Estudar os vinhedos franceses também é entender o que está há milhões de anos embaixo do solo. Não que explique tudo, mas é mais fácil compreender noções de terroir quando o solo aflora o que está por debaixo. Veja o seguinte mapa:
como embaixo pode afetar em cima
Veja no mapa acima que a região do Loire, muito extensa, passa perto do oceano atlântico, tendo como base o maciço armoricano de granito e xisto. Isso é refletido no solo até a região de Anjou, aproximadamente. Dali para dentro do continente, a bacia parisiense começa a dominar, e temos um solo mais calcário, sobretudo em Vouvray.
subsolo calcário em Champagne
A mesma formação se encontra no Loire, perto de Vouvray, casas e compartimentos instalados na própria rocha (Maison troglodyte).
Continuando na bacia parisiense, temos a região de Champagne totalmente envolvida neste contexto com um solo extremamente calcário. Seguindo a leste de Champagne, temos a montanha de Vosges, uma série de transformações geológicas de natureza granítica, ricas em minerais, acrescida da depressão renana (fossé rhenan). Tudo isso fazendo parte de uma falha gigantesca de norte a sul no extremo leste françês. É por isso que a Alsace é tão diferente de Champagne em termos de clima e solo, pois a mesma é extremamente ensolarada no verão e barra todo frio e umidade oceânica vindo de oeste para a montanha de Vosges.
No esquema acima, temos na inclinação da colina os melhores solos da Côte d´Or. A mistura abençoada de marga (argila e calcário) e calcário rico em fósseis, são ideiais para as uvas Chardonnay e Pinot Noir.
A Borgonha ocorre de um milagre espremida entre a grande falha onde o maciço central e os Alpes se deslocam, formando uma série de colinas, entre elas, a famosa Côte d´Or, um dos mais perfeitos terroirs em termos de solo, drenagem e exposição solar.
Continuando a falha mais a sul, temos a região do Rhône onde o granito predomina no norte, e a influência alpina refletida na Provence dá um solo mais erodido no sul do Rhône, com baixo relevo e muitas pedras e areia. Dali pra frente a falha se prolonga, separando definitivamente a região do Languedoc com a Provence.
cognac e madeira:casamento perfeito
Por estar mais ao norte de Bordeaux e ter maior influência da bacia parisiense, a falta de proteção a oeste do oceano atlântico e a presença maior de calcário, faz desta região de Charentes, Cognac, um paraíso da uvas brancas ácidas, ideais para a produção da aguardente mais famosa da França. As exportações em valores de Cognac desta região supera todas as bebidas produzidas no território francês, inclusive Champagne e os vinhos de Bordeaux.
Finalmente sobra a oeste a grande e antiga bacia da Aquitânia, diferente morfogicamente da grande bacia parisiense. Nesta, o calcário ainda está muito presente na superfície, enquanto em eras geológicas mais antigas, a bacia da Aquitânia é rica em hidrocarbonetos, dando origem ao Petróleo e gás. Não se esqueçam que em Pauillac, há uma destacada refinaria de Petróleo na divisa de St-Estèphe e Pauillac. Por ser rica em cascalho, areia e argila, a região de Bordeaux pende mais para grandes tintos, enquanto na bacia parisiense, a produção destacada é de brancos, sobretudo Champagne e os vinhos do Loire.
Maciço Central, a maior floresta de carvalhos na Europa
No maciço Central, o subsolo granítico com natureza mais metarmórfica superficialmente, é o lar ideal para os bosques de carvalho na Europa. Não só em quantidade, mas também qualidade, o carvalho francês está entre os mais valorizados do mundo.
Sul da França com o mar mediterrâneo em solos complexos entre Languedoc e Provence, separados em Nîmes no delta do Rhône.
No sudoeste, abaixo da Aquitânia, houve uma forte pressão dos Pirineus, Maciço Central e Alpes, formando outra bacia sedimentar do Sudoeste, o que conhecemos por Languedoc a oeste, e Provence a leste. Os solos são muito variados com areia, xisto, argila, calcário, arenito e pedras. Em linhas gerais, temos mais argila e xisto no Languedoc, enquanto no Provence temos solos variados com a presença do calcário. No que diz repeito a Roussillon, mais encostado nos Pirineus, sofre influência do mesmo com um releve mais montanhoso e xistoso.
Quanto ao Jura, uma cadeia de montanhas importante, de natureza argilo-calcária, surge da pressão do maciço central com a influência da fronteira franco suíça, outra cadeia de montanhas.
Calvados et Cidre (destilado e fermentado de maçãs)
A parte norte da França, composta basicamente por Normandia e Bretanha, fica numa latitude muito extrema para as vinhas. Em linhas gerais, temos mais granito e xisto na Bretanha, influência do maciço armoricano. Já na parte leste, o calcário predomina na Normandia com outras culturas fora a vinha. Região de maças, centeio, legumes e produção de leite.
Um panorama geral de toda a França, onde vinhos e destilados se superam, além de fornecer o melhor carvalho do mundo. A pauta de exportação da França no que se refere a bebidas (vinhos e espirituosos), muito importante para o governo francês, perde entre outras coisas para os setores de exportação da Aeronáutica e Cosméticos.
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