Conforme mapa abaixo, referente ao site oficial dos vinhos sul-africanos (www.wosa.co.za), veremos a partir deste post, outras regiões interessantes, embora o trio de ferro deste país (distritos de Stellenbosch, Paarl e Constantia) já tenha sido descrito nos artigos anteriores, todos pertencentes à região de Coastal Region.
Demais regiões espalham-se a partir da trilogia original
O primeiro distrito a ser abordado é Walker Bay, pertencente à região de Cape South Coast. No extremo sul dos vinhedos sul-africanos, recebe toda a influência da fria corrente de Benguela. E aqui, existe um produtor emblemático e bastante antigo na região, Hamilton Russell. Aficionado pelos vinhedos da Borgonha, plantou clones especiais das uvas Chardonnay e Pinot Noir, perfeitamente adaptados ao terroir local para elaborar vinhos de destaque, sempre bem cotados nas principais publicações especializadas. Para variar, também é importado pela Mistral (www.mistral.com.br). Fez escola na região. Atualmente, bons concorrentes como Bouchard Finlayson e Newton Johnson.
Outros distritos pertencentes à região de Cape South Coast como Elgin e Overberg não têm tanto prestígio como Walker Bay. Outro distrito que começa a ganhar destaque é Cape Agulhas. A fama do Sauvignon Blanc destes distritos é das melhores com vinhos vibrantes e minerais. Produtores como Paul Cluver e Land´s End destacam-se neste cenário.
Robertson
Na região de Breede River Valley temos os ditritos de Breedekloof (recentemente surgido a partir do desmembramento de Worcester), Worcester e Roberston. Os dois primeiros, sem grandes destaques, elaborando vinhos corriqueiros, embora haja um efetivo progresso. Contudo, são distritos de grande produção. Já Roberston, o mais a leste da região, conforme mapa acima, apresenta em locais estratégicos solos mais calcários e com alguma influência marítima em termos climáticos. No entanto, ainda é uma região relativamente quente. O progresso de seus vinhos vem ganhando destaque nos últimos tempos, com tintos e brancos surpreendentes, sobretudo os brancos à base de Chardonnay. Vinícolas como De Wetshof e Springfield merecem destaque. A primeira é trazida para o Brasil pela importadora Mistral (www.mistral.com.br), enquanto a segundo era da importadora Expand. Springfield Chardonnay é vinho muito interssante elaborado com leveduras nativas.
Retomando os vinhedos sul-africanos, vamos agora nos fixar em Paarl (pronuncia-se pérol) que significa pérola em holandês. Esta região começa em Simonsberg mountain, apresentada em post anterior e caminha no sentido norte ao interior do continente. É uma região mais quente comparada à Stellenbosch, já que não há uma influência marítima direta sobre a mesma. Contudo, o terroir continua excelente tanto para brancos, como principalmente para tintos. Muitas vinícolas famosas como Veenwouden, Glen Carlou, Rupert & Rothschild (o lado Lafite desta aristocrática família), La Motte, a tradicional Nederburg e a impronunciável Boekenhoutskloof, entre outras. Muitos nomes de origem holandesa devem-se ao fato da colonização e origem deste país.
Dentro da área de Paarl, há um famoso e tradicional vale denominado Franschhoek (esquina francesa), com forte tradição francesa. A origem desta imigração são os chamados huguenotes, denominação dada aos calvinistas franceses que foram expulsos nos séculos XVI e XVII por motivos religiosos, fortalecendo a expansão do protestantismo.
Paarl: vales e montanhas em harmonia
Como destaque de tintos, temos o corte bordalês da vinícola Rupert & Rothschild, o Merlot da Veenwouden e o Shiraz da vinícola Boekenhoutskloof. Os vinhos de sobremesa da Nederburg, principalmente os baseados em Chenin Blanc, merecem destaque, com preços bastante acessíveis. São importados no Brasil pela Casa flora (www.casaflora.com.br). A grande estrela neste cenário é o mítico Edelkeur da própria Nederburg, de produção bastante reduzida. Favor consultar artigos neste mesmo blog sobre os vinhos doces da Nederburg, inclusive um artigo especial sobre o grandioso Edelkeur.
Constantia nos arredores de Cape Town
Para completar a nata dos vinhos sul-africanos, temos a antiga e tradicional região de Constantia. Berço da viticultura deste país, duas vinícolas destacam-se com vinhos singulares. A primeira, Klein Constantia, com cortes bordaleses elegantes, mas principalmente, por revitalizar o imortal Vin de Constance, um dos vinhos emblemáticos das principais cortes européias no século dezoito. Baseado na uva Muscat à Petits Grains é um vinho de sobremesa de colheita tardia, delicado e de muita classe. Foi o vinho escolhido por Napoleão em seu exílio na ilha de St Helena.
A segunda vinícola é Steenberg, a mais antiga vinícola da África do Sul, fundada em 1682. Seu Sauvginon Blanc e Sémillon são grandes destaques e estão entre os melhores brancos sul-africanos. Aliás, a Sauvignon Blanc em Constantia é a uva mais plantada desta região. O clima frio devido à forte influência marítima e solos de origem granítica propiciam uvas de boa acidez e vinhos com destacada mineralidade. Estes vinhos são importados pela Winebrands (www.winebrands.com.br).
A partir deste artigo, vamos desvendar as principais regiões da África do Sul. Evidentemente, começaremos pelas renomadas Stellenbosch, Paarl e Constantia. Antes porém, um visão geral das principais regiões vinícolas produtivas. Um comparativo entre 2001 e 2011 em área plantada.
Robertson e Malmesbury: importante crescimento
Stellenbosch
Stellenbosch disputa com Paarl, a supremacia em tradição e berço dos melhores vinhos da África do Sul. Vinícolas importantes como Kanonkop (já citada em post anterior), Morgenhof, Vergelegen, Neil Ellis, Thelema, L´Avenir, entre outras, mostram brancos e tintos muito bem vinificados. Nos mapas abaixo, observem o relevo montanhoso (granito) onde os vinhedos espalham-se nos sopés das montanhas e nos vales recortados pelas mesmas. Além disso, a influência marítima importante através da falsa baía (False Bay), traz brisas frias para o continente alimentada pela onipresente corrente marítima de Benguela, refrescando os vinhedos. Os solos misturam xisto, argila e areia em proporções variáveis, dependendo da localização. A montanha Simonsberg (foto abaixo) delimita a norte de Stellenbosch a divisa com Paarl, nossa próxima região.
Ao fundo Simonsberg Mountain
Simonsberg além de delimitar as áreas entre Stellenbosch e Paarl, cada lado da montanha torna-se terroir privilegiado para as duas áreas, com vinhedos muito bem localizados nos sopés da mesma, tanto em exposição solar, como em particularidades de solo.
Relevo montanhoso e próximo ao mar de Stellenbosch
Áreas vinícolas da Península do Cabo
Conforme mapa acima, podemos dizer que Constantia, Stellenbosch e Paarl foram o berço da viticultura no país. Todo este litoral frio tem impacto decisivo no terroir sul-africano devida à já comentada corrente de Benguela.
África do Sul, um dos países de destaque no chamado Novo Mundo. Para muitos, é o que mais guarda um estilo europeu em muito de seus vinhos. Particularmente, nosso mercado mostra uma boa variedade de vinhos deste país com muitos produtores de grande prestígio nas principais regiões sul-africanas, as quais são destacadas no mapa abaixo:
Regiões atuais da África do Sul
Com aproximadamente cem mil hectares de vinhas (um pouco menor que a região bordalesa na França), a África do Sul deve confirmar o nono lugar na produção mundial de vinhos, segundo as previsões mais recentes da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho). Nestas mesmas previsões, fica como o oitavo maior exportador de vinhos no mundo.
O plantio de vinhas entre tintas e brancas apresenta certo equilíbrio com leve predominância das brancas, 56% contra 44% de tintas. Apesar da uva Pinotage ser emblemática deste país, outras uvas internacionais têm grande prestígio, além de maior área cultivada. Vejam os quadros abaixo:
A uva Shiraz vem mantendo boa tendência de crescimento moldando belos vinhos varietais. Já as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, além de varietais, entram em muitos cortes bordaleses bastante comuns no portfólio de vinhos de muitas vinícolas. Para quem quer se aventurar com a Pinotage, a vinícola Kanonkop é um porto seguro, com vinhos muito consistentes e de grande categoria. É representada no Brasil pela importadora Mistral (www.mistral.com.br). A maioria dos Pinotages de muitas vinícolas deixam a desejar principalmente pela falta de concentração e altos rendimentos no cultivo das vinhas. Esta uva é um cruzamento da Pinot Noir com a Cinsault (uva do sul da França), fruto de pesquisas do professsor Abraham Izak Perold em 1925 na universidade de Stellenbosch. O grande segredo desta uva é trabalhar com baixos rendimentos. Caso contrário, os vinhos costumam ser diluídos, alcoólicos e pouco atrativos. No caso da Kanonkop, além de baixos rendimentos, as parreiras são de idade avançada, muitas delas acima de sessenta anos.
Não é de hoje que as uvas brancas Chenin Blanc (localmente conhecida como Steen) e Colombard são largamente cultivadas na África do Sul gerando vinhos relativamente comuns e inexpressivos. A tendência é de decréscimo da área plantada das mesmas, enquanto as internacionais Chardonnay e Sauvignon Blanc ganham terreno literalmente. Geralmente, estas últimas são varietais modernos, interessantes e muito bem vinificados.
Após breve panorama geral, vamos às principais regiões vinícolas sul-africanas como Stellenbosch e Paarl. Próximo post.
Fraldinha, também chamada de vazio no sul do país, é uma carne nobre que está na moda. É saborosa, baixo teor de gordura e relativamente barata dentre os cortes mais badalados. Esta receita, dada abaixo pelo craque Istvan Wessel, leva uma taça de vinho tinto e muitas ervas frescas aromáticas.
Bela receita de frigideira
Para a harmonização, a primeira dica já é dada pela receita que incorpora vinho tinto. A despeito deste fato, carne vermelha sempre pede vinho tinto, embora alguns “experts” insistam em vinho branco. Pode não comprometer, mas garanto que fica bem sem graça a suposta combinação.
Voltando ao nosso vinho tinto, alguns fatores precisam ser considerados. A presença das ervas traz um sabor marcante ao prato, enquanto o alho e a cebola, principalmente em quantidades mais exageradas, pedem vinhos com certa rusticidade no bom sentido da palavra. A carne em si, apresenta baixo teor de gordura, boa fibrosidade e suculência, sobretudo se elaborada ao ponto. Portanto, a acidez do vinho não precisa ser marcante, mas a tanicidade é bem-vinda, já que os taninos são enxugados pela salivação induzida. Neste contexto, vinhos do mediterrâneo são as primeiras opções. Pode ser o provençal Bandol, elaborado com a uva Mourvèdre. Tintos do Languedoc baseados em Syrah e Carignan. Um tinto italiano sulino com a uva Aglianico (Campania e Basilicata têm bons exemplares). Um toscano com predomínio de Sangiovese (seu sabor combina muito bem com ervas), complementado com Cabernet Sauvignon (tanicidade) e Merlot (quebrando um pouco a acidez da Sangiovese). Tempranillo da região espanhola de Toro (vizinha à Ribera del Duero) com rusticidade adequada. Enfim, vinhos de boa tanicidade, acidez moderada e um toque de especiarias e ervas.
Do Novo Mundo, um bom Cabernet Sauvignon ou Carmenère chilenos, um Tannat uruguaio menos impactante cortado com Merlot. Cortes bordaleses da África do Sul ou um idiossincrático Cabernet Sauvignon australiano de Coonawarra, são também boas opções.
Corte correto: contras as fibras
De qualquer modo, a receita é deliciosa, prática e permite muitas opções de harmonização. Cada um certamente, encontrará seu vinho favorito. Bon appétit!
Outras harmonizações igualmente deliciosas envolvendo cortes de carne estão neste mesmo blog. Procure por contra-filé e também carré de cordeiro .
Nesta última parte, falaremos sobretudo dos Moscatéis do Languedoc, região do Mediterrâneo, contígua a Roussillon. Aqui é o lar dos chamados Muscats du Languedoc sob as apelações Frontignan, Lunel, Mireval e St Jean de Minervois, conforme mapa abaixo, que mostra não só os Muscats acima, como todos os demais VDNs da França.
VDNs da França abrangendo todo o Midi
Muscat de Frontignan
O mais antigo, o mais tradicional, e o de maior produção do todo o Languedoc. São quase setecentos hectares de vinhas cultivadas exclusivamente com Muscat à Petits Grains. As garrafas são caracterizadas pelo relevo retorcido, conforme foto abaixo.
Chateau La Peyrade
As demais apelações como Lunel, Mireval e St Jean de Minervois apresentam áreas de cultivo bem menores. São respectivamente, 320 hectares, 260 hectares e 230 hectares. Como sempre, a uva é exclusivamente Muscat à Petits Grains. Tanto Lunel como Mireval, partilham de um terroir litorâneo com solos calcários e arenosos, da mesma forma que Frontignan, comentado acima. Já St Jean de Minervois, são solos argilo-calcários em altitudes por volta de 250 metros. É justamente esta altitude que faz de St Jean de Minervois um terroir diferenciado em relação aos demais Muscats do Languedoc. É um Muscat mais fino, elegante e equilibrado, enquanto os outros são mais densos, faltando um pouco de vivacidade.
Os VDNs do Rhône
Os chamados Vin Doux Naturel do Rhône são englobados nas apelações Muscat Beaumes-de-Venise e Rasteau, já devidamente comentados em artigos específicos sobre o Vale do Rhône em seis partes. Favor consultar neste mesmo blog. Beaumes-de-Venise é bastante conhecido e trazido por várias importadoras aqui no Brasil. Um belo produtor é o Domaine de Coyeux do ClubTaste Vin (www.tastevin.com.br). Já a apelação Rasteau praticamente extinta na versão VDN, não é encontrada no Brasil. É um tinto fortificado à base de Grenache, semelhante a um Banyuls.
Por fim, o praticamente desconhecido Muscat du Cap Corse, elaborado à base de Muscat à Petits Grains no extremo norte da ilha da Córsega, a sul da Provença. Com praticamente noventa hectares de área cultivada, esta apelação apresenta um Muscat extremamente aromático e complexo. A importadora Le Tire-Bouchon traz um dos raros exemplares para o Brasil (www.letirebouchon.com.br) .
Dando prosseguimento à região de Roussillon, sul da França, vizinha dos Pirineus, falaremos de mais uma grande apelação dos chamados VDNs (Vin Doux Naturel) denominada Maury. Segundo dados de 2011, Maury conta com pouco mais de trezentos hectares de vinhas, praticamente a metade da famosa apelação Banyuls. Voltando ao nosso mapa abaixo, percebemos que Maury encontra-se num terroir bem mais interiorano, e portanto continental, em relação a Banyuls. São colinas de solo escuro, de natureza argilo-calcária, também com presença de xisto. As uvas, além da Grenache em suas três versões (Blanc, Gris e principalmente Noir), são complementadas com Macabeu, Malvasia, Muscat, Carignan e Syrah.
Maury: apelação bem ao norte de Roussillon
Os vinhos costumam ser mais densos e austeros em relação a Banyuls. Apesar de haver estilos mais frutados, os belos vinhos de Maury são conhecidos mais pelo estilo oxidativo com notas empireumáticas de café e chocolate. As apelações Maury Hors d´Âge e Maury Rancio são o ápice desta versão, com longos anos de envelhecimento, seja em madeira e/ou garrafões de vidro deixados sob o sol.
Vinhedos nas colinas de Maury
Rivesaltes
Novamente, voltando ao mapa acima, praticamente toda a região de Roussillon produz uvas Grenache principalmente, para a elaboração de VDN sob a apelação Rivesaltes. Podem eventualmente entrar na composição, uvas como Macabeu, Malvasia e Muscats (Petits Grains e d´Alexandrie). São aproximadamente três mil e quatrocentos hectares de vinhas.
Temos três versões da apelação Rivesaltes: Grenat, Tuilé e Ambré (Grená, Telha e Âmbar). A primeira tem caráter bem frutado com participação exclusiva de Grenache Noir. A segunda com caráter oxidativo mesclando a Grenache Noir com uvas brancas. Finalmente a terceira, com caráter acentuadamente oxidativo, sem a presença de Grenache Noir, somente uvas brancas. Além destas versões, temos uma pequena parcela de vinhos sob as apelações Rivesaltes Hors d´Âge e Rivesaltes Rancio, com forte caráter oxidativo. São vinhos com envelhecimento mínimo de cinco anos, mas na prática, com idade muito superior.
Muscat de Rivesaltes
Apelação ainda mais extensa que a anterior, com aproximadamente quatro mil e setecentos hectares de vinhas abrangendo o mesmo território de Rivesaltes. A grande diferença é que trata-se de vinhos brancos elaborados somente com Muscat à Petits Grains e Muscat d´Alexandrie. Geralmente, são os VDNs mais leves, mais frutados e mais florais de todo o Roussillon. Embora agradáveis, costumam ser um tanto diluídos. Portanto, a importância do produtor é fundamental. Domaine Cazes é sempre uma boa referência, trazido pela importadora Mistral (www.mistral.com.br).
Embora a França não tenha uma versão à altura dos chamados vinhos fortificados da península Ibérica, notadamente o trio de ferro (Porto, Madeira e Jerez), já comentado em detalhes em artigos específicos neste mesmo blog, a tradição dos chamados VDN (Vin Doux Naturel) merece todo o respeito e divulgação, baseados em alguns dos mais tradicionais terroirs franceses.
O processo de fortificação conhecido como mutage na região dos VDNs, prevê a adição de aguardente vínica a 96º de álcool, ou seja, extremamente concentrada. Embora os sites oficiais falem somente em aguardente vínica, sabe-se que a origem deste álcool pode ser proveniente de outras frutas.
O mais famoso e conhecido VDN vem da região de Roussillon sob as denominações Banyuls, Maury e Rivesaltes. Na região contígua do Languedoc temos uma série de Muscats, os quais serão devidamente abordados. Já no sul do Rhône, temos o famoso Muscat Beaumes-de-Venise e o quase extinto Rasteau na versão VDN. Por fim, o Muscat du Cap-Corse, elaborado na porção norte da ilha da Córsega, praticamente desconhecido do grande público.
Roussillon
Conforme mapa abaixo, esta pequena região francesa bem ao sul da França, limítrofe aos Pirineus, norte da Espanha, elabora cerca de 90% do Vin Doux Naturel (VDN) do país. Basicamente, temos três apelações em Roussillon. Banyuls, a mais famosa. Maury, muito interessante, mas pouco difundida, e Rivesaltes, a mais extensa e menos prestigiada.
As linhas pontilhadas separam Roussillon da Espanha a sul, e Languedoc a norte
Banyuls
Este seja talvez o mais famoso VDN por ser a combinação clássica com o difícil e delicioso chocolate. Possui um terroir muito particular em termos de clima e solo. Com terraços debruçados sobre o mediterrâneo, a influência marítima é marcante, além de seu solo pedregoso à base de xisto. Neste cenário as uvas Grenache amadurecem perfeitamente, proporcionando mostos extremamente ricos em açúcares.
Solos de xisto à beira-mar
As duas apelações Banyuls e Banyuls Grand Cru, exigem 50% e 75% de Grenache Noir em sua composição, respectivamente, podendo ser complementada pelas uvas Grenache Blanc e Grenache Gris. São 603 hectares sob a apelação Banyuls e 107 hectares sob a apelação Banyuls Grand Cru, segundo dados de 2011.
O termo Rimage indica um Banyuls de caráter não oxidativo, ou seja, pouco contato com madeira e engarrafamento precoce, conservando sua cor rubi. Equivale ao estilo Ruby ou LBV nos vinhos do Porto. Já a apelação Banyuls Grand Cru, exige pelo menos trinta meses de amadurecimento em madeira, buscando um estilo mais oxidativo. É comum na região o amadurecimento do vinho em bombonas de vidro sob o sol, acelerando a oxidação e promovendo um estilo particular conhecido como Rancio.
Próximo post continuamos com Roussillon e as apelações Maury e Rivesaltes.
Dentre os terroirs da Borgonha, a Montagne de Corton é extremamente didática para mostrar os critérios de plantio das duas castas principais entre tintos e brancos, ou seja, Pinot Noir e Chardonnay. Situada na parte norte da Côte de Beaune, delimita praticamente a divisa para a chamada Côte de Nuits, berço espiritual da Pinot Noir com tintos de contos de fada.
Dois Grands Crus na mesma montanha: Branco e Tinto
Numa foto área da montanha, percebemos nitidamente as delimitações das apelações Corton-Charlemagne (branco) e Corton (tinto) de acordo com a composição de seus respectivos solos.
Na mesma montanha, composição de solos distinta
Associando as duas fotos acima, percebemos que próximo ao cume onde há um belo bosque, até aproximadamente ao meio da colina, temos o típico solo de marga (mistura judiciosa de argila e calcário) com importantes afloramentos de calcário. Neste cenário, encontra-se o terroir ideal para a Chardonnay. Deste ponto adiante, acompanhando a descida da colina, a proporção de argila volta a dominar o marga, tornando o solo um pouco mais frio. Aliado ao clima da Borgonha, este solo torna-se ideal para o cultivo da Pinot Noir, alongando seu ciclo de maturação, permitindo assim maior riqueza de aromas e principalmente estrutura tânica, entre outros polifenóis. Aqui temos o único Grand Cru tinto de toda a Côte de Beaune, chamado simplesmente de Corton.
Perfil geológico: diversidade de solos
Conforme perfil acima, percebemos os alforamentos de calcário na zona de Corton-Charlemagne. Já em camadas mais profundas, na zona de Corton (tintos), os componentes de solo como oolite e pearly flagstone podem transmitir mineralidade ao vinho. São formações geológicas relacionadas a fósseis marinhos há milhões de anos. A presença de ferro nos chamados ferruginous oolite também podem acentuar uma intensidade de cor mais profunda nos belos tintos de Corton.
Estes são apenas alguns dos detalhes do intrincado terroir borgonhês. Dentre os belos produtores destas apelações, a domaine Bonneau du Martray reina absoluta com brancos e tintos de grande longevidade. Os brancos inclusive, devem ser obrigatoriamente decantados por algumas horas. Esses vinhos são trazidos pela importadora Mistral (www.mistral.com.br) e fazem parte de um seleto grupo do que há de melhor entre os melhores de toda a Borgonha.
Recentemente, na ABS-SP (Associação Brasileira de Sommeliers) foram degustados estes dois Grands Crus do produtor e negociante Louis Jadot (também importado pela Mistral). O branco Corton-Charlemagne da safra 2004 e o tinto Corton Gréves da safra 2006 (Gréves é um dos vinhedos desta apelação). As safras não eram das melhores como 2005 por exemplo, mas a força do terroir se faz presente. São vinhos de personalidade, minerais, com boa expansão de boca, e ainda com muita vida pela frente. O tinto tem uma bela estrutura tânica, caráter masculino e ainda um tanto fechado. Precisa ser decantado para uma boa aeração. Enfim, são vinhos que ratificam na taça todo o esplendor de terroirs diferenciados como a abençoada montanha de Corton.