Archive for Outubro, 2012

Napa Valley: Parte IV

29 de Outubro de 2012

Voltando ao nosso mapa original, notamos que outras AVAs de Napa Valley não têm a mesma importância que as já citadas em artigos anteriores. Uma que merece menção especial é Los Carneros, bem ao sul da região, com toda a influência das brisas frias da baía de San Pablo. É fonte de bons Chardonnays e Pinot Noir.

Napa Valley: aproximadamente 18.000 hectares de vinhas

Nos três artigos anteriores, tentamos mostrar o pioneirismo e a supremacia da Califórnia, especialmente Napa Valley, na elaboração de grandes vinhos do chamado bloco dos países do Novo Mundo. O clássico corte bordalês tão reproduzido em várias regiões e países, parece ter encontrado em Napa Valley sua cópia mais fiel. Evidentemente, a classe e elegância francesas não estão em xeque, mas os tintos de Napa baseados em Cabernet Sauvignon chegam muito perto em refinamento e também em preços. Na maioria das vezes, os americanos pecam por serem um tanto potentes, amadeirados e com um toque mentolado característico. Entretanto, os grandes exemplares mencionados nos artigos descritos, corrigem estes “defeitos crônicos”, deixando os melhores “grand cru classé” com a pulga atrás da orelha, e são um tormento para degustadores experimentados quando degustados às cegas.

Por razões de preço e baixa oferta, poucas importadores trazem vinhos americanos. Entretanto, citaremos alguns endereços abaixo onde podem ser encontrados alguns dos vinhos citados nesses artigos específicos sobre Napa Valley. Como dissemos, não são vinhos baratos, mas para aqueles viajam ou estão acostumados a adquirir vinhos ícones, vale a pena a experiência. Além disso, podem surgir gratas surpresas  para aqueles que veneram os grandes bordeaux.

Napa Valley: Parte III

25 de Outubro de 2012

Caminhando para a parte sul de Napa Valley, as comunas ou melhor, as AVAs Oakville e Stag´s Leap entram em evidência. O esquema abaixo mostra Oakville, imediatamente a sul de Rutherford, comuna esta comentada em post anterior. Com clima um pouco mais fresco, ainda assim um belo terroir para Cabernet Sauvignon com vinhedos históricos como To Kalon, berço de um dos mais disputados tintos americanos, Opus One e também do consistente Robert Mondavi Reserve. Outro vinhedo espetacular é Martha´s Vineyard, da vinícola Heitz, com seu Cabernet Sauvignon bastante conceituado.

Do lado leste, destaca-se a boutique Screaming Eagle com seus Cabernets sendo disputados a peso de ouro. Algo como Pingus na região mais cara de Ribera del Duero, denominada e comentada em artigo específico neste mesmo blog como “Milha de Ouro”. Outros destaques desta comuna são as vinícolas Silver Oak Cellars e Far Niente.

Antes de nossa última comuna, um parênteses para a excepcional vinícola Dominus Estate, pertencente à AVA Yountville, imediatamente a sul de Oakville. Sob a inspiração de Christian Moueix, proprietário do Chateau Petrus em Pomerol, seu corte bordalês baseado em Cabernet Sauvignon do notável vinhedo Napanook é um dos mais elegantes tintos do Napa.

Cask 23: Um pesadelo para os grandes Bordeaux

Nossa última comuna ou AVA é Stag´s Leap District, criada recentemente, muito em função do vinho homônimo, o famoso Cask 23. Ele não fez barulho somente em 1976, na famosa degustação de Paris. Posteriormente, algumas vezes repetida a mesma degustação em outras ocasiões, este Cabernet Sauvignon ratificou sua primazia, mostrando não ser mero acaso. Alguns o chamam de o “Margaux do Napa” por sua elegância e seu toque floral característico. Mais uma coincidência, a comuna de Margaux também é homônima do seu grande vinho.

Stag´s Leap Wine Cellars trabalha com dois belos vinhedos muito bem dividido em setores baseados fundamentalmente em Cabernet Sauvignon, os vinhedos Fay e S.L.V., que serão descritos a seguir. O vinhedo original e mais antigo é o Stag´s Leap Vineyard (SLV). Foi utilizado para a elaboração do famoso tinto campeão em Paris, 1976. Na época, a safra de 1973 apresentou-se diferenciada num dos tonéis de amadurecimento. Chamou tanto a atenção, que resolveram engarrafá-la com a descrição Cask 23. O vinhedo Fay foi adquirido posteriormente, embora seja uma parcela antiga de um  proprietário tradicional da região. Atualmente, o famoso Cask 23 é uma assemblage das melhores partidas provenientes destes dois belos vinhedos, bem ao estilo de elaboração dos melhores grandes Bordeaux.

Napa Valley: Parte II

22 de Outubro de 2012

Dando sequência ao terroir Napa Valley, falaremos especificamente das AVAs (Área Viticultural Americana) mais famosas como Santa Helena, Rutherford, Oakville e Stag´s Leap.

Começando com St. Helena, é a AVA mais quente das quatro citadas e relativamente menos prestigiada que as demais, embora tenha vinícolas de peso como Beringer, Spottswoode e Joseph Phelps com seu fabuloso Insignia. De um modo geral, seus vinhos costumam ser muito potentes, faltando de certo modo alguma elegância encontrada com mais facilidade nas comunas imediatamente a sul.

O vale afunila na direção sul-norte

Contígua à St. Helena, a comuna seguinte é a venerada Rutherford, chamada por muitos com certo exagero, a Pauillac de Napa.  Seus mais característicos vinhos são capazes de traduzir na taça um toque mineral terroso, conhecido como “dust rutherford”, ou seja, poeira de rutherford. Os lendários tintos de Inglenook, com vinhedos revitalizados pelo cineasta Francis Coppola através da vinícola Rubicon exprimem bem este caráter. Outra tradição local é a vinícola Beaulieu Vineyard com seu Georges de Latour Private Reserve , um clássico local.

O clima aqui parece ser ideal para a Cabernet Sauvignon. Quente o suficiente para sua maturação ideal, frio o suficiente para alongar seu ciclo, proporcionando notável estrutura tânica. Os solos a oeste são mais pedregosos, misturando areia e argila, enquanto a parte leste predominam solos vulcânicos. Os aromas minerais com toques terrosos e a característica fruta escura dos clássicos Cabernets estão aqui presentes. Vinícolas como Frog´s Leap e Caymus são destaques desta comuna.

Como exceção, a AVA Calistoga a norte de St Helena, e portanto mais quente ainda, tem como destaque a vinícola Araujo Estate Wines. Seu espetacular vinhedo Eisele, de solo predominantemente vulcânico, molda um dos mais emblemáticos Cabernets do Napa, que pode envelhecer por décadas. Outra vinícola de destaque é o Chateau Montelena, principalmente pelo seu Chardonnay que desbancou grandes nomes na mítica degustação de Paris em 1976. Seu estilo clássico e elegante, lembra um bom exemplar da Borgonha. O diferencial destes dois exemplos é que são vinhedos de altitude, aproveitando com inteligência a bela amplitude térmica local.

Próximo post, as AVAs de Oakville e Stag´s Leap.

Napa Valley: Parte I

18 de Outubro de 2012

Pouco se fala dos vinhos americanos no Brasil. Evidentemente, as notícias, as divulgações, giram em torno de um interesse comercial. Como os americanos consomem praticamente todo seu vinho produzido, além de grande importador da Europa, a pouca oferta exportada é cara e portanto, presa fácil para seus concorrentes do chamado Novo Mundo. É o que acaba acontecendo em nosso mercado.

Quarta potência no mundo do vinho, os Estados Unidos no conjunto da obra são a melhor resposta aos chamados vinhos do Velho Mundo, mudando definitivamente a face do mercado internacional, a partir da histórica Degustação de Paris em   1976.

Especificamente Napa Valley, tema de nosso artigo, responde por 20% dos valores comercializados da Califórnia, apesar de sua produção girar em torno de apenas 4%. Sabemos que mais de 90% do vinho americano concentra-se neste estado da costa oeste.

Napa Valley é uma das áreas nobres da Califórnia, muito bem situada em termos de clima e solos. Se há um lugar no mundo onde a Cabernet Sauvignon possa fazer frente ao terroir sagrado do Médoc (a chamada margem esquerda de Bordeaux. Favor verificar artigos específicos sobre Bordeaux em cinco partes), esse lugar é Napa Valley, especificamente em comunas famosas como Rutherford, Oakville e Stag´s Leap, conforme mapa abaixo:

16 AVAs formam o famoso Napa

As contíguas AVAs  (Área Viticultural Americana) desde Santa Helena a norte até Stag´s Leap mais ao sul, funcionam como as famosas comunas do Medóc (Pauillac, St Julien, St Estèphe e Margaux). Neste local, os vinhedos desenvolvem-se entre as cadeias de montanhas Mayacamas a oeste e Vaca Range, a leste. O clima tende a ser mais quente ao norte, próximo a Calistoga, e mais frio ao sul, próximo à cidade de Napa. Os nevoeiros frios pelas manhãs entram pelo sul através da baía de San Pablo e vão perdendo força, à medida que caminham para o norte.

Os solos do Napa são extremamente complexos e diversificados. São de origem vulcânica, sedimentar e também aluvial. Argila, areia, pedras e marga são seus principais componentes. Em linhas gerais, no fundo do vale, próximo ao rio Napa, os solos são aluviais, argilosos e relativamente profundos. Já os solos nas encostas, são mais diversificados, mais pedregosos, pobres e pouco profundos.

As AVAs de Santa Helena, Rutherford, Oakville e Stag´s Leap, serão abordadas em detalhes no próximo post, mostrando suas requintadas vinícolas e terroirs diferenciados.

Grupo AdVini: Menu Harmonizado

15 de Outubro de 2012

É sempre bom quando podemos testar vinhos com a refeição. Afinal, eles foram feitos para isto mesmo, acompanhar pratos. Foi o que aconteceu no evento promovido pela Bodega Franca, através do competente e incansável sommelier Ariel Perez, mostando vinhos franceses de várias regiões ligados ao grupo AdVini, grupo este preocupado em promover vinícolas dentro do nobre conceito de terroir. Após breve e interessante explanação, seguimos para as mesas com um menu devidamente harmonizado, conforme descrição abaixo:

  • Ostras Frescas com Molho de Gengibre
    Harmonização: Domaine Laroche Chablis Grand Cru Les Blanchots Réserve de l´Obédience 2007

Ostras com Chablis é uma harmonização clássica. Neste caso, o Chablis estava muito macio e intenso, pois trata-se de um Grand Cru com certo envelhecimento. Talvez o mesmo Chablis da safra 2009 servido como aperitivo, tivesse mais vivacidade e acidez para enfrentar os sabores marinhos da ostra.

Provence: Rosés delicados e de personalidade

  • Tartare de Atum com Foie Gras Grelhado
    Harmonização: Château Gassier – Côtes de Provence – Sainte Victoire 946 – Selection Parcellaire 2011

Uma bela harmonização. Tartare delicado com toques de ervas casou perfeitamente com a textura e elegância deste rosé provençal. O corpo do vinho adequou-se ao prato, promovendo uma sensação de frescor, mantendo o paladar aguçado para a sequência da refeição. Embora o foie gras agregue certa sofisticação ao prato, sua participação na harmonização sobrepujou o vinho com seus sabores intensos e complexos.

  • Rabada com Polenta Cremosa e Mini-Agrião
    Harmonização: Châteauneuf-du-Pape Ogier Clos de L´Oratoire Les Choregies 2010

A intensidade aromática do vinho encontrou eco nos sabores da rabada. Seus aromas de ervas e especiarias enriqueceram o prato e seus taninos dóceis casaram-se perfeitamente com a textura do mesmo. Belo vinho para cozidos intensos como este.

  • Cordeiro com Crosta de Ervas acompanhado com Batata Gratin com Berinjela e Queijo de Cabra
    Harmonização: Château Capet Guiller Saint-Emilion Grand Cru Antoine Moueix 2010

Cordeiro e Bordeaux é outra harmonização clássica. Os taninos do vinho acomodaram-se bem com a textura e suculência da carne. A crosta de ervas reverberou os sabores do vinho e o gratin de batata embora tivesse queijo de cabra, não comprometeu a harmonização. Estava delicado e bem dosado.

  • Noix de Kobe com Batata Rústica, Molho de Shitake e Alho Negro
    Harmonização: Rigal Le Vin  Noir  Cahors 2009

Numa escala crescente de estrutura tânica, este tinto apresentou-se fechado, sugerindo uma boa decantação para sua devida apreciação. Seus taninos potentes foram bem amortecidos pela suculência e marmorização da carne Kobe. O shitake ressaltou o lado mineral do vinho, enquanto o alho negro embora bem mais delicado que o habitual, partilhou de certa rusticidade do vinho no melhor sentido da palavra. Só para lembrar, Cahors é a terra-natal da uva Malbec e normalmente produz  vinhos de agradável rusticidade, bem fiel a seu terroir.

Cahors: as origens do Malbec

  • Cookies de Café com Sorvete de Mascarpone e Creme Brûlée de Especiarias
    Harmonização: Domaine Cazes Cuvée Aimé Cazes Rivesaltes Ambré 1978

Aqui na verdade temos duas sobremesas. O Cookie de Café seria mais interessante com um Rivesaltes novo à base de Grenache Noir denominado Rivesaltes Grenat. Este em questão, um Rivesaltes Ambré, é um vinho fortificado do sul da França denominado Vin Doux Naturel, que sofreu um processo de oxidação intenso no seu amadurecimento, gerando aromas empireumáticos, de frutas secas e mel. Sua combinação com o Creme Brûlée foi bem mais interessante, sobretudo pelo toque de especiarias da sobremesa. Faltou um pouco de untuosidade para o vinho, característica marcante nos belos Sauternes que são parceiros naturais para esta clássica sobremesa.

A refeição foi comentada etapa por etapa com as explicações objetivas e concisas do expert Roberto Petronio, um dos membros do grupo de degustadores do guia La Revue du Vin de France. Embora nem sempre as harmonizações teóricas se realizem na prática, é extremamente prazeroso e didático fazer parte destes eventos. E aqui não vai nenhuma crítica destrutiva ou desanimadora. Pelo contrário, o incentivo e frequência deste tipo de evento é que fazem profissionais, imprensa e clientes se familiarizarem cada vez mais com a enogastronomia, procurando sempre a harmonização mais adequada. Afinal, o mais importante não é acertar ou errar a harmonização. O grande aprendizado é saber o porquê do erro ou acerto.

Dal Forno Romano: o que é Valpolicella?

11 de Outubro de 2012

Quando falamos em terroir, abordamos tanto fatores naturais, como fatores humanos. Esses últimos podem ter importância capital, permitindo a frase: “o homem faz o terroir ou o desfaz”. Dal Forno Romano é a grande vinícola na região de Valpolicella que colocou em xeque este conceito. Inconformado com os indiferentes Valpolicellas da região, resolveu mudar esta história quando jovem, moldando vinhos dentro desta denominação com caráter e personalidade. Partindo das mesmas uvas utilizadas (Corvina e Rondinella, principalmente) no grande vinho da região, o venerado Amarone, Romano Dal Forno acreditou que um Valpolicella poderia chegar mais longe, com mais caráter, com mais concentração, com mais alma.

Valpolicella: um Mini-Amarone

O caminho não foi fácil. Pelo contrário, foi bastante desafiador. Era preciso fazer um novo trabalho de campo e posteriormente de cantina para atingir seus objetivos. O mais trabalhoso, que exigiu paciência e principalmente coragem foi promover um forte adensamento em suas vinhas, ou seja, replantar tudo de novo. Sabemos que adensamento em vinhas significa um número técnico de tantos pés por hectare. Um forte adensamento, promove uma competição muito mais acirrada entre as vinhas, aprofundando raízes e buscando sustento em camadas mais profundas do solo. Com isso, obtemos uvas mais concentradas e de melhor qualidade. No caso de Romano Dal Forno, significava partir de adensamentos entre três, quatro ou cinco mil pés por hectare, para números como onze, doze, treze mil pés por hectare. Um dos primeiros impactos sobre o trabalho de campo é a extinção de qualquer tipo de máquina no trabalho dos vinhas, ou seja, tudo deve ser manual. O resultado final na colheita das uvas são rendimentos baixíssimos, em torno de meio quilo de uvas por planta. É bom que se diga, que estes vinhedos estão localizados na região de Illasi, a leste da região de Valpolicella Classico, teoricamente um terroir menos apropriado.

Com esse resultado de campo, Romano dal Forno ainda não estava satisfeito com a concentração da uvas. Respeitando a legislação da denominação Valpolicella, resolveu fazer um breve appassimento nas uvas nos mesmos moldes de um Amarone. Contudo, o vinho deve ser elaborado até o final de novembro. Já para o Amarone, este appassimento dura três, quatro ou cinco meses. De todo modo, obtém-se um mosto ainda mais concentrado. Para se ter uma idéia, de cada 100 kg de uvas, temos de 30 a 34 litros de Valpolicella ou 15 a 17 litros de Amarone. Começa então o trabalho na cantina.

Sala de Barricas

Diante desta matéria-prima de tamanha riqueza, começa o processo de fermentação com macerações intensas e frequentes através de sucessivas remontagens do mosto, extraindo cor, taninos e polifenóis. O resultado é um vinho intenso, estruturado, mas ainda por ser lapidado. Vem aí mais uma inovação, a utilização de barricas de carvalho novas. Alguém advertiu Romano Dal Forno sobre o cuidado com barricas novas por serem um tanto invasivas, sobrepondo  de certa maneira a riqueza aromática do vinho. Romano Dal Forno não deixou por menos e disse: se a barrica invade o vinho é porque o vinho não está à altura da barrica. Portanto, seus Valpolicellas passam três anos em barricas novas de carvalho americano confeccionadas na França.

Quem quiser provar seus vinhos, estão disponíveis na Mistral (www.mistral.com.br), inclusive seu soberbo Amarone. São vinhos realmente impressionantes, cheios de concentração, intensos e extremamente longevos. Quem provar pela primeira vez, certamente dirá: “Isso é Valpolicella?”

Toscana: Parte VI

8 de Outubro de 2012

Neste último artigo, abordaremos algumas denominações de destaque, já que as mais importantes e famosas tiveram seu merecido espaço. Dentre as seis IGTs da Toscana atualmente, duas comumente são mencionadas em muitos rótulos: IGT Toscana e IGT Colli della Toscana Centrale. A primeira é mais abrangente em termos territoriais e a segunda, mais restrita ao território do Chianti Classico. Muitos supertoscanos enquadram-se nestas denominações. Um exemplo clássico da IGT Colli della Toscana Centrale é o fantástico Flaccianello, um dos supertoscanos mais premiados nos últimos anos da vinícola Fontodi.

Safra 2006: uma das mais premiadas

A DOC Sant´Antimo na região de Montalcino vem ganhando destaque nos últimos tempos. Trata-se de uma DOC recentemento promovida (era uma IGT inicialmente) que trabalha com as versões rosso, bianco, varietais e Vin Santo. Ainda na região de Montalcino temos a DOC Moscadello di Montalcino, referente ao vinho doce de moscatel local elaborado com uvas de colheita tardia.

De um modo geral, nos últimos anos observamos uma clara tendência na diminuição dos chamados Vdt (vino da tavola), com consequente aumento dos vinhos IGT (indicazione geografica tipica) e principalmente dos vinhos (DOCG/DOC), conforme tabela abaixo:

Este é um dos dados mais relevantes quando apontamos a Toscana como uma das regiões de maior destaque no cenário italiano. Embora a pirâmide das leis italianas não garanta a qualidade dos vinhos por si só, o enquadramento dos mesmos em leis mais rígidas acaba surtindo um certo efeito.

Toscana: Parte V

4 de Outubro de 2012

A nobre Toscana merece um capítulo à parte sobre os Supertoscanos, tintos que a partir dos anos setenta sacudiram a imprensa internacional e sobretudo as leis vigentes na Toscana. Até então, a incipiente lei DOC (Denominazione di Origine Controllata) criada em 1963 beneficiava algumas denominações tradicionais com leis rígidas e engessadas. Sendo assim, qualquer iniciativa diferente na criação de um vinho, levaria sua rotulação como mero “Vino da Tavola”.

Um visionário chamado Mario Incisa della Rochetta, senhor de posses e muito bem relacionado, tinha uma propriedade nos arredores de Livorno, próximo ao litoral toscano, denominada Tenuta San Guido. Apaixonado pelos tintos bordaleses, o nobre senhor sonhou elaborar um Bordeaux na Toscana, começando por em prática sua idéia logo após a segunda Guerra Mundial. Nesta época, plantou mudas de Cabernet Sauvignon em sua propriedade e pacientemente foi evoluindo o cultivo e vinificação. As primeiras safras um tanto sofríveis, foram consumidas em ambiente familiar, entre amigos. Num dado momento, o vinho foi apresentado a Piero Antinori, patriarca de um dos maiores impérios do vinho toscano. Piero surpreendeu-se com o vinho, dizendo ter em mãos um diamante bruto, ainda por lapidar.  Sendo assim, colocou à disposição de Mario seu enólogo-chefe, Giacomo Tachis, um ícone na enologia italiana. Estava traçado o destino brilhante de um dos maiores vinhos de toda a Itália, o soberbo Sassicaia.  Oficialmente, sua primeira safra foi em 1968,  ganhando o mundo e enorme prestígio. A safra de 1985, considerada perfeita, é avaliada atualmente em milhares de euros.

Criação em 1994 da DOC Bolgheri Sassicaia

A idéia de criar algo diferente, sofisticado e impactante, contagiou toda a Toscana, surgindo então a partir do pioneiro Sassicaia, inúmeros supertoscanos famosos como Tignanello, Solaia, Vigorello, La Pergole Torte, e tantos outros.

As leis italianas ficaram em xeque, pois grandes vinhos, surgindo ano após ano, foram rotulados como humildes Vino da Tavola. Neste contexto, os supertoscanos colaboraram e muito para a criação de uma nova denominação intitulada IGT (Indicazione Geografica Tipica) em 1992. É uma lei que de certa forma, diminui o abismo existente entre as DOCs e DOCGs, dos simples Vini da Tavola. Com maior flexibilidade, especificando em muito casos os chamados vinhos varietais (elaborados com uma só uva, ou com clara predominância da mesma), muitos supertoscanos atualmente, enquandram-se como IGTs. Sassicaia foi mais longe. Não só abriu caminho para uma nova DOC denominada Bolgheri, como criou sua DOC exclusiva e específica chamada “Bolgheri Sassicaia”.

Como toda nova e boa idéia, o início é sempre de boas intenções. Contudo, existem os oportunistas de plantão aproveitando a nobreza da iniciativa para lançarem no mercado supertoscanos duvidosos, ou melhor, subtoscanos. Esta facilidade, deve-se ao fato de não existirem leis e fórmulas rígidas para se elaborar um supertoscano. Portanto, o nome e tradição do produtor é muito importante. Só ele pode garantir, vinhedos com baixos rendimentos, terroirs diferenciados, e vinificação competente, ou seja, tudo que se espera de um autêntico supertoscano.

Toscana: Parte IV

1 de Outubro de 2012

Dando continuidade às principais DOCs toscanas, falaremos agora de Bolgheri, Vin Santo, além da incipiente DOC Maremma. Aliás, Maremma e Bolgheri concentram atualmente muitos dos supertoscanos mais recentes, termo este que explanaremos em detalhe no próximo post.

Toscana: atualmente 329 DOCs

A DOC Bolgheri, a sul de Livorno, conforme mapa acima, engloba Bolgheri Bianco, Rosato, Rosso, além dos varietais brancos, Bogheri Sauvignon e Bolgheri Vermentino. São leis que mesclam uvas locais como Sangiovese e Trebbiano, com uvas internacionais a exemplo de Cabernet Sauvignon, Merlot e Sauvignon Blanc, respectivamente, com seus vinhos Bianco e Rosso. Como curiosidade, temos ainda Bolgheri Vin Santo Occhio di Pernice, o mais emblemático vinho de uvas passificadas da Toscana, que falaremos em seguida. Finalizando, Bolgheri Sassicaia é uma DOC exclusiva para o mais idolatrado supertoscano, o grandioso Sassicaia.

A recente DOC Maremma segue os mesmos moldes da DOC Bolgheri nas versões rosso, bianco, rosato, além de muitos varietais entre tintos e brancos. O Vin Santo também é prestigiado nesta DOC.

Por fim, a famosa DOC Vin Santo, Vinsanto ou Vino Santo, elaborado com uvas passificadas das variedades Trebbiano e Malvasia. A versão Occhio di Pernice é baseada na casta tinta Sangiovese, sendo a localidade de Montepulciano o ápice desta versão. Atualmente na Toscana, existem três legislações para este vinho de meditação: DOC Vin Santo del Chianti, DOC Vin Santo del Chianti Classico e DOC Vin Santo di Montepulciano. O açúcar residual destes vinhos é bastante variável, desde a versão secco, passando pelo amabile e chegando ao dolce. Maiores esclarecimentos, vide artigos neste blog intulados: Vin Santo Trentino e Toscana: Vin Santo.


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