Archive for Janeiro, 2017

Syrah e Merlot: Sublimação de Terroirs

29 de Janeiro de 2017

As apelações francesas procuram espelhar a força de seus respectivos terroirs nos vários produtores que formam cada pequena região. E é exatamente a interpretação magnífica de determinados terroirs  que faz a distinção dos grandes produtores, verdadeiras referências, no sentido de procurarem a perfeição e a essência de uma pequena porção de terreno. Neste contexto, o produtor de Hermitage Paul Joboulet com sua cuvée La Chapelle e Le Pin, um ícone de Pomerol, sublimam as uvas Syrah e Merlot, respectivamente. Foi o que aconteceu numa bela degustação mostrando essas maravilhas.

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a imponente montanha de Hermitage

A paisagem lembra um pouco o Douro, terroir português para o inigualável Vinho do Porto. De fato, o subsolo também é granítico, um monolítico esculpido de forma magistral pela natureza. O esquema abaixo, setoriza as várias parcelas da montanha. Hermitage tem um conceito muito particular de terroir, onde a junção das várias parcelas é capaz de produzir um vinho mais complexo e longevo, ao contrário da noção comumente adotada de parcelas individualizadas, ou seja, os melhores Hermitages não são os de vinhedos, e sim os clássicos.

La Chapelle

O segredo deste grande ícone é o domaine Paul Jaboulet trabalhar com vinhas antigas (entre 40 e 60 anos), gerando mostos com rendimentos baixíssimos (entre 10 e 18 hectolitros por hectare). Além disso, o pulo do gato é a mescla judiciosa de seus vários terroirs, conferindo ao vinho uma complexidade ímpar. No caso, são quatro lieux-dits: Les Bessardes, Les Greffieux, Le Méal, e Les Roucoles.

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as várias parcelas da montanha

Les Bessards: confere estrutura e capacidade de envelhecimento com seu solo granítico

Le Méal: confere elegância e complexidade com solos de traços calcários, pedras e sílica

Les Greffieux: confere corpo e elegância com solos aluviais e argilosos

Les Roucoles: terroir mais para brancos com presença de argila e loess, conferindo graça e suavidade

O vinho repousa entre 15 e 18 meses em madeira para depois envelhecer em garrafas por décadas. Este é um dos poucos casos em que vale a  velha máxima: “quanto mais velho, melhor”.

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20 anos os separam, uma viagem no tempo

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esquerda (70) e direita (90)

Difícil descrever em palavras um La Chapelle maduro, com seus aromas terciários já desenvolvidos e seus massivos taninos devidamente domados. Degustados em taças Zalto, a diferença sutil de cor entre as safras acima mostra bem a lenta evolução deste vinho. A safra 1970 pode não ser perfeita, mas com seus 47 anos de evolução encontra-se deliciosa para ser provada e num platô amplo de estabilização. A cor, embora um pouco clara, menos preenchida no centro da taça, não denota sua idade. Os aromas são de uma elegância e refinamento ímpares, persistentes, sem ser impositivos. Vai das frutas escuras, couro, chocolate, especiarias delicadas e um toque defumado bem sutil. Em boca, aquela montanha de taninos domada, integrando-se perfeitamente ao corpo. O equilíbrio de álcool e acidez são notáveis, culminando numa persistência aromática expansiva. Acho que neste ano não há vinho que possa ofuscar-lhe. Perdão, lembrei agora do grande Vega-Sicília 70 …

Já o 1990 ainda é um “monstrinho”, tal a pujança em boca. Este vai chegar fácil aos 47 anos e com certeza, com mais vigor ainda. Os aromas demoraram um pouco a chegar, já que sabemos que a casta Syrah é extremamente redutiva, necessitando de decantação. O perfil aromático, seu DNA, é muito semelhante ao anterior, mas ainda tímido. Coisas que só o tempo resolve. Potente em boca, taninos em abundância e ultra finos. Enfim, pode-se degustar agora com paciência e decantação, mas ainda tem chão pela frente.

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um Pomerol de garagem

Acima, outro dupla de respeito. Como os grandes Bordeaux se impõem em qualquer situação!. Mesmo diante de um Hermitage do quilate do La Chapelle, mostrou corpo e profundidade para não se intimidar. Le Pin é um dos grandes concorrentes do todo poderoso Petrus, inclusive nos preços. Contudo, normalmente tem a vantagem de ser mais abordável, mesmo na juventude.

Sua história é recente, sendo a primeira safra em 1979. São apenas 2,7 hectares produzindo em torno de 500 caixas por colheita com uvas 100% Merlot. Assim como o Sassicaia foi o pioneiro para os Supertoscanos, Le Pin inaugurou o termo “Vin de Garage”, pequenas partidas de vinho feitas num espaço reduzido de microprodução.

O primeiro ponto que chama atenção nas duas safras provadas é o discreto nível de álcool de 12,5° graus, bem abaixo do que estamos acostumados para tintos de corpo. Aqui, vale mais as características de cada uma das safras, já que a diferença entre ambas é de apenas um ano. A safra 89 é bem pontuada e de características muito mais precoces, sendo acessível mesmo jovem. Fruta deliciosa, macio, taninos bem moldados com final longo e harmônico.

A safra 90 é mais estruturada, com alguns segredos ainda a revelar. Seus taninos são mais presentes e abundantes. Evoluiu muito e bem na taça com o passar do tempo. Além da fruta lembrando ameixas, as notas de chocolate, couro e toques balsâmicos completaram seu leque aromático. Em boca, percebe-se a potência e qualidade da safra. Taninos de fina textura, muito equilibrado, e um final longo e expansivo.


Antes dos tintos, dois brancos para aguçar o paladar. Uma novidade em Champagne de produção minúscula. Não há nada melhor para iniciar uma refeição, se não um cremoso Blanc de Blancs. Em seguida, um Corton-Charlemagne de rara beleza, o exclusivíssimo Coche-Dury.

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o refinamento de uma apelação

Falar de Coche-Dury é falar em refinamento, exclusividade, requinte. Um domaine irrepreensível com vinhos de sonhos. Seus destaques são os disputadíssimos Meursaults, sempre muito bem cotados. Entretanto, ele faz também uma produção minúscula de Grand Cru Corton-Charlemagne, apenas um terço de hectare (0,33 ha) com vinhas plantadas em 1960. Na safra 2012 (foto acima) foram produzidas apenas 1800 garrafas numeradas.

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bela combinação com sushi de papada de porco

O vinho ainda jovem, praticamente um infanticídio, tem um cor linda, brilhante e muito clara. Os aromas são bem minerais, madeira sutil, refinada, um toque floral, indo na linha de um Puligny-Montrachet. Em boca, os Cortons sempre lembram os grandes Chablis, estilo Les Clos, mais encorpados, embora sem a mesma textura da turma lá de baixo da família dos Montrachets. Equilíbrio fantástico. Nada sobra, nada falta. Final longo e muito agradável.

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delicadeza e elegância

O rótulo acima lembra Selosse, mas seu estilo é de um champagne fresco e vibrante. Michel Fallon é um discípulo de Selosse no sentido de engarrafar sua própria e minúscula produção, apenas 850 garrafas por ano. A cuvée Ozanne é uma referência a um antigo nome da comuna de Avize, uma das mais prestigiada da Côte des Blancs.

Trata-se de um Chardonnay fermentado em barricas como vinho-base. O contato sur lies após a segunda fermentação é de pelo menos três anos. Um champagne vívido, perlage abundante e muito fino. Os aromas cítricos predominam entrelaçados com ervas frescas, damasco e um toque de levedura. Jamais a madeira interfere. A mousse é sensacional com a delicadeza de um autêntico Blanc de Blancs.

Começamos bem 2017. Abraço aos amigos que compartilharam e proporcionaram esses momentos com vinhos espetaculares e de um didatismo único. Aos que faltaram, atenção! Condução coercitiva para o próximo encontro.

Champagnes e Taças

22 de Janeiro de 2017

Estamos vivendo tempos de mudança no serviço de champagne. A tão propalada taça Flûte está em xeque!. Para uns tornou-se obsoleta, para outros é visualmente o símbolo de vinhos espumantes. Quem está com a razão? Prontamente, se responde: sempre o cliente.

Do ponto de vista técnico e com uma pitada pessoal, a questão deve ser aprofundada e a resposta não pode ser radical. Para espumantes mais simples, elaborados pelo método Charmat, caso típico do Prosecco, os aromas de frutas e flores são melhores apreciados na flûte, além do perlage se manter mais gracioso na taça.

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taças: flûte, tulipa e vinho branco

Para espumantes elaborados pelo método clássico (o mesmo feito em Champagne), incluindo os champagnes mais simples, caso das cuvées básicas de cada Maison, a tulipa parece ser mais adequada. Ao mesmo tempo, ela mantém bem os aromas sem prejudicar o perlage.

No caso de champagnes especiais como os millésimés (safrados) ou cuvées de luxo, ainda prefiro a tulipa, embora neste caso a taça de vinho branco estilo bordalês esteja ganhando bastante espaço. Contudo, a tulipa deve ser obrigatoriamente de bojo maior. A Riedel por exemplo, tem um belo exemplar com 330 ml de capacidade e um design primoroso.

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Richard Geoffroy: Chef de cave Dom Pérignon

Cabe nesta discussão a opinião de Richard Geoffroy, Chef de Cave do Champagne Dom Pérignon. Ele é defensor da taça de vinho branco no serviço de champagne. Tanto é verdade, que a cristaleria alemã Spiegelau tem uma taça específica da linha Authentis que Geoffroy adota como referência (foto acima).

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outras taças sugeridas: Jamesse, Riedel e Zalto >

a do meio: linha Riedel Veritas (445 ml)

Por fim, para os grandes champagnes envelhecidos, onde o perlage já não é o mais importante e sim o vinho-base, supondo que seja de grande qualidade, a taça de vinho branco torna-se praticamente obrigatória. Realmente neste caso, o champagne está muito mais para um vinho branco do que propriamente para um vinho com borbulhas.

Posto isto, vamos a três champagnes degustados recentemente em três estilos diversos e muito interessantes.

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Pierre Gimonnet & Fils Cuvée Fleuron Brut Premier Cru 2005

Pierre Gimonnet é uma Maison especializada no estilo Blanc de Blancs, ou seja, somente vinhedos Chardonnay. Esta cuvée Fleuron mescla aproximadamente 80% de vinhedos Grand Cru (Cramant e Chouilly) com 20% Premier Cru de Cuis. A ideia é harmonizar estrutura (Grand Cru) com frescor (Premier Cru). Normalmente, esta cuvée passa pelo menos quatro anos sur lies (em contato com as leveduras) antes do dégorgement. A ótima safra de 2005 confere extrato e destacado potencial de envelhecimento. Importadora Premium (www.premiumwines.com.br).

A cor é um leve dourado brilhante com reflexos verdeais. Os aromas são muito delicados mesclando flores, mel, frutas secas e um fundo mineral. Em boca, ao mesmo tempo que sentimos sua acidez, seu frescor, em seguida vem a maciez dada pelo tempo sur lies. A complexidade é notável, assim como sua persistência e equilíbrio. Pode abrir grandes jantares, como acompanhar pratos delicados da alta gastronomia.

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Barnault Blanc de Noirs Brut Grand Cru

Outra casa artesanal de Champagne utilizando nesta cuvée somente vinhedos Grand Cru (Bouzy, Ambonnay e Louvois). Em estilo totalmente oposto, trata-se de 100% uvas Pinot Noir. Sua dosagem de açúcar de apenas 6 gramas por litro reforça sua elegância e austeridade. Importadora Decanter (www.decanter.com.br).

Champagne de corpo, estrutura e de gastronomia. Não dá para bebericar sem comida. Seus aromas remetem a cogumelos, frutas secas e um traço mineral. Em boca, bela acidez, profundidade e mousse intensa. Persistente, e de final marcante. Ideal com aves especiais como cordorna ou perdiz e molhos de cogumelos.

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Henriot Brut Souverain

Souverain é a cuvée básica da Maison Henriot. Composta  por mais de 25  Crus das sub-regiões de Montagne de Reims e Côte des Blancs, temos Pinot Noir, Chardonnay e uma pitada de Pinot Meunier. Em média, temos 20% de vinhos de reserva. As garrafas permanecem sur lies por três anos, tempo muito acima do exigido pela legislação vigente. Importadora Vinci (www.vinci.com.br).

É um champagne comme il faut (como se deve). Cor palha dourada brilhante. Aromas de brioche, empireumáticos (café e caramelo), frutas secas, cítricos e algo floral. Corpo médio, acidez marcante, mousse intensa e delicada, e um final fresco e equilibrado. Tudo que se espera de um bom champagne.

Brancos e Tintos à Mesa

19 de Janeiro de 2017

Continuando na enogastronomia, tema recorrente deste blog, mais algumas harmonizações testadas com vinhos interessantes e pratos ecléticos.

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grande Mosela

Eis um grande Riesling do Mosel do excelente produtor Grans-Fassian. Esse vem do médio Mosel da sub-região de Piesport do vinhedo Goldtröpchen. Terroir escarpado, rico em ardósia. Spätlese é a categoria de açúcar imediatamente acima de kabinett. Leve docura com uma acidez fenomenal. Persistente, rico em flores, cítricos e minerais. Acompanha muito bem patês de porco e de aves. Desta feita, acompanhou uma salada de folhas, aspargos e camarões. Dominou um pouco a cena, sem comprometer a harmonização.

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Vitovska: uva exótica da Eslovênia

Marko Fon é o grande produtor da Eslovênia na região do Carso, terroir montanhoso rico em calcário. Vitovska é uma uva nascida do cruzamento da Malvasia Bianca com a Glera (uva do Prosecco). É um vinho laranja com maceração das cascas não tão intensa. O vinho é muito aromático, rico em damascos e cítricos com incrível mineralidade. Muito equilibrado, acompanhou bem um ravióli de queijos defumados, ervas e presunto parma. Tem corpo e estrutura para prato ainda mais condimentados. Os dois brancos citados são da Decanter (www.decanter.com.br).

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belo par harmonizado

Se você quer um Sauternes relativamente “simples”, Haut-Bergeron é a pedida certa importado pela Cellar (www.cellar-af.com.br). Por um preço muito razoável, temos toda a tipicidade da apelação com muito equilíbrio e complexidade surpreendente. Acompanhou muito bem os dois folhados acima, um de pera, outro de maçã, e um sorvete de mel para refrescar. Grande fecho de refeição.

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outra bela combinação

A safra 2006 em Bordeaux é subestimada, sobretudo este Chateau Bahans Haut-Brion. Parker dá menos de 90 pontos, o que considero muito rigoroso. Trata-se do segundo vinho do grande Haut-Brion com taninos bem moldados, corpo médio, e toda a tipicidade da comuna de Pessac-Léognan. Fez um belo par com o bife ancho acima, acompanhado de batatas ao forno com alecrim. A textura macia da carne estava de acordo com a estrutura tânica do vinho. Delicioso de ser bebido no momento, mas pode evoluir com segurança por mais cinco anos.

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harmonização surpreendente

Raposeira é um dos grandes nomes de Lamego em termos de espumantes, região adjunta ao baixo corgo (Douro) onde pessoalmente, considero o local ideal para espumantes portugueses elaborados pelo método clássico. Este rosé é feito com castas portuguesas típicas do Douro com estágio sur lies (contato com as leveduras) por pelo menos três anos. Bom corpo, rico em frutas, especiarias e toques defumados. Acompanhou muito bem o prato acima, uma espécie de cuscuz paulista com coentro, pimenta e camarões. A harmonização foi muito refrescante e rica aromaticamente, além de sabores bem casados.

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marrote: nome gaúcho do leitãozinho

A carne acima é bem macia e tenra do chamado marrote, nome dado no sul do país para um leitão novo não castrado. Acompanhado com molho do próprio assado, ervas e batatas ao forno.

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Borgonha e Dão em confronto

Não é que este Borgonha da Côte de Beaune foi muito bem com o prato!. Pernand-Vergelesses é uma comuna encrustada entre Savigny-Les-Beaune e Aloxe-Corton. Trata-se de um Premier Cru delicado como muitos desta parte do sul da Côte d´Or. A safra é excelente. Embora já com seis anos de vida, tem muito vigor e vida pela frente. Entretanto, é muito agradável de ser tomado no momento. Rico em frutas, cerejas frescas, especiarias e um leve sous-bois. A delicadeza do vinho casou perfeitamente com a textura da carne e o sabor do assado. Em seguida, chegou o Quinta da Pellada Touriga Nacional da boa safra 2004. Embora com mais de dez anos, o vinho mostrou vivacidade e uma acidez incrível. Um pouco mais robusto que o antecessor, não comprometeu a harmonização.

O Borgonha vem da importadora Grand Cru (www.grandcru.com.br) e o Dão da importadora Mistral (www.mistral.com.br).

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combinação ousada

Côtes de Blaye é uma apelação bordalesa pouco conhecida e não tem a nobreza dos tintos do Médoc. Fica na margem oposta do rio Gironde, na altura da comuna de Margaux, e é vizinha à outra apelação também sem muita expressão, Côte de Bourg. São tintos de corte bordalês para o dia a dia, sem grande complexidade e que não precisam envelhecer muito. Importado pela Vinissimo (www.vinissimostore.com.br).

Com a informalidade do nosso tradicional virado a paulista, pode ser uma boa combinação, tendo estrutura adequada ao prato, além de fruta, taninos e um sutil toque amadeirado para enfrentar sabores e texturas dos ingredientes. Mesmo que o vinho com a idade ganhe um pouco de aromas terciários, os toques defumados do prato se adequam bem.

O importante aqui é a questão de tipologia do prato, ou seja, pratos frugais com vinhos sem sofisticação. Não adianta querer comer pizza com Sassicaia. Neste caso, vá de Chianti simples. É como se vestir de terno e gravata com chinelos.

Outras sugestões para o prato são Côtes-du-Rhône, Chinon ou Bourgueil do Loire, bons Merlots nacionais ou um Alentejano de média gama.

Domaine D´Auvenay

14 de Janeiro de 2017

O que é exclusividade na Borgonha?: Romanée-Conti?, La Tâche?, Montrachet?, Chambertin?. De fato, são nomes mágicos, para poucos privilegiados, e de preços nas alturas!

Contudo, exclusividade pode ser algo relativo e quase imensurável dentro de certos parâmetros. Voltando ao mito Romanée-Conti, estamos falando de aproximadamente seis mil garrafas por ano, dependendo da safra. Que tal falarmos agora em números com menos de mil garrafas, ou seja, algumas centenas?. Pois bem, isso é Domaine D´Auvenay, o lote mais exclusivo dos já exclusivíssimos vinhos com a marca Leroy.

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uma barrica de vinho

O contra rótulo acima é o cúmulo da exclusividade. Criots-Bâtard-Montrachet é por si só o Grand Cru de brancos mais diminuto da Borgonha, pouco mais de um hectare e meio. O vinhedo deste Domaine é tão pequeno e aliado aos baixos rendimentos, que só é possível fazer uma barrica de vinho, ou seja, em torno de 300 garrafas por ano.

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Madame Leroy e Paul Bocuse em outros tempos

Domaine d´Auvenay localiza-se em Saint-Romain, residência de Madame Leroy (nome de registro: Marcelle). A propriedade foi palco de inúmeras degustações desde Henri Leroy, pai de Lalou Bize-Leroy  falecido em 1980, onde no pós-guerra já fazia degustações memoráveis com seus vinhos, tendo como personalidades da enogastronomia, Paul Bocuse, por exemplo.

Domaine d´Auvenay trabalha com vinhedos exclusivos que somam algo perto de quatro hectares entre brancos e tintos, totalizando aproximadamente oito mil garrafas. Os rótulos estão distribuídos em apelações de prestígio nas categorias Grand Cru, Premier Cru e alguns comunais.

Na distribuição das uvas, temos: 13% Pinot Noir, 77% Chardonnay, e 10% Aligoté.

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um tinto para poucos

Os vinhedos são conduzidos de forma biodinâmica com todo rigor que Madame exige. Os rendimentos são baixíssimos, em torno de 20 hl/ha. A vinificação pouco intervencionista, trabalha com leveduras naturais, sem desengaçe,  pigeages programadas e posteriormente, amadurecimento em barricas novas. Os vinhos são engarrafados sem filtração.

O domaine foi criado em 1988 após algumas aquisições de pequenas parcelas de vinhedos nos mais famosos climats. Recentemente, só para ter ideia de algumas cifras, foi adquirido 0,3 hectare em Bãtard-Montrachet, Grand Cru de enorme prestígio, por 25 milhões de euros o hectare. Negócio de gente grande.

Os vinhos do Domaine tem forte penetração no mercado japonês com alguns rótulos de parcelas exclusivas só para este país. O grupo de luxo Takashimaya é acionista dos vinhos Leroy, contando evidentemente com alguns privilégios.

Se fosse possível encomendar uma caixa de doze garrafas sortidas (assortment), a tabela abaixo pode ser uma sugestão com alguns dados técnicos de cada vinhedo.

vinhedos Área (ha) rendimento  vinhas Nº gf Preço/gf
Mazis-chambertin Grand Cru 0,26 18 hl/ha 78 anos 550 3500 €
Bonnes Mares Grand Cru 0,26 23 hl/ha 50 anos 780 3500 €
Chevalier montrachet Grand Cru 0,15 25 hl/ha 40 anos 500 3500 €
Criots Batard Montrachet Grand Cru 0,11 20 hl/ha 67 anos 300 ( ?) 4000 €
Puligny Montrachet Premier Cru Folatieres 0,26 23 hl/ha 62 anos 800 900 €
Puligny Montrachet en La Richarde 0,21 23 hl/ha 62 anos 650 900 €
Meursault Premier Cru Les Gouttes 0.19 27 hl/ha 47 anos 700 1000 €
Meursault Les Narvaux 0,67 20 hl/ha 72 anos 1800 800 €
Auxey Duresses Les Clous 0,29 29 hl/ha 24 anos 1100 520 €
Auxey Duresses Les Boutonniers 0,25 21 hl/ha 82 anos 700 490 €
Auxey Duresses La Macabrée 0,62 20 hl/ha 62 anos 1650 400 €
Bourgogne Aligoté 0,30 27 hl/ha

50 anos

1100

210 €

Os preços podem variar substancialmente, de acordo com a safra, o local de venda, as ofertas lançadas em cada leilão, e assim por diante. Além dos vinhos desta tabela, existem outras pequenas parcelas sendo algumas delas, lançadas só em determinados anos e outros rótulos para mercados exclusivos.

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Domaine d´Auvenay

Residência escondida em Saint-Romain, vilarejo próximo a Auxey-Duresses, palco do 60º aniversário da Maison Leroy onde foram provados vários rótulos da safra 1955, ano em que Lalou Bize-Leroy tomou frente do negócio. Entre outras preciosidades, estavam Musigny, Clos de Vougeot, Chambertin, Grands-Échezeaux.

 

Pratos e Vinhos: Parte II

8 de Janeiro de 2017

Continuando com as harmonizações, agora temos um pernil de porco assado, regado com o próprio molho. Para escolta-lo, dois tintos de características distintas, mas de certa evolução, com aromas terciários. O sabor do assado, normalmente pede vinhos mais evoluídos, com taninos mais resolvidos.

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pernil de porco assado

O primeiro tinto, foto abaixo, trata-se do segundo vinho de um dos melhores produtores da Bourgogne, o aristocrático Clos de Tart, o maior monopólio da apelação Morey-St-Denis com mais de sete hectares de vinhas, o que na Borgonha é considerado um latifúndio. Não gosto de usar esse raciocínio, mas o segundo vinho, prática comum entre os bordaleses, é a rejeição do Grand Vin. E isso fica claro quando se toma o La Forge de Tart 2004. Apesar de inteiro, embora já evoluído, a textura de taninos difere muito do astro maior. Entretanto, com o pernil, o vinho se comportou bem, mostrando uma bela acidez, aquela certa aspereza tânica foi resolvida em contato com o prato, e os aromas terrosos e de sous-bois casaram bem com o pernil.

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Clos de Tart: segundo vinho

O outro vinho, foto abaixo, trata-se de um Reserva do Douro, numa quinta pertencente à Dona Ferreirinha, figura mítica na região, com vinhas muito antigas de castas típicas plantadas todas juntas, costume da época. Com passagem adequada por madeira, este tinto tinha mais corpo que o anterior, fato perfeitamente previsível. Tinha também um pouco mais de fruta, já que era menos evoluído. Muito equilibrado, agradável, e com vida pela frente. Na harmonização, dominou um pouco a cena devido exatamente à esta juventude parcial. O vinho de fato encontra-se num período de transição, ganhando aromas terciários, tão propícios aos sabores do assado. De todo modo, valeu a experiência.

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quinta e vinhas antigas

Hora da sobremesa e eis que surge esse belo tiramisù de produção caseira. Bastante mascarponizado, de textura bem cremosa, e toques de café bem amenos. É sempre bom termos referência dos verdadeiros Tiramisùs, pois o que encontramos por aí nos restaurantes em geral, são altamente suspeitos. Trata-se de um pavê na maioria das vezes, bem longe do que realmente é esta sobremesa maravilhosa, a qual tem origem provavelmente no Veneto.

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cremosidade e amargor deliciosos

Para acompanha-lo, um vinho de sobremesa também da região do Veneto. O clássico Recioto di Soave do impecável produtor Pieropan, safra 2007. A cuvée Le Colombare é feita com as típicas uvas de nome Garganega que faz os melhores vinhos brancos da região. Essas uvas são colhidas maduras e em seguida sofrem o processo de appassimento, ou seja, são postas para secarem em esteiras de bambu por alguns meses, perdendo cerca de 70% de seu peso original. Portanto, trata-se de rendimentos muito baixos. O resultado é um vinho concentrado, muito bem balanceado no quesito açúcar/acidez, e de uma grande persistência aromática. Para complementar sua complexidade, o vinho passa cerca de dois anos em barris de carvalho de 2500 litros.

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uvas 100% Garganega

A combinação foi inusitada e muito boa como primeira vez. Os aromas de mel, resina, especiarias e pequenas frutas cítricas, combinaram bem com o tiramisù, já que o sabor de café não era tão pronunciado. O ponto alto foi a textura de ambos, a densidade do vinho com a cremosidade do doce. A delicadeza de sabores do prato permitiu que o vinho expressasse toda sua exuberância. Outro Recioto clássico para o Tiramisù é o della Valpolicella, a versão doce do grande tinto do Veneto, Amarone dela Valpolicella, principalmente quando a sobremesa é mais carregado no café.

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do couro sai a correia

Outra sobremesa leve e maravilhosa é um bela torta de pera. Sabores delicados, açúcar sutil e muito adequada ao verão, sobretudo para aqueles que não abrem mão de um docinho para finalizar a refeição. Vinhos de sobremesa do Loire são muito bem-vindos nesta hora, mas se você quer algo inusitado e apenas um pouco de bebida para acompanha-la, uma dose de eau-de-vie Poire William´s é perfeita nesta hora. Este pequeno produtor Hohmann é da Alsácia, região francesa famosa por eaux-de-vies de frutas como pera, framboesa, ameixas. São necessários dez quilos de frutas para obter uma garrafa de 700 ml do destilado em todo o processo. Servir um cálice bem gelado.

A Poire está para a pera, assim como o Calvados está para a maçã. A Poire pode ser elaborado na Alsácia (França), Floresta Negra (Alemanha) e em regiões limítrofes da Suíça. Já o Calvados é uma apelação francesa da Normandia.

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Barros: tradição em Colheitas

Ter amigos no mundo do vinho é constantemente viver momentos de enorme generosidade. O Porto acima da tradicional Casa Portuguesa Barros, especializada no estilo Colheita, tem esta preciosidade (foto acima), oferecida por um grande amigo, Ricardo Tannus. É uma referência à fundação da vinícola em 1913 com um lote exclusivo envelhecido em pipas de carvalho, e engarrafado após cem anos, em 2013.

Os aromas terciários de um Porto ultra envelhecido como este são encantadores. Todo o rol de frutas secas e frutas passificadas como figos, tâmaras, além das especiarias, caramelo, e notas balsâmicas, estavam presentes e em harmonia. Só mesmo o tempo para produzir esta maravilha.

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vai um Cohiba aí?

Como se não bastasse por si só este raro Porto, uma caixa de Cohiba foi me apresentada, fazendo o par perfeito para este néctar. Como tinha tempo de sobra, saquei um Cohiba Behike ring 56 da caixa e foi só alegria. Com um por do sol maravilhoso, o cenário ficou perfeito.

E assim, segue a vida …

Pratos e Vinhos: Parte I

5 de Janeiro de 2017

A comida sempre ligada ao vinho é uma busca constante dos enófilos que dão importância à enogastronomia, posto que comer é uma necessidade física, mas ter prazer à mesa é outra conversa. Fora isso, como dividir algumas garrafas com amigos sem ter nada no estômago?. Daí, a necessidade de por a cabeça para funcionar e tentar nos surpreender neste desafio difícil, de opiniões diversas, mas sempre prazeroso. Mesmo para aquelas harmonizações mais óbvias, o ponto certo da comida e o estágio de evolução de um determinado vinho a principio correto, pode não dar certo na prática.

Entradas

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frutos do mar e massa recheada

Nestes dois exemplos, um mesmo vinho branco irá escolta-los. Trata-se de um Meursault do produtor Michel Bouzereau. Apesar de comunal, trata-se de um Lieu-dit chamado Le Limozin, ou seja, um Meursault de vinhedo. São apenas quatro mil metros de vinhas plantadas nos anos 60 e 80. O vinho passa um ano em barricas, sendo 25% novas. A fruta é vibrante, bem casada com a madeira quase imperceptível. A textura não é tão densa como de outros Meursaults, o que ajuda na harmonização. Muito equilibrado, ótimo meio de boca, e final bem acabado. Importadora Cellar (www.cellar-af.com.br).

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Meursault para conhecedores

A combinação com a salada de frutos do mar ficou muito interessante, pois a textura mais delgada deste Meursault especificamente, promovia um respeito ao corpo do prato. Além disso, os frutos do mar e o molho levemente picante, aguçava no vinho sua mineralidade e seu lado mais delicado. Já com a massa, recheada de queijo e ricota, mostrava textura ainda compatível com o vinho. Tanto a gordura do queijo, como do azeite, eram contrapostas pela bela acidez do vinho. Uma certa neutralidade do prato em termos de sabor, mostrava todo o lado frutado do vinho, inclusive um sutil toque amanteigado. Em suma, vinho e pratos em harmonia.

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salmão defumado

Salmão defumado, um prato ótimo para o verão, mas com muita personalidade, ou seja, apesar de leve, seu sabor é marcante, capaz de dizimar muito mais vinhos do que se imagina. A dupla de vinhos abaixo, fez o duelo com o prato. O australiano de Adelaide Hills é famoso por seu Sauvignon Blanc num país dominado pelas Chardonnay e Sémillon. Com leve passagem por madeira, seu corpo estava um pouco acima do prato, embora sem comprometimento. O maior problema foi a falta de acidez que o prato exigia, e um excesso de fruta que não tinha sintonia com o salmão defumado. Já o Sauvignon Blanc do sudoeste francês, região de Gaillac, mostrou uma certa neutralidade de fruta com um cítrico mais austero. Além disso, sua bela acidez e mineralidade combateram bem o lado de maresia do prato.

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Austrália x Sudoeste Francês

Estilos diferentes de Sauvignon Blanc. O primeiro (australiano) com mais textura, mais macio em boca, e bem equilibrado. O segundo (francês), mais delgado, mais incisivo, mais cítrico e mineral nos aromas. Propostas diferentes e ambos interessantes.

Pratos de Resistência

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steak au poivre vert

Um clássico francês com várias versões e alternativas. Particularmente, gosto com pimenta verde e flambado no Cognac ou brandy. O filé mignon ao ponto e textura macia. A pimenta dá o sabor e intensidade ao prato, enquanto o creme de leite fresco fornece textura e um certo abrandamento ao ardor da pimenta. Aqui, precisamos de um vinho tinto com sabores intensos e sintonizados com a pimenta. Uma dose de acidez é fundamental para combater a ardência do prato. Os taninos podem ser relativamente dóceis, já que a textura da carne é macia. Um bom Syrah é uma das melhores opções. De clima frio, seria o ideal.

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Screaming Eagle está por trás

A vinícola Jonata ligada à sofisticada e consagrada Screaming Eagle, uma das boutiques mais famosas do Napa Valley, faz este Syrah no frio vale de Santa Ynez (Central Coast), região costeira e montanhosa ao sul da Califórnia. O clima guarda um frescor importante para uvas, proporcionando vinhos frescos e de acidez agradável. Este da safra 2006 tem uma pitada de 2% de Viognier no corte, lembrando o mesmo critério de alguns Côte-Rôtie. Passa em madeira francesa, sendo 50% nova.

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chocolate ao extremo

O vinho exibe uma cor intensa, jovem, apesar de seus dez anos de vida. Os aromas concentrados de frutas escuras em geleia são notáveis, além de especiarias, chocolate, e toques defumados. Belo corpo, equilíbrio perfeito e taninos ultra polidos. Persistente e intenso. Além de acompanhar bem o steak au poivre, foi muito bem com o chocolate acima, 99% cacau. Nesta porcentagem, a presença de cacau e a total falta de açúcar crescem em escala exponencial. O chocolate além de manter toda a fruta do vinho, ressalta em muito sua mineralidade. Combinação que vale a pena fazer.

Próximo artigo, mais pratos e vinhos …

Enogastronomia na Praia: Parte II

3 de Janeiro de 2017

Prosseguindo neste “sacrifício”, vamos ao terceiro dia com mais um almoço na praia. Olha um outro vinho bom de praia, Sancerre! Esse Sauvignon Blanc aromático e mineral do Alto Loire divide seu prestígio com outra apelação gêmea, Pouilly-Fumé. Por ser um vinho de ótima acidez, boa mineralidade, e jamais invasivo em sabor e aroma, combina muito bem com elementos frescos, desde legumes, hortaliças, molhos mais incisivos, peixes e frutos do mar. Neste sentido, cumpriu bem seu papel ao lado de uma bela salada mediterrânea envolvendo tomates variados, burrata, azeite, ervas e azeitona preta. Aqui seu discreto lado frutado foi enaltecido, mantendo um ótimo frescor.

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mesa impecável em Cheval Blanc restaurant

Mais um pratinho de ostras frescas, pois ninguém é de ferro. E novamente, aquela conjunção maravilhosa! o lado marinho das ostras, instigando toda a mineralidade do Sancerre. Sua acidez combate bem o sal e a maresia, deixando um final limpo e puro. Na foto acima, mesa graciosa do restaurante La Case de l´Isle do hotel Cheval Blanc, St Barth.

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cuvée harmonie: seleção rigorosa de uvas

Os peixes que seguiram no almoço, sempre cozidos no ponto certo guarnecidos com elementos simples, sem rebuscamentos, favoreceram demais o vinho, numa sintonia em que ambos, prato e vinho, só ganharam.

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salada mediterrânea e ostras frescas

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peixe, massa e camarão

Na foto acima, peixe cozido no ponto certo, no estilo menos é mais. O prato de massa de inspiração chinesa, envolve temperos levemente picantes e camarão. Tudo com Sancerre.

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serviço de praia completo

Um pouco mais de conversa, mais um solzinho, mais uma brisa, mais um pouco de silêncio marinho, e chega a noite. Com ela, o jantar. Para acordar as papilas, que tal um blinis de caviar e champagne Blanc de Blancs? nada mau, principalmente um Blanc de Blancs da Maison Ruinart, a mais antiga casa desta apelação cheia de charme da França. Novamente, a leveza e a mineralidade deste estilo de champagne, amoldaram-se perfeitamente ao sabor marcante e marinho das ovas de esturjão. Como tratava-se de uma garrafa Magnum, tínhamos champagne para continuar com o caviar, agora compondo um primeiro prato de massa com molho branco.

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blanc de blancs e caviar

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blinis: bela recepção

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Léovilles: o astro maior 1982

Matando a saudade dos tintos, aqui a brincadeira era comparar duas safras distantes e distintas de um dos maiores deuxièmes da margem esquerda de Bordeaux, Chateau Léoville Las Cases, safras 2007 e a mítica 1982, acompanhando um belo corte de entrecote de Wagyu. É evidente que  a suculência desta incrível carne fez muito bem aos taninos deste tinto viril. A safra 2007 é marcada pela precocidade, ou seja, pode ser apreciada em idade menos avançada com seus aromas e sabores mais abertos. Muito equilibrado e muito integro em seus quase dez anos de vida. Já o 1982, é um caso à parte. Numa das grandes safras do século passado, é um Léoville de rara elegância, de aromas terciários bem delineados, e taninos bastante resolvidos. É multifacetado em aromas que vão do cassis, ervas, ao couro e tabaco. Bem acabado e de final persistente. Grande fecho de noite! amanhã tinha mais …



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passeios náuticos

Quarto e última dia. Passou muito rápido e precisávamos fechar a viagem em grande estilo. Entra em campo, um trio de atacantes arrasador, à la Neymar, Messi e Soares: Chablis Raveneau, Puligny-Montrachet Domaine Leflaive, e o astro maior, Montrachet Marquis de Laguiche.

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combinação consagrada

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mais Chablis Raveneau

Evidentemente, o Chablis com seu estilo único, é incomparável. Neste caso, um Premier Cru Monts Mains safra 2000. É impressionante como esse vinho envelhece bem, mantendo frescor e uma pureza de aromas absolutos. Acompanhou muito bem uma bisque com mexilhões pequenos, mais se aproximando de vôngoles. Harmonização, mantendo o paladar em alerta. Além da bisque, mais ostras frescas para não sair da rotina. E ainda uma terrine de peixes variados. Fotos, acima.

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safras 2013 e 2005, respectivamente

Em seguida, uma aula entre duas feras da família Montrachet. Puligny-Montrachet é a comuna que faz os brancos mais elegantes fermentados em barrica na Borgonha. Este Premier Cru 2013 Le Clavoillon Domaine Leflaive fica próximo da perfeição neste estilo de vinho. Só mesmo, o Grand Cru Chevalier-Montrachet para sublimar este terroir. Por fim, o rei dos brancos da Borgonha, quiçá do mundo, o todo poderoso Le Montrachet. Um vinho grandioso, unindo potência e elegância no mais alto nível. Denso, complexo em aromas, sabores que inundam o palato numa harmonia sem fim. Temos que terminar com ele. Nada pode suplanta-lo.

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devidamente refrigerados

O prato para acompanhar esta dupla foi composto de camarões tigre, cauda de lagosta, salmão e badejo. Os camarões e a lagosta pela delicadeza da sabores e texturas combinaram melhor com o Puligny elegante e cheio de nuances. Já os peixes cozidos de textura mais firme, foram bem com o Montrachet de corpo e densidade marcantes, mais próximo de um vinho tinto.

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Were Dreams: recordação inesquecível

Uma viagem incrível, de belas paisagens, lazer variado e bem programado, amigos em perfeita sintonia, e enogastronomia eclética, sem complicações, nem exageros. Que outros brindes como estes não tardem! Feliz Ano Novo a todos!


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