve e de boa acidez. Um Sauvignon Blanc com toques herbáceos ou um Albariño de boa mineralidade. Para aqueles que não abrem mão de um vinho tinto, os critérios são os mesmos: corpo relativamente leve, boa acidez e baixa tanicidade. Italianos como Chianti, Docetto, Valpolicella ou Barbera, todos simples e sem passagem por madeira são escolhas imediatas. Do lado francês, um bom Cabernet Franc do Loire de estilo leve é uma das melhores pedidas. A opção de espalhar lascas de parmesão sobre o carpaccio em sua finalização ajuda a escolha pelos tintos.

Vinhos do Novo Mundo, sobretudo os tintos, geralmente sobrepujam o prato, além de não apresentarem frescor suficiente. Somados a fatores como tanicidade e presença de madeira, o sucesso da harmonização fica seriamente comprometido.

 

 

Taças de vinho: muito mais que um detalhe

12 de Abril de 2010

 

As taças de vinho  aliadas a uma temperatura de serviço adequada são peças essenciais à apreciação da bebida. Segundo Riedel, um dos mais respeitáveis fabricantes do gênero, cada tipo de vinho tem sua taça adequada, ou seja, por trás de um belo design existe uma sofisticada engenharia capaz de satisfazer os mais exigentes paladares. Mais do que isto, valorizar toda a potencialidade e nuances de um determinado vinho. Portanto, o conteúdo  determina a forma.

O exemplo clássico para os incrédulos é provar um borgonha tinto e um bordeaux tinto em suas respectivas taças e depois invertê-las. Nas taças trocadas, eles ficam irreconhecíveis. A explicação é a seguinte: a primeira impressão é a que fica. Estudos mostram que a velocidade de percepção do sabor é de 400 metros por segundo, ou seja, o região da língua tocada pelo vinho assim que é provado torna-se o ponto fundamental.

Na figura acima a taça contendo vinho corresponde aos tintos de Bordeaux. Percebam que ela é mais alta e estreita em relação às outras duas designadas para vinhos da Borgonha. Isso faz com que o vinho seja direcionado para o centro da língua e não para as laterais. Neste raciocínio, a percepção de acidez é rechaçada enquanto a percepção de fruta e  de taninos é enaltecida. Portanto, com esses dados iniciais você conseguer ter a noção exata de corpo e estrutura de um belo bordeaux.

Já na taça de borgonha tudo muda. Com a borda mais aberta, o vinho é direcionado para as laterais da língua, sensíveis à acidez. Com isso, os taninos tornam-se agressivos. A modificação de textura induz à uma distorção da noção de corpo do vinho, sentindo-o menos encorpado. Em resumo, o bordeaux torna-se áspero e aguado.

O exemplo pode ser invertido para os borgonhas tintos (Pinot Noir), valendo também para a uva Nebbiolo, protagonista dos famosos Barolos e Barbarescos. Considerado pelos críticos, a Borgonha da Itália (que os franceses e italianos não me escutem), a taça para esses belos vinhos piemonteses adequa-se muito bem  às mesmas de borgonha.

A taça bordalesa é bastante versátil, adequando-se a vários tipos de vinho de diversas uvas, tais como: Malbec, Syrah, Merlot, Cabernet Sauvigon, Sangiovese, Tempranillo de estilo encorpado, Brunellos, vinhos do Douro, entre outros.

Os demais tipos de taças (brancos, tintos, espumantes, vinhos doces) não abordados neste post  seguem este mesmo raciocínio arquitetônico com rígidos controles de altura da taça, capacidade do bojo, ângulo de convergência, detalhe de borda, entre outros parâmetros.

No Brasil, a cristaleria nacional  Strauss oferece boas opções, sendo muitos modelos réplicas da Riedel. A importadora Decanter é representante oficial da marca (www.decanter.com.br).

Em resumo, escolher a taça adequada é tão importante quanto a escolha do vinho, independente da beleza e imponência da mesma. Lembre-se de Riedel: O conteúdo determina a forma.

 

Harmonização: Pizza e vinho

8 de Abril de 2010

 

O irresistível triângulo amoroso do paulistano

Esta paixão paulistana reflete-se a cada quarteirão por toda a cidade, sem falar nas inúmeras opções de sabores. Basta  enumerarmos os ingredientes de uma pizzaria, contratar um matemático para calcular todas as variações possíveis entre os mesmos e teremos por baixo, mais de cem sabores, alguns absolutamente bizarros.

Neste contexto, será que há espaço para o vinho? Mais ainda, será que um determinado tipo de vinho seria satisfatório?

Mais uma vez, caímos naqueles pratos que são chamados condutores de sabor, onde a Itália tem um vasto repertório: pizzas, risotos e massas são só alguns dos exemplos. Portanto, os ingredientes são fundamentais para a escolha do vinho. Evidentemente, os italianos saem na frente por apresentarem afinidades naturais (vinhos locais com pratos da região), além de serem os mais gastronômicos de uma maneira geral.

Primeiramente, devemos escolher um vinho relativamente simples, sem grandes predicados. Afinal, o prato também é simples, não necessitando de grande sofisticação. Em termos de corpo, o ideal é um vinho medianamente encorpado, pois a massa de pizza não apresenta uma textura muito robusta, principalmente as chamadas massas finas, as quais tem grande aceitação no mercado. Outro ingrediente em comum é o molho de tomate que é espalhado logo após a modelagem do disco de pizza, conferindo uma certa acidez e muitas vezes um toque de alho incorporado ao molho. Daí para frente, tudo pode mudar de acordo com as opções oferecidas.

Em linhas gerais, um Chianti simples, não um Chianti Classico, de safra relativamente recente ou um Barbera também simples, não um barricato, e relativamente novo são opções coringas. Esses vinhos apresentam a simplicidade que o prato pede. A boa acidez e a baixa tanicidade são fatores muito benvidos  para enfrentar os molhos, ingredientes picantes, cebola , azeitona e a textura do queijo derretido. Um branco de bom frescor também harmoniza bem em muito casos, principalmente quando lidamos com ingredientes do mar (peixes, alici, frutos do mar).

O importante é fugirmos de tintos muito encorpados, tânicos, amadeirados e muitas vezes caros, que além de encobrirem o sabor da pizza, frequentemente geram sensações desagradáveis de harmonização como amargor e distorção de sabores.

Vamos a seguir exemplificar três pizzas de enorme tradição, tanto aqui, como na Itália:

Pizza Margherita

As cores da Itália: mozarela, tomate e manjerição. Neste caso, um vinho branco é a escolha ideal, preferencialmente um branco de boa acidez e toques herbáceos, como um Sauvignon Blanc por exemplo. Dentre os italianos, um Greco di Tufo, um Fiano di Avellino ou um Vermentino da Liguria ou da Sardegna ficariam muito bem. Greco, Fiano e Vermentino são uvas autóctones italianas com exemplares nas grandes importadoras.

Pizza Romana

Ingredientes: molho de tomate, mozarela e alici. A grande preopupação aqui é o alice. Sabor marcante e sal intrínseco. Aqui o vinho precisa ser um branco de acidez mordaz  e certa neutralidade de aroma, sem traços frutados evidentes. Deve ser um vinho de mineralidade como um Albariño, Muscadet ou Pouilly-Fumé básico de um bom produtor. Do lado italiano, um típico Trebbiano da Toscana, cumpre bem o papel.

Pizza Calabresa

Ingredientes: molho de tomate, calabresa e cebola. Molho de tomate e cebolas em profusão não combinam com sofisticação. A linguiça calabresa tem sabores marcantes e picantes. Neste caso, precisamos da força de um tinto com certa rusticidade no bom sentido da palavra. Um Rosso di Montalcino ou Cerasuolo di Vittoria, tintos respectivamente da Toscana e Sicilia, são belas pedidas. Fora da Itália, um Tempranillo espanhol  jovem de Toro, um Shiraz australiano simples e de safra recente (pode faltar um pouco de acidez) ou Côtes du Rhône jovem são boas alternativas.

Então, mãos à obra, os outros cem sabores, no mínimo, são com vocês! Mais um motivo para muitas pizzas, felizmente.

 

 

 

Dicas de vinhos

1 de Abril de 2010

Tenho recebido algumas opiniões que neste blog não há muitas dicas de vinhos. Tanto é verdade, que mudei a seção de Vinho da semana para Vinho em destaque. Realmente, não sou a pessoa mais indicada para oferecer inúmeras dicas, as quais inundam vários sites e blogs. Depois de uma certa vivência na área, começamos a perceber que a maioria das dicas tem um caráter muito mais comercial do que qualquer outro propósito. Afinal, é preciso vender, lei da sobrevivência. Contudo, podem estar certos de uma coisa: quando eu mencionar algum vinho, sinceramente na minha irrestrita opinião, é que este vinho vale a pena, quer seja pela sua qualidade diferenciada, quer seja pelo preço muito abaixo de seus predicados. Porém, não vou deixá-los sem respostas.

Penso que a melhor dica  é algo que vá de encontro com as afinidades  de cada um. Neste sentido, o mundo do vinho tem opções para todos os gostos e todos os bolsos.

Algumas importadores no Brasil oferecem vinhos específicos de determinados países, fruto de um longo trabalho e absolutamente fiéis a seus propósitos. Seguem abaixo alguns exemplos:

  • Importadora KMM (www.australiacom.net). Especializada há anos nos melhores vinhos australianos. Procurem pela proprietária Marli e você terá belas dicas.
  • Importadora Península (www.peninsula1.com). Especializada em grandes vinhos espanhóis. Procurem pelo proprietário Juan. Extremamente simpático e um entusiasta da Espanha.
  • Adega Alentejana (www.alentejana.com.br). Especializada em vinhos portugueses, notadamente do Alentejo. Seu proprietário, Manuel Chical possui todas as informações técnicas que você necessitar.
  • Importadora Premium (www.premiumwines.com.br). Especializada em vinhos neozelandeses. Rodrigo, um dos proprietários, tem capacidade de sobra para orientá-lo. Está cursando e buscando o dificílimo título Master of Wine.
  • Importadora Cellar (www.cellar-af.com.br). Se você procura grandes vinhos franceses e italianos a preços justos, fale com o proprietário Amaury de Faria, um dos maiores conhecedores de vinhos do Brasil.

Das grandes importadoras como Mistral, Vinci, Grand Cru, World Wine, Decanter e Zahil, confesso que é preciso certo conhecimento para garimpar suas garrafas preferidas. A despeito de trazerem grandes produtores, seus catálogos são relativamente extensos para a maioria dos consumidores, principalmente aqueles que estão iniciando no mundo do vinho.

Às demais importadoras não mencionadas neste post peço desculpas, mesmo porque, sempre haverá esquecimento de uma ou outra. Entretanto, não faltarão oportunidades de mencioná-las em momentos adequados, inclusive de  forma individualizada.

Está muito em voga a frase: o melhor vinho é aquele que você gosta. Como diria Dr. Sérgio de Paula Santos: gosto não se discute, mas educa-se. Portanto, ainda prefiro a legenda discretamente mencionada em Vinho sem Segredo da autoria do  grande enólogo Emile Peynaud.

Voltando às dicas, no decorrer da elaboração deste post, apareceu um belo vinho em minhas degustações que segue em detalhes logo abaixo.

Domaine Breton: A consciência de um Terroir

1 de Abril de 2010

 

Varietal impresso em rótulo francês

Estava escrito nas estrelas. Catherine et Pierre Breton nasceram para cultivar Cabernet Franc no Loire, uma das regiões francesas mais diversificadas em tipos e estilos de vinhos. A razão é óbvia. O nome desta uva no Loire é exatamente o sobrenome do casal.

Sob as apelações Chinon e Bourgueil localizadas na sub-região de Touraine, a Breton (Cabernet Franc) encontra sua melhor expressão como varietal, já que na região de Bordeaux, ela é sempre utilizada em cortes de maneira minoritária.

O vinho provado ontem em degustação temática na ABS-SP (Associação Brasileira de Sommeliers), apesar do infanticídio cometido, é a feliz conjunção de um grande produtor, um vinhedo diferenciado e uma safra perfeita. Tradução: Domaine Breton Bourgueil Clos Sénéchal 2005 (preço: R$ 120,00 – importadora World Wine – www.worldwine.com.br)

Catherine e Pierre Breton são biodinâmicos, o que em linhas gerais, podemos traduzir como total respeito à natureza. Portanto, não usam qualquer produto químico em toda a elaboração de seus vinhos, tanto no campo, como na adega. A fauna e flora locais precisam estar em harmonia para que as vinhas, parte deste ecossistema, possam produzir frutos de grande qualidade e pureza. É lógico que só esta filosofia não basta. É preciso ter talento para fazer vinhos. E isso eles têm de sobra.

Clos Sénéchal é um vinhedo de aproximadamente 1,3 hectares em solo argiloso com forte presença de calcário. Isso faz com que as uvas gerem vinhos de boa acidez, estruturados e aptos ao envelhecimento. A safra de 2005 na Europa de uma maneira geral foi perfeita, com todos os fatores climáticos sintonizados às respectivas estações do ano. Portanto, com uvas perfeitas nas mãos de quem entende, o sucesso decorre de maneira natural.

Fermentação com leveduras naturais, as quais fornecem personalidade própria ao vinho, utilização baixíssima de SO2 e muito pouca manipulação com ausência de filtração, são alguns dos detalhes deste belo vinho.

Cor concentrada e muito pouco evoluída. Aromas tipicos da casta com toques florais de violeta, destacada mineralidade e um núcleo extremamente frutado lembrando framboesas. Para desfrutá-lo nesta tenra idade é imperativo duas horas de decantação. Para os mais conscientes, esqueça-o na adega ao menos cinco anos.


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