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Sommellerie: O Podium 2019 é da Juventude

20 de Março de 2019

Neste último mundial realizado na Bélgica pela ASI (Association de la Sommellerie Internacionale), os dezenove finalistas são extremamente jovens com raras exceções. Para a grande final, foram escolhidos os três melhores com  dois deles, abaixo de trinta anos. O sommelier campeão de 2019, o alemão Marc Almert de 27 anos, repetiu o feito de Enrico Bernardo. Um jovem sommelier que pela primeira vez participando de um mundial, levou a taça sem contestações. Isso vem provar que só a experiência não basta, é preciso conhecimento e atualização neste mundo extremamente dinâmico.

ASI sommelier 2019site: http://www.starwinelist.com

Os outros dois concorrentes, a dinamarquesa Nina Hojgaard Jensen e o letão Raimonds Tomsons, competiram de igual para igual. Muitos acharam que Nina pudesse ser perfeitamente a campeã mundial, a primeira mulher  nesta competição. Marc Almert, ao centro da foto.

Para não alongarmos a história, vamos detalhar os passos do campeão. A grande final começa com o serviço de um suposto Sauternes para um casal de amigos e uma cerveja belga para um  outro amigo em comum. O jovem campeão tira a cerveja com extrema técnica, preservando a mousse na hora do serviço em copo adequado, fato esperado para um autêntico alemão. O serviço do Sauternes tem um inconveniente, no qual o único vinho doce encontrado no balde de gelo é o famoso Late Harvest Vin de Constantia, África do Sul, normalmente vedado com cera. A regra manda que o vinho seja aberto sem a retirada da cera, o que facilita o serviço. A mulher do casal, prefere o serviço com um pouco de gelo, onde o sommelier executa sem contestação.

ASI semifinalistas 2019os dezenove semifinalistas

Na foto acima, David Biraud, o segundo da segunda linha, sommelier francês de larga experiência, ficou fora da grande final. Outro destaque, foram dois japoneses entre os semifinalistas. Martin Bruno da Argentina, foi o único representante sul-americano nas semifinais. 

Continuando a saga, o sommelier Marc Almert é chamado para uma degustação às cegas de um vinho tinto. O vinho é um australiano Henschke, um dos mais afamados do país dos cangurus com parreiras pré-filoxera. Este exemplar trata-se do Mount Edelstone, um 100% Shiraz de parreiras com mais de 85 anos de vida. O vinho é confundido com um grande Bordeaux de  margem direita, citando o Chateau Canon-Gaffelière safra 1997, provando mais uma vez que degustação às cegas não é fácil.

Continuando o trajeto, Marc é solicitado para decantar um Vega-Sicilia Reserva Especial para oito pessoas. Ele explica que normalmente os Reservas Especiais são fruto de uma mistura de três safras altamente cotadas. O serviço é feito com cesto à luz de vela, como manda o ritual no tempo solicitado. O Vega-Sicilia decantado é um lançamento de 2016 onde foram mescladas as safras 96, 98 e 2002. O primeiro lançamento na história do Reserva Especial deu-se no ano de 1965, uma das perguntas de um dos componentes na mesa.

rheingau pinot noir beerenauslese

um raro Pinot Noir doce

Na sequência, uma bateria com quatro vinhos às cegas. Um Mouchão, tinto alentejano, um Malvasia da Croácia, um Chateau Chalon (Jura), e um raro Pinot Noir alemão doce do produtor Assmannshauser, vinhedo Holleberg, Spatburgunder categoria Beerensauslese do Rheingau, safra 1989. O da foto acima não é da degustação por ser safra 1977. Mesmo o melhor do mundo, não acertou nenhum, provando mais uma vez que degustação às cegas é um ato de humildade. Na sua avaliação, o Mouchão passou por um belo Rioja Reserva, Chaton Chalon passou por Jerez, fato unanime entre os três finalistas, Malvasia passou por um Riesling austríaco do Wachau, e finalmente, o Pinot Noir doce passou por um Madeira Boal, mesma opinião de Nina Jensen. Já Raimonds Tomsons optou por um Tokaji 6 Puttonyos.

Continuando a trilha, é proposta uma harmonização com um menu de quatro pratos, a seguir:

  • Carpaccio of lighty seared Norwegian scallops with mango, avocado e coriander
  • Médallion of monkfish in a mushroom and chicken broth with périgord truffle and pata negra crisp
  • Beef cheeks braised in red wine with a celeriac and truffle purée
  • Belgian chocolate and walnult soufflé with roquefort sorbet

Marc Almert propõe os seguintes vinhos:

  • um branco alemão da casta Sylvaner bem fresco com a entrada
  • um Chateau Haut-Brion branco 2008 com o Tamboril
  • um Chardonnay americano de Carneros pela imposição de um dos componentes da mesa em tomar vinho branco com beef cheeks
  • um Porto Quinta de la Rosa LBV para a sobremesa de chocolate

As indicações foram boas, não fugindo muito dos clássicos. O Sylvaner alemão é bastante revigorante para a entrada de vieiras, proporcionando sabores delicados do prato, frente a discreta aromaticidade do vinho. O Haut-Brion branco tem estrutura para o Tamboril, peixe de carne firme e rico em sabores. Os cogumelos e as trufas casam bem com um certo envelhecimento do vinho, sendo a safra sugerida 2008. O Chardonnay americano de Carneros com passagem por barrica, tem estrutura para o prato de bochechas com pure de trufas. A escolha de um vinho branco foi imposição de um dos convivas da mesa. Por fim, uma escolha segura pelo Porto LBV, combinando tanto com o chocolate, como com o sorvete de queijo gorgonzola (similaridade com o Stilton inglês). 

Seguindo as tarefas, é proposto dois quadros com oito uvas, as quais têm correspondência com 24 vinhos de grande fama mundial. Portanto, um quadro com varietais brancas (Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling, Aligotè), e outro com varietais tintas (Sangiovese, Merlot, Pinot Noir, Syrah). Alguns dos 24 vinhos famosos foram: Soldera Pegasus (Sangiovese), Chacra 55 (Pinot Noir), Isole e Olena Cepparello (Sangiovese), Chave Cuvée Cathelin (Syrah), A&P de Villaine Bouzeron (Aligoté), entre outros. 

Por fim, a sétima tarefa na tensa competição foi degustar às cegas dez tipos de bebidas das mais variadas origens, tipos e estilos. Achei um pouco exagerado o número de bebidas. Poderia ser perfeitamente seis bebidas, no máximo. Enfim, o campeão não se deu muito bem nesta última prova, confessando ao final que foi o teste mais complicado para ele. Das dez bebidas, ele respondeu apenas sete, acertando apenas duas. Chegou a confundir nossa cachaça com vodka polonesa. Neste teste em particular, o letão Raimonds Tomsons saiu-se melhor.

marc almert bellavista rose magnumASI – Association de la Sommellerie Internacionale

Antes da divulgação das colocações, os três finalistas serviram um Magnum de espumante Bellavista Franciacorta Rosé em dezesseis taças (foto acima), tomando o cuidado de servir a mesma quantidade por taça, sem sobrar espumante na garrafa. O campeão fez o serviço com eficiência e em menos tempo.

Passar por todos esses percalços numa prova de sete etapas diante de uma plateia lotada, vários campeões mundiais à mesa, num cenário de restaurante, e com tempo contado sem muita margem de folga, exige nervos de aço dos sommeliers. Neste sentido, o alemão levou vantagem, mantendo a frieza alemã na medida do possível. Além disso, por ser sua primeira vez num mundial, o mérito fica ainda maior. Agora com este título e uma carreira inteira pela frente, o caminho fica mais fácil para o estrelato. Parabéns Marc Almert!

 

Canadá novamente no topo das Américas

4 de Junho de 2018

Realizado agora no mês de maio/2018, mais um campeonato pan-americano de sommeliers sob a tutela da ASI (Association de La Sommellerie Internationale). Mais um vez um canadense sobe ao podium para conquistar o primeiro lugar, Pier-Alexis Soulière, Master Sommelier. Em segundo lugar, o argentino Martin Bruno, e em terceiro lugar, outro canadense, Carl Villeneuve Lepage. Os brasileiros Paulo Limarque e Diego Arrebola participaram do concurso realizado em Montreal onde Diego chegou às semifinais entre os oito melhores.

sommelier america 2018

campeão, vice, e terceiro, da esquerda para direita

Após exaustivas provas de serviço e uma prova escrita sempre “cabeluda”, os três sommeliers acima, realizaram a grande final num cenário cheio de tarefas e desafios. Para aqueles com interesse e paciência, segue o endereço no youtube com mais de quatro horas de duração.

Baseado na prova do campeão, vamos descreve-la passo a passo, enfatizando o ritual e a dificuldade das várias etapas, sempre com tempo justo para um serviço eficiente e sem rodeios.

O início de prova de Pier-Alexis foi meio desastroso e preocupante. O candidato ficou visivelmente perturbado, mas daí para frente soube conduzir o evento com segurança. Digo isso porque a primeira tarefa era servir uma mesa com três pessoas onde duas beberam um champagne Piper-Heidsieck, e a outra pessoa pediu um Manhattan, cocktail clássico, composto de rye whisky (normalmente canadian whisky), red vermouth, angostura bitter, decorado com um palito espetado numa cereja. Pois bem, ele fez uma confusão de início, batendo o cocktail na coqueteleira, usando outros ingredientes, mas felizmente lembrou do processo correto e fez tudo de novo a tempo. A abertura e serviço do champagne foram corretos, embora sem muito charme.

Em seguida, numa mesa com seis pessoas, entre elas os campeões mundiais, Paolo Basso e Serge Dubs, o candidato tinha que harmonizar vinhos das Américas de diferentes países com o menu descrito abaixo. Tempo de seis minutos.

MENU

Caviar de Rio Negro

Espumante Santiago Queirolo Blanc de Blancs (Peru)

Erizos de Puerto Montt (Ouriço do Mar)

Bodega Garzon Albariño (Uruguai)

Ceviche Mixto

Casa Marin Sauvignon Blanc (Chile)

Ojo de Bife com papas rusticas

Miolo Lote 43 (Brasil)

Pecan pie with maple syrup

Sine Qua Non Mr. K NobelMan Chardonnay (California)

As harmonizações foram clássicas e precisas com países variados das Américas, conforme exigido. Particularmente, prefiro um espumante mais encorpado e ultra seco com caviar. A indicação do Albariño uruguaio com o ouriço foi bem original. Ceviche e Sauvignon Blanc é chover no molhado, embora Casa Marin faça um varietal exemplar. Boa indicação brasileira para ojo de bife (miolo do bife ancho) com a menção do Lote 43 da Miolo, Brasil. O mais original foi a lembrança de um raro Chardonnay botrytisado da Califórnia da vinícola boutique Sine Qua Non. A doçura e incrível acidez do vinho realçam os sabores da torta pecan.

Continuando o roteiro, foi proposto a abertura de um Sancerre de Pascal Jovilet Attitude em Magnum, uva Sauvignon Blanc, decantado em dois decanters de 750 ml. O vinho com aromas redutivos se beneficia com a decantação. O serviço foi feito no tempo proposto, seis minutos.

Seguindo o enterro, veio uma bateria de degustações às cegas. De início, uma Barolo de Paolo Scavino, descrito corretamente e com palpite certeiro. Em seguida, a descrição de um Madeira Boal com seus aromas complexos, mas confundido como Jerez Oloroso pelos candidatos. Continuando, três Cabernet Sauvignon das Américas às cegas, sendo proposta a descrição e a procedência de cada um. O campeão acertou só o primeiro, um Cabernet americano, não exatamente de Napa Valley, mas Knights Valley, e confundiu os outros dois. O segundo era um Cabernet do Maipo, Chile, e o outro, um Cabernet argentino de Salta. Mesmo para um Master Sommelier, às cegas, é sempre difícil um acerto total.

manhattan cocktail

 Manhattan: um dos clássicos da coquetelaria

Em compensação, os cinco destilados que vieram em seguida, ele matou a pau todos em menos de dois minutos. O primeiro era uma Grappa, o segundo uma Vodka, o terceiro um Gin inglês, o quarto uma Tequila, e por último um Pisco chileno de Limari. O homem conhece bem os Espíritos …

Por fim, uma série de slides mostrando sempre três vinhos em cada slide com algum tipo de erro na descrição. Não acertou todos, mas mandou bem na maioria deles. Havia erro na denominação de origem de alguns, vinhos não elaborados em certas safras, e uvas equivocadas em outros.

sommelier andreas larsson

título mundial em 2007 

O sueco Andreas Larsson foi o apresentador da prova final, conduzindo o evento com charme e precisão. Com vários títulos internacionais, sagrou-se campeão mundial pela ASI em 2007 na cidade de Rhodes, Grécia.

Antes da premiação, foi exibido na tela algumas personalidades femininas no mundo do vinho. Entre elas, Jancis Robinson, a Baronesa Rothschild, Laura Catena, Madame Lalou-Bize Leroy, Madame Lily Bollinger, entre outras. Último teste para identificação das personalidades antes do anúncio esperado para o melhor sommelier das Américas.

Com mais este resultado, a escola canadense está fazendo história na sommellerie das Américas com fortes candidatos, inclusive para o mundial que se aproxima, já no próximo ano de 2019 em Bruxelas.

O vinho reduzido a números!

15 de Março de 2017

Fala a verdade! É chato você reduzir um vinho a uma nota, um número. Entretanto, a vida muitas vezes não tem esse lado romântico. É preciso quantificar, avaliar, dar notas e aí, a polêmica está naturalmente sacramentada. Para complicar um pouco mais, as escalas de notas, os critérios, são os mais variados e subjetivos. Por mais que você queira ser cartesiano, como quantificar complexidade por exemplo?

A mais famosa das escalas é a pontuação de 0 a 100 pontos. Melhor dizendo, 50 a 100 pontos. Melhor ainda, 80 a 100 pontos. Experimente pontuar um vinho abaixo de 80 e mostra-lo numa prateleira de vinhos. Ele jamais será vendido. Engraçado! quando eu tirava notas escolares em torno de 80, era uma maravilha. Para o vinho, os critérios são bem mais rigorosos.

De fato, com os atuais conhecimentos enológicos, conhecimentos de campo (viticultura), é praticamente obrigação de uma vinícola séria elaborar vinhos com pelo menos 80 pontos. Tanto é verdade, que mais de 80% dos vinhos avaliados apresentam notas entre 80 e 90 pontos.

rating winesAs várias escalas de pontuação

Esta escala centesimal é mais fácil de ser compreendida pelo público, embora para notas maiores que 90, e principalmente 95, o acréscimo de um ponto a mais na nota tem um efeito mais exponencial do que linear. Essa sensação complica mais ainda, quando lidamos com a escala de 0 a 20 pontos, cada vez mais popular. Por exemplo, Jancins Robinson, Revista de Vinhos, Revue du Vins de France, entre outras publicações.

quinta crasto touriga ncional 2011

Wine Spectator 95 pontos

Revista de Vinhos 17,5 pontos

Para exemplicar, vamos ao rótulo acima do excelente tinto português Quinta do Crasto Touriga Nacional 2011. Esse vinho foi avaliado com 95 pontos pela Wine Spectator e 17,5 pontos pela Revista de Vinhos de Portugal. Será que essas notas se equivalem? vejamos …

Pontuação 12 a 20

Exame Visual: até 3 pontos

Exame Olfativo: até 7 pontos

Exame Gustativo: até 10 pontos

Para tentar explicar a pontuação de 0 a 20, vamos imaginar dois pensamentos extremos de avaliação, analisando as principais notas mostradas na maioria das publicações.

Nota 13

Num pensamento simplista, para comparar esta nota com a escala de 0 a 100, basta multiplicar por cinco a nota em questão. Portanto, nota 65. Claramente, uma nota baixíssima e absurda. Por outro lado, vamos imaginar que o critério de 0 a 20  seja dar notas a partir de 80 pontos, já que praticamente não existem vinhos comerciais abaixo deste valor. Portanto, adicionamos 13 pontos aos básicos 80, resultando em 93 pontos. Outra nota absurda, reservada somente a grandes vinhos.

Fazendo uma média aritmética entre 65 e 93, chegamos a 79 pontos, algo bem mais razoável para a escala em questão. Aplicando este raciocínio para as demais notas sucessivas (14, 15, 16, …), vamos acrescendo três pontos a cada degrau.Portanto, 14 equivale a 82, 15 a 85, 16 a 88, 17 a 91, 18 a 94, e 19 a 97.

Voltando ao nosso exemplo, os 17,5 pontos da Revista de Vinhos chega próximo a 94 pontos, fazendo algum sentido na comparação. Talvez pelos portugueses não serem tão comerciais como os americanos, mesmo sendo um vinho da Terrinha, o critério é mais rigoroso. Mais uma lição, a fonte de pontuação é fundamental para termos credibilidade com esses números.

Para uma correta avaliação é preciso certificar-se que o vinho não apresenta defeitos, esteja na temperatura correta, e seja degustado em taças ISO de degustação. Conhecer a região, a denominação de origem do vinho em questão, reforça a credibilidade da nota.

Champagnes e Taças

22 de Janeiro de 2017

Estamos vivendo tempos de mudança no serviço de champagne. A tão propalada taça Flûte está em xeque!. Para uns tornou-se obsoleta, para outros é visualmente o símbolo de vinhos espumantes. Quem está com a razão? Prontamente, se responde: sempre o cliente.

Do ponto de vista técnico e com uma pitada pessoal, a questão deve ser aprofundada e a resposta não pode ser radical. Para espumantes mais simples, elaborados pelo método Charmat, caso típico do Prosecco, os aromas de frutas e flores são melhores apreciados na flûte, além do perlage se manter mais gracioso na taça.

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taças: flûte, tulipa e vinho branco

Para espumantes elaborados pelo método clássico (o mesmo feito em Champagne), incluindo os champagnes mais simples, caso das cuvées básicas de cada Maison, a tulipa parece ser mais adequada. Ao mesmo tempo, ela mantém bem os aromas sem prejudicar o perlage.

No caso de champagnes especiais como os millésimés (safrados) ou cuvées de luxo, ainda prefiro a tulipa, embora neste caso a taça de vinho branco estilo bordalês esteja ganhando bastante espaço. Contudo, a tulipa deve ser obrigatoriamente de bojo maior. A Riedel por exemplo, tem um belo exemplar com 330 ml de capacidade e um design primoroso.

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Richard Geoffroy: Chef de cave Dom Pérignon

Cabe nesta discussão a opinião de Richard Geoffroy, Chef de Cave do Champagne Dom Pérignon. Ele é defensor da taça de vinho branco no serviço de champagne. Tanto é verdade, que a cristaleria alemã Spiegelau tem uma taça específica da linha Authentis que Geoffroy adota como referência (foto acima).

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outras taças sugeridas: Jamesse, Riedel e Zalto >

a do meio: linha Riedel Veritas (445 ml)

Por fim, para os grandes champagnes envelhecidos, onde o perlage já não é o mais importante e sim o vinho-base, supondo que seja de grande qualidade, a taça de vinho branco torna-se praticamente obrigatória. Realmente neste caso, o champagne está muito mais para um vinho branco do que propriamente para um vinho com borbulhas.

Posto isto, vamos a três champagnes degustados recentemente em três estilos diversos e muito interessantes.

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Pierre Gimonnet & Fils Cuvée Fleuron Brut Premier Cru 2005

Pierre Gimonnet é uma Maison especializada no estilo Blanc de Blancs, ou seja, somente vinhedos Chardonnay. Esta cuvée Fleuron mescla aproximadamente 80% de vinhedos Grand Cru (Cramant e Chouilly) com 20% Premier Cru de Cuis. A ideia é harmonizar estrutura (Grand Cru) com frescor (Premier Cru). Normalmente, esta cuvée passa pelo menos quatro anos sur lies (em contato com as leveduras) antes do dégorgement. A ótima safra de 2005 confere extrato e destacado potencial de envelhecimento. Importadora Premium (www.premiumwines.com.br).

A cor é um leve dourado brilhante com reflexos verdeais. Os aromas são muito delicados mesclando flores, mel, frutas secas e um fundo mineral. Em boca, ao mesmo tempo que sentimos sua acidez, seu frescor, em seguida vem a maciez dada pelo tempo sur lies. A complexidade é notável, assim como sua persistência e equilíbrio. Pode abrir grandes jantares, como acompanhar pratos delicados da alta gastronomia.

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Barnault Blanc de Noirs Brut Grand Cru

Outra casa artesanal de Champagne utilizando nesta cuvée somente vinhedos Grand Cru (Bouzy, Ambonnay e Louvois). Em estilo totalmente oposto, trata-se de 100% uvas Pinot Noir. Sua dosagem de açúcar de apenas 6 gramas por litro reforça sua elegância e austeridade. Importadora Decanter (www.decanter.com.br).

Champagne de corpo, estrutura e de gastronomia. Não dá para bebericar sem comida. Seus aromas remetem a cogumelos, frutas secas e um traço mineral. Em boca, bela acidez, profundidade e mousse intensa. Persistente, e de final marcante. Ideal com aves especiais como cordorna ou perdiz e molhos de cogumelos.

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Henriot Brut Souverain

Souverain é a cuvée básica da Maison Henriot. Composta  por mais de 25  Crus das sub-regiões de Montagne de Reims e Côte des Blancs, temos Pinot Noir, Chardonnay e uma pitada de Pinot Meunier. Em média, temos 20% de vinhos de reserva. As garrafas permanecem sur lies por três anos, tempo muito acima do exigido pela legislação vigente. Importadora Vinci (www.vinci.com.br).

É um champagne comme il faut (como se deve). Cor palha dourada brilhante. Aromas de brioche, empireumáticos (café e caramelo), frutas secas, cítricos e algo floral. Corpo médio, acidez marcante, mousse intensa e delicada, e um final fresco e equilibrado. Tudo que se espera de um bom champagne.

Fazenda Sertão: Enogastronomia

26 de Dezembro de 2016

Num evento empresarial, interior de São Paulo, pratos e vinhos desfilaram em harmonia, comemorando o final do ano. A recepção não poderia ser melhor, Dom Pérignon 2000 em Magnum. Com seus dezesseis aninhos, parece que o tempo não passou. Vibrante, fresco, muito equilíbrio, e a elegância de sempre com seus toques de brioche.

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dando o tom do evento

Enquanto o pessoal chegava, o champagne ia refazendo paladares em meio a amuse-bouches diversos. Um pequeno grupo dentre os participantes, desceram à adega para degustar alguns vinhos. Um deles, o grande nome da apelação Hermitage, Paul Jaboulet La Chapelle da estupenda safra 1990, com 100 pontos Parker. Pode até não ter cem pontos, mas é uma maravilha. Depois de duas horas de decantação, começou a se abrir com toques de chocolate, cacau, defumados, geleia de frutas escuras, entre outros aromas. A boca é grandiosa com taninos em abundância, mas extremamente finos. Muito equilibrado e uma persistência monumental. Pelo seu atual vigor, podemos dizer que trata-se de um vinho imortal.

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grande safra em garrafa magnum

Para os primeiros pratos do jantar, uma Double Magnum (três litros) de Corton Charlemagne Grand Cru Bouchard Père & Fils safra 2004. Esplendoroso, lembra um pouco outro Grand Cru magnifico Chevalier-Montrachet, por sua elegância e delicadeza. Fruta expressiva, frescor estimulante, balanço incrível com os toques de barrica, e muito equilibrado. Com seus 12 anos, continua integro e com muita vida pela frente.

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Corton, a montanha dos Grands Crus

Abaixo, um dos pratos iniciais, acompanhado pelo branco acima. Ravioli de queijos com Brie ao molho de manteiga, trufa e pinolis sobre leito de couve. A gordura do queijo e da manteiga foi compensada pela acidez do vinho, enquanto os sabores delicados das trufas e pinolis casaram com a complexidade do mesmo.

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delicadeza e simplicidade

Já nos pratos mais robustos, sobretudo carnes, entra em cena uma Jeroboam (quatro litros e meio) de Chateau Haut Brion 1975. A safra é polêmica, mas o vinho beira a perfeição. Seus mais de 40 anos deram a maturidade que se espera de um grande Bordeaux. Os aromas terciários reinam em harmonia com toques de couro, tabaco, especiarias e um lado terroso de grande mineralidade. A boca é perfeita, equilibrada, taninos ultrafinos e agradavelmente persistente. Uma maravilha!

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a apelação nesta época ainda é Graves

Um dos pratos mais emblemáticos com esse vinho foram as costeletas de cordeiro (foto abaixo) com risoto de açafrão, molho do assado e trufas. A textura delicada do prato casou muito bem com a maciez do vinho e seus taninos totalmente polimerizados. Os aromas e sabores finos do prato arrematou toda a complexidade aromática do tinto. Enfim, prato e vinho se valorizando.

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costeletas tenras e saborosas

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cavaletes posicionados

No serviço de garrafas grandes, de tamanhos especiais, o uso do cavalete é muito útil, além de charmoso. Com esse mecanismo, sobretudo para os tintos, vamos abastecendo os decanters, de acordo com o consumo do vinho. Os sedimentos vão se assentando pouco a pouco no eixo da garrafa. No decanter final, tomamos o cuidado para desprezar (deixar na garrafa) uma pequena quantidade de vinho  com a borra.

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um Borgonha de sonhos

Nos últimos pratos do jantar, foi servido um dos maiores tintos da Borgonha de todos os tempos, DRC Romanée-St-Vivant 1978. A safra na verdade é estupenda, mas este vinho é tudo que se espera de um Borgonha envelhecido. Este Grand Cru de vizinhança nobre, faz valer a frase: “Em Vosne-Romanée não existem vinhos comuns”.  Os aromas de trufas, terra, rosas, licor de cerejas negras, especiarias, incenso, e vai por aí afora, são encantadores. Os taninos, se é que existem, são de outro mundo. Equilibrado, harmônico, e de final encantador. Um devaneio!

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filé Rossini: releitura

O prato acima coincidiu com a chegada do Romanée-St-Vivant 78. A textura da massa, e do próprio filé mignon se adequaram ao vinho. Os sabores do molho, das trufas, do foie gras, se entrelaçaram com todos os componentes terciários do vinho, numa rara harmonia. Um final de jantar glorioso.

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mil-folhas e crème pâtissière

Nas sobremesas que eram várias, a da foto acima acompanhou com competência o Chateau d´ Yquem 1999. Os sabores do prato casam bem com os toques de fruta e caramelo do vinho, além da textura cremosa de ambos. Num bom momento para consumo, mas Yquem evolui com tranquilidade por muitos anos em adega.

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o rei dos Sauternes

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pudim e bolo de chocolate caseiros

A sobremesa acima sintetiza a harmonização com os dois vinhos doces servidos. O pudim de leite com Yquem, fazendo a vez do crème brûlée, e o bolo de chocolate com Vinho do Porto. Neste caso, um Taylor´s Vintage 1985. Uma bela safra completando pouco mais de trinta anos. Em pleno vigor, seus aromas terciários começam a prevalecer, vislumbrando um futuro brilhante. Cor ainda escura, taninos presentes, mas bem moldados, e muita riqueza em boca. Os aromas primários de frutas escuras em geleia se fundem aos toques de especiarias, tabaco, chocolate e um fundo mineral, compondo o lado mais evolutivo do vinho.

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Taylor Fladgate: especializada em Vintages

O Porto ainda acompanhou os Puros na varanda com Cohibas de várias bitolas, incluindo os Behikes. Que o ano novo comece tão bem quanto o término deste. Feliz 2017!

Os Históricos Bordeaux 1982

14 de Novembro de 2016

É muito comum serem mencionadas safras “históricas” em regiões vinícolas europeias de grande prestigio, sobretudo em Bordeaux. As especulações são inevitáveis já que esses vinhos são verdadeiras comódites no mercado financeiro, funcionando de certo modo como uma forma de investimento. Depois de alguns anos com a poeira assentada, fica mais claro separar o joio do trigo.

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Dream Team: Lafleur em Magnum

Dentre essas safras “históricas”, existem aquelas que são mais históricas. Uma delas por exemplo é a de 1982, equiparada a anos como 1945, 1947, 1959 e 1961, para ficarmos no século XX. O abençoado ano de 1990 onde foi praticamente impossível se fazer vinhos ruins na Europa, ainda não emplacou definitivamente neste seleto rol, talvez por não estar totalmente pronta, no auge de sua evolução, principalmente para os grandes Bordeaux.

Dito isso, defrontamos quatro belos Bordeaux 82, dois margem esquerda, e dois margem direita, num embate de gigantes. Falar de vencedores é uma questão muito mais pessoal do que técnica. Cada qual fiel a seu terroir, a seu estilo, mas todos inteiros e impecáveis. Enfim, obras de arte não se comparam …

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o sonho de tomar um grande 82

Testados vários vezes, em várias épocas, e sempre muito consistente. Fico imaginando até quando esse platô de evolução vai se estender, pois ainda não há nenhum sinal de decadência. É muito fácil gostar deste vinho, mesmo para aqueles que tem problemas com taninos. Ele é sedutor nos aromas, macio em boca, muito equilibrado, e um final bastante longo. Sempre na elite dos campeões desta mítica safra.

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apelação Pessac-Léognan só em 1987

Pessoalmente, foi o que menos me impressionou, mas sem dúvida, é uma questão pessoal. Outra razão, foi a cruel comparação com os demais concorrentes ilustres. De todo modo, um perfil brilhante de Pessac-Léognan com seus aromas de estábulo e toques terrosos. Menos encorpado que o Mouton (Pauillac), é também de um equilíbrio notável. Taninos ultrafinos e longa persistência. Em comparação a seu grande rival, Chateau Haut-Brion, é um pouco mais potente e com menos elegância.

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inspiração para o rótulo americano Dominus

Apesar de estarmos falando de um margem direita na sub-região de Pomerol, é de uma austeridade impressionante. Lafleur é o único Pomerol comparável ao astro maior Petrus, não só pela fleuma e estilo mais introvertido, mas também por seu incrível poder de longevidade. Esta safra em particular, uma das mais perfeitas de sua história, foi elaborada por Jean-Claude Berrouet, o famoso enólogo de Petrus, com apenas 10% de barricas novas.

Seu solo é muito particular e multifacetado, mesclando argila, areia e importante pedregosidade. Com isso, seu corte de uvas também é único e bem especifico com Merlot e Cabernet Franc pareando as porcentagens. Talvez a presença importante da Cabernet Franc lhe forneça essa espinha dorsal e estrutura  incomuns para um típico Pomerol, mais calcado na Merlot.

Esta safra de 1982 considerada perfeita, é de uma cor impressionantemente jovem e intensa. Os aromas se desenrolam pouco a pouco na taça com forte presença mineral, frutas escuras, e toques de chocolate amargo, lembrando cacau. Deve ser obrigatoriamente decantado por pelo menos uma hora. O boca é de um pujança extraordinária, vislumbrando ainda bons anos de guarda. Um vinho realmente impressionante. Como conselho, se você tiver uma garrafa deste Chateau com menos de quinze anos, não abra. A paciência irá lhe recompensar, certamente.

petrus-1982

o singelo rótulo num vinho sofisticado

Reparem que no rótulo não está escrito Chateau. Realmente, a simplicidade  e a aparência mal cuidada de sua construção confirmam esta observação. O solo extremamente argiloso faz da Merlot praticamente seu território único com quase 100% do plantio, de vinhas muito antigas. As condições particulares deste terroir dão uma imponência, uma austeridade, e uma introspecção ao vinho, que o diferencia de maneira inconteste de todos os outros Pomerols.

Como curiosidade, a argila azulada de Petrus é rica em ferro, gerando vinhos com intensidade de cor marcante. Além disso, não há como aumentar a densidade de plantio das vinhas que fica em torno de 7000 plantas/hectare. A explicação vem de um subsolo extremamente duro onde a camada de argila para a ramificação e expansão das raízes é de apenas 70 centímetros, ou seja, pouca profundidade para uma competição entre as vinhas mais acirrada.

Além de uma boa conta bancária, você precisa de muita paciência para esperar seu Petrus acordar. Os infanticídios com este vinho mundo afora são rotineiros. Nesta safra em particular, ele não tem a potência de seu concorrente Lafleur, mas sobra elegância e finesse. O grande trunfo de 82 é que Petrus conseguiu se soltar, mostrando aromas terciários muito finos e de rara sutileza. Não é um vinho óbvio, mas sua sedosidade contrasta magnificamente com seu lado cerimonioso. Talvez por não ser uma safra especificamente concentrada, seu desabrochamento chegou mais cedo, concedendo prazer e expectativa esperados. Grande vinho!

riedel-x-zalto

Esta é a cor do Lafleur 1982. Acreditem!

Como se não bastasse esses quatro prazeres em si, tivemos que analisa-los em duas taças não menos espetaculares e bem merecedoras destes grandes caldos. Riedel Sommeliers versus Zalto Bordeaux, num embate de titãs entre duas excepcionais cristalerias  austríacas.

Riedel Sommeliers é uma linha de taças maravilhosas com um bojo de 860 ml de capacidade para o modelo Bordeaux Grand Cru. Aromaticamente, mostra-se muito sutil captando aromas multifacetados dos mais complexos tintos bordaleses. Em boca, procura mostrar a essência de um grande Bordeaux com texturas delicadas, sem perder o frescor.

Zalto Bordeaux, como toda taça Zalto, é de uma leveza incrível, além da ínfima espessura do cristal. Dá medo de tocar na taça, tal a aparente fragilidade que ela transmite. Em relação à Riedel Sommeliers, seus aromas são mais concentrados, perdendo-se um pouco as nuances de vinhos mais sutis. Entretanto na boca, mostra com ênfase, o corpo e estrutura dos grandes Bordeaux, numa percepção ampliada da textura de seus finos taninos.

Qualquer que seja a escolha, você estará bem servido. De todo modo, é sem dúvida um diferencial, um detalhe relevante, quando se trata de vinhos de tamanha complexidade, em períodos de evolução onde as sutilezas devem sempre que possível, ser amplificadas.

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lingua com polenta cremosa

Eis um prato (foto acima) que muitos torcem o nariz, língua. Realmente, não é uma carne fácil de se trabalhar, mas quando bem feita, é digna dos mais finos tintos já com aromas evoluídos e taninos resolvidos. Foi o caso deste prato, do Nino Cucina, escoltado pelos Bordeaux acima comentados. O casamento foi perfeito pela delicadeza de sabores de ambos, prato e vinho. Em particular, Petrus agradeceu a parceria.

Sommelier: ser ou não ser?

8 de Outubro de 2016

Esta é uma profissão glamorosa em seu conceito, mas que requer dedicação e sacrifício em seu exercício. E aqui estou falando do verdadeiro sommelier de salão, dedicado a um restaurante. No Brasil, tornar-se um sommelier para exercer a profissão no mercado é relativamente simples. Basta por exemplo, fazer o curso na ABS-SP, passar pelas provas e com pouco mais de um ano, você está apto a ingressar no mercado de trabalho. Um pouco de dedicação e interesse são ingredientes suficientes para alcançar o objetivo.

Ocorre que este é apenas o começo do que deve ser uma longa estrada. O mundo dos vinhos, bebidas, gastronomia, e toda a arte em torno da mesa, é extenso, dinâmico, exigindo permanentes estudos, aperfeiçoamentos, e atualizações. E é exatamente neste ponto que mora o problema. A maioria das pessoas contentam-se com o mínimo necessário, apenas para executar com relativa eficiência os trabalhos corriqueiros do dia a dia.

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Exótico Moscatel seco

(sem passagem por madeira, aromas intensos de frutas e flores, textura macia e final persistente)

A ABS-SP periodicamente, realiza certificações a candidatos que tenham interesse e competência na realização dessas provas, outorgando um pin diferenciado que poucos sommeliers possuem no país. É sem dúvida, uma maneira de motiva-los e incentiva-los em busca permanente de novos conhecimentos e aperfeiçoamentos na profissão.

Nesta última certificação ficou bem claro o nível dos sommeliers disponíveis em nosso mercado, que longe de ser ruim, ao mesmo tempo, está longe da excelência. Dos cincos candidatos, pelo menos dois estouraram o tempo de trinta minutos para a realização total da prova. Falaremos a seguir, das várias etapas.

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margem direira em frente ao Médoc

(excelente safra, mostra-se jovem, taninos presentes e bem equilibrado)

A primeira etapa tratava-se da análise de vinhos e bebidas. Inicialmente, três vinhos às cegas. Um branco da Alsace (Muscat d´Alsace), um Bordeaux tinto (Côte de Blaye) e um IGP (Indicazione Geografica Protetta) da Puglia. Independentemente dos detalhes, os candidatos pecaram numa análise extremamente prolongada, mostrando claramente a falta de objetividade na questão, sobretudo se levarmos em conta que esta primeira etapa tem uma participação bastante modesta no cômputo geral das notas. Disso, certamente resultou a principal razão de estourar o tempo ou faze-lo em seu limite.

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frutado exuberante da Puglia

(cor intensa, muita fruta, maciez, e agradavelmente quente)

Sequencialmente aos três vinhos, foram apresentados às cegas, em taças negras, quatro destilados absolutamente corriqueiros no principais bares de restaurantes, e de conhecimento da imensa maioria das pessoas acostumadas com este tipo de bebida. Gim, tequila, cachaça, e rum, respectivamente. Bastava somente identificar a bebida. Tanto a tequila, como o rum, foram as bebidas suscetíveis de maior erro.

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presentes nas boas casas do ramo

Já à mesa, os candidatos deveriam atender um grupo de quatro amigos que gostariam de provar um menu completo da cozinha árabe (libanesa) com entrada, dois pratos e sobremesa, acompanhado por vinhos brasileiros. As opções de harmonização foram mais variadas para o prato de kafta (espeto de carne moída) com diversos tintos, mudando o tipo de uva. Na sobremesa que envolvia massa folhada, frutas secas e calda de flor de laranjeira, a sugestão recaiu sobre um espumante Moscatel pela similaridade de toques cítricos e florais, embora faltasse textura e talvez até mesmo açúcar para confrontar o doce. O mais correto seria um Moscatel de Setúbal, pois as opções de vinhos de sobremesa brasileiros são limitadas.

Como itens obrigatórios neste tipo de prova, tivemos o serviço de um espumante como cortesia da casa, e a decantação de um tinto envelhecido com claras evidências de sedimentos na garrafa (Chateau Latour 1966). O serviço do espumante, fato corriqueiro no dia a dia dos sommeliers de salão, foi relativamente bem executado por todos. Já a decantação à vela, fato na prática, extremamente raro em mesas brasileiras, decepcionou de modo geral. O mais incrível é que ninguém tirou o vinho do cesto para proceder a decantação, operação costumeiramente vista em vários vídeos demonstrando a operação.

As perguntas sobre o queijo espanhol Manchego, sobre a uva Boal, e sobre a uva Muscat, foram respondidas de forma extremamente sucinta, sem maiores considerações. Isso quando respondidas corretamente. Por fim, uma correção de carta de vinhos com erros relativamente simples, respondida adequadamente por alguns de forma parcial.

Em resumo, fica o alerta para aqueles que pretendem destacar-se na profissão e que principalmente, desejem participar de concursos internacionais; mais afinco e objetividade no conhecimento teórico, e traquejo no serviço de salão com rapidez e eficiência.

Taças: Champagne e Espumantes

26 de Julho de 2016

Até a década de setenta do século passado, as taças de champagne abertas, conhecidas como Maria Antonieta, eram comuns nas mesas de restaurantes, eventos e filmes de Hollywood. De certo modo, havia coerência neste modelo, visto que os champagnes não eram totalmente secos. O estilo Brut como conhecemos hoje e amplamente consumido foi criado nos anos 30. Portanto, esta secura e alta acidez evidenciadas não eram apreciadas em outras épocas. Atualmente, este modelo de taça é indicado pela marca Riedel para o consumo de Moscato d´Asti ou champagnes e espumantes doces. De fato, a borda mais aberta favorece a apreciação da acidez, do frescor, contrastando com a evidente doçura da bebida, e portanto, promovendo um ótimo equilíbrio em boca.

A flute de certo modo, revolucionou um novo estilo de taça, muito mais de acordo com o estilo Brut. A área de contato com o ar  é bem menor, preservando o perlage, e a borda mais fechada, favorece os sabores frutados e mais delicados da bebida, frente a uma acidez extremamente presente. Com isso, a apreciação da acidez é mais comedida, dando equilíbrio ao conjunto. Para espumantes elaborados pelo método Charmat, onde os aromas de frutas e flores são mais evidentes e ao mesmo tempo, sem grande complexidade, a flute parece ser a taça ideal.

taça champagne

taças: belle époque e tulipe

No caso de champagnes e espumantes elaborados pelo método Tradicional (champenoise), as taças tulipas sempre foram as opções mais corretas. Inclusive, a Riedel oferece modelos bem apropriados. Contudo, há forte tendência para uma nova mudança. Utilizar taças a princípio para vinhos brancos na apreciação de champagnes, principalmente nas cuvées especiais. No caso do Dom Pérignon, o próprio chef de cave Richard Geoffroy, sugere a taça Spiegelau linha Authentis para vinhos brancos bordaleses na apreciação de seu champagne, sobretudo para o P2, champagne de envelhecimento prolongado e de grande complexidade aromática.

Para esta nova tendência, é importante que a escolha de taças seja para vinhos brancos de estilo bordalês, Sauvignon Blanc, Riesling, entre outros, onde a boca mais fechada restrinja a percepção exacerbada da acidez. Afinal, o champagne principalmente, tem neste componente sua mais importante característica. Taças muito abertas como as dos borgonhas brancos, evidenciariam demais a acidez, tornado seu equilíbrio em boca comprometido. Como exceção, champagnes muito antigos, onde o perlage é bastante deficiente e quase inexistente, a acidez normalmente está bem mais contida, restando apenas a eventual qualidade do chamado vinho-base. Neste caso, para levantar um pouco mais o frescor da bebida, essa taças borgonhesas mais abertas, podem funcionar a contento.

taças espumantes

prosecco, champagnes, cuvée de luxo, respectivamente

Em resumo, sugiro a flute para o Prosecco e todos os espumantes elaborados pelo método Charmat. Para os champagnes e outros espumantes elaborados pelo mesmo método, tradicional ou clássico (champenoise), a taça tulipa é pessoalmente minha melhor opção. Entretanto, é bom atentar para o tamanho do bojo. Estou falando em tulipas com capacidade em torno de 300 ml, similares à linha Sommelier da Riedel.

Em casos excepcionais de grandes cuvées de champagne envelhecidas, a taça estilo bordalês proposta por Richard Geoffroy podem ser muito interessantes. De fato, nestes casos, a qualidade do vinho-base é tão superior, que vale a pena uma câmara de expansão de aromas mais ampla, sobretudo se as borbulhas já estiverem um tanto comprometidas.

No caso dos cavas, por definição, método clássico, aqueles de menor contato sur lies com a designação reserva, as flutes ainda são aceitáveis. Já para a categoria gran reserva, a tulipa é primordial. Voltando aos champagnes, se a ideia é servi-los em taças do tipo bordalês, atentem para a complexidade dos mesmos. À medida em que o champagne torna-se mais complexo, é preciso aumentar o bojo da taça paulatinamente.

É sempre bom lembrar, que o serviço de vinhos de uma maneira geral depende muito da escolha da taça adequada, além da correta temperatura de serviço. Esta por sinal, nunca muito baixa quando o corpo, a estrutura, e a distinção de um grande espumante está presente.

Sua Excelência, Cognac Louis XIII

8 de Julho de 2016

Dando prosseguimento ao artigo anterior, continuamos com Louis XIII, um Cognac de exceção da Maison Rémy Martin. Após todo o longo e intrincado processo de elaboração, o engarrafamento desta bebida precisa de alguma forma ser impactante, mostrar implicitamente todo o cuidado e sofisticação envolvidos nesta trajetória. Assim nasce o decanter Louis XIII, uma garrafa de cristal de Baccarat confeccionada por onze artesãos com uma tampa reproduzindo a flor-de-lis e o gargalo decorado com ouro 24 quilates. Não existem duas garrafas perfeitamente iguais de Louis XIII. A garrafa em si, já é uma joia.

cognac tampa louis xiii

detalhes minuciosos

As variações da bebida

Será que só existe um Louis XIII? um único tamanho? um único tipo? claro que não. Vamos a eles.

Além da tradicional garrafa de 700 ml, existe uma miniatura com 50 ml, um verdadeiro perfume. Uma réplica fiel do tamanho original, elaborada com o mesmo artesanato, inclusive numerada também.

Para tamanhos maiores, existe Louis XIII Le Jeroboam com capacidade quatro vezes maior  que o tamanho original. É confeccionado na Cristallerie de Sèvres, acompanhado com quatro taças devidamente lapidadas e uma pipeta de metal para o serviço da bebida. Tudo isso acondicionado em um caixa de madeira exclusiva com o brasão Louis XIII.

cognac louis xiii pipeta

sofisticação não tem limites

Aqui começa a exclusividade dentro da exclusividade, se é possível. Um tierçon (casco) perdido na adega da família Grollet escondia um Cognac envelhecido de rara complexidade. Pois bem, este casco foi engarrafado totalmente sem misturas adicionais, perfazendo somente 786 garrafas numeradas e confeccionadas num exclusivo cristal negro de Baccarat, batizado como Louis XIII Black Pearl, conforme foto abaixo.

cognac louis xiii black pearl

Baccarat: cristal negro

Existem mais dois exclusivos Louis XIII denominados Rare Cask com teores alcoólicos parecidos, mas ligeiramente diferentes. O primeiro trata-se do Rare Cask 43,8 Louis XIII, um tierçon (casco) especialmente pinçado na adega, o qual apresentou características especiais. Observado por mais quatro anos, veio então a decisão de engarrafa-lo separadamente numa partida especial. Evidentemente, num decanter de cristal negro especialmente confeccionado por artesãos que trabalham contra uma negritude perfeitamente opaca. O gargalo é revestido de paládio, um metal tão nobre quanto o ouro ou a platina.

cognac louis xiii cask 42,6

decanter impecável

O outro Rare Cask é o 42,6. Nos mesmos moldes e critérios do Cask 43,8 seu engarrafamento também é numerado e especial. O decanter em cristal negro e o gargalo revestido em ouro-rosa produzem um efeito divino sob a luz. Seus aromas são destacados pelas tâmaras, folhas de tabaco e gengibre.

Temperatura de serviço

Diferentemente do vinho, a temperatura de serviço de um Cognac não é muito esclarecedora e tão pouco divulgada. Diz-se em temperatura ambiente, termo altamente subjetivo. Contudo, algumas referências sobre o assunto falam entre 15 e 18°C, como intervalo de temperatura correto. Pessoalmente, ainda acho alto, levando-se em conta que um vinho do Porto de estilo Tawny com seus 20° de álcool, recomenda-se servir-lo por volta de 14°C. Um conhecedor de Cognac da região, serviu para a surpresa de seus convidados, um Cognac mantido no congelador a menos 20°C onde nesta temperatura, a bebida cria uma textura oleosa, bastante untuosa, a despeito de algumas camadas de aromas mais pesadas tornarem-se desapercebidas. Enfim, o assunto é polêmico.

Como dica pessoal, em épocas mais frias e em ambientes convenientemente refrigerados, temperaturas até 20°C podem ser aceitas para sua devida apreciação. Já em épocas mais quentes, bem recorrentes em nosso país, somadas a ambientes sem a devida refrigeração, mergulhar a garrafa de cognac em um decanter com algumas pedras de gelo é uma atitude sensata. A sensação excessiva do álcool fica sensivelmente rechaçada e por conseguinte, seus aromas mais agradáveis.

Taças adequadas

Outra discussão polêmica. Os tradicionalistas preferem a taça balão (ballon ou ballonn), enquanto os mais inovadores, a taça tulipa (tulipe ou tulip). Tecnicamente, a taça tulipa é a indicada para uma degustação técnica  e avaliação da bebida pelos mestres de adega. De fato, o formato tulipa minimiza os aromas excessivos do álcool, privilegiando aromas mais frutados e sutis da bebida. Por outro lado, a taça balão sobretudo no inverno, deixa a sensação alcoólica mais aconchegante. Além disso, em boca, o ângulo de borda da taça balão privilegia a sensação de acidez, promovendo um melhor equilíbrio gustativo.

cognac e charuto

verre ballon et cigar

Novamente, opinião pessoal. No inverno, buscando algo mais aconchegante, minha preferência é pela taça balão. Já em pleno verão, buscando aromas mais sutis e frutados, além de uma bebida mais refrescada, a taça tulipa é mais adequada. Enfim, cada qual com sua decisão.

Acompanhamentos

Quando se trata de um Louis XIII, a bebida em si não necessita de companhia obrigatória. Contudo, há sempre as preferências e indicações. Em sua ampla paleta aromática, este Cognac admite várias opções.

cognac e chocolate

cognac et chocolat

Bebendo-o isoladamente, pode-se acompanha-lo com frutas secas, tanto as oleaginosas (amêndoas ou nozes), como as passificadas (tâmaras ou figos). Como entrada exótica, pode acompanhar muito bem patês de caça, patê campagne, inclusive foie gras trufado. Na sobremesa, acompanhando uma Tarte Tatin, pode ser divino. Chocolate amargo (alto teor de cacau) preferencialmente, é outra combinação que vale a pena. E por fim, os grandes Havanas podem ser ótimos parceiros, sempre respeitando a tipologia. Charutos diferenciados para um Cognac fora de série. Exemplos: Hoyo de Monterrey Double Corona, Cohiba Esplendidos, Bolibar Belicosos, Partagás Lusitanias, entre outros.

Beato e o ano 1964

26 de Junho de 2016

Eu não tenho dúvida que Manoel Beato, marco da sommellerie no Brasil, é muito melhor que seu próprio ano. De fato, 1964 não é um ano de grandes emoções na maioria das regiões vinícolas mundo afora. Mesmo em Bordeaux, a margem esquerda ficou prejudicada devido à chuvas inesperadas na época da colheita. Contudo, a margem direita talvez seja o oasis neste caos mundial. Pomerol e Saint-Emilion produziram tintos excelentes. Só para dar dois exemplos, Petrus foi quase perfeito com 99 pontos RP, e Cheval Blanc com 96 pontos RP. Provavelmente, se já não os tomou, Beato certamente realizará mais este feito. Enfim, vamos aos vinhos da comemoração.

margaux 1964gaja 1964

os bons velhinhos

creme com morilles restaurante oui

creme com morilles

O prato acima de entrada foi uma excelente opção para acompanhar vinhos velhos, já evoluídos. A delicadeza dos cogumelos e do creme não arranharam de forma alguma a fragilidade e sutileza dos bons velhinhos.

De inicio, tanto o Barbaresco de Gaja (genérico, não aqueles de vinhedo), como o Chateau Margaux, ambos 1964, estavam em seus últimos suspiros. Percebe-se o pedigree de ambos, mas sabemos que seu auge passou, deixando a boca seca, sem a vibração da fruta. Houve também a presença de um dos maiores DRCs, Romanée-St-Vivant 1978, tinto de grande complexidade e esplendor. Entretanto, a garrafa estava com problemas e acabou sendo uma decepção. Tudo caminhava em trevas …

monfortino 1971

Barolo de raça

De repente, eis que surge o vinho do almoço. Um dos maioires Monfortinos de todos os tempos, safra 1971 (98 pontos RP), embora o 1964 não fosse uma má ideia, também com boa cotação. Um Barolo para homens, não para meninos. Imponente, marcante, viril, e com uma complexidade impar, emanando cacau e o clássico toque alcatroado. Está no seu melhor momento, embora sem sinais de decadência, clamando pelas belas trufas brancas de Alba. Uma maravilha!

rioja alta 904 1964

um dos maiores da história

Contudo, Manoel ainda tinha alguns trunfos na manga. Deu-nos o privilegio de provar um dos grandes clássicos de Rioja, o fenomenal La Rioja Alta Gran Reserva 904 de seu ano, 1964. Outra maravilha que ombreou-se ao monstro do Piemonte, só que pelo lado da delicadeza e elegância. Um verdadeiro Borgonha espanhol com seus toques empireumaticos de caramelo, bala de cevada, especiarias doces, e fruta ainda deliciosa e vibrante. Estes dois tintos acompanharam muito bem o rico Cassoulet (foto abaixo) preparado especialmente para o evento no restaurante Oui, sempre com pratos surpreendentes.

cassoulet restaurante oui

prato de sustância

Fazendo um parêntese neste grande tinto espanhol, o Gran Reserva 904 é composto basicamente de Tempranillo de vinhas antigas com um pitada de Graciano, outra uva local. O vinho amadurece pelo menos quatro anos em barricas de carvalho americano com várias trasfegas semestrais. Neste procedimento, o vinho se oxigena periodicamente e ao mesmo tempo, é clarificado naturalmente, não deixando sedimentos na garrafa. É um processo semelhante ao estilo Tawny no vinho do Porto. Nesta safra especificamente de 1964, tem 97 pontos RP. Enfim, um grande fecho antes de passarmos às sobremesas.

l´ermita priorato 2013

o suprassumo do Priorato

No meio do caminho apareceu o tinto acima para uma avaliação, um verdadeiro infanticídio. O mítico L´Ermita de Alvaro Palacios do Priorato, safra 2013. Proveniente de parreiras centenárias com a uva Garnacha, tem uma pitada também de Cariñena (Carignan francesa). Pela expectativa de um vinho de cem pontos, esperávamos mais, principalmente em termos de corpo, já que é uma característica marcante da região. De fato, está muito novo, mas tenho ressalvas quanto à sua estrutura para a longevidade e pontuação que se espera. Façam suas apostas.

mousse de mascarpone restaurante ouicarolina com creme patissiere

dueto de sobremesas

Com as sobremesas, outras duas belas surpresas de acompanhamento. Um SGN (Sélection des Grains Nobles) da Alsácia da Maison Hugel 1988 com a uva Gewurztraminer. Uma profusão de aromas envolvendo lichias, flores, mel, resinosos e toda a complexidade dada pela ação da Botrytis. Fez um belo par com a mousse de mascarpone. Logo em seguida, um raro Porto Branco Colheita 1964 da casa Krohn, combinou muito bem com a carolina recheada de crème pâtissière, sobretudo em termos de texturas.

hugel sgn gewurztraminerkrohn branco colheita 1964

Contrastes e Semelhanças difusas

Outro parêntese para esses vinhos, raros e de safras antigas. O alsaciano SGN (Sélection des Grains Nobles) é a categoria máxima em vinhos doces na região, partindo de uvas botrytisadas. A safra 1988 é uma das mais reputadas nesta classificação. Já o também raro Colheita Branco é ainda mais exclusivo que o próprio Colheita Padrão, elaborado com as tintas do Douro. Para este Branco, somente as uvas brancas da região participam do blend. A cor com o envelhecimento adquire um topázio bem particular, enquanto os aromas são mais delicados e sutis que o Colheita tradicional. O ponto alto do equilíbrio e longevidade desta rara categoria é sua incrível acidez.

Em suma, não poderíamos esperar outra coisa do Manoel, do que gratas surpresas. Mesmo num ano complicado, ele soube como ninguém pinçar preciosidades no vasto mundo de Bacco, mostrando a incrível diversidade desta bebida, e raridades poucas vezes degustadas. Além disso, pratos bem pensados para a ocasião com harmonizações sutis. Vida longa Manoel! Parabéns!


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