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Dia dos Namorados

22 de Abril de 2020

Depois de um longo e tenebroso inverno, após passar por cirurgia, vamos falar de coisas boas, não que essa não seja uma coisa boa, a operação foi um sucesso e o tempo recorde em recuperação foi mais ainda. Mas vamos falar de coisas mais dóceis, vamos falar de champagne que expressa bem esse dia de festas, alegrias, e comemorações.

Esse você não quer economizar, eis um belo motivo para tal, um Blanc de Blancs, uma cuvée especial, ou um vintage, ou até mesmo um rosé, símbolo de data que expressa um acontecimento.

comtes de taittinger

um belo blanc de blancs clássico

Blancs de Blancs

Blanc de Blancs, um vinho que expressa pureza, mineralidade, longevidade, e uma delicadeza, acima de tudo. Vai bem com Ostras, Casanova que o diga, vai bem com toda a sorte de frutos do mar, sobretudo in natura, vai bem com trufas, principalmente, envelhecida. Enfim, como entrada e pratos leves, não tem melhor.

Apesar de sua aparente fragilidade, é um dos champagnes mais longevos que existem. Acidez e a delicadeza andam juntas, num desafio permanente ao longo do tempo. Quando envelhece, é um champagne de alta gastronomia, pedindo trufas e cogumelos, para complementar seu esplendor. Comtes de Taittinger é uma referência no estilo, para ficarmos só em uma marca, numa garrafa toda estilizada.

champagne cristal

um cristal é sempre especial

Uma cuvée Especial

Pode ser um Dom Pérignon, um Cristal, um Krug Vintage. Sempre abrilhanta um jantar quando a estrela principal é o astro maior. Estrutura, persistência, e presença marcante. Tudo nele é grandioso, sua acidez, seu equilíbrio e after-taste. 

Vai bem com os pratos principais requintados como uma codorna desossada, pratos de forno, como galinha d´angola, perdiz, e toda a sorte de aves raras, com trufas, se for de uma certa idade, cogumelos, e aqueles maravilhosos, funghi porcini ou o impecável morilles, ficam ótimos.

Champagnes com esta estrutura devem durar por décadas, desmentindo que champagne não pode envelhecer. Um champagne como este, se bem adegado, aguenta fácil 10, 20, anos sossegado, pois tem acidez e estrutura para tanto. É magnífico!

champagne vintage Krug

Um Krug Vintage, dispensa apresentações

Um Vintage para celebrar os bons momentos

Os vintages são muito especiais, pois só são lançados em anos especiais, somente em média três vezes por décadas. O ano deve ser perfeito numa região de clima frio e rigoroso. Quando isso acontece, tudo está perfeito. Sua estrutura, seu equilíbrio, seu balanço final. Um vinho destes é capaz de durar por décadas e aí o prato deve ser especial.

Nestes casos, o prato deve ser de alta gastronomia, um peixe de rio bem consistente, um molho onde a alta acidez de vinho possa suplanta-lo, um beurre blanc por exemplo. Aqui os vinhos do Loire falam mais alto, alta acidez, bela estrutura, e longa longevidade.

Aqui o prato tem que ser escolhido a dedo, pois cada caso é um caso, e cada ano tem suas características próprias. E para tal, a escolha deve ser única, de acordo com as características da safra. Uma safra de clima quente, deve ser mais generosa. Uma safra de clima frio, alta tensão, mineralidade, deve ter outro perfil.

champagne dom perignon rosé

 um rosé emblemático

Vintage Rosé

Se o vintage já é difícil e raro, imagine um rosé, que só faz 15% em média da produção anual. Ele deve conter um porcentagem marcante de Pinot Noir, cepa importante que dá estrutura ao champagne. É um vinho de gastronomia, de grandes mesas, que não pode ser posto de lado. Aqui, os pratos devem conter cogumelos, trufas, pratos de forno, consistente, e porque não até admite uma carne vermelha de maneira suave, uma vitela, um carré de cordeiro de forma rosada, como deve ser.

cheesecake com frutas vermelhas

cheesecake com frutas vermelhas

Um cheesecake com frutas vermelhas sempre ficam ótimos com rosés, pois ambos, queijo e frutas, mantêm a acidez sempre presentes, equilibrando o frescor.

E já que estamos no fim, porque não uma sobremesa, para fecharmos com chave de ouro a refeição. As sobremesas com frutas vermelhas, com leve acidez, fator fundamental, neste momento. Um leve pitada de sorvete, sempre com muita acidez, para não perder o tom da música, e o desfecho será brilhante.

Enfim, um jantar todo estilizado, onde champagnes raros podem desfilar sem problemas, mostrando toda a diversidade e requinte em estilos, para todos os pratos e uma ampla e vasta gastronomia. 

brie-de-meaux

ótimo fecho de refeição

Na parte final, os queijos. Não pode ser um queijo muito poderoso. Não combina com a delicadeza do champagne. Um Brie de Meaux seria ideal, perto da região de champagne, ou delicados queijos de cabra, pois tem acidez suficiente para tal.

Talvez champagne seja o exemplo mais gastronômico às mesas, pois não é invasivo, é sempre elegante. Tem ótima acidez, fator fundamental para a boa comida, baixos taninos, outro fator problemático, deixando a comida reinar sozinha. No final, limpando sempre o paladar, deixando a boca fresca, e o palato sempre preparado para a próxima garfada, ou o último gole desta bebida mágica.

Não é a toa que Dom Pérignon exclamou. Vejam estou bebendo estrelas!

Feliz Dia dos Namorados!

Principais Apelações do Loire

7 de Abril de 2020

Na última live, senti que o pessoal ficou meio perdido fora da apelação Savenniéres e Vouvray. Resolvi então, dar umas dicas de outros estilos de vinho no vale, bastante gastronômicos e didáticos.

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Fines Bulles

Vouvray

Aqui é 100% Chenin Blanc com espumantes interessantes e os mais variados graus de doçura que a Chenin Blanc pode oferecer. Elegância e delicadeza ímpares. A produção de espumantes é expressiva e de muito boa qualidade.

Crémant de la Loire

Você tem a versão branca e rosé com as uvas Chardonnay e Chenin Blanc sempre com o método clássico, respeitando a legislação dos Crémants na França.  Para o estilo rosé, temos as uvas Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, e Pinot Noir, além de uvas locais.

Anjou, Saumur e Touraine

Fazem um esilo mais genérico, misturando uvas com vinhos brancos espumantes, brancos e tintos tranquilos, e finalmente os rosés. As uvas brancas e tintas são locais, em vinhos menos expressivos que os demais acima comentados.

Vins Blancs

Vouvray

A apelação Vouvray novamente para uma série de vinhos brancos de alta qualidade com os mais diversos níveis de açúcar residual sempre 100% Chenin Blanc.

Uma série de apelações de Anjou e Touraine

Vinhos que fazem vários estilos com as mais variadas castas da região. Geralmente genéricos e sem grande expressividade.

Uma série de Muscadets

Esse não é espoco de nossa apresentação baseada em Chenin Blanc. Aqui a uva Muscadet, também conhecida como Melon de Bourgogne, é que faz uma série deles, entre os destaques o Sévre et Maine com passagem sur lies e Gros Plants bastante cortante e mineral. Ideal para anchovas, alices, sardinhas e cavalas, peixes de forte personalidade.

Coteaux du Layon, Coteaux du Layon Villages e Coteau du Layon Premier Cru Chaume

Não é à toa que deixe por último os Coteaux du Layon em sua verão Moelleux, ou seja, levemente doce, mas com uma acidez sempre presente. São os vinhos das entradas mais refinada e de certa untuosidade como pâtes, rilletes e toda a sorte de caça mais pastosa.

Eles se apresentam em três níveis crescentes de concentração e qualidade, sendo último Chaume, quase uma apelação própria.

As apelações Savennières, Roche aux Moines, e Coulée de Serrant, com a uva Chenin Blnc, já foram comentadas posteriormente, no último artigo.

Vins Rosés

Chinon, Saint Nicolas de Bougueil, e Crémant de la Loire

Podem ser interessantes num estilo mais seco, sempre com a presença da Cabernet Franc, a qual se dá muito bem no médio Loire.

Os rosés d´Anjou e uma série de Coteaux e Touraines

Uma série de rosés insipientes, com leve açúcar residual, e sem grande expressão gustativa. Procure fugir destas apelações.

Cabernet d´Anjou e Saumur

São baseados nas uvas Cebernet Sauvignon e principalmente na Cabernet Franc. São mais secos e de melhor persistência e personalidade.

Vins Rouges

Fuja dos Anjous e Touraines, a não ser que for um Anjou-Villages, à base de Cabernets, mais exclusivos e mais secos.

Chinon, Saint Nicolas de Bourgueil, e Saumur-Champigny

São os melhores estilos de Cabernet Franc do Loire, especialmente o Saumur-Champigny, mais encorpado. Os estilos são delicados, sutis, e minerais.

Uma curiosidade apelação Anjou-Villages Brissac

Uma apelação diminuta baseada nas Cabernets. Um tinto de guarda com persistência e estrutura acima da média. Difícil de encontrar.

Vins Moelleux e Liquoreux

Os grandes Coteaux du Layon, Bonnezeuax , Quarts de Chaume, e eventuais Savennières, são os melhores no estilos doce ou moelleux. São vinhos atacados pela Botrytis, mas conservam uma acidez destacada. São ideais com torta de frutas como figos, damascos, amêndoas, marzipã, e patês de foie gras, queijos mais pronunciados como Mairolles e Livarot são indicados na harmonização.

Sem contar os grandes Vouvrays que podem ser espumantes ou com vários graus de açúcar residual. Atenção especial a eles à mesa, pois são muito delicados e sutis. A linha asiática com pratos agridoces podem ser um bom começo. Que tal um crème brûlée de salmão, por exemplo, bastante exótico.

Grandes Chenins: Savennières e Vouvray

5 de Abril de 2020

São dois terroirs distintos, mas igualmente diversos e brilhantes, nos estilos secos até intensamente doces porém, sempre marcados por uma notável acidez, equilíbrio e longevidade. Digo distintos, pois geologicamente  Savennières vem do maciço armoricano, carregado de granito e xisto, rochas vulcânicas, e outro do bacia parisiense, Vouvray, rica sobretudo em calcário.

vouvray terroir

terroir: Vouvray

Neste esquema, percebemos nitidamente a força do calcário em rocha, promovendo habitações (troglodytes) e mesmo caves para armazenar vinhos e espumantes. Por cima, junto às vinhas há camadas de pedras (sílex), areia  e argila.

Enquanto o primeiro, mais robusto, mais marcante, mais mineral, como deve ser um grande Savennières, o segundo é mais delicado, sutil, e de aparente fragilidade, principalmente em seu estilo mais seco, o grande Vouvray, o mais alemão da família francesa, digo isso pessoalmente.

vouvray styles

vários estilos de Vouvray

Enquanto o estilo Savennières é mais alsaciano, mais pungente e presente, inclusive no teor alcoólico, os vinhos de Vouvray são delicados e sutis com pouca alcoolicidade. Isso num estilo mais seco que Vouvray prefere chamar de “Sec Tendre”. No entanto, o estilo Sec vai até 4 g/l, já o estilo Demi- Sec ou Tendre vai de 4 a 4 a 12 g/l, o estilo Moelleux de 12 a 45 g/l, e finalmente o estilo Doux, mais de 45g/l de açúcar residual. Sempre com muita delicadeza.

vouvray huet boug e le montuma das joias do Domaine Huet

A versão doce das joias de Huet. São companheiros ideias para um bom foie gras e pâtes de caça. Num concurso de Decanter, anos atrás, foi feito degustação às cegas de grandes brancos da França. O Huet Vouvray la Haut Lieu 1947 só perdeu para o fantástico Yquem 1921.

Savennieres Les Clos Nicolas Joly

álcool perfeitamente equilibrado com a estrutura

Embora com seus 15% de álcool, Les Vieux Clos é um Savennières diferenciado onde Nicolas Joly, aproveita ao máximo a maturação tardia da Chenin Blanc (também conhecida localmente como Pineau de la Loire), alongando seu ciclo por tem por prolongado. Com isso, a uva ganha açúcar e estrutura para enfrentar anos a fio de guarda.

savennieres terroir

Savennières: terroir

Aqui, o terroir é dominado pelo xisto e granito, vindo do maciço armoricano. Enquanto, as apelações mais genéricas de Savennières temos um pouco de areia e solos aeólicos, temos mais xisto próximo das apelações mais famosas como Roche aux Moines e Coulée de Serrant. Já em Coulée de Serrant temos a presença de Rhyolite, uma espécie rara de granito vermelho.

Os estilos Savennières

Preferencialmente e maciçamente, temos os estilo seco que não passa de 8g/l de açúcar residual. Mais raramente, temos o demi-sec de8 a 18 g/l (off-dry), depois o moelleux de 18 a 45 g/l (semi-sweet), e finalmente o estilo doux, muito raro, passando de 45 g/l. Sua acidez contudo, não deixa perceber o açúcar residual no estilo seco, austero e firme em acidez. Envelhece muito bem.

Na gastronomia local, peixes de rio com beurre blanc vão muito bem no estilo seco. A Blanquette de Veaux e alguns pratos como pato, podem ser surpreendentes. Já os estilos Moelleux e Demi-Sec, muito mais raros, podem ir bem com Vieiras, Lagostas, e queijos mais pronunciados com Maroilles e Livarot.

vouvray espumante brut

Vouvray faz belos espumantes pelo método clássico

O estilo Vouvray

Vouvray vai além. Dos estilos de doçura, Vouvray faz belos espumantes no estilo clássico (Méthode Traditionnelle) com vários graus de doçura, além do tradicional Pétillant, um estilo raro onde as bolhas são muito sutis com graus de doçura variado. Precisa ter no máximo a pressão de 2,5 bars.  Domaine Huet faz um Pétillant divino!

Seus vinhos ficam pelo menos três anos sur-lies, lentamente amalgamando as fines bullles no vinho. Sua cuvée 2009 ficou seis anos sur lies. Um vinho altamente gastronômico, devido à sutileza das finas bolhas.

vouvray petillant huet

Um espumante gastronômico e diferenciado pelas sutis borbulhas

A capacidade de um Vouvray conservar um certo açúcar residual (off-dry) e conservar borbulhas, desde um sutil Pétillant até os espumantes doces, lembrando mel e marmelo, são notáveis.

Enfim, como no início do artigo, um estilo mais austero, seco e encorpado de Chenin Blanc dado pelo xisto, podendo chegar a graus de doçura, devido ao ataque da Botrytis Cinerea. No segundo exemplo, um estilo mais delicado de Chenin Blanc, onde a sutileza e leve doçura, produz um Chenin aparentemente delicado e sutil. Vai além disso, sua capacidade de produzir borbulhas sutis, podem conferir vários graus de doçura no espumante.

Ele vai bem com comidas asiáticas e toques agridoces com toda a nuance que o alimento pode fornecer. Enquanto isso, um Savennières pode pedir pratos mais robustos, onde a força da acidez e sua untuosidade conseguem sabores mais pronunciados.

No geral, os Chenins de Savennières tem mais açúcar residual, mais álcool, mas não se percebe pela mineralidade e acidez brutal. Já os Chenins de Vouvray tem um açúcar ligeiramente menor, menos alcóolicos, mas se percebe um certo off-dry e delicadeza, própria destes vinhos de enorme longevidade.

Grandes vinhos, grandes safras.

1 de Fevereiro de 2020

O trinômio produtor, vinhedo e safra é levado muito a sério na Borgonha, mas pode facilmente ser estendido a outras regiões vinícolas. Às vezes fico me perguntando porque os vinhos de nosso Presidente são sempre especiais. Entre outros cuidados que ele toma na hora da compra, é prestar atenção nas grandes safras. E isso faz uma enorme diferença, pois o trinômio atinge a perfeição. Foi o que aconteceu num belo encontro no restaurante Mani em Pinheiros.

bela combinação!

Eis o primeiro trinômio: Coche-Dury, vinhedo Perrières, safra 96. Em estilo, talvez somente Roulot para peitar os Meursaults de Coche-Dury. A perfeição de seus vinhos começa nos vinhedos, parcelas minúsculas muito bem trabalhadas. Este Perrières, o mais emblemático Premier Cru de Meursault tem apenas meio hectare de vinhas plantadas em 1950, 70 e 05. A vinificação é em madeira com um bom trabalho de bâtonnage, evitando a oxidação dos vinhos. Os vinhos mais relevantes como Perrières passa de 15 a 22 meses em barricas, sendo mais de 50% novas. No entanto, o casamento do vinho e barrica é sempre harmonioso.

Este 96 estava perfeito. Tem 99 pontos e só perde para si mesmo na safra 2015. Porém, para um branco de 24 anos, o vinho estava deslumbrante. Evoluido, mas não oxidado. Os aromas eram de uma finesse única com toques de frutas secas, frutas amarelas maduras, especiarias delicadas e um mineral que se mistura a um fino tostado. A boca é impactante pela bela acidez que dá sustentação ao vinho, mas sem ser agressiva. O equilíbrio é perfeito, terminando numa persistência aromática extremamente expansiva. Fez um belo par com o tempurá de camarão e quiabo, guarnecido por uma mousse de ervas. O frescor do vinho contrabalançou muito bem a gordura do prato e os aromas sutis de ambos valorizaram o conjunto. 

img_7269as safras fazem a diferença!

Nemhum dos dois acima é Premier Grand Cru Classé, mas as safras de ambos fazem a diferença. O Montrose 90 fizeram o vinho e jogaram a fórmula fora. Um vinho sensacional que em certos momentos lembra ser um Pauillac, mas sem o mesmo peso. Esta safra particularmente tem indícios de Brett em boa parte das garrafas, mas esta garrafa em especial estava perfeita. Tinha um sutil toque de estrebaria, mas muito bem mesclado à fruta, especiarias e caixa de charutos. Já está delicioso, mas aguenta bons anos em adega.

Já o Palmer 83 foi o tinto do almoço. Ainda tem um platô estável de evolução, mas o vinho é delicioso. Não sei se é melhor que o Palmer 61, um vinho mítico, mas com certeza desbancou seu rival maior, o Margaux 83. Seus aromas lembravam de alguma maneira o notável Haut-Brion, um Premier Cru de grande distinção. Em todo caso, os toques de sous-bois, frutas escuras, alcaçuz, e traços florais, inundavam a taça. Não é muito encorpado, mas essa comuna prima pela elegância. Taninos finíssimos, acidez correta e um final de boca muito longo. Um Margaux de livro!

img_7270briga de titãs!

Definitivamente, tenho que rever minhas impressões sobre o Margaux 82, que achava um pouco abaixo dos demais Premiers desta safra. Mais uma garrafa perfeita onde o Margaux 82 tem criado aromas sedutores e uma boca mais harmoniosa, sobretudo em seus taninos. Foi páreo duro para o grande Mouton 82. Um vinho de 100 pontos em mais uma garrafa perfeita. A diferença sutil entre os dois é que o Mouton tem um pouco mais de corpo e de estrutura tânica, mas está delicioso de ser provado. A caixa de charutos, ervas e uma fruta madura deliciosa, dá grande vivacidade ao vinho. Garrafas como esta, podem ser guardadas por vários anos em adega.

pratos muito bem executados

À parte dos belos vinhos, o almoço no Mani foi muito bem elaborado com pratos de grande sabor como este polvo com arroz bomba, o mesmo utilizado na paella e executado com mestria pela Chef Helena Rizzo. A leitoa assada no ponto com farofa e verdura refogada lembrou a boa cozinha mineira de raiz.

img_7265belo vinho da importadora Cellar

Para quem quer provar um Grand Cru da Borgonha sem desembolsar uma pequena fortuna, este Charmes-Chambertin está no ponto. Provado a título de curiosidade, mostrou ser um vinho agradável e pronto para ser tomado, aromas francos e de boa intensidade, taninos presentes e macios. Uma safra jovem e não clássica, onde o vinho se desenvolve mais rapidamente. Muito abordável já na juventude. Outros bons exemplares na Cellar. Falar com Malizia!

Passando a régua, nos resta agradecer a imensa generosidade e fidalguia de nosso Presidente, a companhia de amigos, além de belos vinhos e ótima comida. Coisas simples que fazem reforçar e perpetuar as amizades. Que Bacco sempre nos proteja!

Saladas Clássicas

25 de Janeiro de 2020

Este é o nongentésimo (900°) artigo de Vinho Sem Segredo após dez anos na mídia. Aproveitando o verão, falaremos de saladas clássicas de boa consistência. Aquelas que por si só já são uma refeição. Geralmente incluem alguma proteína, podendo dispensar outros pratos, por ser uma refeição completa. É lógico que a escolha do vinho é fundamental para fecharmos o assunto por completo.

salada de bacalhau

Salada de Bacalhau

É quase uma versão da tradicional bacalhoada servida fria. Os ingredientes são muito parecidos com o bacalhau em lascas, batatas, azeitonas, pimentão vermelho facilitando a digestão, além do azeite e temperos clássicos. Neste caso, um bom Chardonnay relativamente encorpado e com alguma passagem por barrica pode acompanhar muito bem, sobretudo se for realmente o único prato da refeição. Alvarinhos mais encorpados e de personalidade costumam dar certo.

Outras alternativas menos óbvias são os belos Riojas clássicos brancos como o grande Tondonia com a uva Viura. Ele tem passagem por madeira e os aromas são maravilhosos. Alguns bons vinhos laranjas do mercado do leste europeu, terroir específico para este tipo de vinho, são boas indicações. Para quem não sabe, o vinho laranja é um branco vinificado em contato com as cascas, fato inexistente nos brancos modernos de um modo geral. Este tipo de vinho tem estrutura, aromas e sabores, muito convidativos ao bacalhau.

salada niçoiseSalada Niçoise

Há algumas versões, mas a original vai tomates, azeitonas, ovo cozido, atum e/ou anchova, azeite, como principais ingredientes. O nome vem da cidade de Nice, Provence. Naturalmente, os brancos provençais são o casamento natural, além dos elegantes rosés da região. Brancos italianos da casta Vermentino são boas pedidas. Outros brancos italianos como Fiano de Avellino, Greco di Tufo e Verdicchio, são alternativas interessantes. Do lado português, o Dão branco com a casta Encruzado e os brancos da Bairrada com Arinto e Fernão Pires (também conhecida como Maria Gomes), completam a lista.

Se a opção for por um tinto, que seja leve e com baixos taninos. Gamay, Pinot Noir, e um Barbera bem frutado e fresco, são os mais indicados.

Caesar saladCeasar Salad

Salada criada por um imigrante italiano que tinha restaurantes no México e Estados Unidos. Há várias versões da salada que foi incrementada ao longo do tempo. A original diz ter alface, croutons, vários temperos como molho inglês, limão, azeite, alho, mostarda, pimenta, além de anchovas e parmesão. Outras versões admitem bacon ou pedacinhos de frango grelhado.

Aqui novamente o Chardonnay vai bem, mas não aquele encorpado como no caso da salada de bacalhau. Um Chardonnay mais leve, sem passagem por madeira, tem mais afinidade. Os brancos frescos de Finger Lakes, uma AVA americana a noroeste de New York, próxima ao loga Ontário, é uma boa pedida para os americanos. Seus Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling são bastante frescos. Um bom branco chileno dos vales frios deste país como Casablanca, Limari ou San Antônio, são boas opções.

Se a pedida for por espumantes, os brasileiros são ótimas opções. Dentre Cavas e Champagnes, opte por aqueles mais simples, sem muito contato sur lies. O frescor e a juventude falam melhor com o prato.

tabuleTabule

Tabule ou Taboouli como prato em si é mais um acompanhamento. Como ingredientes além do trigo, temos tomates, salsinha, suco de limão, hortelã, azeite e cebola. Uma salada bem fresca, perfeita para acompanhar quibes e esfirras. Como é um conjunto muito de verão, o vinho vai ser direcionado para os itens de maior consistência. No caso de quibes e esfirras, geralmente de carne, um tinto é mais adequado. Precisa ser um tinto aromático e delicado ao mesmo tempo. Aqui a Cabernet Franc entra muito bem com os típicos vinhos do Loire, Chinon e Bourgueil. Outras opções naturais seriam a Gamay (um bom Beaujolais) ou um Pinot Noir delicado. Pode ser um bom Borgonha despretensioso ou um neozelandês com madeira comedida. 

Como alternativa, vinhos rosés são boas opções, mas não muito delicados. Precisa ter um pouco de consistência, assim como os rosés do Rhône. Além deles, os rosés espanhóis são muito indicados, sobretudo os de Navarra. Geralmente, os rosés à base de Grenache tem a consistência certa para o prato.

Essas considerações valem também para o estimulante Steak Tartar. A diferença dele para o tabule com esfirras e quibes é que a proporção de carne em relação à salada é maior.

Quanto às saladas de um modo em geral, a grande preocupação é a acidez, notadamente do vinagre. Procure maneirar no uso do vinagre e se possível, substituir por algo mais delicado como o vinagre balsâmico, por exemplo. De resto, é se divertir e aproveitar o verão.

Vinhos Fortificados

22 de Janeiro de 2020

Se há um vinho que a França não tem excelência, este é o vinho fortificado. Embora haja o famoso Banylus, vinho que teoricamente combina perfeitamente com chocolate, sem esquecer outros do sul da França, além dos fortificados do Rhône, notadamente o Muscat de Beaumes de Venise, esta especialidade é da Península Ibérica. Espanha e Portugal esbanjam talento quando se trata deste tipo de vinho. Um vinho em que algum momento de sua elaboração é acrescentada aguardente vínica, o que lhe confere características específicas.

vinho do porto tipos

Vinho do Porto

O fortificado mais famoso do mundo nasce talvez na mais bela região vinícola, a região do Douro, no interior de Portugal, caminhando da foz do Douro para o continente até a fronteira espanhola. Um vinho que nasce do acaso, onde os ingleses no afã de transportar o vinho para suas terras, esbarrou no difícil trajeto onde o produto passava por várias dificuldades, culminando na arruinamento do mesmo. Trajeto difícil, demorado, com muita variação de temperatura. O jeito foi colocar um pouco de aguardente no vinho para sobreviver às penosas viagens. Com o tempo, eles perceberam benefícios e aceitação popular do mesmo. Contudo, a transição não foi fácil até chegarem na maneira ideal de fortificação. Isso deveu-se à famosa colheita de 1820, onde as uvas atingiram um tal grau de maturação em que o vinho depois de pronto, teve um açúcar residual considerável, além de alto teor alcoólico. Esta colheita serviu de inspiração, sugerindo um fortificação relativamente no inicio da fermentação. Passado este período de transição, os vinhos do final do século dezenove começaram em grande escala a serem elaborados assim como os conhecemos atualmente. Um vinho de alta graduação alcóolica, por volta dos vinte graus, e com açúcar residual considerável, em torno de pouco mais de cem gramas por litro. 

No esquema acima, temos o LBV e o Vintage como Portos que devem envelhecer em garrafa, tendo pouco contato com madeira em seu amadurecimento. Já os Portos com indicação de idade (10, 20, 30, 40 anos) e o Porto Colheita têm grande contato com madeira, chegando prontos para o consumo, embora possam ser guardados sem problemas.

vinho madeira uvas nobres

as quatro uvas nobres da Ilha da Madeira

Vinho Madeira

Outro belo fortificado português onde a fortificação dá-se em períodos variados ao longo da fermentação. De acordo com as castas nobres, Sercial, Verdelho, Boal e Malmsey (Malvasia), os teores de açúcar são crescentes, respeitando o momento da fortificação do mosto. No caso do Sercial, um excelente aperitivo, muito apropriado a patês de caça, a fortificação dá-se praticamente no final da fermentação, onde os açucares praticamente foram todos fermentados. Portanto, é o que chamamos de Madeira seco. Neste raciocínio, as uvas citadas de maneira crescente são cada vez fortificadas mais cedo, sobrando mais açúcar residual no final do processo. O ápice é o Madeira Malmsey, um vinho com nítida doçura, mas com um frescor deslumbrante, equilibrando a doçura do vinho. Tortas de banana, damasco, e de frutas secas em geral, combinam muito bem com os tipos Boal e Malmsey. Um vinho muito menos difundido mundo afora que o Vinho do Porto, embora sua qualidade e tradição não devam nada a seu rival duriense. 

JMF-Moscatel de Setubal e Roxo

José Maria da Fonseca: referência na denominação

Moscatel de Setúbal

Outro grande fortificado português, é elaborado com as uvas Moscatel de Setúbal, também conhecida como Moscatel de Alexandria, além da Moscatel Roxo, bem mais rara. Sua fortificação ocorre relativamente no inicio da fermentação, deixando considerável açúcar residual. Uma particularidade em sua elaboração é o contato por alguns meses do vinho com as cascas da uvas, fornecendo personalidade e características únicas em termos de aromas e sabores. Os melhores Moscateis podem envelhecer anos a fio, sobretudo aqueles que passam longos períodos de maturação em toneis de carvalho. Os doces portugueses harmonizam muito bem com este tipo de fortificado de uma maneira geral. 

carcavelos

importado pela Adega Alentejana

Carcavelos

Um fortificado quase extinto e esquecido dos arredores de Lisboa. Muito apreciado e divulgado pelo Marques de Pombal, as principais uvas que o compõe são Ratinho, Galego Dourado e Arinto, além das tintas Castelão e Preto Martinho. Um vinho de cor topázio com aromas amendoados, de certa semelhança com o Vinho Madeira. Parece que está havendo um certo renascimento do vinho ainda de forma tímida, reativando vinhas abandonadas, além de novos plantios. De todo modo, um patrimônio português para este tipo de vinho que deve ser preservado tanto quanto possível. 

Há outros fortificados portugueses locais, próprios de cada região, mas os quatro acima descritos são os principais pilares da vitivinicultura portuguesa para vinhos generosos.

jerez oloroso

Bodegas Tradicion: os melhores Jerezes

Espanha

Não há dúvida que o grande fortificado espanhol é o Jerez ou Sherry como prefere os ingleses. Um vinho milenar que passou por várias culturas até os dias de hoje sem perder suas origens. A uva é a Palomino e os grandes Jerezes são secos. Portanto, a fortificação ocorre após o termino da fermentação. A peculiaridade deste vinho é na sua elaboração com a presença ou não de um véu de leveduras chamada de flor que se forma naturalmente quando o vinho estagia em pipas ou Botas, um termo local. Se a formação de flor é intensa e vigorosa dá-se origem ao chamado Jerez Fino, um vinho extremamente seco, estimulante, e um excelente aperitivo para petiscos variados, localmente chamados de Tapas. Se a localidade deste Jerez Fino for a região de Sanlúcar de Barrameda, o Fino toma o nome de Manzanilla. Se a flor não for tão vigorosa e tender a morrer no processo, estamos diante de um Jerez Amontillado, um vinho mais encorpado e complexo. Por fim, pode não haver a formação de flor. Então, o vinho é fortificado e sofre em envelhecimento oxidativo, sem a proteção da flor. Estamos diante de um Jerez Oloroso, mais encorpado ainda e de aromas intensos.

Existem Jerezes doces com os termos Pale Cream, Medium, e Cream, em ordem crescente de doçura. Partem de Jerezes secos onde são acrescentados vinhos doces naturais da região com as uvas Pedro Ximenez ou Moscatel. Não têm o mesmo prestigio que os Jerezes secos acima comentados. 

Por fim, o outro extremo de Jerez, um vinho intensamente doce e untuoso chamado Pedro Ximenez, elaborado com a uva homônima. Essas uvas além de ser colhidas bem maduras, são soleadas em esteiras até virarem passas, aumentando muito a concentração de açucares. A fermentação do mosto é muito lenta e logo há a fortificação. Os vinhos são envelhecidos certo tempo em botas (pipas de madeira). Fazem um contraponto muito interessante com sorvetes de creme, baunilha, ameixas, ou banana, casando bem os sabores e principalmente, tendo um contraste de texturas  e temperaturas bem interessantes. O vinho untuoso cai como uma calda sobre o sorvete.

Andalucia wine map

Andaluzia: no sul da Espanha, terra de Fortificados

Outras denominações

No sul da Espanha, além de Jerez, região mais famosa, temos as denominações Condado de Huelva, Málaga, e Montilla-Moriles, na produção de vinhos fortificados. Condado de Huelva é a menos importante, apenas de interesse local. Já Málaga é famosa por seus Moscatéis e Montilla- Moriles é uma espécie de rival para os vinhos de Jerez. É uma região mais continental e de maior altitude quando comparada à região de Jerez. Aqui a principal uva é a Pedro Ximenez e não a Palomino. Os tipos e estilos são parecido com os vinhos de Jerez com um lado mais frutado e menos oxidativo. No que diz respeito ao Pedro Ximenez vinificado em doce e de forma semelhante ao PX de Jerez, Montilla-Moriles dispõe de melhores exemplares, mais elegantes e equilibrados por uma questão de terroir no que diz respeito ao cultivo da Pedro Zimenez.

marsala vergine

O esquecido Marsala

Do lado italiano, temos o clássico Marsala que já teve seus momentos de glória. Criado no século dezoito na Sicília, o vinho está praticamente esquecido nos dias atuais. Tecnicamente o melhor Marsala é chamado de Vergine, sendo bem seco. O termo Vergine está relacionado no processo de elaboração onde a fortificação dá-se no final sem a maculação do vinho, ou seja, sem adição de mosto cotto e nem mistela. O primeiro termo é o mosto de uvas cozido que fornece várias cores ao vinho dada a proporção do mesmo no vinho. A mistela é um preparado de mosto fresco com aguardente vínica, responsável pelo nível de doçura do vinho. Voltando ao Vergine, este vinho pode ser longamente envelhecido em madeira, ganhando boa complexidade. Lembra em certo ponto o Jerez, porém não tão seco. Existem várias uvas locais brancas e tintas que participam de sua elaboração. Algumas delas são Grillo, Catarratto, Inzolia, Nero d´Avola e Nerello Mascalese. Este fortificado pode ser um bom acompanhamento para a famosa sobremesa Tiramisu, e até mesmo participar da receita.

Os fortificados são vinhos de alta graduação alcoólica, por volta de 20 graus. São vinhos muito interessantes com patês, queijos curados, e pratos de difícil abordagem para os chamados vinhos de mesa. Tente pelo uma menos uma vez  combinar um Porto Tawny de certo envelhecimento ou um Madeira do tipo Boal ou Malmsey com foie gras. É lógico que esta é uma combinação clássica com Sauternes, mas vai ser a enésima vez que você faz isto. Experimente trocar um pouco de açúcar residual por um pouco mais de álcool. Você vai se surpreender!

Sugestões para as Festas

22 de Dezembro de 2019

Inúmeros restaurantes preparam seus menus para esta época do ano com o Natal e Ano Novo inspirando pratos diferentes ou então as receitas clássicas. Tomando como exemplo o renomado Vinheria Percussi, vamos harmonizar alguns pratos sugeridos que podem ser encomendados com antecedência. http://www.percussi.com.br

vinheria percussi caponata siciliana

Caponata Siciliana

Uma entrada típica italiana parecida com a versão francesa de Ratatouille. São vários legumes harmonizados com um lado realtivamente ácido e picante. Azeitonas e alcaparras fazem parte deste prato. Ótima opção para o verão.

Aqui podemos ficar nos espumantes, tão comuns nestas festas e que deveriam ser comuns em todo o ano. Podem ser pelo método Charmat, frutados, florais e com ótima acidez. É evidente até pelo caráter provençal do prato que um belo rosé do sul da França cai muito bem, embora a Itália tenha exemplares na Toscana e também em Abruzzo. Só para exemplificar, Cerasuolo d´Abruzzo.

vinheria percussi pansotti com nozes

Pansotti in salsa di Noci

Massa típica recheada com ricota e espinafre envolta em molho cremoso de nozes. Um caso clássico para vinhos brancos, sobretudo os Chardonnay com textura mais rica e com aromas harmonizado com as nozes. O vinho deve ser jovem e com madeira comedida para encarar a acidez da ricota. Um bom Vermentino da Toscana pode ir muito bem. Como exemplo, Antinori tem um ótimo exemplar de Bolgheri importado pela Winebrands.

anselmi capitel croce

Grande elegância com a uva Garganega no Veneto

Baccalà ao forno con patate dolci e porri

Brandade de bacalhau com allho-poró sobre purê de batatas doces. Um prato de textura rica, toques adocicados e os sabores do bacalhau. Um bom alvarinho de textura mais rica com Soalheiro da Mistral ou alguns exemplares do produtor Anselmo Mendes da importadora Decanter podem acompanhar muito bem. Do lado italiano, o excelente produtor do Veneto, Roberto Anselmi, faz um branco de rica textura com a uva Garganega chamado Capitel Croce. Vale a pena provar. Importado pela Decanter.

fonterutoli chianti classico

um dos mais confiáveis Chianti Classico

Arrosto di maialino ao forno

Um pernil de leitãozinho assado no forno com mel e castanhas. Pode ser acompanhado com farofa e eventualmente arroz também. É um prato que pode ir com brancos, mas vamos dar opções de tintos neste caso. Acho que um bom Rioja mais tradicional com a uva Tempranillo é uma boa pedida. A importadora Vinci traz o Viña Real Crianza que tem bom poder de fruta e toques elegantes de barrica. Do lado italina, eu iria para um confiável Chianti Classico do produtor Fonterutoli, importado para Grand Cru.

Outras dicas

Nessa época do ano a carne de porco é muito versátil e muito consumida. Para aquela leitoa de forno com pele crocante e pururucada, Portugal nos ensina que os espumantes vão bem cortanto a gordura do prato. Vá de espumantes elaborados pelo método clássico, pois são mais estruturados e ricos para o prato. Espumantes portugueses da Bairrada ou de Lamego, encostado no Douro, são ideais.

Para as bistecas e outras carnes defumadas de porco, os alemães e alsacianos vão de Riesling com seus característicos traços minerais. Conforme os acompanhamentos do prato em termos de doçura, esses vinhos calibram bem os açucares, conforme sua classificação no rótulo: Kabinett, spatlese, auslese, beerenauselse, em ordem crescente de doçura.

img_7149pernil com farofa de castanhas e chutney de abacaxi

Quando o assunto é pernil ao forno, podemos admitir tantos tintos como brancos. A fibrosidade da carne do pernil e seu intenso sabor permite uma ampla gama de vinhos. Pessoalmente, acho que a península ibérica sai na frente. Tintos espanhóis com as uvas Tempranillo e Garnacha vão muito bem. Do lado português, Tintos do Douro e do Dão são ótimos parceiros. O Dão gera vinhos mais elegantes para receitas mais sutis, enquanto o Douro vai melhor com sabores mais intensos. No caso do pernil acima, acompanhei com um Garnacha que se mostrou muito versátil. Embora houvesse o chutney de abacaxi, o mesmo estava muito equilibrado se acomodando bem com o lado macio e frutado da Garnacha.

Para os vinhos brancos, os bons exemplares do Douro, Dão e Alentejo, fazem grandes parcerias. No caso espanhol, uma combinação sensacional é um belo branco da Viña Tondonia com seus aromas complexos e elegantes.

No mais é sempre adequar o prato com a estrutura do vinho. Vale sobretudo o gosto pessoal e arriscar de vez em quando combinações mais ousadas. Mais do que acertar é aprender com os erros. O resto é pura diversão. Boas Festas!

 

Champagne Rosé

19 de Dezembro de 2019

Muita gente tem dúvidas de como se elabora o Champagne Rosé, imaginando que há algo sofisticado neste tipo de processo. No entanto, o método é simples, chega a ser amador se pensarmos na elaboração de vinhos rosés mundo afora. É exatamente misturarmos vinhos brancos e tintos em proporções adequadas até encontrarmos a tonalidade ideal para o rosé. É bom enfatizar que este método é proibido na elaboração de rosés pelo mundo, pelo menos nos vinhos sérios e sujeitos às diversas denominações de origem, de acordo com cada país, mas para o champagne e espumantes é  válido.

img_7029Champagne Cristal, o Rosé mais bem pontuado no mundo!

um Rosé gastronômico para as grandes mesas

Voltando ao champagne, tudo é feito no chamado vinho-base onde ocorre o que conhecemos por assemblage das uvas, safras, e as diversas parcelas cultivadas e separadas para montar a cuvée. Misturando proporções adequadas de vinho tinto e branco locais, chegamos ao método Rosé d´Assemblage. É um expediente extremamente difundido na região com praticamente todos os champagnes rosés elaborados por este método. Mais à frente, falaremos de um outro método mais sofisticado, elaborado por muito poucos produtores e Maisons.

A primeira Maison que criou o champagne rosé fez 200 anos em 2018, completando dois séculos de existência, foi a poderosa e famosa Maison Veuve Clicquot. Mais uma invenção brilhante de uma das grandes Damas desta apelação, a viúva Clicquot Ponsardin. Ela simplesmente juntou cerca de 15% de vinho tinto de Bouzy, uma das vilas mais famosas de Reims para o cultivo de Pinot Noir, na cuvée com vinhos brancos. É bem verdade que houve uma tentativa poucos anos antes da própria Maison, macerando um pouco de uva tinta para tingir o mosto, mas os resultados não foram satisfatórios. A cor não ficou adequada e surgiu um nível de amargor desagradável. Chamou-se na época oeil-de-perdrix, uma alusão à cor dos olhos da ave.

champagne tipos 2018

números entre europa e terceiro mundo

Pelos números acima, na média, 80% do champagne em volume é o non millésime, carro-chefe de cada Maison. Já em valores, a média fica em torno de 70%. Vejam as cuvées de prestigio que representam apenas menos de 5% na média em volume, ao passo que em valores, representam em torno de 16%.

Atualmente, a produção de champagnes rosés gira em torno de 10%, atendendo percentualmente determinados mercados. Podemos dizer, que os países do Novo Mundo têm uma predileção um pouco mais destacada pelo produto.

O outro método de elaboração muito menos difundido e de maiores cuidados é o Rosé de Saignée ou rosé de maceração. Aqui sim, maceramos as uvas tintas, geralmente Pinot Noir, por algumas horas até tingir adequadamente o mosto, prestando atenção na extração de taninos. Isso faz parte do vinho-base e do assemblage para compor a cuvée que será posteriormente espumatizada. 

Rosé Phillipponat  importado pela Clarets

Dois Rosés acima trazidos pela importadora Clarets da mesma Maison Phillipponat. O Royale Reserva da esquerda é um rosé de maceração com alta porcentagem de Pinot Noir. Já a cuvée 1522 é um extra-brut de assemblage com leve predominância da Pinot Noir no corte. http://www.clarets.com.br 

Em linhas gerais, não há diferença de qualidade no champagne rosé em relação aos métodos utilizados. É mais uma questão de gosto e conceito. Nos Rosés de Saignée temos geralmente uma cor mais intensa, uma vinosidade maior, e uma intensidade de sabor mais acentuada. Já nos Rosés d´Assemblage, os aromas são mais tênues, assim como a cor. 

Como o Rosé de Saignée  é quase uma exceção, vamos a algumas Maisons que utilizam este método: Laurent-Perrier (pioneira neste método), Roederer (Cristal), Drappier, Philipponnat, Larmandier-Bernier, Duval-Fleury, entre outras. Alguns desses produtores usam um método misto onde há adição de vinho branco, normalmente Chardonnay como por exemplo, Maison Louis Roederer.

img_7013outro Rosé de destaque

um Rosé mais delicado para entradas e pratos refinados

Rosé d´Assemblage

Método altamente difundido na região, consite em juntar vinho branco com vinho tinto, Pinot Noir, na proporção de 5 a 20%, a critério do produtor. Esses tintos são os chamados Coteaux Champenois ou Rosé des Riceys da sub-região de Aube, ao sul de Champagne.

Rosé de Saignée

Neste método o vinho tinto é elaborado com uma maceração das cascas no mosto entre 8 e 12 horas (em alguns casos pode ser mais), obtendo mais cor e mais vinosidade na cuvée. Temos somente uvas tintas, 100% Pinot Noir, salvo raríssimas exceções onde há  adição de Chardonnay na cuvée, caso do champagne Cristal.

Gastronomia e Champagne Rosé

Como aperitivo, os rosés com forte proporção de Chardonnay no corte, fornecendo frescor ao conjunto, vão muito bem como jamon, presunto cru, sejam espanhóis ou italianos. San Daniele do Veneto, tem a delicadeza perfeita. Entradas com azeitonas e tomates também acompanham muito bem. 

Os rosés delicados e não muito secos vão bem com comidas indianas ou chinesas com pratos agridoces e ricos em especiarias suaves.

Os rosés não muito secos, macios, e bem estruturados com alta proporção de Pinot Noir, convivem bem com pratos à base de caviar, ovas em geral e também os ouriços.

Rosé com sushi da Casa do Porco

Os rosés mais ligeiros e leves vão bem com comida Tailandesa onde peixes e frutos do mar são mais apimentados com participação de gengibre e frutas cítricas como o limão. Os sashimis também vão muito bem, sobretudo com atum.

Os rosés mais encorpados e gastronômicos pedem pratos com carnes sanguíneas como pato, pombo, e lombo de cordeiro mal passado. Acompanhamento como legumes, cuscuz marroquino, favas e lentilhas são bem-vindos. 

Os rosés complexos e maduros pedem receitas de crustáceos ou carnes brancas com molhos refinados, especiarias delicadas, nada muito forte para não arranhar a sutileza destes vinhos.

Outros rosés famosos são do pequeno produtor Cedric Bouchard trazido pela importadora Juss Millesimes, altamente pontuado, os rosés da  Maison Billecart-Salmon e da Maison Deutz. Agora é só escolher o seu. Boas Festas!

Pessoas, Vinhos e Festas

12 de Dezembro de 2019

As pessoas que gostam de vinho geralmente têm seus limites para compra-los. Nesta época do ano, Natal e Ano Novo são momentos que permitem provar algo novo, algo diferente, às vezes acima daquilo que bebemos no dia a dia. Pensando na questão, vamos imaginar três tipos de pessoas que efetivamente existem  e movimentam este mercado de vinhos cada vez mais pungente.

P1 – pessoas que têm certa dificuldade em comprar vinhos caros que podem comprometer seu orçamento. Vez por outra, se arriscam numa garrafa mais sofisticada.

P2 – pessoas que estão acostumadas a comprar bons vinhos, mas não podem comprar os ícones mundiais ou vinhos que atingem grande prestígio com preços alarmantes.

P3 – pessoas que buscam alta qualidade sem se importar com preços. Normalmente, frequentam grandes leilões internacionais e negociam grandes adegas particulares.

Feitas as descrições, vamos a algumas sugestões para as festas, sugerindo os tipos de vinhos mais procurados para estas ocasiões.

flutes-de-champagne

Borbulhas

Para o grupo P1, a melhor dica é ficar com os espumantes nacionais. É o nosso melhor tipo de vinho e tem preços interessantes comparados à concorrência. Cave Geisse, Pizzato, Valduga, e Chandon, são produtos seguros. Saindo um pouco do comum, o Chandon Excellence é uma boa experiência com preços um pouco mais elevados.

Para o grupo P2, Cavas mais sofisticados com longo tempo sur lies (contato com as leveduras) são muito interessantes. O espumante Ferrari, pessoalmente o melhor da Itália, é sempre uma pedida certa. Os belos Franciacorta, italianos da Lombardia, também devem ser lembrados.

Para o grupo P3, vamos falar só de champagne, a perfeição das borbulhas. E aí as opções são muitas. Nas cuvées de luxo, Dom Perignon, Cristal, todos da Krug, e Bollinger RD, são perfeitos. Dos champagnes fora do circuito conhecido, Jacquesson e Agrapart merecem ser conhecidos. Para os mais exóticos, Jacques Selosse dá um banho de enogastronomia.

tender de natal

Para o Tender

Tradicional nas mesas brasileiras, esta iguaria é uma peça de pernil cozida e defumada. Geralmente ele é servido com molho agridoce e frutas no acompanhamento. De todo modo, é uma entrada, um prato relativamente leve, mas saboroso. É claramente um cenário para vinhos brancos de certa doçura. 

Para o grupo P1, os moscatéis nacionais, tipo Asti Spumante, são os mais certeiros, bom e barato. Como o Brasil dispõe de alta tecnologia na vinificação, estes espumantes são muito bem feitos, não devendo nada aos comerciais e originais italianos, na maioria das vezes.

Para o grupo P2, podemos pensar nos belos Torrontés argentinos, especialmente os de Salta. Alguns vinhos da casta Viognier com toques florais podem dar certo. Uruguai e Argentina tem bons exemplares. Gewurztraminer é outra pedida, embora a baixa acidez seja um problema. Procure por safras mais novas.

Para o grupo P3, os Riesling alemães com vários graus de doçura são ótimos, especialmente os do Mosel, mais leves. A Alsace é a opção francesa mais confiável. No vale do Loire, os Vouvray com vários graus de doçura são muito interessantes, incluindo os espumantes, Fines Bulles ou Péttilant com a uva Chenin Blanc. O produtor Huet é referência absoluta.

peru de natal

Para o Peru

Peru, Chester, e todas as aves natalinas de carnes brancas e macias se incluem neste contexto. A carne em si é relativamente neutra. O molho e acompanhamentos são o que calibram melhor a escolha do vinho. Tanto branco como tinto podem acompanhar este prato. 

Para o grupo P1. Um bom Chardonnay nacional como da Pizzato é uma bela opção. Na Argentina e Chile também há opções em conta. Como a carne tem pouca gordura, um bom Chardonnay fornece maciez ao conjunto. O grande problema são o molho e os acompanhamentos que podem ser agridoces. Neste caso, o Chardonnay deve ser bem frutado ou partir para um intenso Gewruztraminer. Se a opção for por um tinto, um bom Pinot Noir resolve o problema. A serra Catarinense tem bons exemplares, assim como no Chile. Alguns bons Cabernet Franc nacionais são opções interessantes. Em resumo tintos de certa leveza e taninos moderados.

Para o grupo P2, podemos pensar em Chardonnay um pouco mais sofisticados do Chile. Sol de Sol da Viña Aquitania e Amelia do grupo Concha Y Toro são bem confiáveis. Os Chardonnay tops da Catena, Argentina, ficam no mesmo nível. Um bom Cava com pelo menos 24 meses sur lies é outra bela opção. A importadora Clarets traz o confiável Juves y Camps. Do lado dos tintos, Pinot Noir chileno dos vales frios são ótimos, especialmente os da Casa Marin importado pela Vinci. A Nova Zelândia prima por bons Pinot Noir. A importadora Premium é especialista no assunto.

Para o grupo P3, a Borgonha é a glória. Berço espiritual das duas uvas, Chardonnay e Pinot Noir, temos várias e ótimas opções. No caso dos brancos, Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet e Meursault, são as melhores pedidas de acordo com o peso do prato. No caso dos tintos, comunas de vinhos mais leves como Volnay e Chambolle-Musigny são mais adequadas. Como alternativa ao Chardonnay, um ótimo Pinot Gris da Alsace é divino.

Para o Panetone, Rabanada e Frutas Secas

Para o grupo P1, novamente os moscateis nacionais fazem bonito com o panetone. Para a rabanada e as frutas secas, nada melhor que um bom vinho do Porto. Há muitas ofertas no mercado, dando preferência aos Tawny que vão melhor com a canela da rabanada e tem tudo a ver com as frutas secas.

Para o grupo P2, os moscateis continuam de pé com o panetone. Uma escolha mais sofisticada seria um bom Cava Sec com doçura adequada. Não estranhem, eu disse Sec. No caso do Porto, podemos partir para um Reserva, de nível e concentração maiores. Um Passito di Pantelleria para as rabanadas e frutas secas é uma opção original.

Para o grupo P3, o panetone é acompanhado de champagne Sec pelos mesmos motivos acima. Quanto ao Porto, podemos pensar na gama mais sofisticada de Tawny que são os de datas declaradas (10, 20, 30, 40 anos) ou o Porto Colheita com longo envelhecimento em pipas. Evidentemente os grandes Madeiras não estão de fora. Os Melhores Boal ou Malmsey são os de doçura mais adequada.

Enfim, tudo é festa e o que vale mesmo são os amigos e a família. Essas são apenas algumas sugestões neste vasto universo do vinho. Além disso, há outros pratos nas festas não abordados neste artigo como bacalhau, leitoa, pernil de cordeiro, e outras iguarias. Seguem alguns links deste blog para consulta: Espumante Brut, Carne de Porco, Arroz de Pato  / Harmonização: Ano Novo  /  Bacalhau e seus Vinhos

Boas Festas!

Porco Mundi na Colômbia

29 de Novembro de 2019

Eleito o sexto melhor restaurante da América Latina no ranking dos 50 melhores, A Casa do Porco pode ser considerado o melhor restaurante do Brasil, desbancando o badalado DOM de Alex Atala. Sob o comando do casal Jefferson e  Janaina Rueda, o restaurante realizou o evento Porco Mundi homenageando Chefs colombianos numa interação de cozinhas latino-americanas. Foram uma série de entradas, pratos e sobremesas, num extenso menu degustação. O tema evidentemente foi a carne de porco dos mais variados jeitos, partes, e apresentações da iguaria.

img_7012os melhores Chefs colombianos

Evento divertido com muita música, fantasias, e pratos variados toda a noite. Cada prato tinha seu lado autoral com todos os Chefs mencionados no folheto. Várias bebidas acompanhavam o jantar buscando as harmonizações. 

img_7014 tartar e sushi de porco

Algumas das entradas foram o tartar de porco bem temperado e apimentado, além do sushi com a papada do porco cozida, pincelada com tucupi negro. Bem criativas e apropriadas para espumantes e champagnes.

o início dos champagnes rosés

Nossa confraria esteve presente com uma série de vinhos extraordinários, começando pelos champagnes rosés, sempre muito gastronômicos. Num primeiro plano, os dois da foto acima, top de linha das Maisons Moet & Chandon e Perrier Jouet. A cuvée Belle Epoque tem proporções semelhantes de Pinot Noir e Chardonnay num conjunto leve, agradável, fácil de beber. Embora já com seus mais de dez anos, um champagne muito vigoroso, mousse agradável e persistente. Já o Dom Perignon 2003 se superou neste ano quente para padrões da região de Champagne. Com um pouco mais de predominância de Pinot Noir no corte, este champagne apresenta incrível frescor, certa leveza, embora com mais extrato que seu oponente da foto. Um equilíbrio e persistência notáveis. 

sequência de rosés Cristal

Estes champagnes Cristal, topo de gama da Maison Louis Roederer, têm uma leve predominância da Pinot Noir no corte e uma longa maturação sur lies (pelo menos seis anos). Um champagne mais denso, vinoso, algo que lembra um bom Borgonha. Sua mousse é densa, cremosa, e um final bastante longo. A safra 2006 tem um pouco mais corpo e estrutura. No entanto, os dois champagnes estavam magníficos e envelhecendo muito bem. Um estilo mais encorpado que os dois primeiros.

Egon Müller: uma lenda no Mosel

Após os champagnes rosés, o primeiro grande branco alemão do mítico vinhedo  Scharzhofberg na fria região do Saar, comparável ao vinhedo Montrachet na Borgonha em termos de prestígio. São 28 hectares onde o produtor Egon Muller tem excelentes vinhas em 8,3 hectares. Spatlese quer dizer colheita tardia e o vinho é sutilmente doce com uma acidez monumental. Seus aromas são exóticos e delicados lembrando algo de chá como camomila e hortelã, além de notas de gengibre. Muito equilibrado e muito bem acabado.

mais pratos do evento

Nos pratos acima temos à esquerda, pão de mandioca, escabeche de pé de porco e caranguejo, além de pimenta típica de San Andrés preparado por Marcela Arango. À direita, temos morcila e guacamole por Harry Sasson.

img_7021o primeiro trio de tintos. todos Syrah ou Shiraz!

Neste primeiro trio de tintos à base de Syrah, temos à esquerda o espetacular Penfolds Grange 1981 com uma pitada de Cabernet Sauvignon no corte. É impressionante a juventude deste vinho com quase 40 anos de idade. Tem muita fruta ainda, muito frescor, e toques resinosos de menta e especiarias. Muito equilibrado em boca com apenas 12,6 graus de álcool, uma piada para padrões australianos. Um tinto sempre surpreendente.

O segundo vinho, Sine Qua Non, uma boutique californiana com vinhos baseados e inspirados no Vale do Rhône. Este Poker Face 2004, um Syrah com pequenas quantidades de Mourvèdre e Viognier (uva branca do Rhône), é um tinto nivelado por cima. Muita acidez, muito álcool (15,5°) e muitos taninos. É um verdadeiro blockbuster com aromas e sabores deliciosos. Muito macio, taninos muito finos, e altamente persistente em boca. Um estilo totalmente diverso do Grange, mas igualmente delicioso.

Por fim, o menos expressivo do trio, embora também muito interessante e equilibrado. Este Seven Acre Shiraz da vinícola Greenock Creek é exatamente o tamanho do vinhedo em questão em Barossa Valley (sete acres). Um vinho denso, macio, mas deu azar de estar no meio dos dois monstros citados acima.

img_7025um Tempranillo no meio do trio

Nesta segunda leva de tintos, temos o grande Hermitage Marc Sorrel em sua cuvée Le Gréal da excelente safra 2009. Um tinto que mistura três vinhedos (les Bessards, Les Greffieux, e Les Plantiers) com vinhas Syrah de idade superior a trinta anos. O vinho passa cerca de 22 meses barricas de carvalho. Um tinto ainda muito jovem para a longeva apelação Hermitage. Tem muita fruta escura, bastante frescor, e taninos bem moldados para uma longa guarda. O vinho começa a se mostrar agora, mas com grande potencial.

Em seguida, o Vega Sicília Reserva Especial, geralmente uma mistura de três grandes safras de longa maturação. Na média, pelo menos dez anos de amadurecimento. Neste caso, é o último release 2019 com as safras 2006, 07 e 09 com apenas 59 barricas. Um tinto de muita elegância onde a majoritária Tempranillo tem uma pequena participação de Cabernet Sauvignon. Aromas de muita distinção com especiarias, toques balsâmicos e notas tostadas. Tem muito equilíbrio e harmonia. O tinto mais elegante do painel. Já delicioso, mas pode ser adegado com tranquilidade.

Por fim, novamente o Greenock Creek com sua cuvée Creek Block Shiraz de 100 pontos. Um autêntico Barossa Valley, musculoso, encorpado, e muito macio. Taninos finos e em profusão com muito equilíbrio e persistência em boca. Comparado ao Seven Acre anterior, é mais completo, e de final mais longo. Ótimo exemplar.

J.J. Prüm: um dos maiores nomes de médio Mosel

Quando o Mosel faz uma curva acentuada no vilarejo de Bernkastel, os vinhedos em solos de ardósia se erguem abruptamente em declives impressionantes, proporcionando ótima insolação para as uvas Riesling. Neste cenário temos o vinhedo Sonnenhur onde JJ Prum faz vinhos espetaculares como este Auslese 2005 com apenas 7,5 graus de álcool. Sua bela doçura é contrabalanceada por uma ótima acidez que lhe dá equilíbrio e frescor. O vinho é um primor de mel, maças e flores, num conjunto muito harmônico. Por si só, já é uma sobremesa.

Assim foi esse divertido evento na companhia de grandes amigos e vinhos maravilhosos. A seleção de champagnes, tintos com a uva Syrah, entremeados por belos Rieslings alemães deram um show requinte e harmonização. Agradecimentos a todos os confrades, especialmente ao líder do grupo, nosso querido João Camargo. Que Bacco nos proporcione mais momentos divertidos como este. Abraços a todos!

 


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