Clos Vougeot produz resultados bastante desiguais, mas esse terroir entre Vosne e Chambolle tem alguns segredos. Um deles é que que os proprietários da chamada parte alta do vinhedo, com vizinhanças ilustres como Grands-Echezeaux e Musigny, levam vantagem nos fatores solos e exposição do terreno (drenagem e insolação). Isso somado a mãos habilidosas fazem com que Leroy, Méo Camuzet e Mugneret Gibourg (Grivot faz um muito bem) tenham resultados dignos de grand cru. Outro segredo é o premier cru Petit Vougeots, que fica pertinho do cobiçado Les Amoureuses, o mais reputado premier cru de Chambolle Musigny.
Nas mãos certas, Petits Vougeot produz um tinto que lembra ótimos chambolles. John Gilman considera-o um substituto dos cada vez mais incompraveis Amoureuses. A parcela de 0,52 hectare de Charles van Canyet foi plantada em 1980 e tem resultado ano após ano em um dos melhores qualidade preço da Cote de Nuits. Esse 2016 ainda tem muito chão pela frente, mas se destaca pelas frutas vermelhas, especiarias (não tão asiáticas como as que marcam os Vosnes) e um leve floral. Taninos ainda a se resolver nos próximos cinco anos. Um ótimo início de degustação.
Les Amoureuses, localizado logo abaixo de Musigny, tem um solo bastante pedregoso com boa proporção de calcário ativo. Um vinho de grande finesse, delicado ao extremo. Podemos dizer que sua delicadeza é tal que fica próxima a uma linha comum por sua suposta fragilidade. Contudo, é preciso prestar atenção, pois é uma delicadeza de profundidade e bela estrutura para envelhecer. Aqui a acidez, muito mais que seus delicados taninos, fornecem bons anos de vida em adega. Como classificação é um Premier Cru, mas com Cros Parantoux de Vosne Romanée, e Clos St Jacques do grande Rousseau em Chambertin forma a trilogia dos “falsos” Grands Crus. Nas mãos de Frederic Mugnier, que o considera a epítome da borgonha, nasce um vinho floral, elegante, com uma longa persistência. A safra 2013 está num bom momento. A pergunta é: beber na juventude ou nos terciários? A mim agrada o floral da adolescência.
Combe d’orveau ou Orveaux é um dos crus mais próximos de um dos mais cobiçados tintos do planeta: Musigny. Uma parte do vinhedo, pertencente à família jacques prieur, foi elevada à condição de grand cru em 1929. Essa parcela de Perrot Minot não teve a mesma benção, está encostada ao terroir de Prieur, ou seja, a mais colada a Musigny. Esse 2001 ainda está jovem, mas num belo ponto de consumo, com uma miscelânea entre florais, terrosos, fruta, em um conjunto de rara elegância e profundidade. Um grand cruzinho, hein, para se pôr no radar.
Ao término, tivemos a chambolle alemã: o Mosel, onde nascem os mais delicados rieslings, na interpretação de um de seus mestres. Egon Muller em um kabinett de livro, com toques de manga, mel, botrytis em um mineral elegante, nada invasivo.
Um jantar inesquecível que ainda contou com show ao vivo. Muito obrigado a João Ferraz, anfitrião de mão cheia, e a Marco deluigi.
O ano de 2021 está chegando ao fim e 2022 vem aí, esperemos que não seja mais um ano da marmota. Muitas novidades chegaram ao mercado brasileiro e chegarão ainda mais a partir de janeiro, com destaque a estrelas piemontesas, como Burlotto e Roagna, assim como borgonhas raros, casos dos brancos de Coche Dury.
Chegou a hora de fazermos uma seleção daquilo que chamou a atenção das papilas gustativas. Vamos à lista sem nenhuma pretensão:
Restaurante: Lobozó. A pandemia foi cruel com muitos restaurantes e bares. Alguns fecharam as portas. Outros conseguiram se manter, mas na média geral as porções ficaram menores, ingredientes nobres perderam espaço e a conta ficou ainda mais salgada. No meio de muita areia em um amplo deserto, há alguns oásis, um deles é o Lobozó, na Vila Madalena, comida brasileira com gosto, preço e qualidade em um ambiente despojado. Dos arrozes ao frango recheado, passando pelo frango frito de entrada, tudo tem sabor.
Vinho do ano: Granbussia 2001. Poderi Aldo Conterno faz alguns dos melhores vinhos do planeta vitis, molda nebbiolos que mesclam longevidade, potência e elegância, uma rara combinação. Mescla de 70% de Romirasco, 15% de Cicala e 15% de Collonello, Granbussia é o topo da cadeia da vinícola, que, depois da morte do patriarca em 2012, é comandada pelos três filhos: Giacomo, Roberto e Franco. Os três não perderam o rumo, mantiveram a busca pela excelência, expressa em um número: a família poderia produzir mais de 200 mil garrafas, mas eles, num ano bom, produzem 80 mil garrafas. Esse Granbussia 2001 é um vinho que começa a deixar a adolescência, tem ainda fruta vibrante e um leve toque floral, com um fundo de sous bois que ainda ganhará com o envelhecimento toques nobres de trufas brancas.
Novidades:Novidade de borbulhas:
Uma das melhores novidades que chegaram ao Brasil nesse ano foram as champagnes Barrat Masson pela @uvavinhos. Essa aqui tem 70% de chardonnay e 30% de pinot noir, aromas de manteiga, maçã verde, mineralidade sempre presente. Gastronômico, profundo, delicioso. Na pré-venda são pechinchas.
A segunda novidade vem do terroir mais procurado pelos conhecedores. Vinhos brancos da Bourgogne estão cada vez mais caros. Nos próximos anos, se o bolso continuar o mesmo, será importante ficar de olho em regiões menos badaladas, como a Côte Chalonaise. Ali existem muitos ótimos terroirs, como Rully, que nas mãos de Dureuil Janthial faz grandes vinhos. Vêm pela @claretsbrasil
Qualidade preço
A Wines4U tem um dos mais caprichados portfólios do mercado brasileiro, com vinhos muito bemselecionados e com ótimo preço. Uma dica preciosa são os beaujolais do Domaine Chermette, três estrelas na revista de vinhos da França e um dos preferidos de John Gilman. O Trois Roches é uma beleza, duro é aguentar e separar uma garrafa para envelhecer, tamanho o prazer que ele proporciona hoje. Na mesma wines4U, palmas para os albarinos de Rias Baixas de Alberto Nanclares, ambos gastronômicos e instigantes.
Encontrar bourgognes tintos de bom preço é difícil. Maranges é um terroir pouco badalado, mas as mãos habilidosas dos irmãos Chevrot poderão torná-lo um domaine baladado como o de Sylvain Pataille em Marsannay.Maranges fica ao sul de Beaune. Seus tintos são muito mais reputados que os brancos. Nas palavras de Clive Coates, produzem-se ali vinhos “honestos, robustos e rústicos, no melhor sentido”. Pablo e Vincent Chevrot são o principal nome desse terroir. Sur le Chêne é um dos vinhedos que têm ganho atenção da crítica francesa e inglesa.Vêm pela Anima Vinum.
Vinhos italianos são uma bela opção quando o assunto é enogastronomia, eles crescem com comida. A Italy Import tem trazido algumas ótimas opções. Destaco duas delas. Uma é o Chianti Classico 2018 de Riecine, que mostra toda a versatilidade e elegância da sangiovese, parceiro perfeito de pastas al sugo. Na mesma Italy Import, destaque-se o barbera de principiano ferdinando, uma barbera festiva, com acidez intensa, que faz salivar e pensar no molho de macarrão que o acompanhará. O produtor faz ainda caprichados barolos.
Em 1855, Napoleão III resolveu mostrar ao mundo a pujança da França. Foi organizada uma feira mundial em Paris em que os franceses ostentariam seus principais trunfos. O mundo do vinho não foi esquecido. Surgiu daí a classificação de vinhos de Bordeaux, em foram avaliados os melhores vinhos do Médoc e os melhores doces da região de Sauternes. O ranqueamento foi baseado nas cotações de preços de décadas que os negociantes tinham dos vinhos. Terminaram o documento e enviaram para a Câmara de Comércio.
Em 18 de abril de 1855, um documento de três páginas foi afixado com a classificação dos vinhos, sendo o primeiro que encabeçava a lista o Château Lafite Rotchschild, no topo dos primeiros, enquanto o último, no quinto grupo, ou cinquièmes crus, era o Croizet Bages. Antes do término da página, há uma pequeno acréscimo feito de última hora à caneta tinteiro, com letra totalmente diferente da que tinha estabelecido os principais vinhos. Alguém tinha colocado a inclusão de mais um château com um asterisco: “Cantemerle, Mme Villeneuve-Durfort, Macau”. (Foi a primeira inclusão na polêmica classificação; a segunda foi o acréscimo de Mouton ao primeiro grupo em 1973).
Inclusão de última hora à caneta com letra diferente dos demais
O ingresso de última hora do Cantemerle não permitiu que a propriedade fizesse parte do mapa criado pelos organizadores da feira mundial para destacar os bordeaux mais prestigiados, muito menos foi o suficiente para o chateau aparecer no evento de maio de 1855.
De lá para cá, o Cantemerle assegurou um lugar entre os melhores vinhos da categoria qualidade preço entre os classificados em 1855 e nas últimas cinco décadas figuraria fácil como um vinho de terceiro grupo (3eme cru classé). Isso não são palavras minhas, mas de John Gilman, um dos melhores críticos de vinhos que o planeta tem. Gilman, que faz a newsletter trimestral View from the cellar – viewfromthecellar.com) tem elogios públicos sobre seu trabalho de alguns dos melhores viticultores do mundo: Frédéric Mugnier, Christophe Roumier, Egon Müller. Para Olivier Krug, Gilman é o nerd do mundo do vinho.
Há três meses, Gilman publicou um extenso e profundo artigo com mais de 50 páginas propondo sua reclassificação dos cinco grupos. Apesar de ter bebido grandiosos Moutons, como 1945, 1949, 1955, 1959, 1961, 1982 and 1985, que qualifica como alguns dos melhores Bordeaux que ele já bebeu, ele rebaixou chateau para o segundo grupo por achar que a regularidade de um premier grand cru classé não é atingida em todas as safras, mas muito mais presente nos grandes anos.
Fez rebaixamentos e adições e uma delas é particular a esse artigo: Cantemerle. “De 1955 até hoje, eles têm feito vinhos excepcionais e para meu paladar no nível dos vinhos de third growth”, escreveu. Isso fez com que fosse promovido ao terceiro grupo.
First Growths: Château Haut-Brion Château Lafite-Rothschild Château Latour Château Margaux Château Mouton-Rothschild
Second Growths: Château Brane-Cantenac Château Cos d’Estournel Château Ducru-Beaucaillou Château Durfort-Vivens Château Gruaud-Larose Château Lascombes Château Léoville-Barton Château Léoville Las Cases Château Léoville-Poyferré Château Montrose Château Pichon-Longueville-Baron Château Pichon-Longueville Comtesse de Lalande Château Rauzan-Gassies Château Rauzan-Ségla
Third Growths: Château Boyd-Cantenac Château Calon-Ségur Château Cantenac-Brown Château Desmirail Château Ferrière Château Giscours Château d’Issan Château Kirwan Château Lagrange Château La Lagune Château Langoa-Barton Château Malescot-St. Exupéry Château Marquis d’Alesme-Becker Château Palmer
Fourth Growths: Château Beychevelle Château Branaire-Ducru Château Duhart-Milon Château Lafon-Rochet Château Marquis-de-Terme Château Pouget Château Prieuré-Lichine Château Saint-Pierre Château Talbot Château La Tour-Carnet
Fifth Growths: Château d’Armailhac Château Batailly Château Belgrave Château de Camensac Château Cantemerle Château Clerc-Milon Château Cos-Labory Château Croizet-Bages Château Dauzac Château Grand-Puy-Lacoste Château Grand-Puy-Ducasse Château Haut-Bages-Libéral Château Haut-Batailly Château Lynch-Bages Château Lynch-Moussas Château Pédesclaux Château Pontet-Canet Château du Tertre
Reclassificação proposta por John Gilman
First Growths: Château Ducru-Beaucaillou Château Haut-Brion Château Lafite-Rothschild Château Latour Château Margaux Château Pichon-Longueville Comtesse de Lalande
Second Growths: Domaine de Chevalier Château Gruaud-Larose 119 Château La Mission Haut-Brion Château Montrose Château Mouton-Rothschild Château Palmer Château Pichon-Longueville-Baron Château Rauzan-Ségla
Third Growths: Château Beychevelle Château Calon-Ségur Château Cantemerle Château Cos d’Estournel Château Haut-Bailly Château Lagrange Château La Lagune Château Léoville-Barton Château Léoville Las Cases Château Léoville-Poyferré Château Lynch-Bages Château Pape-Clément
Fourth Growths: Château Branaire-Ducru Château Giscours Château Grand-Puy-Lacoste Château d’Issan Château Prieuré-Lichine Château Pontet-Canet Château Rauzan-Gassies Château Sociando-Mallet Château Talbot
Fifth Growths: Château d’Armailhac Château Batailly Château Brane-Cantenac Château Chasse-Spleen Château Clerc-Milon Château Duhart-Milon Château Haut-Bages-Libéral Château Haut-Batailly Château Haut-Marbuzet Château Kirwan Château Lafon-Rochet Château Lascombes Château La Louvière Château Malescot-St. Exupéry Château Marquis d’Alesme-Becker Château Marquis-de-Terme Château Poujeaux Château Saint-Pierre Château Smith Haut-Lafitte Château La Tour-Martillac
De-Classified Château Belgrave Château Boyd-Cantenac Château de Camensac Château Cantenac-Brown Château Croizet-Bages Château Cos-Labory Château Dauzac Château Desmirail Château Durfort-Vivens Château Ferrière Château Grand-Puy-Ducasse Château Langoa-Barton Château Lynch-Moussas Château Pédesclaux Château Pouget Château du Tertre Château La Tour-Carnet
A região de Macau, cujos solos têm algumas similaridades com o sul de Margaux, com algum cascalho e mais presença de areia, torna o vinho mais leve, com taninos mais suaves. A propriedade vinifica cerca de 600 mil garrafas em um ano, sendo que 70% se destina ao Cantemerle, com o restante para o segundo vinho “Les Allees deCantemerle”.
O 2008, bebido recentemente, está em um ótimo ponto. Tem taninos finos, ótima persistência, já demonstra evolução nos aromas: um leve mineral se casa com tabaco e couro e um leve toque de café, com uma fruta negra ainda presente. Perfeito para um picadinho de carne. Esse foi um corte de 48% Cabernet Sauvignon 37% Merlot 8% Petit Verdot7% Cabernet Franc. Gilman deu 93 pontos para ele, Gilman não acha 2009 e 2010 safras tão boas quanto 2008, mais clássica para ele. O 2009 também está uma maravilha, prum dia de churrasco caprichado.
Um margem de esquerda de respeito e que não agride tanto o bolso em um tempo em que bordeaux de excelência abaixo de R$ 600 são cada vez mais difíceis de encontrar.Se um dia você vir um Cantemerle em promoção, não hesite. Se você o achar caro, a dica é o chateau magence (ele não está na lista de 1855, mas dá uma boa ideia do que é um elegante margem esquerda), na Delacroix, mas esse está esgotado.
De vez em quando, Vinho sem Segredo trará uma entrevista com um produtor de vinho de referência em algum terroir do planeta vitis. Qual será o critério de escolha? Ter passado pelo crivo do mestre Nelson Luiz Pereira, ou seja, ter sido alvo de algum post em que ele teceu elogios à vinícola ou ao enólogo. Para estrear essa seção, o escolhido foi Frédéric Lafarge, hoje à frente do mítico domaine Michel Lafarge, que já foi tema de alguns posts escritos pelo Nelson, incluindo-se um “Lafarge, a essência de Volnay” e outro “os top tens da Borgonha”.
Falar que os vinhos de Lafarge estão entre os melhores da Côte de Beaune é como restringir o trabalho de Alfred Hitchcock ao suspense. “Um Corpo que Cai” é um filme de suspense ou um drama facilmente listado entre os melhores longas de todos os tempos? É perder o todo, o conjunto da obra em que cada nota faz sentido. Lafarge faz há décadas alguns dos melhores vinhos da Côte d´Or, com rótulos que esbanjam elegância, profundidade e longevidade. Nas safras excelentes, faz obras primas, nas ruins consegue fazer bons vinhos, bastante superiores à média. O Clos de Chênes 2004, bebido há dois anos, é um dos melhores premiers crus degustados dessa safra fraca e rivaliza com o Clos Saint Jacques de Éric Rousseau, dois produtores que conseguiram fazer vinhos muito acima da média.
O quintal dos Lafarges
Com 11,6 hectares de produção, boa parte voltada para Volnay, o domaine é uma referência entre os Bourgognes femininos e longevos. Aqui se usa muito pouca madeira, menos de 15%, porque a ideia é fazer o terroir transparecer. Numa comparação com Marquis d´Angerville, seu principal rival em Volnay, este faz vinhos mais viris, Lafarge elabora vinhos mais delicados.
Quem vai ao domaine (pisandoemuvas.com traz a visita feita em 2017) e ao quintal deles se depara com as 11 galinhas que passeiam por pouco mais de 0,5 hectare de vinhedos de Clos du Château des Ducs, monopólio quintal dos Lafarge. “Além de proteger de pragas, elas rendem ovos premier cru”, brinca Frédéric. Com uvas de mais de 40 anos, esse vinhedo é mais quente que outros da cidade e produz vinhos longevos que rivalizam com o Clos de Chênes, outro premier cru reputado em suas mãos.
Os Lafarges têm uma extensa produção de rótulos. Os brancos são bons, os tintos são excelentes. O Beaune Les Aigrots é o oposto do mais mineral Grèves, ambos para se comprar de caixa. O Pommard Pézérolles é um Pommard mais mineral, mais suave que os feitos por Courcel ou Épeneaux. O Volnay Village é um primor, elegante e feminino. Pode passar subestimado por muitos paladares, mas tem um refinamento difícil de se ver em comunais.
Antes de chegar à cave do século XIII, um passeio pelo monopólio
O Vendanges Selectionnés vem do centro da apelação, rodeado de premiers crus, é o grande segredo aqui, com uma capacidade grande também de envelhecimento, comprovado pelo excelente 2002 provado em 2017. O Mitans é um premier cru mais delicado que os outros três: o Caillerets (último vinhedo comprado pela família em 2000), com muita fruta, o Clos de Ducs tem um aroma floral delicado e taninos suaves; o Clos de Chênes é mais tânico, mineral, precisa de mais tempo.
A seguir, os principais trechos da entrevista com Frédéric Lafarge, que também tem investido em Beaujolais, com os rótulos Lafarge-Vial, sobrenome de Chantal, sua esposa. Os vinhos do domaine Lafarge chegarão ao Brasil pela primeira vez em junho pela Clarets.
Além de combater as pragas, as galinhas rendem ovos premiers crus, brinca Frédéric
Vinho sem segredo: Eu sempre me impressiono com a longevidade dos vinhos de vocês. Tomei um Clos de Chênes 2007 que eu jamais diria ter mais de cinco anos de vida. Bebi um Vendanges Selectionnés 2002 há 4 anos que ainda tinha longa vida. Vi no instagram que vocês abriram um Clos de Chênes 1949. Como ele estava?
Frédéric Lafarge: Os vinhos do domaine envelhecem muito bem. O Clos de Chênes 1949 estava excelente. Sua cor estava viva, com as bordas traduzindo o passar das décadas. O nariz estava harmônico com alguns aromas terciários. No palato, estava absolutamente redondo. A gente podia sentir as uvas bem maduras da safra colhida em um ano quente e seco. Ele tinha energia soberba e ia se revelando aos poucos à medida que o bebíamos.
Vinho sem segredo: Sua filha, Clothilde, está ao lado para a vinificação. Ela fez estágios fora da França e é uma jovem. Ela tem contribuído para mudanças na maneira que vocês vinificam os vinhos?
Frédéric Lafarge: A Clothilde é apaixonada. Ela reintroduziu o trabalho com cavalos em Caillerets e Clos du Château des Ducs. Na cave, a gente tem experimentado barricas maiores, de 350 a 500 litros para afinar os vinhos.
Vinho sem segredo: O que você recomenda como harmonização de comida com o Clos de Chênes e o Clos Du Château des Ducs, os dois principais crus do domaine?
Frédéric Lafarge: Com o Clos de Chênes, eu recomendaria uma costela bovina ou um pernil de cervo, uma carne com sabor mais pronunciado. Com o Clos Du Château des Ducs, seria um pombo ou outro tipo de ave.
Vinho sem segredo: Cada viticultor tem um terroir de preferência. Pierre Ramonet amava seu Ruchottes, Jean Marc Roulot participou de uma peça de teatro com seu Luchets como protagonista, Alain Burguet se inclinava pelo Mes Favorites. Qual seu terroir preferido?
Frédéric Lafarge: Tenho dois. Um é o Clos du Châteaux des Ducs; tenho a sorte de ser nosso monopólio. O outro é o Beaune Grèves, cujas vinhas completam 100 anos em 2021.
Vinho sem segredo: A família decidiu investir em Beaujolais há poucos anos, com o Lafarge-Vial. Por quê?
Frédéric Lafarge: Os crus de Beaujolais são grandes terroirs com uma história relevante que não deixa nada a dever com a Côte de Beaune e a Côte de Nuits. Em 2014, tivemos uma ótima oportunidade de comprar um domaine com vinhedos antigos em ótimos terroirs graníticos. É uma bela aventura essa de criar uma domaine familiar em outro local. Nós estamos encantados. É muito apaixonante de trabalhar com a uva gamay nesse terroir granítico que tem muitas convergências com os vinhos da Côte de Beaune. Nós trabalhamos os vinhedos na biodinâmica. Voltamos às práticas tradicionais de Beaujolais. Usamos 25% de vendanges entières (desengaço parcial) e praticamos remontagens et pigeages (processo mecânico através de um bastão com placa na extremidadepara extrair cor, aromas e taninos). Os vinhos são vinificados sem madeira nova. São engarrafados depois de 14 meses. Eles refletem seus terroirs com finesse, charme e uma estrutura para se apreciar jovens ou com mais tempo em garrafa.
Vinho sem segredo: O Clos de Tart foi vendido em 2017 por € 250 milhões. Há muitos investidores estrangeiros e franceses de olho em terras na Bourgogne. Isso é preocupante?
Frédéric Lafarge: A alma da Bourgogne e dos seus vinhos é estruturada nos domaines familiares. É importante que tudo seja feito para que essa estrutura tenha futuro, ou seja, facilitando a transmissão de bens entre pessoas da família.(Primeiro: O governo francês taxa com vigor as heranças de vinhedos, a taxa é de 30% de um pai para o filho e mais alta se o parentesco é mais distante; Segundo: a França taxa as fortunas. Uma alta dos preços das vinhas infla o balanço dos proprietários e o imposto que eles têm de pagar. O produtor que explora e é dono está isento da cobrança, mas não os seus irmãos, irmãs e primos (também proprietários))
Vinho sem segredo: Em 2000, vocês adquiriram parcelas de Les Caillerets et em 2005 parcelas do Beaune premier cru Les Aigrots e do Volnay premier cru Les Mitans. Hoje seria impossível de fazer?
Frédéric Lafarge: Em 2000 e 2005 nós tivemos excelentes ofertas por isso compramos, mas hoje seria muito difícil. Mas nós temos esperança de continuar a trabalhar com outros grandes terroirs da Côte de Beaune em brancos e tintos.
A Route Nationale 74, ou a D974, interliga alguns dos vinhedos mais míticos de pinot noir e chardonnay do planeta. O dólar alto e a disparada de preço na Bourgogne (um Bourgogne blanc sai da adega de Coche Dury por 40 euros e é vendido em NY por mais de US$ 200) têm deixado Chambolles, Vosnes, Volnays, Chassagnes e Pulignys cada vez mais caros no Brasil. Selecionar rótulos e produtores de regiões menos badaladas se tornou essencial para continuar a beber bem.
Maranges
Maranges fica ao sul de Beaune. Seus tintos são muito mais reputados que os brancos. Nas palavras de Clive Coates, produzem-se ali vinhos “honestos, robustos e rústicos, no melhor sentido”. Pablo e Vincent Chevrot são o principal nome desse terroir. Sur le Chêne é um dos vinhedos que têm ganho atenção da crítica francesa e inglesa. Por cerca de R$ 350 na Anima Vinum, esse é bom borgonha, com um toque animal, fruta bem moldada. Se os Chevrots seguirem nesse caminho, o primeiro pelotão da Bourgogne está logo ali. Quem disse não fui eu, mas William Kelley. Assino embaixo.
Auxey-Duresses
Auxey Duresses é mais conhecido por ter resultados estelares nas mãos de madame Lalou Bize Leroy. Há vida, muita aliás, fora de Auvenay. Esse rótulo branco é uma prova. Les Crais é um bom custo benefício de vinho branco da Bourgogne. Feito pelo Prunier-Bonheur, na @claretsbrasil, por cerca de R$ 350. Muita energia nesse 2017, ganhou muito depois de aberto. Boa opção para 2021. Não foi mal com a salada de salmão defumado.
Cote de Nuits-Villages
Os vinhos de Gachot Monot têm um avalista de peso: m. Aubert de Vilaine, que gerencia o Domaine Romanée Conti e é proprietário de ótimo domaine que produz excelentes vinhos na Côte Chalonaise. Foi Aubert quem chamou a atenção da importadora americana Kermit Lynch sobre Damien Gachot, que tem 12 hectares em Corgoloin, entre Nuits Saint Georges e Beaune. Esse Côte de Nuits ‘Les Chaillots’, que estava em promoção a R$ 315 na Govin, reforça a tese de que o estudo dos vinhos desse domaine deve ser aprofundado.
Bourgogne blanc 2015 Berlancourt
Se um dia visitar esse pequeno domaine em Meursault, que também hospeda, não se assuste se encontrar Jean Francois Coche degustando ali. O dono de um dos domaines míticos da Cote d’Or gosta bastante dos vinhos de Pierre e Adrien Berlancourt. Veio no fim do ano passado numa pequena quantidade pela @uvavinhos. Uma nova remessa deverá chegar em breve. Frutas brancas em profusão, leve toque de fruta seca, um vinho que tem tudo de Meursault e com um pouco mais de persistência e complexidade passaria por um bom premier cru da village.
Bourgogne Côte d´Or Cuvée Gravel 2018 – Claude et Catherine Maréchal
Ótima porta de entrada do domaine Catherine e Claude Marechal, criado em 1981 e cujo mentor foi a lenda Henri Jayer. Produz em 12 hectares.A cuvée Gravel é situada em Pommard et Bligny-les-Beaune. Por R$ 280 na Delacroix, um dos melhores bourgognes disponíveis no mercado brasileiro. Na Delacroix.
Bourgogne Roncevie
Quando se visita o domaine Arlaud (texto da visita no site pisandoemuvas.com) uma das primeiras histórias escutadas é a excelência desse terroir. Roncevie está Gevrey-Chambertin, mas do lado errado da RN 74, ou seja, distante dos grands crus. Até 1964 era considerado “Villages”, mas na disputa política ficou com parcelas fora da classificação. Pére Arlaud não se fez de rogado. Comprou bourgogne sabendo que tinha um Gevrey disfarçado. O domaine tem excelentes vinhos, a única pena é o preço, que tem subido muito nos últimos dois anos. Vêm pela Cellar. Por R$ 375.
Quem acompanha o site e o instagram sabe que uma champagne sempre aparece aqui e ali em posts, harmonizações e recomendações. Fundada em 1798, em Châlons-sur-Marne, Jacquesson era uma das estrelas da Champagne no século XIX, mas em 1920, quando foi comprada por um negociante de vinhos que mudou a sede para Reims, passou décadas em declínio. A virada se deu em 1974, quando Laurent e Jean-Hervé Chiquet compraram a tradicional Maison e levaram sua sede para Dizy.
Laurent e Jean Hervé Chiquet
Os vinhedos estão todos em Grande Vallé e na Côte des Blancs com algumas compras adicionais nesses mesmos terroirs. Uma das marcas das champagnes feitas por aqui é que elas são vinificadas em grandes barris de madeira, o que rende complexidade e mais aromas. Uma das inovações da casa foi a criação da linha 700. Na Champagne, a tradição era que a casa safra as maisons buscassem imprimir mais seu estilo no que está sendo oferecido do que um espumante que retratasse o ano. Quem busca uma Bollinger NV sabe o que encontrará, ano sim, ano não. Os Chiquets foram por outro caminho. A pequena produção (cerca de 300 mil garrafas por ano) comparada às grandes marcas dificultava criar uma linha que imprimisse todos os anos o mesmo estilo. Havia ainda mais. “Nós começamos a perceber que estávamos fazendo um blend pior que poderíamos fazer. Não tinha sentido”, disse Jean-Hervé Chiquet a Peter Liem no excelente livro “Champagne”.
A DT, cujo dégorgement é bem tardio, tem um contato sur lies de quase dez anos, o dobro da 738 normal
Com a percepção de que o foco em ano resultava em vinhos inferiores ao que poderiam fazer sem essa amarra, os irmãos buscaram consistência. A partir da safra 2000, eles descartaram a cuvée Perfection e lançaram a 728. Por que o número? O ano de 2000 representou a safra 728 desde a fundação da Maison.
A linha, importada pela Delacroix, é consistente do início ao topo, com espumantes refinados, gastronômicos, intensos, complexos e que têm alto potencial de envelhecimento.
A linha 700, a mais recente disponível no Brasil é a 743, é originada de dois vinhedos Grands Crus e três vinhedos Premiers Crus. O vinho-base é elaborado em madeira, naturalmente inerte, para não passar aromas ao vinho. As uvas são: Chardonnay de Avize Grand Cru; Pinot Noir do Ay Grand Cru e Dizy Premier Cru; Pinot Meunier de Oiry Grand Cru e Hautvillers Premier Cru. A primeira fermentação é em grandes barricas de carvalho, envelhecendo sobre as borras por 36 meses, misturando com vinhos de reserva (33%) e a segunda fermentação em garrafa segundo o método Champenoise. A 743 talvez seja a melhor que eu bebi. Mais aberta que a 742. Para se achar no ano em que o rótulo é baseado, basta somar dois ao número da linha: 742 é de 2014, a 743 de 2015.
Manifesto dos Chiquets
A Jacquesson ainda produz uma DT, cujo dégorgement é bem tardio, prevendo um contato sur lies de quase dez anos, o dobro da 738 normal. Enseja um vinho complexo, profundo, com uma mineralidade digna de um champagne especial. Com muita vida pela frente.
Em linguagem bourguignone, o rosé é um Chambolle feito na Champagne. São menos de dez mil garrafas vindas de Dizy, um vinhedo Premier Cru situado no Vallée de la Marne, sendo Terres Rouges (lieu-dit) uma área de somente 1,35 hectares exclusivamente de Pinot Noir, plantada em alta densidade, 11500 pés por hectare. O solo é escuro e pedregoso misturando argila e calcário. O vinhedo fica junto à Montagne de Reims em seu setor sul. O vinho-base é vinificado em madeira inerte (foudres de chêne). Trata-se de um rosé de saignée e não de assemblage, este último, mais comum em Champagne. Na verdade, este saignée é muito delicado, quase um pressurage direct. O dégorgement leva normalmente cinco anos, mantendo um longo contato sur lies. Extremamente seco com apenas 3,5 gramas/litro de açúcar residual, dentro do padrão extra-brut. Apesar de 100% Pinot Noir, é um champagne delicado, elegante e muito vivaz tanto em fruta, como no próprio frescor. As notas de frutas vermelhas (groselhas, framboesas) e de alcaçuz estão bem presentes.
Na linha das especiais, há um rótulo absolutamente grandioso: Champ Caïn, cuja primeira safra se deu em 2002, com vinhedos plantados em 1962. A safra 2004 foi bebida em almoço no fim do ano passado. Colhida em 4 de outubro daquele ano, resultou em 9012 garrafas e 500 magnums. O degorgement foi feito em fevereiro de 2013 depois de oito anos sur lies. Chardonnay elegante, refinado, extremamente delicado, expansivo, medidativo, destacando o terroir excepcional de Avize. Que champagne!Ou melhor, que champagnes!
Duas champagnes artesanais que valem a pena conhecer
Certas coisas não se replicam. Trufas brancas de Alba, caviar do Cáspio, pata negra da Península Ibérica (para não tomar partido na disputa entre portugueses e espanhois), champagne. A região das melhores borbulhas do planeta vitis não apenas enseja os melhores espumantes como história: foi na catedral de Reims que Napoleão Bonaparte se fez imperador em 1804, rompendo uma tradição histórica e criando um novo paradigma político na Europa do século XIX.
Champagne é para se beber todo o dia, de preferência, seguindo a máxima de madame Lilly Bollinger, mas é nessa época que muitos buscam algumas garrafas especiais. Num ano difícil como 2020, celebrar a chegada de 2021 que se espera melhor, seguem algumas dicas de champagnes disponíveis no mercado brasileiro. Ah, sim, para os leitores habituais, não se falará aqui de Jacquesson, para não se chover no molhado.
Assim como em várias regiões da França, como a Bourgogne, uma geração de jovens viticultores deixou de vender uvas para terceiros e passou a vinificar eles próprios seus “quintais”, o que fez um punhado de excelentes vignerons ganhar destaque, seguindo a esteira de Selosse. Com Agrapart e Cédric Bouchar ainda em vias de chegar ao Brasil, via Clarets, há dois produtores que merecem atenção especial, ambos trazidos pela importadora Anima Vinum.
Um é a estrela em ascensão Dhondt Grellet, que surgiu em 1986 quando Eric e Edith pararam de vender a terceiros e abriram as portas. Quando o filho do casal, Adrien,nascido em 1991, assumiu o comando nos últimos anos, em pouco tempo chamou a atenção da mídia especializada. William Kelley, o garoto em ascensão, crítico de Champagne e Bourgogne para o site que um dia foi de Robert Parker, falou recentemente que, se você tiver de investir em um novo produtor, aqui está ele. Kelley tem razão. Adrien tem parcelas em duas villages: Cramant (Grand Cru) e Cuis (Premier cru).
Terres Fines é uma assemblage de pequenas parcelas esparramadas por Cuis, um blanc de blancs delicado, mineral, profundo, gastronômico, substantivos que pedem que a garrafa não termine. Excelente pedida para início das refeições ou para brindar o novo ano, que não venha com vírus.
Se a ideia for abrir um champagne rosé, a dica aqui vem dos irmãos Raphael e Vincent Bérêche, cuja casa data de 1847, mas que ganhou espaço mais recentemente, com a revolução das champagnes artesanais há uma década. Em entrevista ao site Pisando em Uvas, Peter Liem, uma das maiores autoridades em borbulhas do planeta, disse que a casa era uma das suas preferidas, com um trabalho excelente nos últimos anos. O destaque aqui vai para a Campania Remensis, o nome romano da região ao redor de Reims. Dois terços do vinho é de pinot noir, incluindo uma porção de vinho seco para ajudar na cor rosé, com um toque de acidez dado pela chardonnay (20%) e o restante de Pinot Meunier. Gastronômico, refinado, complexo, ideal para pratos como um belo pernil, por que não?
Mas não apenas de champagnes artesanais se vive. James Bond sabia das coisas. Sua escolha variou, a depender das décadas dos filmes, entre Tatittinger, Dom Pérignon e Bollinger, mas o agente secreto com licença para matar nunca se deu mal. A safra 2008 da Dom Pérignon não foi experimentada ainda pelo site, mas vem muito bem recomendada por um paladar que esse autor aqui assina embaixo na maioria das vezes: John Gilman. Gilman, que faz a sua trimestral “The View from the cellar” disse que a 2008 é uma das melhores DPs que ele já bebeu jovem, com um futuro extremamente promissor, o que lhe fez dar 97+ . Kelley, na Robert Parker, deu 96 pontos e disse se tratar do melhor lançamento desde a mítica 1996.
Eu, que tive o prazer de beber a Dom Pérignon 1996 P1 e P2 com o Nelson, meu mestre, há uns cinco anos, penso em comprá-la para abri-la em um momento especial. Assim como o agente secreto, o monge sabia das coisas. Se 2008 for como a 1996, o ano passará muito melhor.
O consumo de espumantes ainda está muito ligado às festas de fim de ano, mas cabe aqui sempre repetir a máxima de Lilly Bollinger sobre Champagne. “Bebo-a quando estou feliz e quando estou triste. Algumas vezes, também quando estou só. Quando tenho companhia a considero obrigatória. Brinco com ela quando estou sem apetite e a bebo quando estou com fome. Fora isso, nunca a toco, a menos que esteja com sede”.
Versatilidade ímpar, da entrada às sobremesas, apenas mudando a dosagem de açúcar, os espumantes vão muito bem com as entradas, das mais simples às mais complexas, como salgadinhos, canapés de salmão defumado, vieiras grelhadas. Nos pratos principais, dependendo de safras e qual a uva é a principal no corte (pinot noir vai muito bem com aves; chardonnay faz maravilhas com boa parte dos frutos do mar), eles também escoltam excepcionalmente bem.
Dito isso, quais são as opções existentes no mercado brasileiro? (As champagnes ganharão post específico na próxima semana)
Brasil
Você quer um espumante brasileiro versátil, bem feito, com bom preço? A preferência recai sobre Adolfo Lona, cujos rótulos são coringas à mesa,sendo boa parte abaixo de R$ 80. Argentino, Lona veio para o Brasil na década de 1970 trabalhar com as multinacionais que começavam a investir no terroir gaúcho. Ficou por lá. Produz bons espumantes, talvez os melhores do Brasil. Diego representa os vinhos em SP: 11.95133.4000 diego_graciano@hormail.com
Espanha
Se você estiver procurando uma opção estrangeira de boa relação qualidade preço, a Clarets traz as melhores borbulhas espanholas: Juvé Camps, situada em Sant Sadurní d´Anoia, a melhor região de Cavas, controla todo o processo de elaboração, desde vinhedos próprios, até todas as fases de vinificação. A Cinta Purpura sai por cerca de 100 reais.
Portugal
Na Bairrada, terra do famoso leitão, Luis Pato elabora com a casta local Maria Gomes um dos bons espumantes da terrinha. Na Mistral, por cerca de R$ 170.
Itália
Em Trento, a italiana Ferrari faz excelentes espumantes, em todas as gamas de preços. Às cegas,é duro dizer que não se trata de Champagne. Gosto é subjetivo, mas não troco um Ferrari por uma básica Moet nem por uma Veuve Clicquot. Na Decanter.
França
Alsace
Quem tem terroir tem tudo. Não se vive apenas de Champagne na França.Olho nos crémants.Os mais famosos estão na Alsace, terroir mais conhecido pela produção dos melhores rieslings franceses. São elaborados com as uvas Pinot Blanc, Pinot Gris, Pinot Noir, Riesling, Auxerrois e Chardonnay. Existe a versão rosé, elaborada com Pinot Noir. O vinho permanece pelo menos nove meses sur lies antes do dégorgement (expulsão dos sedimentos e colocação da rolha definitiva).Na ótima importadora franco-carioca Taste Vin, o bom espumante de René Muré para entradas e para abrir os trabalhos: https://www.tastevin.com.br/produto/cremant-d-alsace-brut/
Languedoc
Elaborado na região do Languedoc, perto de Carcassonne. As uvas para o Crémant são: Chardonnay e Chenin Blanc, as principais, complementadas por Mauzac e Pinot Noir. Permanece pelo menos quinze meses sur lies. A importadora Delacroix traz o Blanquette Antech Réserve Brut, 2017, um corte de 90% Mauzac, 5% Chenin e 5% Chardonnay.https://www.delacroixvinhos.com.br/products/blanquette-antech-reserve-brut-2017-1295-940-espumante
Bourgogne
A terra do pinot noir e do chardonnay, berço de Romanées e Montrachets, tem opções de borbulhas. São os crémants de Bourgogne, apelação da Borgonha com as uvas Pinot Noir e Chardonnay, podendo ter eventualmente as uvas Gamay e Aligoté. Permanece pelo menos nove meses sur lies.Uma opção na Cellar é o crémant do domaine Edouard.https://www.cellarvinhos.com/cremant-de-bourgogne-nature.
Em tempo: As champagnes ganharão post específico na próxima semana
Pierre Ramonet, ou père Ramonet, foi uma das figuras lendárias do mundo do vinho. Suas histórias saborosas recheariam livros. Uma das melhores, contada em detalhes por Clive Coates em uma de suas bíblias sobre a Bourgogne, se passou em 1978,quando Ramonet, com seu pulover, calça baggy e boina, entrou no escritório de um advogado em Beaune. Era um homem da terra. Não gostava de formalidades, de falar ao telefone, nem de escrever cartas. Nunca enviava amostras de seus vinhos aos críticos. A razão era simples: nunca viu os Troisgros, Bocuse ou qualquer chef estrelado do Michelin mandar quentinhas para os críticos dos guias. Se alguém quisesse beber seus vinhos, que fosse a Chassagne.
Estava no escritório do advogado porque as famílias Milan e Mathey-Blanchet tinham decidido vender suas parcelas em Le Montrachet, o mais cobiçado terroir de chardonnay do mundo, com uvas do lado de Puligny-Montrachet suficientes para quatro barris e meio de vinho. Mal se sentou à cadeira. Começou a tirar notas dos bolsos e deixou o dinheiro em cima da mesa. “Acho que está tudo aí.”
La Boudriotte é um terroir de 1,2 hectares, com uvas com mais de 40 anos de vida.
Em uma visita à Bourgogne, Noël Ramonet confirmou a veracidade da história e ainda disse que o pai tinha apreço especial também pelo premier cru “Les Ruchottes”, com algumas vinhas com mais de 60 anos de idade.
Mais que uma figura com histórias saborosas, Pierre Ramonet era um profundo degustador e um viticultor de mãos cheias. Construiu, em 1920, um domaine com uma constelação de grandes rótulos, que chegarão em breve ao Brasil pela importadora Clarets. Do bourgogne ao Montrachet, tudo é bom. Hoje o domaine é tocado pelos dois filhos: Jean Claude e Noël, sendo o primeiro que põe o nome nos rótulos, o segundo fica mais à frente do cuidado das vinhas. A divisão teria ocorrido em razão de um câncer que afetou Noël, mas já há algum tempo ele estaria curado.
No mundo dos vinhos brancos, há aqueles que hoje não os envelhecem por conta de eventuais problemas de premox ou os que são crentes em dias melhores. Se você jogar nesse segundo time e der tempo às garrafas, com sorte, terá grandes momentos ao abrir esses vinhos que ganham muito com o tempo em adega, com uma paleta gustativa e aromática complexa, profunda e hedonística. Flores, frutas secas, toque de mel, salinidade, ondas de sabores que vão e vêm.
Em outras famílias, seria um grand cru…
Boudriottes, Caillerets e Ruchottes são três premiers crus muito bem moldados pelo domaine, mas o último é o grande destaque. Como dito anteriormente, père Ramonet tinha muito orgulho desse rótulo em especial, não apenas pela qualidade do terroir, mas por motivos emocionais. Foi a primeira parcela que ele comprou em 1938. Foi a partir dali que ele começou a galgar os passos que o levariam a um curto elogio de Clive Coates. “Ramonet está para os vinhos brancos como Jayer está para os tintos.”
Ruchottes é um vinhaço, profundo, longo, cativante, muda em goles, conquista no aroma, persevera na boca por minutos. “Parece um grand cru”, disse Noël há três anos, em viagem à Borgonha. Mas e os grands crus? Infelizmente, não tive ainda o prazer de degustá-los, mas carrego comigo, depois de ler muitas degustações às cegas, que Le Montrachet dos Ramonet rima com perfeição.
Père Ramonet dizia que, com seu Batard, poderia ser servido foie gras ou lagostins, mas o Montrachet merecia ser degustado solitariamente, de forma meditativa.
Quando se fala em vinho rosé, muita gente ainda torce o nariz. Se nos brancos o preconceito diminuiu muito nos últimos anos, com os rosados ainda ele persiste, mas há muitos motivos, além do calor saariano desse setembro e outubro, para escolher um rótulo dessa cor. Os rosados (excluídas as borbulhas, que são caso à parte) são versáteis e gastrônomicos, vão muito bem com saladas e com frutos do mar e também com um prato de que o brasileiro muito gosta: a pizza.
Os bons exemplares, com destaque aos da Espanha, Portugal, França e Itália, não são invasivos, têm um belo frescor, e seus aromas cítricos, de tempero e ervas, combinam com boa parte das pizzas e algumas preparações de frutos do mar, com destaque especial às paellas (aqui principalmente os da Provence).
Feita a abertura, vamos a algumas opções de rótulos no mercado brasileiro:
Abaixo de R$ 70, a solução se chama Pizzato. A vinícola gaúcha é tiro certeiro quando o assunto é preço e qualidade. Faz um rosé acessível e que pode ser tentado com uma boa pizza de margheritta.O molho de tomate, as ervas (orégano) ajudam na combinação.
A Provence é o terroir dos mais reputados rosés do planeta. Dois vinhos, ao redor de R$ 115 na importadora Clarets, são excelentes pedidas. O primeiro é o Triennes 2018, da subregião de Aix-en-Provence, cujos acionistas são dois pesos pesados da Bourgogne: Aubert de Villaine e a família Seysses, do Domaine Dujac. O vinho tem frescor, acidez justa, aromas de morangos e um leve floral. O outro é o Pure 2019, da Mirabeau, corte de Grenache e Syrah, com um leve toque de bergamota, num conjunto difícil de resistir.
A Provence vai além dos rosés
Na Delacroix, há uma outra ótima pedida rosada da Provence: o Château de Roquefort produz o Corail a apenas cinco quilômetros de Cassis. Na boca muito frutado e com um toque de ervas, um pouco mais estruturado que os outros dois anteriores. Excelente companhia da Paella. Custa por volta de R$ 160.
Deixada a Provence de lado, que tal uma garrafa de Etna rosato? Esse terroir siciliano tem uma mineralidade bem expressa, quaisquer as cores da taça. O vulcão faz toda a diferença. Esse aqui de Girolamo Russo é um dos melhores exemplares de rosados no mercado: https://www.wines4u.com.br/tipo/rose/etna-rosato-doc-2018-girolamo-russo.html. Camarões frescos grelhados acompanhados por esse aqui…
A Espanha tem talvez o mais destacado rosé do mundo, vindo da Tondonia, disputado a tapa pelos consumidores dos quatro cantos do planeta. Importado pela Vinci Vinhos aqui, ele quando chega, mal é anunciado, é vendido para uma lista secreta. Nunca tive o prazer de bebê-lo ainda, mas nunca ouvi arrependimentos.
Em relação a rótulos mais acessíveis: os rosés de Navarra, região contígua à famosa Rioja, apresentam-se bem equilibrados. Uma sugestão aqui é o Gran Feudo Rosado, por volta de R$ 120, na Mistral.
Portugal também tem seus rosados. Dirk Niepoort, um dos melhores produtores do planeta, faz um ótimo, versátil e gastronômico rosado na linha Redoma, atualmente em falta na importadora Grand Cru. Dirk não erra, sejam os vinhos doces, fortificados, secos, tenham quaisquer cores do arco íris.