Archive for Julho, 2010

Harmonização: Culinária Árabe

28 de Julho de 2010

Líbano: culinária árabe mais delicada

Falar de culinária árabe num sentido mais amplo, englobaria vários países do Oriente Médio, com inúmeras peculiaridades e variações. Nosso foco está mais para o que conhecemos de cozinha árabe no Brasil, como esfihas, quibes, kafta, homus, tabule, entre outros pratos, com ênfase na culinária sírio-libanesa.

A cozinha de um modo geral é delicada, inclusive as especiarias, notadamente a pimenta síria. Ingredientes como iogurte, cebola e limão devem ser considerados, principalmente quando temos a autonomia de dosá-los em nossos pratos.

De um modo geral, brancos de boa acidez e relativamente frutados, sem passagem por madeira, são os ideais, principalmente com as saladas como o tabule, por exemplo. Evite vinhos extremamente frutados e encorpados. Eles podem ser um tanto dominadores. Chardonnays sem madeira, Sauvignons frescos e jovens do Chile e África do Sul, são mais aconselháveis.

Os pratos leves de carne, como quibes, esfihas e kaftas vão bem com tintos frescos e de boa fruta. É importante calibrar adequadamente o corpo do vinho para não sobrepujar os pratos. Tintos do Loire à base de Cabernet Franc são os mais indicados, sob as apelações Bourgueil e Chinon, já abordadas em posts passados. Pinot Noir também do Loire ou Beaujolais (uva Gamay) de boa procedência são as opções imediatas. Receio que vinhos do Novo Mundo, mesmo jovens e sem passagem por madeira, possam ser um pouco dominadores, tirando o brilho da harmonização.

Pratos quentes à base de frango e principalmente o carneiro, podem prescindir de tintos mais estruturados, sem estes jamais perderem a elegância e sutileza. Syrah do Rhône do Norte sob as apelações Crozes-Hermitage e Saint-Joseph parecem ter frescor, estrutura e elegância na medida certa. As opções do sul do Rhône, embora tenham ressonância aromática, muitas vezes carecem de frescor. O mesmo ocorre com os tintos da Provence, exceto os rosés, que podem surpreender favoravelmente, desde o início da refeição.

Do lado italiano, Dolcettos, Barberas e Chiantis, todos simples e frescos são benvindos. Tempranillos espanhóis no estilo joven (quase ou totalmente sem passagem por madeira) são opções a considerar.

Os tintos libaneses disponíveis no Brasil como Chateau Musar e Chateau Kefraya podem apresentar a crônica falta de frescor. Para pratos mais estruturados como o carneiro podem surpreender, sobretudo se calibrarmos bem a temperatura de serviço. 

Homus: uma entrada aparentemente inocente

O gosto apesar de não muito intenso, apresenta uma textura pastosa, com um final levemente adstringente e pouco habitual em outras pastas. Além disso, existem o limão e o gergelim presentes na receita. O famoso branco grego Retsina (que muitos torcem o nariz) e o Tokay na versão seca (Szamorodni quase sempre se enquadra nesta versão) são combinações perfeitas. Eles têm acidez, personalidade e afinidade de sabores para o prato. Um Sémillon australiano do Hunter Valley é uma saída original do Novo Mundo. Este mesmo Sémillon, com uns bons anos em garrafa, adquire um toque defumado que ficará perfeito com outra especialidade sírio-libanesa, o babaganuche (pasta de beringela assada).

Noções básicas da sommellerie

25 de Julho de 2010

 

Mesas confortáveis e espaçadas

Muitas pessoas que frequentam restaurantes ficam intrigadas com certas atitudes em relação ao serviço do vinho, tentando adivinhar, criticar ou justificar os motivos de tais atos.

Na minha modesta opinião, o serviço deve ser o mais simples e discreto possível. A escolha do vinho deve ser sempre a palavra final do cliente, a despeito das sugestões e justificativas do sommelier, caso seja pedida sua opinião.

Vinho escolhido, cabe ao sommelier levar a garrafa ao cliente para uma adequada visualização do rótulo e sua confirmação. Após a abertura da garrafa, a rolha é levada ao cliente sobre um pires ou pratinho discreto. Em seguida, o sommelier tem o direito e principalmente o dever de provar o vinho, certificando-se do mesmo. O verdadeiro sommelier nesta hora tem obrigação de trocar a garrafa, sem a necessidade do cliente prová-la. A prova que pedimos ao cliente é muito mais por razões de protocolo e sua liberação para as demais pessoas da mesa. A garrafa deve ser deixada sobre a mesa com o rótulo voltado para os convivas. Desnecessário dizer, se a mesa estiver completa, não tem sentido este detalhe.

Decanter: arrojo no design

A decisão de decantar ou não um determinado vinho cabe ao sommelier, que teoricamente deve ter conhecimento técnico para tal procedimento, a menos que o cliente determine a execução ou não da decantação. Evidentemente, vinhos envelhecidos ou mesmo relativamente jovens que apresentem efetivamente depósitos, devem ser obrigatoriamente decantados. Já a decantação por motivos de aeração ou oxigenação é altamente polêmica e portanto, bastante pessoal. O decanter quando utilizado deve ser deixado na mesa, a menos que não haja espaço suficiente ou cause um certo incômodo às pessoas. Neste caso, um aparador mais próximo é a solução ideal.

O monitoramento da mesa é tão importante quanto o início dos trabalhos na mesma, o que na prática é muito pouco observado. Repor vinho nas taças, respeitando o ritmo de consumo de cada pessoa de forma adequada. A reposição em pequenas quantidades torna o serviço elegante, preservando a temperatura de serviço.

Procedimentos além dos descritos acima devem ser vistos com reserva, exceto situações especiais.

Quanto à harmonização, o assunto fica num segundo plano na prática, por incrível que pareça. Normalmente, as pessoas pedem vinhos, independente do prato escolhido. Evidentemente, o sommelier está ali para orientar, mas jamais impor vinhos mesmo que tecnicamente estejam corretos. Se além disso, ele se sentir no direito de dar um curso básico à mesa, siga as orientações do mestre Danio Braga: sommelier que fica mais de cinco minutos na mesa, eu mando embora!

 

Destaque do Alentejo: Mouchão

22 de Julho de 2010

Aqui vale o ditado: Quanto mais velho, melhor!

Não há dúvida que vinhos como Barca Velha e Pera Manca são ícones incontestáveis de Portugal, mas nem todos sabem do grande terroir que existem há mais de um século na Herdade do Mouchão. Se levarmos em conta seu preço, é o melhor vinho de Portugal.

Este é um alentejano diferenciado em todos os quisitos que perfazem o conceito de terroir (casta, solo, clima e homem). A casta predominante é o Alicante Bouschet, uma casta praticamente abandonada na França  e adotada no Alentejo. Na Herdade do Mouchão, encontrou clima e solo ideais para sua difícil maturação. É um solo específico de várzea com subsolo argiloso, que permite armazenar água suficiente para os períodos de seca. O clima relativamente frio para os padrões alentejanos na subregião de Portalegre, junto a serra de São Mamede, propicia uma maturação lenta e gradual, para que esta casta extremamente exigente desenvolva aromas e taninos de rara qualidade. Complementada pela casta Trincadeira, também conhecida no Douro como Tinta Amarela, torna o blend macio na medida certa , sem perder a estrutura e espinha dorsal deste grande tinto. Neste momento entra a sabedoria humana em lapidar este tesouro, com uma vinificação absolutamente tradicional, começando com a pisa a pé em lagares, seguida de longa maceração das cascas. Terminada esta fase, o vinho estagia em grandes tóneis antigos de dois mil litros por dois ou três anos, e mais dois antes do engarrafamento, sem filtração. O tamanho dos tóneis aliado à idade avançada da madeira, permite a devida oxigenação e estabilização do vinho, sem perder as preciosas características de terroir.

O resultado é um vinho retinto, rico em aromas de grande mineralidade. Pode e deve envelhecer por pelo menos dez anos. Deve ser obritoriamente decantado por todos os motivos: tenra idade, ausência de filtração e consequente depósitos (borras).

Por tudo que foi exposto, não apresenta um perfil alentejano corriqueiro, com aromas abertos, taninos dóceis, relativamente quente (álcool) e pronto para beber. É um vinho com identidade própria, capaz de evoluir no tempo como poucos. É importado pela Adega Alentejana (www.adegaalentejana.com.br) por menos de R$ 200,00 (vale cada centavo).

Os Grandes Vinhos: Corte ou Varietal

18 de Julho de 2010

A eterna busca pela explicação dos melhores vinhos do mundo passa pelo subjetivo conceito de terroir, envolvendo inúmeros aspectos naturais e humanos. Um desses aspectos diz respeito à composição de uvas na concepção de um grande vinho. Nesta briga estão duas grandes escolas francesas: Bordeaux e Bourgogne, ou seja, corte versus varietal.

A Borgonha para os tintos adotou somente a caprichosa Pinot Noir e paga caro por isso, levando às últimas consequências o conceito de terroir. Seus melhores vinhos é uma intrincada batalha envolvendo produtor comunal, safra e o terreno perfeito. E quando se busca a perfeição com uma só uva, a limitação do vinhedo é fundamental. Clones específicos, leveduras nativas, composição judiciosa do solo entre calcário e argila, altitude e inclinação do vinhedo bem calibradas e baixíssimos rendimentos por parreira são alguns dos segredos.

Neste contexto, é sempre óbvio falarmos do badalado Romanée-Conti, citado por muitos e provado por poucos. Dependendo da safra, seus preços são incontroláveis. Mas para quem gosta de exclusidade, o rótulo abaixo ainda é mais raro que o “the best”. O vinhedo é vizinho e o nome quase se confunde. Trata-se de um monopólio da famila Liger-Belair com área equivalente a 0,8452 hectares. Isso mesmo, menos de um hectare, metade da área do Romanée-Conti.

Um jardim na Borgonha: menos de um hectare

 

Do lado bordalês, a concepção é outra, principalmente por lidar com grandes extensões de vinhedos em relação aos padrões borgonheses. De fato, a idéia de corte de duas ou três uvas na maioria dos casos, além de aparar arestas, realçar sabores e enriquecer o conjunto, tem papel importantíssimo nas safras problemáticas, aumentando a proporção de determinadas uvas mais favorecidas ou menos prejudicadas. É assim nas famosas margens esquerda e direita, conforme série de posts passados (vide Bordeaux de I a V). Contudo, quando falamos de grandes bordeaux, principalmente em termos de preço e exclusividade, o rei Petrus é praticamente uma unanimidade. Com uma área pouco mais de dez hectares, em média dez vezes menor que os grandes châteaux do Médoc, voltamos ao tema varietal com forte conceito de terroir. Apesar de não estar expresso no rótulo, Château Petrus é tecnicamente um varietal de Merlot, com algo em torno de cinco porcento de Cabernet Franc.

Seguindo o foco extremo de exclusividade, o grande Petrus perde feio para o minúsculo Château Le Pin (vide foto abaixo), com pouco mais de dois hectares. Também com alta porcentagem de Merlot, é uma das grandes estrelas no seleto grupo de vinhos numa das menores apelações bordalesas, Pomerol.

 

Le Pin: Um dos precursores da microvinificação

 

 

Finalizando o raciocínio, quando lidamos com grife, exclusividade, artesanato, glamour, estamos falando em vinhedos minúsculos, portanto, de baixíssima produção. Nesta linha de pensamento, a idéia de uma só uva num espaço tão reduzido faz todo o sentido com o conceito extremo de terroir onde solo, clima, uva e homem são capazes de criar algo harmônico, beirando a perfeição.

Para não deixar Champagne fora do assunto, que fundamentamente é uma região de vinhos de corte, com maisons e cuvées fantásticas, quando lidamos com o extremo artesanato das melhores bolhas do mundo, nos deparamos com preciosidades como Salon e Krug Clos de Mesnil, ambas de vinhedos minúsculos e cem porcento Chardonnay. Portanto, dentro de uma certa ótica, os varietais parecem ser destinados a atingirem a perfeição na medida do possível.

 

 

 

Harmonização: Lasagne al Forno

15 de Julho de 2010

Muitas variações para quem é bom de garfo

Eis uma das paixões da culinária italiana, amplamente difundida nos lares brasileiros. Cada qual tem sua receita, seu segredinho, para agradar todas as faixas etárias da família. Sendo mais uma modalidade das infindáveis massas italianas, torna-se um veículo transportador de sabores, advindos de ingredientes e preparações diversas que vão efetivamente contribuir para a escolha dos vinhos. Somente num site, podemos encontrar 57 receitas diferentes de lasanhas, que vão desde frutos do mar, bacalhau, todo reino vegetariano, queijos e carnes dos mais variados tipos.

Como ponto de partida, vamos eliminar brancos e tintos relativamente leves, além de extremos como alta acidez e elevada estrutura tânica. Precisamos de um corpo médio para bom, pois a textura do prato, bem como um certo volume, torna o conjunto mais agradável, sem uma sensação de vazio na avaliação final. Normalmente, o molho tem uma gordura agregada que pode ser facilmente combatida por uma acidez adequada e/ou uma tanicidade mediana. Portanto, ficam justificados os requisitos básicos. Não vamos pensar em Muscadet, nem Pouilly-Fumé, nem Tannat e nem Cabernet Sauvignon.

Quanto mais gordura untuosa tivermos na receita, como queijos e creme de leite, mais lembraremos da boa acidez natural dos brancos, contanto que tenham uma maciez agregada. É o típico caso dos Chardonnays, sempre com madeira discreta, se for o caso. Para as uvas italianas, Malvasia, Vermentino e Garganega (uva do Soave) cumprem bem o papel.

No caso dos famosos molhos ao sugo e bolonhesa (tomate e carne respectivamente), a acidez e concentração de sabores são determinantes. O molho de tomate geralmente pede vinhos de maior vivacidade, fruta e descomprometimento. Os tintos do sul da Itália são quase imbatíveis. Eles têm acidez na medida certa, além de corpo e fruta que o prato espera. Esta versão engloba a popular receita, intercalando fatias de mussarela e presunto.  Já o molho de carne, vamos falar de ragù sério, apurado lentamente em fogo brando. Podemos continuar no sul italiano, com vinhos mais estruturados, sem exageros. Pode ser um Negroamaro, um Primitivo ou bom Aglianico, todos tintos de grande raça do lado meridional da Bota. As opções do Novo Mundo podem ser um bom Malbec, Merlot ou Shiraz, não muito concentrados e nem muito amadeirados. Bastam ter fruta, juventude e frescor suficientes.

Sem esquecer dos vegetarianos, aqui talvez tenhamos que pensar em vinhos um pouco mais delicados. Um bom Chardonnay sem madeira (unoaked) é a pedida mais natural. Se for um tinto, um Cru de Beaujolais é perfeito (Fleurie ou Saint-Amour, preferencialmente). O Lambrusco é uma bela solução local, com fruta e acidez refrescante. O duro é encontrar aqui um verdadeiro Lambrusco como a DOC Grasparossa di Castelvetro na versão seca, e não os lambruscos comerciais com gaseificação duvidosa e excesso de açúcar.

Por último, lasanha de bacalhau ou de funghi porcini.  Ambas podem pedir brancos ou tintos elegantes e de certa evolução. Para o bacalhau, uma boa dica lusitana é o Redoma branco da Niepoort, importado pela Mistral (www.mistral.com.br). Já o funghi, pode ser o Chianti Classico Castello di Ama, também da Mistral.

Para as outras 50 receitas, não faltarão brancos e tintos italianos com seu vasto arsenal de uvas autóctones, espalhado de norte a sul. Buon appetito!

 

Barca Velha e seu segundo vinho

11 de Julho de 2010

Costumamos dizer que o tinto Casa Ferreirinha é o segundo vinho do mítico Barca Velha, obra prima do grande “cheirista” Fernando Nicolau de Almeida, logo após a segunda guerra mundial.

Aproveitando o ensejo do post anterior, é bom esclarecer que a conotação de segundo vinho neste caso, é bem diferente da situação bordalesa. O Reserva Ferreirinha dependendo do ano, pode disfarçar-se de um mini Barca Velha, obviamente de custo bem menor.

A longa trajetória do Barca passou por algumas transformações em vinhedos localizados no Douro Superior, notadamente Quinta da Leda e Quinta do Vale Meão. Contudo, sempre um propósito, selecionar lotes de qualidade e acompanhar sua evolução ao longo dos anos, até sua liberação ao mercado. A responsabilidade é tremenda, qualquer que seja a decisão, pois não se pode liberar um Barca Velha que não o é, e nem refutá-lo se realmente o for.

Obstinação de Fernando Nicolau de Almeida

A idéia de concepção do Barca Velha nasceu com o objetivo de elaborar um tinto de classe na região do Douro, onde até então, primava-se pela elaboração dos grandes Portos.

Alguns desafios deveriam ser vencidos, tais como: perfeito equilíbrio da uvas numa região tão quente e seca como o Douro Superior, com Quinta da Leda e Quinta do Vale Meão. Outro grande problema seria controlar a temperatura de fermentação com a tecnologia da época.

O primeiro obstáculo foi resolvido buscando uvas em várias altitudes e diferentes exposições com relação ao sol. Portanto, um leque interessante de opções, principalmente quanto à acidez das uvas. O segundo problema foi uma solução bem lusitana. Trazer caminhões carregados de blocos de gelo de Matosinhos (lugarejo próximo à cidade do Porto) até o Alto Douro, onde ocorria a fermentação. Foram feitos anéis periféricos nos grandes tanques de madeira da época para armazenar os blocos de gelo, controlando assim a temperatura de fermentação.

Após longa maceração, o vinho parte para o estágio em barricas de carvalho e começa um severo monitoramento até o engarrafamento. Passado este estágio, não se pode afirmar ainda que estamos diante de um Barca Velha. É preciso pelo menos alguns anos em garrafa com mais uma série de provas, para o veredito.

 

Safra 1997: quase 10 anos para uma tomada de decisão

Desta concepção rígida, beirando a perfeição, é que pode surgir o Casa Ferreirinha, ou seja, quando não se tem absoluta certeza do pedigree de um Barca, tem a possibilidade de surgir um Ferreirinha. Portanto, numa mesma safra, só existe um com a exclusão do outro. Este conceito dá credibilidade ao Barca Velha e ao mesmo tempo, valoriza sobremaneira o Casa Ferreirinha.

Portanto, para aqueles que não têm acesso ao Barca Velha, o tinto Casa Ferreirinha pode ser uma ótima opção. Atualmente, está a cargo do enólogo Luís Sottomayor e sua equipe, o destino dos futuros vinhos. Parece que a lição de seus antecessores, inclusive senhor Fernando, foi bem aprendida. Que esta filosofia em busca da perfeição e tipicidade perpetue por longa data!

Esses vinhos são importados pela Zahil (www.zahil.com.br).

Os famosos segundos vinhos em Bordeaux

8 de Julho de 2010

O fascínio pelos vinhos bordaleses é explorado pelo mercado muitas vezes de forma indevida. Seja pela falta de conhecimento da grande maioria do pessoal de vendas nas importadoras, seja pela pressão em cumprir suas respectivas metas, o fato é que este tema é muito pouco esclarecido para o consumidor.

A idéia da maioria dos grandes châteaux em Bordeaux possuírem um segundo vinho decorre da própria sistemática de elaboração do vinho principal ou “Grand Vin”, como eles costumam chamar.

Com vinhedos relativamente extensos, é quase impossível e inaceitável termos uvas de padrão elevadíssimo em toda a área para a elaboração do grande vinho. O vinhedo é dividido em setores para o plantio de diversas castas (Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e eventualmente, Petit Verdot e Malbec), que por sua vez é dividida em idade de vinhas. Não nos esqueçamos que há um escalonamento muito bem planejado na renovação do vinhedo, preservando ao máximo as preciosas vinhas velhas (vieilles vignes). Portanto, cada setor do vinhedo é colhido e vinificado separadamente, proporcionando vários lotes de cada uma das variedades de uva.

O mais consistente na categoria

Aí vem o pulo do gato! A equipe de enólogos muito bem treinada e chefiada por alguém de larga experiência no respectivo château, vai analisar amostra por amostra e definir o blend final para o grande vinho. As amostras que não tiveram categoria suficiente, provavelmente todas ou quase todas, farão parte do chamado segundo vinho do Château. Para falar um português claro, o segundo vinho costuma ser o refugo do vinho principal. Salvo raras exceções, como o rótulo acima, costumam decepcionar. Os problemas óbvios são idade jovem das vinhas, parcelas de vinhas não tão bem posicionadas, maturação de uvas inadequadas e problemas na vinificação.

Outra pedida segura do maior dos Léovilles (Las Cases)

Portanto, veja com muitas ressalvas, as indicações e ofertas dos chamados segundos de Bordeaux para não levar gato por lebre. Nestes casos, para minimizar os problemas crônicos acima citados, procure os mesmos pelas grandes safras. O risco será certamente menor. Na dúvida, escolha o vinho principal de um château talvez não tão prestigiado, mas de preço equivalente.

Um último conselho: não envelheça segundos vinhos da maioria dos châteaux. Eles não foram projetados para longa guarda. Na melhor das hipóteses, dez anos.

 

Harmonização: Steak au Poivre

4 de Julho de 2010

Um clássico francês globalizado

O próprio nome já não é totalmente francês. Os americanos adoram e as variações da receita são inúmeras. Basicamente temos filet mignon, pimenta verde (passada na água corrente e levemente amassada), creme de leite fresco por favor, manteiga, cognac ou brandy para flambar, e mostarda dijon (opcional). A pimenta verde é uma escolha pessoal. Em termos de textura, parece ser mais agradável que as opções em grãos. Quanto aos acompanhamentos, batatas das mais variadas maneiras e/ou salada de folhas para os mais contidos.

A espessura do bife, o ponto da grelha e a picância do prato exercem infuência direta sobre o vinho. Evidentemente, estamos falando de tintos. O cuidado maior é a influência da pimenta, que por mais comedida que seja, é a alma do prato. Portanto, seu sabor e ardor devem ser sempre considerados.

Para um bife alto ao ponto, um tinto de boa estrutura é o ideal, porém com algumas ressalvas. A leve acidez do molho advinda da mostarda e principalmente a presença da pimenta, pedem vinhos de boa acidez. O frescor é fundamental quando lidamos com este tipo de ingrediente. Portanto, nada de vinhos envelhecidos, onde a força do prato provavelmente irá aniquilá-los. Vinhos estruturados, moderadamente tânicos e principalmente jovens e de bom frescor são os ideais. Uma opção interessante é o bom Carmenère chileno De Martino Single Vineyard Alto de Piedra da importadora Decanter (www.decanter.com.br). Bem estruturado, taninos na medida certa, acidez refrescante e o típico toque apimentado de um legítimo Carmenère.

As opções francesas ficam por conta da uva Syrah, como varietal ou com boa presença em cortes. Um Croze-Hermitage fica bastante interessante. Um Côtes du Rhône-Villages, um Gigondas, um Vacqueyras ou um Châteauneuf-du-Pape podem ser boas parcerias. Atenção especial ao Châteauneuf quanto ao frescor. A alta porcentagem de Grenache que geralmente predomina nestes tintos pode ser um problema pela falta de acidez. Contudo, todas estas opções, devem ser vinhos sempre jovens.

Procure evitar vinhos com as uvas Cabernet Sauvignon, Tannat e Nebbiolo, por serem extremamente tânicas a despeito da boa acidez. Neste caso, pode haver conflito com a acidez do prato, gerando um certo amargor. Se for o caso, elimine a mostarda da receita e fique só com o creme de leite fresco. 

Harmonização: Ossobuco e Vinho

1 de Julho de 2010

Especialidade Lombarda em muitas versões contemporâneas

A combinação clássica do famoso Ossobuco alla Milanese é o vinho piemontês com a uva Dolcetto, de baixa tanicidade. A guarnição com risoto de açafrão ou polenta cremosa não modifica a harmonização. Já a carne de vitelo, mais delicada, bem como, cenoura, aipo, e molho de tomate, principalmente, corroboram para um vinho mais simples, aromático e jovem. Não nos esqueçamos da Gremolata ou Gremolada, mistura de alho, salsinha e casca de limão, finalizando a receita.

Em versões mais contemporâneas, o caldo, o cozimento e os ingredientes, podem e devem modificar a escolha dos vinhos. A opção mais comum e barata por carne de boi, modifica a textura, pedindo vinhos mais estruturados. Some-se a isso, um caldo de carne mais substancioso, a exclusão dos tomates e introdução de cogumelos, por exemplo, e teremos um cenário convidativo a vinhos mais complexos, envelhecidos, sem abrir mão de um bom suporte de acidez. O frescor neste caso é muito importante para dinamizar a harmonização, sem tornar o conjunto um tanto pesado, enfadonho. Portanto, neste outro extremo, podemos pensar em italianos mais estruturados, como Barolo, Barbaresco, Brunello ou Chianti Classico Riserva.

Outras opções européias podem ser um bom Rioja Reserva, que normalmente apresenta fruta e madeira na medida certa. Um bom português do Douro ou do Dão. Quinta da Leda e Quinta dos Carvalhais, respectivamente, ambos da importadora Zahil (www.zahil.com.br). Do lado francês, é bom lembrarmos da Borgonha com algumas ressalvas. Normalmente, os vinhos são muito sutis para o prato. As melhores comunas, onde você pode aliar um pouco mais de força com uma ponta de rusticidade, são as de Nuits-Saint-Georges e Pommard.

Quanto ao Novo Mundo, os problemas de sempre. Um tanto dominadores, excesso de madeira, álcool sobrando, sobretudo, nos argentinos, chilenos e australianos. Sul-africanos como Rupert & Rothschild (importadora Zahil) e neozelandeses como Rippon Pinot Noir (importadora Premium), são boas opções alternativas.


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