As estrelas na Borgonha passam por altos e baixos, mesmo na comuna mais sagrada de Vosne-Romanée. Fatores econômicos, políticos e sobretudo de sucessão nas famílias, podem interferir sobremaneira no destino de grandes Domaines. Estamos falando aqui da família Liger-Belair, proprietária do minúsculo vinhedo La Romanée com pouco mais de oito mil metros quadrdados (0,8452 ha), situado logo acima do mítico vinhedo Romanée-Conti.
vinhedo histórico
Sua história começa com o império romano no ano de 92 DC. O vinhedo vai se firmando até o ano de 312 DC. Na idade média, começo do século VI, sua reputação segue com os monges. A partir do ano 1098 com a criação da abadia de Cîteaux, o prestígio só aumenta chegando no período moderno no ano 1700. O século dezenove é marcado por várias pragas entre elas, o míldio e a filoxera. Em 1815, o vinhedo é adquirido por Liger-Belair, general do Império, e proprietário de outros nobres vinhedos como o antigo La Tâche, La Tâche Gaudichottée. Verificar artigo na íntegra. Em 1827 é criada a apelação de origem La Romanée.
Até a segunda guerra mundial, o vinho é vendido em barricas a diversos negociantes. De 1950 a 1966, o vinho é negociado exclusivamente pela Maison Leroy. De 1967 a 1975, a Maison Bichot passa a comandar o negócio sob o nome Bouchard ainé & fils. Por questões matrimoniais, a família Liger-Belair volta a participar do negócio, e entre os anos 1976 e 2001, ainda temos o nome Bouchard Père & Fils nos rótulos do Grand Vin.
De 2002 a 2005, há um período de transição onde as duas famílias engarrafam o vinho, Liger-Belair e Bouchard Père & Fils. A partir de 2006, somente Liger-Belair no rótulo.
Comparação inevitável
Tanto pela proximidade, como pela excelência do vinhedo, a comparação com o astro maior Romanée-Conti é inevitável. A idade média das vinhas de La Romanée é de 50 anos. A produção gira em torno de 4000 garrafas por safra e rendimento fica por volta de 35 hectolitros por hectare.
Por seu solo menos argiloso e menos profundo, La Romanée tende a ser mais delicado na comparação com Romanée-Conti. Topograficamente, o vinhedo apresenta uma inclinação mais acentuada (12%) e sujeita a maior erosão. Além disso, sua vinificação sem engaço (éraflée), contribui para acentuar esta delicadeza.
parcelas diminutas
Depois da retomada da família no novo milênio, Domaine Liger-Belair está em grande fase com vinhos bem focados e definidos. Embora La Romanée seja a joia da coroa, os demais vinhedos da propriedade primam também por áreas diminutas e um patrimônios de vinhas antigas inestimáveis. Estamos falando de parreiras entre 50 e 80 anos em boa parte dos vinhedos. A expressão do terroir é notável .
Pelo mapa acima, um dos mais prestigiados é o Premier Cru Aux Reignots, logo acima do imponente La Romanée. Um terço de suas vinhas chegam a 80 anos. A produção é de pouco mais de 3000 garrafas por safra. Les Petits Monts, logo acima, não fica atrás. Vinhas de 50 anos e produção de ínfimas 600 garrafas, é um dos mais valorizados atualmente. Mesmo o mais simples de seus vinhos com o perdão da palavra, é um Vosne-Romanée de apelação comunal com vinhas entre 40 e 60 anos de idade. A produção é de Grand Cru, menos de 3000 garrafas. Outro comunal de alto nível é o Lieu-dit La Colombière com vinhas entre 60 e 80 anos. No mínimo, nível de Premier Cru.
Grandes Monopólios da Borgonha
Os cuidados no vinhedo são de maneira natural e pouco intervencionista. Os baixos rendimentos visam uvas de grande concentração, expressando fielmente o terroir. As uvas são colhidas rapidamente, chegando na cantina para um trabalho minucioso de triagem, antes de começar a fermentação. As leveduras são naturais e a fermentação visa extrair aromas e polifenóis sem exageros, de acordo com as características de cada safra.
Enfim, Domaine Liger-Belair parece se consolidar entre os grandes de Vosne, tarefa nada fácil no tabernáculo borgonhês. Tradição, savoir-faire, e terroir, não faltam nesta história. Maiores informações: http://www.liger-belair.fr