Archive for the ‘Champagne’ Category

Jacquesson, a arte dos irmãos Chiquet

30 de Janeiro de 2021

Quem acompanha o site e o instagram sabe que uma champagne sempre aparece aqui e ali em posts, harmonizações e recomendações. Fundada em 1798, em Châlons-sur-Marne, Jacquesson era uma das estrelas da Champagne no século XIX, mas em 1920, quando foi comprada por um negociante de vinhos que mudou a sede para Reims, passou décadas em declínio. A virada se deu em 1974, quando Laurent e Jean-Hervé Chiquet compraram a tradicional Maison e levaram sua sede para Dizy.

Laurent e Jean Hervé Chiquet

Os vinhedos estão todos em Grande Vallé e na Côte des Blancs com algumas compras adicionais nesses mesmos terroirs. Uma das marcas das champagnes feitas por aqui é que elas são vinificadas em grandes barris de madeira, o que rende complexidade e mais aromas. Uma das inovações da casa foi a criação da linha 700. Na Champagne, a tradição era que a casa safra as maisons buscassem imprimir mais seu estilo no que está sendo oferecido do que um espumante que retratasse o ano. Quem busca uma Bollinger NV sabe o que encontrará, ano sim, ano não. Os Chiquets foram por outro caminho. A pequena produção (cerca de 300 mil garrafas por ano) comparada às grandes marcas dificultava criar uma linha que imprimisse todos os anos o mesmo estilo. Havia ainda mais. “Nós começamos a perceber que estávamos fazendo um blend pior que poderíamos fazer. Não tinha sentido”, disse Jean-Hervé Chiquet a Peter Liem no excelente livro “Champagne”.

A DT, cujo dégorgement é bem tardio, tem um contato sur lies de quase dez anos, o dobro da 738 normal

Com a percepção de que o foco em ano resultava em vinhos inferiores ao que poderiam fazer sem essa amarra, os irmãos buscaram consistência. A partir da safra 2000, eles descartaram a cuvée Perfection e lançaram a 728. Por que o número? O ano de 2000 representou a safra 728 desde a fundação da Maison.

A linha, importada pela Delacroix, é consistente do início ao topo, com espumantes refinados, gastronômicos, intensos, complexos e que têm alto potencial de envelhecimento.

A linha 700, a mais recente disponível no Brasil é a 743, é originada de dois vinhedos Grands Crus e três vinhedos Premiers Crus. O vinho-base é elaborado em madeira, naturalmente inerte, para não passar aromas ao vinho. As uvas são: Chardonnay de Avize Grand Cru; Pinot Noir do Ay Grand Cru e Dizy Premier Cru; Pinot Meunier de Oiry Grand Cru e Hautvillers Premier Cru. A primeira fermentação é em grandes barricas de carvalho, envelhecendo sobre as borras por 36 meses, misturando com vinhos de reserva (33%) e a segunda fermentação em garrafa segundo o método Champenoise. A 743 talvez seja a melhor que eu bebi. Mais aberta que a 742. Para se achar no ano em que o rótulo é baseado, basta somar dois ao número da linha: 742 é de 2014, a 743 de 2015.

Manifesto dos Chiquets

A Jacquesson ainda produz uma DT, cujo dégorgement é bem tardio, prevendo um contato sur lies de quase dez anos, o dobro da 738 normal. Enseja um vinho complexo, profundo, com uma mineralidade digna de um champagne especial. Com muita vida pela frente.

Em linguagem bourguignone, o rosé é um Chambolle feito na Champagne. São menos de dez mil garrafas vindas de Dizy, um vinhedo Premier Cru situado no Vallée de la Marne, sendo Terres Rouges (lieu-dit) uma área de somente 1,35 hectares exclusivamente de Pinot Noir, plantada em alta densidade, 11500 pés por hectare. O solo é escuro e pedregoso misturando argila e calcário. O vinhedo fica junto à Montagne de Reims em seu setor sul. O vinho-base é vinificado em madeira inerte (foudres de chêne). Trata-se de um rosé de saignée e não de assemblage, este último, mais comum em Champagne. Na verdade, este saignée é muito delicado, quase um pressurage direct. O dégorgement leva normalmente cinco anos, mantendo um longo contato sur lies. Extremamente seco com apenas 3,5 gramas/litro de açúcar residual, dentro do padrão extra-brut. Apesar de 100% Pinot Noir, é um champagne delicado, elegante e muito vivaz tanto em fruta, como no próprio frescor. As notas de frutas vermelhas (groselhas, framboesas) e de alcaçuz estão bem presentes.

Na linha das especiais, há um rótulo absolutamente grandioso: Champ Caïn, cuja primeira safra se deu em 2002, com vinhedos plantados em 1962. A safra 2004 foi bebida em almoço no fim do ano passado. Colhida em 4 de outubro daquele ano, resultou em 9012 garrafas e 500 magnums. O degorgement foi feito em fevereiro de 2013 depois de oito anos sur lies. Chardonnay elegante, refinado, extremamente delicado, expansivo, medidativo, destacando o terroir excepcional de Avize.  Que champagne! Ou melhor, que champagnes!

Borbulhas sem comparação

19 de Dezembro de 2020

Duas champagnes artesanais que valem a pena conhecer

Certas coisas não se replicam. Trufas brancas de Alba, caviar do Cáspio, pata negra da Península Ibérica (para não tomar partido na disputa entre portugueses e espanhois), champagne. A região das melhores borbulhas do planeta vitis não apenas enseja os melhores espumantes como história: foi na catedral de Reims que Napoleão Bonaparte se fez imperador em 1804, rompendo uma tradição histórica e criando um novo paradigma político na Europa do século XIX.

Champagne é para se beber todo o dia, de preferência, seguindo a máxima de madame Lilly Bollinger, mas é nessa época que muitos buscam algumas garrafas especiais. Num ano difícil como 2020, celebrar a chegada de 2021 que se espera melhor, seguem algumas dicas de champagnes disponíveis no mercado brasileiro. Ah, sim, para os leitores habituais, não se falará aqui de Jacquesson, para não se chover no molhado.

Assim como em várias regiões da França, como a Bourgogne, uma geração de jovens viticultores deixou de vender uvas para terceiros e passou a vinificar eles próprios seus “quintais”, o que fez um punhado de excelentes vignerons ganhar destaque, seguindo a esteira de Selosse. Com Agrapart e Cédric Bouchar ainda em vias de chegar ao Brasil, via Clarets, há dois produtores que merecem atenção especial, ambos trazidos pela importadora Anima Vinum.

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Um é a estrela em ascensão Dhondt Grellet, que surgiu em 1986 quando Eric e Edith pararam de vender a terceiros e abriram as portas. Quando o filho do casal, Adrien,nascido em 1991, assumiu o comando nos últimos anos, em pouco tempo chamou a atenção da mídia especializada. William Kelley, o garoto em ascensão, crítico de Champagne e Bourgogne para o site que um dia foi de Robert Parker, falou recentemente que, se você tiver de investir em um novo produtor, aqui está ele. Kelley tem razão. Adrien tem parcelas em duas villages: Cramant (Grand Cru) e Cuis (Premier cru).

Terres Fines é uma assemblage de pequenas parcelas esparramadas por Cuis, um blanc de blancs delicado, mineral, profundo, gastronômico, substantivos que pedem que a garrafa não termine. Excelente pedida para início das refeições ou para brindar o novo ano, que não venha com vírus.

Se a ideia for abrir um champagne rosé, a dica aqui vem dos irmãos Raphael e Vincent Bérêche, cuja casa data de 1847, mas que ganhou espaço mais recentemente, com a revolução das champagnes artesanais há uma década. Em entrevista ao site Pisando em Uvas, Peter Liem, uma das maiores autoridades em borbulhas do planeta, disse que a casa era uma das suas preferidas, com um trabalho excelente nos últimos anos. O destaque aqui vai para a Campania Remensis, o nome romano da região ao redor de Reims. Dois terços do vinho é de pinot noir, incluindo uma porção de vinho seco para ajudar na cor rosé, com um toque de acidez dado pela chardonnay (20%) e o restante de Pinot Meunier. Gastronômico, refinado, complexo, ideal para pratos como um belo pernil, por que não?

Mas não apenas de champagnes artesanais se vive. James Bond sabia das coisas. Sua escolha variou, a depender das décadas dos filmes, entre Tatittinger, Dom Pérignon e Bollinger, mas o agente secreto com licença para matar nunca se deu mal. A safra 2008 da Dom Pérignon não foi experimentada ainda pelo site, mas vem muito bem recomendada por um paladar que esse autor aqui assina embaixo na maioria das vezes: John Gilman. Gilman, que faz a sua trimestral “The View from the cellar” disse que a 2008 é uma das melhores DPs que ele já bebeu jovem, com um futuro extremamente promissor, o que lhe fez dar 97+ . Kelley, na Robert Parker, deu 96 pontos e disse se tratar do melhor lançamento desde a mítica 1996.

Eu, que tive o prazer de beber a Dom Pérignon 1996 P1 e P2 com o Nelson, meu mestre, há uns cinco anos, penso em comprá-la para abri-la em um momento especial. Assim como o agente secreto, o monge sabia das coisas. Se 2008 for como a 1996, o ano passará muito melhor.


Dia dos Namorados

22 de Abril de 2020

Depois de um longo e tenebroso inverno, após passar por cirurgia, vamos falar de coisas boas, não que essa não seja uma coisa boa, a operação foi um sucesso e o tempo recorde em recuperação foi mais ainda. Mas vamos falar de coisas mais dóceis, vamos falar de champagne que expressa bem esse dia de festas, alegrias, e comemorações.

Esse você não quer economizar, eis um belo motivo para tal, um Blanc de Blancs, uma cuvée especial, ou um vintage, ou até mesmo um rosé, símbolo de data que expressa um acontecimento.

comtes de taittinger

um belo blanc de blancs clássico

Blancs de Blancs

Blanc de Blancs, um vinho que expressa pureza, mineralidade, longevidade, e uma delicadeza, acima de tudo. Vai bem com Ostras, Casanova que o diga, vai bem com toda a sorte de frutos do mar, sobretudo in natura, vai bem com trufas, principalmente, envelhecida. Enfim, como entrada e pratos leves, não tem melhor.

Apesar de sua aparente fragilidade, é um dos champagnes mais longevos que existem. Acidez e a delicadeza andam juntas, num desafio permanente ao longo do tempo. Quando envelhece, é um champagne de alta gastronomia, pedindo trufas e cogumelos, para complementar seu esplendor. Comtes de Taittinger é uma referência no estilo, para ficarmos só em uma marca, numa garrafa toda estilizada.

champagne cristal

um cristal é sempre especial

Uma cuvée Especial

Pode ser um Dom Pérignon, um Cristal, um Krug Vintage. Sempre abrilhanta um jantar quando a estrela principal é o astro maior. Estrutura, persistência, e presença marcante. Tudo nele é grandioso, sua acidez, seu equilíbrio e after-taste. 

Vai bem com os pratos principais requintados como uma codorna desossada, pratos de forno, como galinha d´angola, perdiz, e toda a sorte de aves raras, com trufas, se for de uma certa idade, cogumelos, e aqueles maravilhosos, funghi porcini ou o impecável morilles, ficam ótimos.

Champagnes com esta estrutura devem durar por décadas, desmentindo que champagne não pode envelhecer. Um champagne como este, se bem adegado, aguenta fácil 10, 20, anos sossegado, pois tem acidez e estrutura para tanto. É magnífico!

champagne vintage Krug

Um Krug Vintage, dispensa apresentações

Um Vintage para celebrar os bons momentos

Os vintages são muito especiais, pois só são lançados em anos especiais, somente em média três vezes por décadas. O ano deve ser perfeito numa região de clima frio e rigoroso. Quando isso acontece, tudo está perfeito. Sua estrutura, seu equilíbrio, seu balanço final. Um vinho destes é capaz de durar por décadas e aí o prato deve ser especial.

Nestes casos, o prato deve ser de alta gastronomia, um peixe de rio bem consistente, um molho onde a alta acidez de vinho possa suplanta-lo, um beurre blanc por exemplo. Aqui os vinhos do Loire falam mais alto, alta acidez, bela estrutura, e longa longevidade.

Aqui o prato tem que ser escolhido a dedo, pois cada caso é um caso, e cada ano tem suas características próprias. E para tal, a escolha deve ser única, de acordo com as características da safra. Uma safra de clima quente, deve ser mais generosa. Uma safra de clima frio, alta tensão, mineralidade, deve ter outro perfil.

champagne dom perignon rosé

 um rosé emblemático

Vintage Rosé

Se o vintage já é difícil e raro, imagine um rosé, que só faz 15% em média da produção anual. Ele deve conter um porcentagem marcante de Pinot Noir, cepa importante que dá estrutura ao champagne. É um vinho de gastronomia, de grandes mesas, que não pode ser posto de lado. Aqui, os pratos devem conter cogumelos, trufas, pratos de forno, consistente, e porque não até admite uma carne vermelha de maneira suave, uma vitela, um carré de cordeiro de forma rosada, como deve ser.

cheesecake com frutas vermelhas

cheesecake com frutas vermelhas

Um cheesecake com frutas vermelhas sempre ficam ótimos com rosés, pois ambos, queijo e frutas, mantêm a acidez sempre presentes, equilibrando o frescor.

E já que estamos no fim, porque não uma sobremesa, para fecharmos com chave de ouro a refeição. As sobremesas com frutas vermelhas, com leve acidez, fator fundamental, neste momento. Um leve pitada de sorvete, sempre com muita acidez, para não perder o tom da música, e o desfecho será brilhante.

Enfim, um jantar todo estilizado, onde champagnes raros podem desfilar sem problemas, mostrando toda a diversidade e requinte em estilos, para todos os pratos e uma ampla e vasta gastronomia. 

brie-de-meaux

ótimo fecho de refeição

Na parte final, os queijos. Não pode ser um queijo muito poderoso. Não combina com a delicadeza do champagne. Um Brie de Meaux seria ideal, perto da região de champagne, ou delicados queijos de cabra, pois tem acidez suficiente para tal.

Talvez champagne seja o exemplo mais gastronômico às mesas, pois não é invasivo, é sempre elegante. Tem ótima acidez, fator fundamental para a boa comida, baixos taninos, outro fator problemático, deixando a comida reinar sozinha. No final, limpando sempre o paladar, deixando a boca fresca, e o palato sempre preparado para a próxima garfada, ou o último gole desta bebida mágica.

Não é a toa que Dom Pérignon exclamou. Vejam estou bebendo estrelas!

Feliz Dia dos Namorados!

Salmão Defumado e Gravlax

18 de Março de 2020

Dois dos mais pedidos tipos de salmão no mercado, restaurtantes e receitas. Amplamente difundido entre nós, geralmente como entrada e canapés. Há diferenças no preparo de ambos e evidentemente, nos vinhos a acompanhar.

salmão gravlax

Salmão Gravlax

É o processo nórdico, escandinavo de preparar o salmão. Os ingredientes são uma medida de açúcar, duas medidas de sal grosso, aneto ou dill e o salmão. Mistura-se os ingredientes, cobrir o salmão e deixa-lo por 48 horas na geladeira. Lava-se o salmão e pode fatia-lo finamente com faca apropriada, e servi-lo desde in natura, como em diversas formas, temperos e molhos.

Evidentemente, o frescor,  o gosto in natura do peixe, pede vinhos frescos, leves e de boa mineralidade. Os Sauvignons desta característica vêm sobretudo do vale do Loire são as primeiras escolhas. Alvarinhos, Albariños e Chablis, geralmente são muito minerais e de textura correta para o prato. Espumantes Blanc de Blancs e preferencialmente os champagnes são muito bem-vindos.

A madeira nesta caso não casa muito bem com a característica do peixe. Ela fica muito invasiva. Por outro lado, brancos sem madeira e de certa delicadeza são fracos para o prato. Penso que a mineralidade e a personalidade do vinho definem bem a questão.

Neste caso, os complementos mais pedidos são as pimentas aromáticas, ervas e mostardas não muito picantes. Raspas de limão e cítricos são bem-vindos. É uma entrada estimulante, aguçando as papilas gustativas para o que vem pela frente.

salmão defumado

Salmão Defumado

Esse é aquele salmão que compramos pronto e já embalado. Pode ser feito em casa, mas dá um certo trabalho. Normalmente, ele é previamente semicurado e posteriormente defumado com madeiras ou ervas. Esse toque defumado vai diferenciar o vinho em certas situações. É evidente que o grau de defumação, assim como o cozimento do peixe deve influir no resultado final. Estamos falando de um início Gravlax, seguido de leve defumação, sem comprometimento do peixe.

Esse toque mineral pendendo para o defumado, o branco Riesling é ideal. Se for o alemão, opte pelo estilo Trocken, bem seco, ou os alsacianos secos e minerais como Trimbach. Quanto mais envelhecido for o Riesling, maior o toque defumado apresentado, fugindo um pouco dos aromas florais e frutados.

Champagnes com longo tempo sur lies podem ser interessantes, pois a textura fica mais cremosa e os aromas mais complexos e intensos.

 Os Sauvignons de Bordeaux ou próprio corte bordalês branco me parece insuficiente para o prato. Tem um textura rica e falta um pouco de acidez ao conjunto.

Os Sémillons do vale do Hunter, Austrália, pode ser uma bela saída, pois são minerais e com o tempo em garrafa, desenvolvem aromas defumados muito interessantes.

Outra opção interessante é a uva grega Assyrtiko com mais de 60 anos de idade, plantada em vasos, na ilha de Santorini. Um vinho fresco, mineral, salino e de grande personalidade. Pode ir muito bem com o salmão defumado, inclusive o poderoso caviar.

No entanto, preste atenção na carga de madeira. Vinhos muito amadeirados e invasivos, podem deixar a combinação enjoativa e pouco estimulante. É sempre bom prestarmos atenção ao fato, deixando os toques defumados com a mineralidade  e outros aspectos de vinificação como tempo sur lies, por exemplo.

Uma combinação ousada seria o salmão defumado com Whiskies de Islay com forte teor de turfa, o que confere um casamento marcante e bem surpreendente.

salmao defumado e blinisa clássica receita de salmão defumado e creme azedo

Para suavizar o gosto do peixe defumado e até do próprio vinho, um dos acompanhamentos clássicos é o blinis com creme azedo (creme de leite e limão), substituindo com competência o clássico de blinis de caviar, tão caro em nossos dias.

Sempre é bom para uma entrada fresca e de personalidade como esses dois salmões, pensando em vinhos frescos, minerais, de boa personalidade. A Europa sempre sai na frente com exemplares clássicos.

Chardonnay e suas versões

28 de Janeiro de 2020

No segundo encontro da confraria este ano, por sinal bastante modesto para os padrões da mesma, tivemos apenas quatro confrades no elegante Tessen, comida japonesa bem executada. Neste caso, o assunto são brancos e eles vieram em várias versões e idades.

bela combinação

De início uma grata surpresa, um Dom Perignon 1976 em perfeito estado. Algo surpreendente para um vinho antigo, sobretudo champagnes que costumam sofrer com o tempo. Neste caso a conservação foi perfeita, inclusive a mousse e perlage. Um champagne elegante com lindos toques terciários onde o mel, gengibre e cítricos estavam em harmonia. A mineralidade e a bela acidez caminharam muito bem com os sashimis de robalo e salmão (foto acima).

Dependendo do ano, Dom Perignon costuma ter um pouco mais de Chardonnay ou Pinot Noir, não fugindo muito dos 50% para cada uma das cepas. Neste caso, parece que o Chardonnay se sobrepôs um pouco, mantendo frescor e ótima longevidade. Nenhum sinal de decadência, numa conservação perfeita.

o sushi pede brancos de maior textura

Não é muito meu estilo, mas o Marcassin costuma estar em destaque nos grandes brancos californianos. Esse da safra 2009 tem 98 pontos. Encorpado, rico em aromas, textura macia e final longo. Particularmente, acho um pouco invasivo e com madeira demais para este refinamento pretendido. Em todo caso é um belo vinho e tem seus fãs mundo afora.

Um vinho de Sonoma Coast, a oeste de Napa Valley, aproveitando o clima mais fresco, dada a proximidade do litoral frio nesta latitude. O vinho fermenta em barricas e passa mais doze meses amadurecendo em barricas francesas novas. O Pinot Noir, sua versão tinta, é altamente pontuado também. 

img_7239produção minúscula na elite dos Chardonnays

Aí chega o grande chardonnay na mesa, Jacques Carillon, especialista na comuna de Puligny-Montrachet com seu exclusivo Grand Cru Bienvenues Batard-Montrachet na bela safra 2010 com 96 pontos, mas de estilo totalmente diferente do americano. Um branco elegante com mineralidade e muito frescor. Tem a leveza dos Pulignys e este Grand Cru fica a leste de Batard-Montrachet, do lado da comuna de Puligny. Faz divisa também com Les Pucelles, um dos mais prestigiados Premier Cru de Puligny-Montrachet. Sua produção é minúscula, um barril por safra, de vinhas com 48 anos de idade na média, num vinhedo de apenas 0,12 hectare. O vinho amadurece em barricas francesas por doze meses, sendo apenas 20% novas. Um dos grandes brancos da terra santa nesta safra. Para quem faz vinho desde 1520, parece que tem jeito pro negócio …

o primeiro incógnito do ano

O vinho acima foi servido às cegas, induzindo a ser um Pinot Noir pelo formato da garrafa. No entanto, os aromas eram dominados por Brett com toques animais e de defumação. Pelos aromas e densidade em boca, lembrava um Syrah, mas era um Cabernet Franc nacional elaborado pela Leiteria e Laticinios Pardinho. O vinhedo é do sul, de Campos de Cima da Serra, região gaúcha de altitude, próxima à serra catarinense.

O vinho é até agradável para quem gosta de Brett e aromas evoluídos, mas falta fruta e frescor, mais um indício da polêmica levedura. De todo modo, valeu pelo exercício de degustação às cegas. Mais uma vez um brasileiro pouco divulgado e difícil de ser encontrado.

Enfim, uma comida leve, papo descontraído, aquecendo os motores para um ano que promete grandes degustações, belos encontros e ótimas garrafas. Que Bacco nos ilumine!

Harmonização na Praia

5 de Janeiro de 2020

No verão, estando ou não na praia, a pedida é por comidas leves e em especial, peixes e frutos do mar. Para aqueles que não abrem mão de um bom vinho, vamos às melhores opções, quase que descartando os tintos. Nesta hora, os brancos e rosés são as estrelas. Além do mais, vamos melhorar as estatísticas onde os brasileiros têm ampla preferência por tintos, mesmo num país tropical.

ceviche salmão e tilapia

Ostras, ceviche, sashimi, ouriço, carpaccio de peixe

Todas essas comidas são deliciosas e refrescantes, aproveitando os sabores marinhos dessas iguarias in natura. Portanto, a chave da harmonização é a mineralidade. Além disso, texturas mais delgadas complementam a combinação. Neste sentido, champagne blanc de blancs ou os espumantes de mesmo gênero como Cavas por exemplo, são pedidas certas. Pouilly-Fumé ou Chablis são os brancos mais recomendáveis. Nossos vizinhos do Chile e Argentina têm propostas muito interessantes com Sauvignon Blanc e Chardonnay muito minerais. Os rosés da Provence bem delicados e minerais podem surpreender.

Casquinha-de-siri

Casquinha de siri, bolinhos de bacalhau, pasteizinhos de frutos do mar

Aqui já estamos falando das deliciosas frituras com toda a sorte de peixes e frutos do mar. O vinho branco precisa ter acidez para combater a gordura. Além disso, quanto mais sabor e textura houver no prato, mais essas características devem ter no vinho. Frutos do mar com seu toque de doçura pedem vinhos mais frutados ou com algum off-dry para acompanhamento. É o caso da casquinha de siri onde alguns Sauvignon mais frutados ou Riesling com leve açúcar residual se dão bem na combinação. Já o bolinho de bacalhau com seu sabor mais pronunciado, pede um Alvarinho mineral, de textura não muito opulenta, ou um Riesling alsaciano, seco e de textura maior que seus rivais alemãos do Mosel.

linguado a meuniere

Linguado a meunière, molho beurre blanc, ou outras receitas sutis

Estas receitas pedem vinhos elegantes, de boa acidez, e de certa textura, levando em conta os acompanhamentos que podem ser batatas cozidas, purês, ou legumes no vapor. Dependendo do molho, o vinho pode ser mais incisivo em acidez como por exemplo, nas versões com alcaparras ou azeitonas. Chablis e Pouilly-fumé costumam ser imbatíveis. Se a preparação envolve tomates ou suco de frutas, o lado frutado do vinho é importante na combinação. Chardonnays costumam ir bem neste campo, sobretudo aqueles sem passagem por madeira ou de maneira bem sutil. Os Bordeaux brancos trabalham bem neste campo.

moqueca capixaba

Moquecas, peixadas, caldeiradas

Mudando um pouco a linha dos pratos anteriores, aqui temos mais corpo e intensidade de sabores. O vinho precisa ter mais estrutura e os rosés podem entrar em ação. Os rosés mais gastronômicos da Provence. A famosa Bouillabaisse entra neste contexto. Alguns rosés do Rhône podem ser dar bem. Sauvignons mais musculosos como alguns neozelandeses ou sul-africanos podem se dar bem. Chardonnays dos vales frios do Chile com madeira comedida são bons parcerios. Se o molho for muito intenso, até alguns tintos leves como Pinot Noir podem dar certo.  

haddock e aspargos

Bacalhau, haddock ou peixes com preparações mais intensas

Aqui é o reino dos Chardonnays, sobretudo com bom toque de madeira. Rosés mais intensos como Tavel do sul do Rhône, ou rosés do Novo Mundo mais intensos, são boas companhias. Se a opção for por tintos, a península ibérica pode fazer bonito com Riojas envelhecidos, taninos bem moldados, estilo Gran Reserva. Os Dão garrafeiras são opções a considerar.

salmao defumado

Sardinha na brasa, salmão defumado ou preparações específicas 

Sardinha na brasa com vinho verde tinto, só para os genuínos portugueses. Eles entendem esta combinação. Vá de um branco seco bem cortante, de personalidade e alguma rusticidade. Um Assyrtiko grego pode encarar o prato com bravura. Um espumante português da Bairrada bem seco, extra-brut, pode ser adorável. 

Se a opção for Salmão defumado, os rieslings alemães ou alsacianos com mineralidade são ideais. Prefira os alemães do Rheingau, mais encorpados. Para os escoceses, sobretudo se for um petisco para charutos, um bom Malt whisky de Islay é pedida certa. Lafroiagh ou Lagavulin pode ser a glória.

No mais é cutir o verão, o calor, sempre com muita descontração e frescor na gastronomia. Boas Férias!

Retrospectiva 2019

31 de Dezembro de 2019

Ano de muita fartura e alta qualidade. Foram mais de 500 garrafas de alto nível, todas elas sonho de consumo de muito enófilos. Safras históricas como Sassicaia 85, Mouton 45, Hermitage La Chapelle 78, Yquem 21, entre outros.

e94bf8c2-35f1-42b2-bf54-174f55cc3aa8a nata DRC em grandes safras!

Separando por tipos, poderíamos fazer várias seleções num mundo ideal. Foram muitas borbulhas, brancos, tintos, Yquens, e grandes Portos.

img_6902rótulo dourado: Um dos melhores P3 da história!

Champagne

Foram muitos entre Krug, Cristal e Dom Perignon, os champagnes que mais prevaleceram nos encontros. No entanto, o destaque fica para o Dom Perignon P3, não disponível no Brasil. Com mais de 20 anos sur lies, esta maravilha tem uma cremosidade e delicadeza sem igual. Amplo, perfeito, num final de alto acabamento.

img_7081-1um dos mais exclusivos desta apelação numa safra perfeita

Brancos

Embora alguns riesling e grandes Bordeaux brancos tenham desfilados, os brancos da Borgonha reinaram absolutos com produtores do quilate de Roulot, Coche-Dury, Leroy, Domaine Leflaive, Ramonet, entre outros. Para os Chablis, Raveneau e Dauvissat jogam na Premier League.

img_7079-1uma promessa e a safra perfeita, 1970

Tintos

Embora os grandes Bordeaux e os espetaculares borgonhas possam dar conta do recado com folga, os tintos do Rhône, os cult wines americanas, e alguns italianos, completaram a lista dos grandes tintos degustados. 

Escolher alguns dos Bordeaux é tão difícil que as injustiças são inexoráveis. Poderíamos citar a turma de 82 como Latour, Pichon Lalande, Le Pin, entre outros tantos. Para destacar algum, vamos de Petrus, o Bordeaux mais enigmático e difícil de atingir o ponto ideal. Uma garrafa perfeita de Petrus 70 com seus quase 50 anos, justifica plenamente a fama deste mítico vinho. Totalmente acessível, sedutor, mas com uma força e estrutura que nenhum outro Merlot é capaz de alcançar.

img_5880Cros-Parantoux: lieu-dit criado por Jayer

Dos Borgonhas, o assunto fica ainda mais complicados. Produtores com Rousseau, Mugnier, e Ponsot, fazem verdadeiras obras-primas, sobretudo em safras espetaculares como 85. Destaque especial para o Hospices de Beaune Mazis-Chambertin de Madame Leroy 1985. Um vinho para sonhar. Menção especial para o mestre Jayer com seus Cros Parantoux e Richebourg, degustados algumas vezes neste ano. Para falar dos DRC, vamos ficar com o La Tache, um vinho completo que representa com louvor a prole, bem mais simpático que o sisudo Romanée-Conti. Não estarei vivo para confirmar, mas o La Tache 99 será um dos grandes borgonhas daqui a 20 ou 30 anos, justificando as palavras de Hugh Johnson: “um dos maiores vinhedos sobre a Terra”.

img_7001Jaboulet e Chave: o epítome em Hermitage

Da parte do Rhône, vinhos pouco degustados este ano, comparativamente, a trilogia Guigal continua impecável. Dos Hermitages, La Chapelle de Jaboulet e Cuvée Cathelin de Jean Louis Chave, chegam à perfeição, sem muito espaço para os demais produtores. Os La Chapelle 90 e 78 são inesquecíveis. O primeiro uma promessa, o segundo uma realidade. São vinhos viris que demandam décadas de amadurecimento.  Dos Cuvée Cathelin, a safra de 90, a primeira que deu origem à série, é perfeita e difícil de ser ombreada.

img_6044Harlan: O Latour das Américas

Dos americanos, difícil bater um Harlan Estate, o Latour das Américas. Dominus, o mais bordalês dos americanos, sempre uma boa pedida. Dos exóticos e espetaculares vinhos com inspiração no Rhône, a butique Sine Qua Non faz coisas surpreendentes e fora da curva. Nenhum país do Novo Mundo chega perto destes vinhos. O grande problema é que são caros demais, mais caros até que os originais franceses.

img_5639obras-primas dos irmãos Conterno

Da parte italiana, a briga dos irmãos Conterno está sempre em voga. Dos Monfortinos, o Barolo de escola clássica, menção especial para o 99, ainda muito vigoroso, e o sedutor 78 com seus terciários pedindo trufas. Da parte de Aldo Conterno, o Granbussia 2006 é uma grande promessa, enquanto o badalado 90 faz jus à fama. O 1988 é surpreendente e merece mais fama do que tem. Quanto a Angelo Gaja, sua trilogia continua mágica e seu Barolo tem alto refinamento. Em resumo, uma pitada da classe francesa na Itália, sem contar com seu branco Gaia & Rey, o Borgonha da Itália. 

a evolução perfeita e a promessa da juventude

Yquem e suas safras

Nos vinhos doces, alguns alemães desfilaram, bem como alguns Tokaji, mas o destaque ficou para os inúmeros Yquens degustados. Basicamente, há dois tipos de Yquem. Aqueles mais clarinhos, novos, com toda a força da juventude. Normalmente até seus vinte anos de idade. Daí pra frente, as cores vão ficando mais escuras, mais amarronzadas, equilibrando mais os açucares e ganhando complexidade aromática.

raridades em safras históricas

Portos

Dos fortificados, os Vintages foram os mais prestigiados. Nomes como Taylor´s, Graham´s, Fonseca, e Quinta do Noval, foram os mais degustados. Menção especial para o Noval Nacional, elaborado com parreiras pré-filoxera e de produção diminuta. Alguns Madeiras notáveis devem ser lembrados, sobretudo do século dezenove.

Enfim, um pouco do que foi degustado neste ano com alguns dos vinhos lembrados neste artigo. Outros tantos poderiam ser mencionados e ainda assim, injustiças seriam cometidas. Graças a Deus porque a fartura imperou. Esperemos que 2020 seja tão farto, generoso, e magnífico como 2019 que já deixa saudades. 

Feliz Ano Novo!

Champagne Rosé

19 de Dezembro de 2019

Muita gente tem dúvidas de como se elabora o Champagne Rosé, imaginando que há algo sofisticado neste tipo de processo. No entanto, o método é simples, chega a ser amador se pensarmos na elaboração de vinhos rosés mundo afora. É exatamente misturarmos vinhos brancos e tintos em proporções adequadas até encontrarmos a tonalidade ideal para o rosé. É bom enfatizar que este método é proibido na elaboração de rosés pelo mundo, pelo menos nos vinhos sérios e sujeitos às diversas denominações de origem, de acordo com cada país, mas para o champagne e espumantes é  válido.

img_7029Champagne Cristal, o Rosé mais bem pontuado no mundo!

um Rosé gastronômico para as grandes mesas

Voltando ao champagne, tudo é feito no chamado vinho-base onde ocorre o que conhecemos por assemblage das uvas, safras, e as diversas parcelas cultivadas e separadas para montar a cuvée. Misturando proporções adequadas de vinho tinto e branco locais, chegamos ao método Rosé d´Assemblage. É um expediente extremamente difundido na região com praticamente todos os champagnes rosés elaborados por este método. Mais à frente, falaremos de um outro método mais sofisticado, elaborado por muito poucos produtores e Maisons.

A primeira Maison que criou o champagne rosé fez 200 anos em 2018, completando dois séculos de existência, foi a poderosa e famosa Maison Veuve Clicquot. Mais uma invenção brilhante de uma das grandes Damas desta apelação, a viúva Clicquot Ponsardin. Ela simplesmente juntou cerca de 15% de vinho tinto de Bouzy, uma das vilas mais famosas de Reims para o cultivo de Pinot Noir, na cuvée com vinhos brancos. É bem verdade que houve uma tentativa poucos anos antes da própria Maison, macerando um pouco de uva tinta para tingir o mosto, mas os resultados não foram satisfatórios. A cor não ficou adequada e surgiu um nível de amargor desagradável. Chamou-se na época oeil-de-perdrix, uma alusão à cor dos olhos da ave.

champagne tipos 2018

números entre europa e terceiro mundo

Pelos números acima, na média, 80% do champagne em volume é o non millésime, carro-chefe de cada Maison. Já em valores, a média fica em torno de 70%. Vejam as cuvées de prestigio que representam apenas menos de 5% na média em volume, ao passo que em valores, representam em torno de 16%.

Atualmente, a produção de champagnes rosés gira em torno de 10%, atendendo percentualmente determinados mercados. Podemos dizer, que os países do Novo Mundo têm uma predileção um pouco mais destacada pelo produto.

O outro método de elaboração muito menos difundido e de maiores cuidados é o Rosé de Saignée ou rosé de maceração. Aqui sim, maceramos as uvas tintas, geralmente Pinot Noir, por algumas horas até tingir adequadamente o mosto, prestando atenção na extração de taninos. Isso faz parte do vinho-base e do assemblage para compor a cuvée que será posteriormente espumatizada. 

Rosé Phillipponat  importado pela Clarets

Dois Rosés acima trazidos pela importadora Clarets da mesma Maison Phillipponat. O Royale Reserva da esquerda é um rosé de maceração com alta porcentagem de Pinot Noir. Já a cuvée 1522 é um extra-brut de assemblage com leve predominância da Pinot Noir no corte. http://www.clarets.com.br 

Em linhas gerais, não há diferença de qualidade no champagne rosé em relação aos métodos utilizados. É mais uma questão de gosto e conceito. Nos Rosés de Saignée temos geralmente uma cor mais intensa, uma vinosidade maior, e uma intensidade de sabor mais acentuada. Já nos Rosés d´Assemblage, os aromas são mais tênues, assim como a cor. 

Como o Rosé de Saignée  é quase uma exceção, vamos a algumas Maisons que utilizam este método: Laurent-Perrier (pioneira neste método), Roederer (Cristal), Drappier, Philipponnat, Larmandier-Bernier, Duval-Fleury, entre outras. Alguns desses produtores usam um método misto onde há adição de vinho branco, normalmente Chardonnay como por exemplo, Maison Louis Roederer.

img_7013outro Rosé de destaque

um Rosé mais delicado para entradas e pratos refinados

Rosé d´Assemblage

Método altamente difundido na região, consite em juntar vinho branco com vinho tinto, Pinot Noir, na proporção de 5 a 20%, a critério do produtor. Esses tintos são os chamados Coteaux Champenois ou Rosé des Riceys da sub-região de Aube, ao sul de Champagne.

Rosé de Saignée

Neste método o vinho tinto é elaborado com uma maceração das cascas no mosto entre 8 e 12 horas (em alguns casos pode ser mais), obtendo mais cor e mais vinosidade na cuvée. Temos somente uvas tintas, 100% Pinot Noir, salvo raríssimas exceções onde há  adição de Chardonnay na cuvée, caso do champagne Cristal.

Gastronomia e Champagne Rosé

Como aperitivo, os rosés com forte proporção de Chardonnay no corte, fornecendo frescor ao conjunto, vão muito bem como jamon, presunto cru, sejam espanhóis ou italianos. San Daniele do Veneto, tem a delicadeza perfeita. Entradas com azeitonas e tomates também acompanham muito bem. 

Os rosés delicados e não muito secos vão bem com comidas indianas ou chinesas com pratos agridoces e ricos em especiarias suaves.

Os rosés não muito secos, macios, e bem estruturados com alta proporção de Pinot Noir, convivem bem com pratos à base de caviar, ovas em geral e também os ouriços.

Rosé com sushi da Casa do Porco

Os rosés mais ligeiros e leves vão bem com comida Tailandesa onde peixes e frutos do mar são mais apimentados com participação de gengibre e frutas cítricas como o limão. Os sashimis também vão muito bem, sobretudo com atum.

Os rosés mais encorpados e gastronômicos pedem pratos com carnes sanguíneas como pato, pombo, e lombo de cordeiro mal passado. Acompanhamento como legumes, cuscuz marroquino, favas e lentilhas são bem-vindos. 

Os rosés complexos e maduros pedem receitas de crustáceos ou carnes brancas com molhos refinados, especiarias delicadas, nada muito forte para não arranhar a sutileza destes vinhos.

Outros rosés famosos são do pequeno produtor Cedric Bouchard trazido pela importadora Juss Millesimes, altamente pontuado, os rosés da  Maison Billecart-Salmon e da Maison Deutz. Agora é só escolher o seu. Boas Festas!

Briga de Barolos, trufas e muito mais

17 de Dezembro de 2019

Nos últimos eventos de 2019 grandes vinhos desfilaram em mesas refinadas onde as trufas brancas sempre roubam a cena. Entre champagnes, brancos, e tintos, destaque para os Barolos e bordeleses, os vinhos antigos se harmonizando com as trufas. Mais do que Barolos e Barbarescos para combinarem com elas, a idade do vinho e seus aromas terciários são a chave ideal para a combinação perfeita.

estilos diferentes e encantodores

Dois champagnes de luxo abrindo o jantar onde a composição de Chardonnay e Pinot Noir não difere muito, mas os estilos são bem diferentes. Normalmente, há uma leve predominância de Chardonnay no corte do Dom Perignon, o qual tem estilo mais leve, mais delicado, belo frescor e ótimo equilíbrio. Esses 19 anos não se mostraram na taça, tal a extrema juventude demonstrada.

Do lado do Cristal 2009, um champagne de mais corpo e estrutura com leve predominância da Pinot Noir sobre a Chardonnay. Longo em boca, começando com belo frescor e logo em seguida, uma cremosidade notável. Um champagne muito gastronômico.

tartar de salmão e vieiras

A leveza e acidez do tartar de salmão caiu muito bem com a textura e o frescor do Dom Perignon. Uma harmonização estimulante, sempre refazendo o paladar. Do lado das vieiras grelhadas, acompanhando foie gras e trufas, o champagne precisava ser mais rico e estruturado. A maciez e os aromas do Cristal foram muito bem com os sabores do prato.

Montrachet e camarões

O Montrachet Bouchard Pére & Fils em formato Imperial foi o suficiente para regar o jantar. Mesmo com seus 15 anos de idade, o vinho era de um frescor impressionante. Não está no time de cima dos grandes Montrachets, mas é muito elegante e equilibrado. Tem um estilo mais leve e agudo lembrando produtores como Leflaive e Ramonet num nível evidentemente um pouco abaixo. Com a cremosidade delicada do bobó de camarão, a harmonização ficou perfeita.

duas imperiais em momentos distintos de evolução

Os grandes formatos, no caso imperial, ficaram como o Mouton 1975 e o Margaux 95. No caso do Mouton, um vinho maduro, de corpo médio, não muito longo em boca, mas muito equilibrado e com todos os terciários de um grande Pauillac, caixa de charutos, café, e ervas finas. 

Para o Margaux 95, um vinho ainda em transição, saindo da juventude e começando a entrar na maturidade. Mais encorpado que o Mouton, maior carga tânica, embora de alta qualidade, e mais longo em boca. Os aromas florais, de sous-bois, e toques minerais, eram evidentes. Deve evoluir bem por mais vinte anos. Exemplo de um grande Margaux.

pratos de carne consistentes

Um filé mignon na mostarda com molho rôti para o Mouton 75 acompanhado de cuscuz marroquino. A mostarda tem a propriedade de equilibrar vinhos mais novos e ao mesmo tempo, levantar o sabor de vinhos mais maduros. Já para a costela cozida lentamente e defumada de sabores consistentes era exigido um vinho de maior corpo e estrutura. O Margaux 95 deu conta do recado. Sua densidade e tanicidade cairam muito bem. 

Encontro de Barolos e Barbarescos

img_7121Com 30 anos já podemos pensar em trufas

Pena que o Monfortino 88 estivesse levemente prejudicado, algo de bouchonné, embora pudéssemos notar sua grande estrutura. Um vinho de escola tradicional onde os toques terciários de trufas, alcatrão e notas terrosas, ficam bem salientados. Já o Granbussia 88 de Aldo Conterno estava surpreendentemente jovem pela idade, mas com lindos toques de evolução, sem perder a fruta. Foram muito bem com os pratos de trufas.

ravioloni e risoto zafferano

O ravioloni recheado de castanhas e porcini com queijo bel paese estava divino, sobretudo complementado pelas trufas brancas. Já o risoto zafferano é um clássico que dispensa comentários também com trufas raladas. Nem é preciso dizer que esses Barolos evoluídos harmonizaram muito bem. É bom frisar que não basta ser Barolo ou Barbaresco, o vinho precisa estar evoluído para dar liga na harmonização.

img_7127safras históricas de Monfortino

O Monfortino da esquerda não aparece na foto, mas é safra 1985 em formato Magnum. Embora já esteja no auge para ser bebido, esta garrafa está muito bem conservada, podendo evoluir por mais alguns anos. Um Barolo de raça, taninos possantes, e aromas etéreos. Tem 96 pontos. Já o Monfortino 1978 é um  Barolo histórico com 98 pontos e plenamente evoluido. Os toques terrosos, de trufas e alcatrão são didáticos. Para a maioria do pessoal, foi o vinho da degustação.

img_7126o Mestre Angelo Gaja

Aqui no mesmo ano 1989, vê-se claramente a diferença entre Barolo e Barbaresco num mesmo produtor. O Barolo é mais encorpado, mais tânico, mais viril. Agora um Barolo de Angelo Gaja tem uma classe a mais que é difícil de explicar. Uma finesse de aromas e taninos, além de um equilíbrio sensacional e fino acabamento. O Costa Russi, uma das três joias de Gaja é tão fino e delicado que nem parece italiano. Pode coloca-lo no meio de Borgonhas da apelação Pommard que passa fácil. Um tinto encantador com notas florais, de alcaçuz, cerejas escuras em licor, e muita mineralidade. Sensacional dueto!

Yquem e os queijos

Passando a régua, uma double Magnum de Yquem 1999 com vinte aninhos. Já em plena maturidade, um Yquem clássico, untuoso, cheio de botrytis, mel, damascos, caramelo e frutas exóticas. Muito equilibrio e de final longo. Para esta safra temos 13,8 graus de álcool e 128 gramas de açúcar residual por litro. Um prato de queijos de sabores intensos como Serra da Estrela, Brillat-Savarin e outros franceses, caiu como uma luva com o Yquem, fechando a refeição.

Que o Ano Novo comece tão farto quanto o crepúsculo do ano que se encerra com belos vinhos, boa mesa, e muita confraternização entre amigos. Saúde!

 

Pessoas, Vinhos e Festas

12 de Dezembro de 2019

As pessoas que gostam de vinho geralmente têm seus limites para compra-los. Nesta época do ano, Natal e Ano Novo são momentos que permitem provar algo novo, algo diferente, às vezes acima daquilo que bebemos no dia a dia. Pensando na questão, vamos imaginar três tipos de pessoas que efetivamente existem  e movimentam este mercado de vinhos cada vez mais pungente.

P1 – pessoas que têm certa dificuldade em comprar vinhos caros que podem comprometer seu orçamento. Vez por outra, se arriscam numa garrafa mais sofisticada.

P2 – pessoas que estão acostumadas a comprar bons vinhos, mas não podem comprar os ícones mundiais ou vinhos que atingem grande prestígio com preços alarmantes.

P3 – pessoas que buscam alta qualidade sem se importar com preços. Normalmente, frequentam grandes leilões internacionais e negociam grandes adegas particulares.

Feitas as descrições, vamos a algumas sugestões para as festas, sugerindo os tipos de vinhos mais procurados para estas ocasiões.

flutes-de-champagne

Borbulhas

Para o grupo P1, a melhor dica é ficar com os espumantes nacionais. É o nosso melhor tipo de vinho e tem preços interessantes comparados à concorrência. Cave Geisse, Pizzato, Valduga, e Chandon, são produtos seguros. Saindo um pouco do comum, o Chandon Excellence é uma boa experiência com preços um pouco mais elevados.

Para o grupo P2, Cavas mais sofisticados com longo tempo sur lies (contato com as leveduras) são muito interessantes. O espumante Ferrari, pessoalmente o melhor da Itália, é sempre uma pedida certa. Os belos Franciacorta, italianos da Lombardia, também devem ser lembrados.

Para o grupo P3, vamos falar só de champagne, a perfeição das borbulhas. E aí as opções são muitas. Nas cuvées de luxo, Dom Perignon, Cristal, todos da Krug, e Bollinger RD, são perfeitos. Dos champagnes fora do circuito conhecido, Jacquesson e Agrapart merecem ser conhecidos. Para os mais exóticos, Jacques Selosse dá um banho de enogastronomia.

tender de natal

Para o Tender

Tradicional nas mesas brasileiras, esta iguaria é uma peça de pernil cozida e defumada. Geralmente ele é servido com molho agridoce e frutas no acompanhamento. De todo modo, é uma entrada, um prato relativamente leve, mas saboroso. É claramente um cenário para vinhos brancos de certa doçura. 

Para o grupo P1, os moscatéis nacionais, tipo Asti Spumante, são os mais certeiros, bom e barato. Como o Brasil dispõe de alta tecnologia na vinificação, estes espumantes são muito bem feitos, não devendo nada aos comerciais e originais italianos, na maioria das vezes.

Para o grupo P2, podemos pensar nos belos Torrontés argentinos, especialmente os de Salta. Alguns vinhos da casta Viognier com toques florais podem dar certo. Uruguai e Argentina tem bons exemplares. Gewurztraminer é outra pedida, embora a baixa acidez seja um problema. Procure por safras mais novas.

Para o grupo P3, os Riesling alemães com vários graus de doçura são ótimos, especialmente os do Mosel, mais leves. A Alsace é a opção francesa mais confiável. No vale do Loire, os Vouvray com vários graus de doçura são muito interessantes, incluindo os espumantes, Fines Bulles ou Péttilant com a uva Chenin Blanc. O produtor Huet é referência absoluta.

peru de natal

Para o Peru

Peru, Chester, e todas as aves natalinas de carnes brancas e macias se incluem neste contexto. A carne em si é relativamente neutra. O molho e acompanhamentos são o que calibram melhor a escolha do vinho. Tanto branco como tinto podem acompanhar este prato. 

Para o grupo P1. Um bom Chardonnay nacional como da Pizzato é uma bela opção. Na Argentina e Chile também há opções em conta. Como a carne tem pouca gordura, um bom Chardonnay fornece maciez ao conjunto. O grande problema são o molho e os acompanhamentos que podem ser agridoces. Neste caso, o Chardonnay deve ser bem frutado ou partir para um intenso Gewruztraminer. Se a opção for por um tinto, um bom Pinot Noir resolve o problema. A serra Catarinense tem bons exemplares, assim como no Chile. Alguns bons Cabernet Franc nacionais são opções interessantes. Em resumo tintos de certa leveza e taninos moderados.

Para o grupo P2, podemos pensar em Chardonnay um pouco mais sofisticados do Chile. Sol de Sol da Viña Aquitania e Amelia do grupo Concha Y Toro são bem confiáveis. Os Chardonnay tops da Catena, Argentina, ficam no mesmo nível. Um bom Cava com pelo menos 24 meses sur lies é outra bela opção. A importadora Clarets traz o confiável Juves y Camps. Do lado dos tintos, Pinot Noir chileno dos vales frios são ótimos, especialmente os da Casa Marin importado pela Vinci. A Nova Zelândia prima por bons Pinot Noir. A importadora Premium é especialista no assunto.

Para o grupo P3, a Borgonha é a glória. Berço espiritual das duas uvas, Chardonnay e Pinot Noir, temos várias e ótimas opções. No caso dos brancos, Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet e Meursault, são as melhores pedidas de acordo com o peso do prato. No caso dos tintos, comunas de vinhos mais leves como Volnay e Chambolle-Musigny são mais adequadas. Como alternativa ao Chardonnay, um ótimo Pinot Gris da Alsace é divino.

Para o Panetone, Rabanada e Frutas Secas

Para o grupo P1, novamente os moscateis nacionais fazem bonito com o panetone. Para a rabanada e as frutas secas, nada melhor que um bom vinho do Porto. Há muitas ofertas no mercado, dando preferência aos Tawny que vão melhor com a canela da rabanada e tem tudo a ver com as frutas secas.

Para o grupo P2, os moscateis continuam de pé com o panetone. Uma escolha mais sofisticada seria um bom Cava Sec com doçura adequada. Não estranhem, eu disse Sec. No caso do Porto, podemos partir para um Reserva, de nível e concentração maiores. Um Passito di Pantelleria para as rabanadas e frutas secas é uma opção original.

Para o grupo P3, o panetone é acompanhado de champagne Sec pelos mesmos motivos acima. Quanto ao Porto, podemos pensar na gama mais sofisticada de Tawny que são os de datas declaradas (10, 20, 30, 40 anos) ou o Porto Colheita com longo envelhecimento em pipas. Evidentemente os grandes Madeiras não estão de fora. Os Melhores Boal ou Malmsey são os de doçura mais adequada.

Enfim, tudo é festa e o que vale mesmo são os amigos e a família. Essas são apenas algumas sugestões neste vasto universo do vinho. Além disso, há outros pratos nas festas não abordados neste artigo como bacalhau, leitoa, pernil de cordeiro, e outras iguarias. Seguem alguns links deste blog para consulta: Espumante Brut, Carne de Porco, Arroz de Pato  / Harmonização: Ano Novo  /  Bacalhau e seus Vinhos

Boas Festas!


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