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França: Geologia

9 de Março de 2020

Estudar os vinhedos franceses também é entender o que está há milhões de anos embaixo do solo. Não que explique tudo, mas é mais fácil compreender noções de terroir quando o solo aflora o que está por debaixo. Veja o seguinte mapa:

France geologie

como embaixo pode afetar em cima

Veja no mapa acima que a região do Loire, muito extensa, passa perto do oceano atlântico, tendo como base o maciço armoricano de granito e xisto. Isso é refletido no solo até a região de Anjou, aproximadamente. Dali para dentro do continente, a bacia parisiense começa a dominar, e temos um solo mais calcário, sobretudo em Vouvray.

champagne solo calcáriosubsolo calcário em Champagne

A mesma formação se encontra no Loire, perto de Vouvray, casas e compartimentos instalados na própria rocha (Maison troglodyte).

Continuando na bacia parisiense, temos a região de Champagne totalmente envolvida neste contexto com um solo extremamente calcário. Seguindo a leste de Champagne, temos a montanha de Vosges, uma série de transformações geológicas de natureza granítica, ricas em minerais, acrescida da depressão renana (fossé rhenan). Tudo isso fazendo parte de uma falha gigantesca de norte a sul no extremo leste françês. É por isso que a Alsace é tão diferente de Champagne em termos de clima e solo, pois a mesma é extremamente ensolarada no verão e barra todo frio e umidade oceânica vindo de oeste para a montanha de Vosges.

borgonha solos

No esquema acima, temos na inclinação da colina os melhores solos da Côte d´Or. A mistura abençoada de marga (argila e calcário) e calcário rico em fósseis, são ideiais para as uvas Chardonnay e Pinot Noir.

A Borgonha ocorre de um milagre espremida entre a grande falha onde o maciço central e os Alpes se deslocam, formando uma série de colinas, entre elas, a famosa Côte d´Or, um dos mais perfeitos terroirs em termos de solo, drenagem e exposição solar.

Continuando a falha mais a sul, temos a região do Rhône onde o granito predomina no norte, e a influência alpina refletida na Provence dá um solo mais erodido no sul do Rhône, com baixo relevo e muitas pedras e areia. Dali pra frente a falha se prolonga, separando definitivamente a região do Languedoc com a Provence.

cognac e chene

cognac e madeira:casamento perfeito

Por estar mais ao norte de Bordeaux e ter maior influência da bacia parisiense, a falta de proteção a oeste do oceano atlântico e a presença maior de calcário, faz desta região de Charentes, Cognac, um paraíso da uvas brancas ácidas, ideais para a produção da aguardente mais famosa da França. As exportações em valores de Cognac desta região supera todas as bebidas produzidas no território francês, inclusive Champagne e os vinhos de Bordeaux.

Finalmente sobra a oeste a grande e antiga bacia da Aquitânia, diferente morfogicamente da grande bacia parisiense. Nesta, o calcário ainda está muito presente na superfície, enquanto em eras geológicas mais antigas, a bacia da Aquitânia é rica em hidrocarbonetos, dando origem ao Petróleo e gás. Não se esqueçam que em Pauillac, há uma destacada refinaria de Petróleo na divisa de St-Estèphe e Pauillac. Por ser rica em cascalho, areia e argila, a região de Bordeaux pende mais para grandes tintos, enquanto na bacia parisiense, a produção destacada é de brancos, sobretudo Champagne e os vinhos do Loire.

maciço central carvalhoMaciço Central, a maior floresta de carvalhos na Europa

No maciço Central, o subsolo granítico com natureza mais metarmórfica superficialmente, é o lar ideal para os bosques de carvalho na Europa. Não só em quantidade, mas também qualidade, o carvalho francês está entre os mais valorizados do mundo.

mapa sul da frança

Sul da França com o mar mediterrâneo em solos complexos entre Languedoc e Provence, separados em Nîmes no delta do Rhône.

 

No sudoeste, abaixo da Aquitânia, houve uma forte pressão dos Pirineus, Maciço Central e Alpes,  formando outra bacia sedimentar do Sudoeste, o que conhecemos por Languedoc a oeste, e Provence a leste. Os solos são muito variados com areia, xisto, argila, calcário, arenito e pedras. Em linhas gerais, temos mais argila e xisto no Languedoc, enquanto no Provence temos solos variados com a presença do calcário. No que diz repeito a Roussillon, mais encostado nos Pirineus, sofre influência do mesmo com um releve mais montanhoso e xistoso.

Quanto ao Jura, uma cadeia de montanhas importante, de natureza argilo-calcária, surge da pressão do maciço central com a influência da fronteira franco suíça, outra cadeia de montanhas.

calvados et cidre

Calvados et Cidre (destilado e fermentado de maçãs)

A parte norte da França, composta basicamente por Normandia e Bretanha, fica numa latitude muito extrema para as vinhas. Em linhas gerais, temos mais granito e xisto na Bretanha, influência do maciço armoricano. Já na parte leste, o calcário predomina na Normandia com outras culturas fora a vinha. Região de maças, centeio, legumes e produção de leite.

Um panorama geral de toda a França, onde vinhos e destilados se superam, além de fornecer o melhor carvalho do mundo. A pauta de exportação da França no que se refere a bebidas (vinhos e espirituosos), muito importante para o governo francês,  perde entre outras coisas para os setores de exportação da Aeronáutica e Cosméticos.

 

Saladas Clássicas

25 de Janeiro de 2020

Este é o nongentésimo (900°) artigo de Vinho Sem Segredo após dez anos na mídia. Aproveitando o verão, falaremos de saladas clássicas de boa consistência. Aquelas que por si só já são uma refeição. Geralmente incluem alguma proteína, podendo dispensar outros pratos, por ser uma refeição completa. É lógico que a escolha do vinho é fundamental para fecharmos o assunto por completo.

salada de bacalhau

Salada de Bacalhau

É quase uma versão da tradicional bacalhoada servida fria. Os ingredientes são muito parecidos com o bacalhau em lascas, batatas, azeitonas, pimentão vermelho facilitando a digestão, além do azeite e temperos clássicos. Neste caso, um bom Chardonnay relativamente encorpado e com alguma passagem por barrica pode acompanhar muito bem, sobretudo se for realmente o único prato da refeição. Alvarinhos mais encorpados e de personalidade costumam dar certo.

Outras alternativas menos óbvias são os belos Riojas clássicos brancos como o grande Tondonia com a uva Viura. Ele tem passagem por madeira e os aromas são maravilhosos. Alguns bons vinhos laranjas do mercado do leste europeu, terroir específico para este tipo de vinho, são boas indicações. Para quem não sabe, o vinho laranja é um branco vinificado em contato com as cascas, fato inexistente nos brancos modernos de um modo geral. Este tipo de vinho tem estrutura, aromas e sabores, muito convidativos ao bacalhau.

salada niçoiseSalada Niçoise

Há algumas versões, mas a original vai tomates, azeitonas, ovo cozido, atum e/ou anchova, azeite, como principais ingredientes. O nome vem da cidade de Nice, Provence. Naturalmente, os brancos provençais são o casamento natural, além dos elegantes rosés da região. Brancos italianos da casta Vermentino são boas pedidas. Outros brancos italianos como Fiano de Avellino, Greco di Tufo e Verdicchio, são alternativas interessantes. Do lado português, o Dão branco com a casta Encruzado e os brancos da Bairrada com Arinto e Fernão Pires (também conhecida como Maria Gomes), completam a lista.

Se a opção for por um tinto, que seja leve e com baixos taninos. Gamay, Pinot Noir, e um Barbera bem frutado e fresco, são os mais indicados.

Caesar saladCeasar Salad

Salada criada por um imigrante italiano que tinha restaurantes no México e Estados Unidos. Há várias versões da salada que foi incrementada ao longo do tempo. A original diz ter alface, croutons, vários temperos como molho inglês, limão, azeite, alho, mostarda, pimenta, além de anchovas e parmesão. Outras versões admitem bacon ou pedacinhos de frango grelhado.

Aqui novamente o Chardonnay vai bem, mas não aquele encorpado como no caso da salada de bacalhau. Um Chardonnay mais leve, sem passagem por madeira, tem mais afinidade. Os brancos frescos de Finger Lakes, uma AVA americana a noroeste de New York, próxima ao loga Ontário, é uma boa pedida para os americanos. Seus Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling são bastante frescos. Um bom branco chileno dos vales frios deste país como Casablanca, Limari ou San Antônio, são boas opções.

Se a pedida for por espumantes, os brasileiros são ótimas opções. Dentre Cavas e Champagnes, opte por aqueles mais simples, sem muito contato sur lies. O frescor e a juventude falam melhor com o prato.

tabuleTabule

Tabule ou Taboouli como prato em si é mais um acompanhamento. Como ingredientes além do trigo, temos tomates, salsinha, suco de limão, hortelã, azeite e cebola. Uma salada bem fresca, perfeita para acompanhar quibes e esfirras. Como é um conjunto muito de verão, o vinho vai ser direcionado para os itens de maior consistência. No caso de quibes e esfirras, geralmente de carne, um tinto é mais adequado. Precisa ser um tinto aromático e delicado ao mesmo tempo. Aqui a Cabernet Franc entra muito bem com os típicos vinhos do Loire, Chinon e Bourgueil. Outras opções naturais seriam a Gamay (um bom Beaujolais) ou um Pinot Noir delicado. Pode ser um bom Borgonha despretensioso ou um neozelandês com madeira comedida. 

Como alternativa, vinhos rosés são boas opções, mas não muito delicados. Precisa ter um pouco de consistência, assim como os rosés do Rhône. Além deles, os rosés espanhóis são muito indicados, sobretudo os de Navarra. Geralmente, os rosés à base de Grenache tem a consistência certa para o prato.

Essas considerações valem também para o estimulante Steak Tartar. A diferença dele para o tabule com esfirras e quibes é que a proporção de carne em relação à salada é maior.

Quanto às saladas de um modo em geral, a grande preocupação é a acidez, notadamente do vinagre. Procure maneirar no uso do vinagre e se possível, substituir por algo mais delicado como o vinagre balsâmico, por exemplo. De resto, é se divertir e aproveitar o verão.

Harmonização na Praia

5 de Janeiro de 2020

No verão, estando ou não na praia, a pedida é por comidas leves e em especial, peixes e frutos do mar. Para aqueles que não abrem mão de um bom vinho, vamos às melhores opções, quase que descartando os tintos. Nesta hora, os brancos e rosés são as estrelas. Além do mais, vamos melhorar as estatísticas onde os brasileiros têm ampla preferência por tintos, mesmo num país tropical.

ceviche salmão e tilapia

Ostras, ceviche, sashimi, ouriço, carpaccio de peixe

Todas essas comidas são deliciosas e refrescantes, aproveitando os sabores marinhos dessas iguarias in natura. Portanto, a chave da harmonização é a mineralidade. Além disso, texturas mais delgadas complementam a combinação. Neste sentido, champagne blanc de blancs ou os espumantes de mesmo gênero como Cavas por exemplo, são pedidas certas. Pouilly-Fumé ou Chablis são os brancos mais recomendáveis. Nossos vizinhos do Chile e Argentina têm propostas muito interessantes com Sauvignon Blanc e Chardonnay muito minerais. Os rosés da Provence bem delicados e minerais podem surpreender.

Casquinha-de-siri

Casquinha de siri, bolinhos de bacalhau, pasteizinhos de frutos do mar

Aqui já estamos falando das deliciosas frituras com toda a sorte de peixes e frutos do mar. O vinho branco precisa ter acidez para combater a gordura. Além disso, quanto mais sabor e textura houver no prato, mais essas características devem ter no vinho. Frutos do mar com seu toque de doçura pedem vinhos mais frutados ou com algum off-dry para acompanhamento. É o caso da casquinha de siri onde alguns Sauvignon mais frutados ou Riesling com leve açúcar residual se dão bem na combinação. Já o bolinho de bacalhau com seu sabor mais pronunciado, pede um Alvarinho mineral, de textura não muito opulenta, ou um Riesling alsaciano, seco e de textura maior que seus rivais alemãos do Mosel.

linguado a meuniere

Linguado a meunière, molho beurre blanc, ou outras receitas sutis

Estas receitas pedem vinhos elegantes, de boa acidez, e de certa textura, levando em conta os acompanhamentos que podem ser batatas cozidas, purês, ou legumes no vapor. Dependendo do molho, o vinho pode ser mais incisivo em acidez como por exemplo, nas versões com alcaparras ou azeitonas. Chablis e Pouilly-fumé costumam ser imbatíveis. Se a preparação envolve tomates ou suco de frutas, o lado frutado do vinho é importante na combinação. Chardonnays costumam ir bem neste campo, sobretudo aqueles sem passagem por madeira ou de maneira bem sutil. Os Bordeaux brancos trabalham bem neste campo.

moqueca capixaba

Moquecas, peixadas, caldeiradas

Mudando um pouco a linha dos pratos anteriores, aqui temos mais corpo e intensidade de sabores. O vinho precisa ter mais estrutura e os rosés podem entrar em ação. Os rosés mais gastronômicos da Provence. A famosa Bouillabaisse entra neste contexto. Alguns rosés do Rhône podem ser dar bem. Sauvignons mais musculosos como alguns neozelandeses ou sul-africanos podem se dar bem. Chardonnays dos vales frios do Chile com madeira comedida são bons parcerios. Se o molho for muito intenso, até alguns tintos leves como Pinot Noir podem dar certo.  

haddock e aspargos

Bacalhau, haddock ou peixes com preparações mais intensas

Aqui é o reino dos Chardonnays, sobretudo com bom toque de madeira. Rosés mais intensos como Tavel do sul do Rhône, ou rosés do Novo Mundo mais intensos, são boas companhias. Se a opção for por tintos, a península ibérica pode fazer bonito com Riojas envelhecidos, taninos bem moldados, estilo Gran Reserva. Os Dão garrafeiras são opções a considerar.

salmao defumado

Sardinha na brasa, salmão defumado ou preparações específicas 

Sardinha na brasa com vinho verde tinto, só para os genuínos portugueses. Eles entendem esta combinação. Vá de um branco seco bem cortante, de personalidade e alguma rusticidade. Um Assyrtiko grego pode encarar o prato com bravura. Um espumante português da Bairrada bem seco, extra-brut, pode ser adorável. 

Se a opção for Salmão defumado, os rieslings alemães ou alsacianos com mineralidade são ideais. Prefira os alemães do Rheingau, mais encorpados. Para os escoceses, sobretudo se for um petisco para charutos, um bom Malt whisky de Islay é pedida certa. Lafroiagh ou Lagavulin pode ser a glória.

No mais é cutir o verão, o calor, sempre com muita descontração e frescor na gastronomia. Boas Férias!

Entre Brancos e Tintos

15 de Fevereiro de 2018

As tonalidades de cores onde se define um vinho rosé são inúmeras. Desde um vin gris quase branco, até um clairet, vinho bordalês da Idade Média quase tinto, os rosés têm cores das mais surpreendentes.

roses cores

nuances variadas

Provavelmente, os primeiros vinhos do mundo eram rosés por uma questão de lógica. As uvas brancas e tintas podiam ser misturadas na fermentação, e não havia um controle preciso da maceração das cascas. Portanto, não havia o vinho branco como conhecemos, calcado em extrema tecnologia, e nem o vinho tinto de cores acentuadas, fruto de uma extração e macerações prolongadas. O esquema abaixo mostra a lenta e progressiva evolução do vinho.

origem do vinho

evolução do vinho

Vin Gris

Trata-se de um rosé bem pálido, fruto de uma maceração bem curta, geralmente com as uvas Pinot Noir e/ou Gamay como no Gris-de-Toul, apelação francesa de Lorraine, ao lado da Alsácia.

No sul da França há também o Gris de gris, elaborado com as uvas Grenache Gris ou Pinot Gris. Vinhos delicados, de cores pálidas.

vin gris

Vin Gris: cores pálidas

Oeil-de-Perdrix

Especialidade suíça da região de Neuchâtel elaborada com Pinot Noir por pressurage direct, extração bem delicada. Este estilo se difundiu na Alemanha e também na Bourgogne. Lembro-me muito bem de um Oeil-de Perdrix do Domaine Dujac, inesquecível.

rose Oeil_de_Lerdix

rosé delicado

O estilo White Zinfandel é a versão americana para este tipo de rosé. Na sua maioria, medíocre.

Tavel

Produto de longa maceração a frio entre 6 e 48 horas. Desta maceração em tanques, resulta o chamado jus de saignée ou jus de goutte que é drenado no processo. Em seguida, as uvas são prensadas dando origem ao jus de presse. A junção deste dois caldos (jus) é que dá origem ao Tavel que em seguida vai ser fermentado. O resultado é um rosé notadamente vivo e colorido. Rosé de corpo e muito gastronômico.

rose tavel

cores mais acentuadas que um Tavel

Clairet

Uma especialidade bordalesa que fica no limite entre um rosé  e tinto pálido. Era o Bordeaux da Idade Média apreciado pelos ingleses, já que na época os tintos finos tinham uma cor mais atenuada, semelhante aos melhores Bourgognes. O termo inglês se diz Claret. A diferença técnica é o tempo de maceração. Duas a três horas para um Rosé, e três a quatro dias para um Clairet pelo método saignée. 

bordeau clairet

quase um tinto leve

São pouco mais de 500 hectares da apelação Bordeaux-Clairet cultivados com as tradicionais cepas bordalesas. Vale pelo menos como curiosidade para sentir o gosto de outros tempos dentro de uma tecnologia moderna.

Tibouren

rose Tibouren

Cepa característica da Provença trazida pelos Romanos. Adaptou-se muito bem a vinhos rosés, fornecendo pouca cor, aromas interessantes para este tipo de vinho, e bom potencial de álcool. Geralmente é mesclado no corte provençal com outra uvas como Grenache, Cinsault, Syrah, entre outras. Destaque para o Clos Cibonne, vinícola provençal que tem na Tibouren, sua uva principal no corte.

vin rosé produção mundial 2015

cerca de 10% dos vinhos tranquilos são rosés

Em uma mesa eclética com várias opções de pratos, o rosé mostra-se muito versátil e gastronômico, adaptando-se a múltiplos sabores.

O vinho é fascinante entre outras coisas por isso. Apenas na tonalidade de cores, fruto de extração mais ou menos extensiva, proporciona estilos sutis e altamente gastronômicos, calcados na história e desenvolvimentos de regiões específicas.

Portanto, antes de julgar a cor de um rosé, atente para sua origem. Um pré-julgamento pode resultar em conclusões equivocadas. Na taça, está sempre a resposta. In vino Veritas!

Números: Distribuição do vinho francês

30 de Maio de 2017

Sabemos de longa data que França e Itália disputam ano a ano a hegemonia do vinho no mundo, sobretudo em termos de produção. Entretanto, a divisão do vinho francês quanto a tipos e categorias, não é um assunto tão corriqueiro. Vamos então a alguns números relativamente recentes da safra 2015.

frança colheita 2015

Num total de quase 47 milhões de hectolitros, 40% são vinhos tintos, 15% vinhos rosés e 45% vinhos brancos. Tudo isso de vinho branco? sim !!!. Esqueceram que Cognac é feito de vinho branco? e que é preciso de 9 a 10 litros para fazer um litro de Cognac? Pois bem, só de vinho branco para esta finalidade são quase 10 milhões de hectolitros.

frança vinhos 2005 a 2015

queda acentuada de tintos no período

No gráfico acima, percebemos a queda acentuada de tintos no período (2005/2015) e uma queda mais branda nos vinhos brancos. Quanto aos rosés, uma progressão discreta, mas consistente. O mesmo podemos dizer quanto aos vinhos brancos destinados à produção sobretudo de Cognac.

Quanto às categorias de vinho, podemos dizer que de um total de 47 milhões de hectolitros, 45% são vinhos AOC (appellation d´origine contrôlée), 29% são VDP (vins de pays), 20% (vinhos destinados ao Cognac, sobretudo) e apenas 6% de vins de table. Colocando os vinhos AOC e VDP de um modo geral, como vinhos de boa qualidade, sobram poucos vinhos sob suspeita. Evidentemente, aqueles vinhos diferenciados, artesanais, de produtores meticulosos, continuam e continuarão a serem raridades.

O dossiê ainda fala sobre vinhos elaborados por produtores (mis en bouteille au domaine) ou por cooperativas. O sul da França de modo geral tem grande concentração de cooperativas com ênfase para Languedoc-Roussillon e sul do Rhône.

frança regiões vinicolas

regiões vinícolas

Em termos regionais, Languedoc-Roussillon continua sendo a área mais produtiva, embora sem a mesma pujança de outros tempos. Resumindo, menos porcaria em quantidade e mais qualidade média nos produtos. A região de Cognac tem muita expressão na produção, a despeito da maioria das pessoas desconhecerem o fato. Vale do Rhône e Provence têm muito vinho a oferecer, mesclando produtos do dia a dia até alguns ícones de produção exclusiva. A Aquitânia emglobando a região de Bordeaux alia quantidade e qualidade como nenhuma outra região.

nelson-sauvignons

Acima e abaixo, dois exemplos de vins de pays de alta qualidade a preços convidativos. Jaja de Jau (à direita) é uma linha de vinhos que expressa com fidelidade seus respectivos terroirs. Neste exemplo, temos um Sauvignon Blanc de Gaillac, sudoeste francês, região famosa por seus brancos e espumantes vibrantes, de grande acidez. Dentro da denominação VDP Côtes de Gascogne.

brumont rosé

rosé vibrante

Da mesma apelação VDP Côtes de Gascogne, este rosé do produtor Brumont, referência absoluta no Madiran na elaboração de Tannats, mostra um perfil aromático, muito fresco, e muito gastronômico. Substitui com méritos os bons e agradáveis rosés provençais, num balanço de elegância e frescor único. Importado pela Decanter (www.decanter.com.br).

O Sudoeste francês, bem como o Languedoc-Roussillon, ainda têm potencial para revelar muitas surpresas. Da mesma forma, a Provence e o sul do Rhône são celeiros de belos vinhos a serem descobertos. Basta ter coragem e curiosidade e sairmos do óbvio.

Harmonização com Sushis

16 de Fevereiro de 2017

Segundo Philippe Faure-Brac, grande sommelier francês e campeão mundial, sushi combina com sakê ou saquê, se preferirem. Assim como pão combina com cerveja, faz todo sentido sushi combinar com saquê, já que ambos têm o arroz em comum. Pessoalmente, partilho dessa harmonização. Essa opinião é contraditória tanto que, a melhor indicação para uma harmonização tradicional que os próprios japoneses praticam é o chá verde.

Contudo, como o assunto é vinho, vamos analisar alguns exemplares e conferir suas afinidades ou não com o prato. Para isso, foram testados três tipos de sushi, conforme foto abaixo.

sushi-abs-sp

peixes: namorado, salmão e atum

Não é uma harmonização fácil, pois lidamos ao mesmo tempo com peixe in natura, arroz levemente avinagrado e adocicado, e um conjunto muito delicado. O shoyu (molho de soja) entra na brincadeira, dando um toque salgado importante. Para não complicar e de fato, deve ser evitado, não consideramos o wasabi, aquela pastinha verde, extremamente picante.

vallontano-extra-brutriesling-kabinett-vindame

harmonizações interessantes

Vallontano Espumante Extra Brut  LH. Zanini 2012

Este espumante nacional é elaborado no Vale dos Vinhedos, Serra Gaúcha, pelo método Tradicional com as uvas Chardonnay (75%) e Pinot Noir (25%). O vinho-base não tem passagem por barrica e as garrafas permanecem sur lies por 24 meses após a espumatização. A designação Extra Brut sugere que a bebida seja bastante seca. Importadora Mistral (www.mistral.com.br).

A maior proporção de Chardonnay dá leveza ao conjunto. A austeridade da bebida por ser Extra Brut combina bem isoladamente com o peixe in natura. Contudo, temos que analisar o conjunto onde o arroz é parte importante. Neste caso, falta textura ao espumante e principalmente um lado mais macio e adocicado.

Conclusão: Vá de espumante Brut ou até Extra-Dry, onde aquele açúcar residual é mascarado pela alta acidez do espumante e ao mesmo tempo, quebra a austeridade desnecessária de um Extra-Brut ou Brut Nature. Deixe essas versões para o sashimi. Aí sim, só a maresia do peixe sem interferência do arroz, cria uma sinergia de texturas. Quanto mais mineral for o espumante, melhor o casamento com o peixe in natura.

Portal do Fidalgo Alvarinho 2014

Este branco português do Minho é elaborado pela Provam, uma espécie de cooperativa das sub-regiões Monção e Melgaço, referentes à denominação Alvarinho. Totalmente vinificado em aço inox, não tem nenhum contato com madeira. Seus aromas são citrinos, minerais e florais.

Na harmonização, este branco mostrou bela acidez, corpo adequado e mineralidade interessante para o prato. O grande problema é que ele tinha um amargor importante, inerente ao vinho. Na combinação, esse amargor foi intensificado, faltando um lado um pouco mais frutado do vinho.

Normalmente, vinhos verdes, não necessariamente Alvarinhos, podem dar certo. Eles são mais delicados, álcool comedido, e comumente apresentam um lado off-dry interessante para a harmonização.

rose-saint-hilairealvarinho-portal-do-fidalgo-2014

harmonizações complicadas

Chateau St Hilaire Rosé Tradition Coteaux d´Aix-en-Provence 2015

Tradicional rosé da Provence com as uvas Grenache (60%) e Syrah (40%) elaborado pelo método de Pressurage Direct. Rosé bem claro, delicado, sem nenhum contato com madeira. Seus aromas cítricos, florais e de ervas, caracterizam bem a tipicidade desses rosés. É bom frisar um lado extremamente seco do vinho. Importadora Premium (www.premiumwines.com.br).

Os rosés da Provence costumam mostrar belo frescor e fruta vermelha mais comedida. O vinho mostrou-se adequado quanto ao corpo e textura para o prato. Porém, impróprio na harmonização, devido à extrema secura do vinho. O lado adocicado do arroz agrediu sua acidez, além da maresia do peixe metalizar levemente o vinho. O atum, por ter um sabor mais pronunciado,  mais estruturado, foi o que menos apresentou conflitos.

Deve-se evitar rosés com sushis. Em novas experiências, talvez rosés delicados mas com um lado frutado mais intenso, possam dar certo. Por exemplo, alguns rosés do Loire com a uva Gamay, a mesma uva do Beaujolais.

S.A. Prüm Wehlener Sonnenuhr Kabinnet Riesling 2012

Belo Riesling alemão do Mosel do vinhedo Wehlener Sonnenuhr em solo de ardósia. Classificação máxima para padrões alemães, VDP Grosse Lage é o equivalente ao Grand Cru francês. A inclinação de 70% do terreno garante uma boa incidência solar em elevadas latitudes. A vinificação é feita em grandes tonéis de madeira inerte com longo contato sur lies na maturação. A categoria Kabinett admite um final off-dry com um teor máximo de 9 g/l de açúcar residual. Importadora Vindame (www.vindame.com.br).

Foi a combinação de menor conflito de um modo geral, mostrando que esse tipo de Riesling alemão apresenta corpo, textura, acidez, mineralidade e um certo adocicado interessante ao prato. Entretanto, esse adocicado ficou um pouco acima do esperado. Além disso, o vinho aromaticamente era muito potente para o prato, sobrepondo-se um pouco no conjunto. O ideal é um Riesling Trocken ou Halbtrocken (meio seco) da região do Mosel, mais delicado. Pode ser também um alsaciano, desde que não seja muito austero e seco.

Um vinho interessante a ser testado para este casamento é o Jerez, fortificado espanhol do sul do país. Este vinho apresenta um teor alcoólico semelhante ao saquê, porém é extremamente seco. É exatamente este detalhe que pode atrapalhar na harmonização com um Fino ou Manzanilla, os jerezes mais minerais com crianza biológica.

Em resumo, trata-se de uma harmonização delicada, onde a sintonia fina pode fazer grande diferença. Em linhas gerais, a indicação de espumantes Brut e Rieslings são as mais seguras.

Rosés pelo mundo em números

8 de Novembro de 2015

Em recente estudo realizado pela OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) veremos a seguir alguns números de 2015. A produção mundial de rosés parece estabilizar-se em torno de 24 milhões de hectolitros, aproximadamente 10% da produção mundial de vinhos.

roses 2014

Pouca variação na produção

Dentre os principais produtores mundiais de rosés estão a França, indiscutivelmente, Espanha, Estados Unidos e Itália. Esses quatro países respondem por três quartos da produção mundial de rosés. Só a França, produz 30% do total mundial. O mapa abaixo ilustra a situação.

rose grafico 2014

No topo: França, Espanha, Estados Unidos e Itália

Quanto ao consumo mundial, a França também tem larga vantagem. Mais de 30% dos rosés do mundo são consumidos por lá. Em seguida, Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, puxam a fila.

rose 2014 consumo

França: domínio absoluto

No quesito exportações, A Espanha lidera com larga vantagem em termos de volume, seguida pela Itália, França e Estados Unidos. As exportações mundiais estão em torno de nove milhões de hectolitros por ano. Os quatro primeiros países exportadores do gráfico abaixo (Espanha, Italia, França e Estados Unidos) respondem por 80% do volume mundial exportado.

roses exportação 2014

Espanha comanda as exportações de rosés

Neste final de ano que se aproxima, os rosés são bem versáteis, quer seja pela facilidade de harmonização, quer seja pela conveniência de temperaturas mais elevadas. A mistura de pratos, entradas e várias comidinhas servidas num tempo só, torna os vinhos rosés uma espécie de coringa, agradando os mais diversos paladares e compatibilizações.

Como indicações, a França tem muitas opções. Evidentemente, a Provença é uma dica certeira. Porém, os vales do Rhône e do Loire, mostram diversidades de sabores e de preços. Em linhas gerais, os rosés do Loire são mais leves e delicados, enquanto os rosés do Rhône tendem a ser mais encorpados e gastronômicos.

Do lado italiano, a Toscana tem boas opções, sobretudo na região de Bolgheri, próximo ao litoral tirreno. Abruzzo, no litoral adriático, tem rosés interessantes. O nordeste italiano com as regiões do Veneto, Friuli, e Trentino, apresentam inúmeras opções. Nestas regiões mais frias, os rosés costumam ser mais frescos.

Na Espanha, os rosés de Navarra, região contigua a Rioja, apresentam-se bem equilibrados. Rioja produz praticamente o mesmo volume que Navarra. Em seguida, temos as regiões de La Mancha, Valencia e Catalunha juntas, perfazendo o mesmo volume de Navarra ou Rioja. As uvas mais utilizadas são Garnacha, Bobal e Tempranillo. Os rosés à base de Garnacha tendem a ser mais macios e gastronômicos. Já a Tempranillo, dificilmente é utilizada como varietal. Por se tratar da melhor uva para tintos de longa guarda, os cortes são mais frequentes.

Algumas sugestões:

  • Chivite Gran Feudo Rosado – espanhol da Mistral (www.mistral.com.br)
  • Zaccagnini Montepulciano d´Abruzzo Cerasuolo – italiano da Ravin (www.ravin.com.br)
  • Chateau St-Hilaire Tradition – francês provençal da Premium (www.premiumwines.com.br)
  • Paul Jaboulet Côtes-du-Rhône Rosé – francês do Rhône (www.mistral.com.br)

Vinho Rosé: o começo de tudo

18 de Outubro de 2015

Falar de rosé no mundo é falar de França. E falar de França, é falar de Provence, seu grande vinho emblemático. A produção mundial de vinho rosé beira os dez por cento, ou seja, mais de 22 milhões de hectolitros. Deste total, a França responde por 28%, seguido da Itália com 20%, Estados Unidos com 15% e Espanha com 10%. Só aqui temos mais de 70% da produção mundial de vinho rosé.

Dos rosés franceses com apelação de origem (AOC), 35% são da Provence, 18% do Loire e 12% do Rhône, conforme gráfico abaixo. Estes rosés, grande parte é consumido na própria França que detém 36% do consumo mundial, seguida pelos Estados Unidos 13%, Alemanha 7% e Reino Unido 6%.

Do pouco rosé provençal exportado, mais da metade vai para os Estados Unidos (27,6%) e Bélgica (23%).

rosés frança

historia do vinho

História e Evolução do Vinho

Na milenar história do vinho, conforme esquema acima, os vinhos claros sempre tomaram conta do cenário. Evidentemente, o termo rosé não era empregado, mas o aspecto lembrava muito essas cores rosadas, alaranjadas e as várias tonalidades assumidas pelo rosé. Isso é mais ou menos intuitivo de conceber, pois em épocas remotas a técnica de vinificação era rudimentar e pouco dominada. Portanto, as macerações eram relativamente curtas e os vinhos eram tomados normalmente jovens. Além disso, era muito comum fermentarem juntas, uvas brancas e tintas. Não havia o conceito de envelhecimento do vinho, sobretudo antes da existência da garrafa e da rolha. Este gosto antigo chamava esses vinhos como vinhos de prazer. Os vinhos de cores mais acentuadas, semelhantes ao que conhecemos hoje, eram denominados vinhos de alimentação, destinados a trabalhadores braçais, gente rude, de pouca educação. Eram frutos de macerações longas, prensagens grosseiras, elaborados com pouco cuidado. Os termos usados para esses vinhos eram vin nourriture e vinum rubeum.

Na Idade Média vários quadros onde o vinho aparece, notamos uma cor que nos lembra os vinhos rosés. Na época, chamado de Vinum Clarum ou Claret. A foto abaixo ilustra este fato.

vinum clarum

Vinum Clarum

A partir do século XIII com a ascensão dos vinhos de Bordeaux, esses vinhos claros foram chamados na região de “Clairets”, sobretudo por ingleses e Holandeses, grandes apreciadores e compradores deste produto. Até o século XVII, a produção de Clairet era avassaladora, chegando a mais de 80% da produção total em Bordeaux.

Só em 1642 no vinhedo de Argenteuil, redondezas de Paris, Ile de France, é que aparece o termo “rosé” pela primeira vez. Para distinguir seu vinho claro dos demais, Bordeaux cria uma espécie de apelação denominada Bordeaux-Clairet.

A partir do século XVIII com a chegada de vez da garrafa de vidro, rolha, os esclarecimentos de Louis Pasteur sobre a oxidação dos vinhos, é que surge o conceito de envelhecimento dos mesmos. Nesta época começa a tomar força macerações mais longas, melhor domínio da vinificação e os chamados “vins rouges” entram em cena. O gráfico acima mostra bem esta ascensão. Com isso, há um declínio dos vinhos rosés, reduzindo a 10% seu consumo. A Provence, longe de modismos, continua a dar preferência a seus vinhos claros. É bom lembrar que esta região francesa foi a primeira a ser conquistada pelo império romano e consequentemente, a adotar vinhas em seu território.

A tentação de misturar vinho branco com vinho tinto criando um “vinho rosé” no aspecto visual sempre foi repudiada. Só em 2009 a União Europeia proibiu esta prática, definindo o vinho rosé como fruto de uvas tintas com certa maceração das cascas para a devida extração de cor. Curiosamente, só uma região francesa e por sinal, uma das mais badaladas, é possível a obtenção do rosé  pela mistura de vinho branco e vinho tinto. É a nobre região de Champagne.

vin rose tonalidades

as várias tonalidades de rosé

Pressurage Direct

Este é o método de obtermos os rosés mais delicados, elegantes e autênticos. Não é por acaso, que a grande maioria dos rosés provençais adotam este sistema. São prensas pneumáticas ultra delicadas que separam o mosto das cascas com a devida maceração para obterem cores como as da foto acima. Os toques florais, cítricos e de ervas estão sempre presentes. Após a obtenção da devida cor, o processo de fermentação segue como num vinho branco. Vale salientar que a maturação das uvas tintas para elaboração de rosés é muito particular. A uva deve conservar um bom nível de acidez a despeito  de sua maturação fenólica incompleta, já que os taninos não participam deste jogo. Terroir como a Provence é perfeito para esta situação. 

À mesa, os rosés são muito versáteis combinando com pimentões, alho, ervas de todo tipo, legumes, e outros pratos de difícil harmonização. É o vinho ideal para acompanhar os buffets self-service espalhados pelas grandes cidades, onde uma profusão de comidinhas é colocada no mesmo prato de uma só vez. 

Um Rosé Quadrado da Provence

9 de Novembro de 2014

Agora com a primavera e o verão chegando, a enogastronomia nos convida a pratos mais leves, mais frescos e por conseguinte, a vinhos compatíveis com esta proposta. E por que não os rosés? Principalmente so for da Provence, terra não só francesa, mas mundial dos rosés de estilo. Só a garrafa abaixo, é motivo suficiente para desfruta-la.

Rose da Provence

Só a garrafa já vale a experiência

Chateau de Berne é um domaine situado dentro da apelação Côtes de Provence na parte mais interiorana, fugindo do litoral. O clima de certa forma tende ao continental com invernos relativamente rigorosos e verões intensos. As vinhas da propriedade dividem-se em duas. O chamado Le Plateau, a 300 metros de altitude com solos pobres e de alta pedregosidade. Os rendimentos neste caso são baixos. O outro setor chamado Le Chateau, apresenta altitudes em torno de 250 metros com solos menos pedregosos e maior proporção de areia. A vinificação é feita por pressurage, método que consiste num menor contato das cascas na maceração do mosto, transmitindo uma cor mais tênue, tendendo ao tom salmão. Com isso, consegue-se aromas mais delicados com toque florais, frutas vermelhas e amarelas como ameixas e pêssegos, além do lado herbáceo e de certas especiarias. O blend é feito com 30% Cinsault, 40% Grenache, e 30% Cabernet. Nesta mescla, a Cinsault transmite mais cor, a Grenache fruta e poder alcoólico e a Cabernet, certa estrutura ao conjunto. O corpo é relativamente leve, aromas delicados e boca com bom frescor a despeito de uma textura macia e final bem acabado.Pratos leves  à base de peixes, legumes e ervas são ideais para uma boa harmonização. Tortas e pizzas dependendo dos ingredientes também são belas opções. Importado pela Grand Cru (www.grandcru.com.br).

Aproveitando o ensejo, vamos atualizar alguns números sobre os rosés da Provence. Os rosés perfazem 88,5% dos vinhos elaborados na Provence. Por sua vez, as apelações provençais de rosés respondem por 35% das apelações francesas de rosés em termos de produção. Em nível mundial, os rosés provençais somam 5,6% da produção mundial deste tipo de vinho. Os gráficos abaixo ilustram os dados acima.

Rosés do Mundo: cerca de 10% da produção mundial de vinhos

A França lidera o ranking

Surpreendentemente, os Estados Unidos apresentam uma produção expressiva de rosés a despeito da qualidade. Outra curiosidade é o Reino Unido, sendo um território de pouca tradição vinícola. Contudo, briga de igual para igual com Alemanha e Itália.

Loire e Rhône: produções expressivas

Tradicionalmente, Loire e Rhône continuam com produções expressivas neste tipo de vinho, além de todo o sul da França participar no conjunto com porcentagem destacada. A região bordalesa também tem sua contribuição.

Lembrete: Vinho Sem Segredo na Radio Bandeirantes (FM90,9) às terças e quintas-feiras. Pela manhã, no programa Manhã Bandeirantes e à tarde, no Jornal em Três Tempos.

Salada de Trilha com Laranja: Que Marravilha!

6 de Janeiro de 2014

Vamos começar o verão com muito sol, muita praia, e pratos leves e refrescantes. Para isso, nossa receita de peixe com Claude Troisgros em seu programa Que Marravilha!. O prato de hoje é Salada de Trilha com Molho de Laranja, conforme vídeo abaixo:

Receita

http://gnt.globo.com/receitas/Salada-de-trilha-com-laranja–veja-receita-de-Claude-Troisgros.shtml

Clique acima: receita e vídeo

Em termos de harmonização, vamos analisar os ingredientes e o modo de preparo. Esta profusão de ervas, alho, pimenta, e o molho de laranja, vão de encontro com os rosés da Provence, delicados aromáticos e muito frescos. O modo de preparo mescla o cozimento pelo molho quente de laranja sobre o peixe, mais a marinada por longas horas fazendo o efeito de um ceviche. Portanto, é um prato típico do verão, pedindo vinhos relativamente leves, bastante frescos e jovens. Quanto a outros rosés, sobretudo os do Novo Mundo, parecem-me um tanto pesados e dominadores, faltando um pouco de frescor. Como alternativa, temos alguns rosés da Itália (norte da Toscana, Veneto, Friuli e Alto Ádige) e do norte da Espanha (Navarra).

Domaines Ott: Excelência em rosés

Se a pedida for por espumantes, continuamos na linha de juventude e frescor. Podemos pensar em espumantes elaborados pelo método tradicional (espumatização na garrafa), mas sem um contato sur lies (sobre as leveduras) prolongado. Um leve toque de levedura, panificação, casa bem com os sabores dos cogumelos.

Para quem não abre mão dos tintos, procurar pelos mais leves, frescos e principalmente, com baixíssima carga tânica. Os Nouveaux de um modo geral podem surpreender. Denominações como Bardolino (norte da Itália, Veneto), Chianti Colline Pisane (estilo leve, mais próximo do litoral toscano), Beaujolais (Nouveau ou no máximo Villages), Sancerre tinto (elaborado com Pinot Noir), são alguns exemplos aceitáveis.

É evidente que brancos frescos e de boa acidez também vão muito bem. Por exemplo, um Sauvignon Blanc dos vales frios do Chile, Casablanca ou Leyda.

De resto, é curtir o verão que está só começando. Até a próxima!


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