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Savennières, o grande Chenin Blanc

29 de Março de 2020

Das muitas apelações do Loire, Savennières é uma das mais reputadas pelo seu Chenin Blanc, no estilo branco seco, embora tenha também a versão mais doce. Hoje em dia, a maciça maioria tem menos de 8g/l de açúcar residual, mas poderia ter de 8 a 18g/l para o estilo off-dry, de 18 a 45 g/l para o estilo moelleux ou semi-doce, e por fim acima de 45 g/l, o estilo doce ou doux. Essas outras denominações de açúcar fica mais com as características de um Coteaux du Layon, um branco de alta acidez, numa sub-região mais ampla e abaixo do rio Loire.

De todo modo, a apelação abaixo Savennières no mapa, fica na face norte do rio Loire, num solo fundamentalmente xistoso, com pedras de ardósia, ainda resquício do maciço Armoricano, desde a região do Muscadet até Anjou.

Essa apelação apresenta três níveis de qualidade ao redor do grande Coulée de Serrant, propriedade exclusiva de sete hectares do pai da Biodinâmica, Nicolas Joly. Seguindo o raciocínio, Roche aux Moines, que também tem apelação própria como o vinho acima, não é exclusividade de Nicolas Joly, embora seu vinho seja referência absoluta em termos de qualidade.

À medida que vamos nos afastando destes dois grandes terroir, a terceira apelação, simplesmente Savennières, começa a tomar corpo com alguns destaques neste amplo terroir. São eles: La Croix Picot, Le Clos du Papillon (Domaine Baumard), os mais importantes com nível de Premier Cru não oficial.

Em termos de dimensões, pouco mais de 300 hectares para a apelação Savennières, bastante ampla, 33 hectares para Roche aux Moines e seus poucos produtores, e apenas 7 hectares para a propriedade exclusiva de Nicolas Joly, o grande Coulée de Serrant, um dos maiores brancos da França.

savennieres mapmapa detalhado da região

Vejam como esses produtores, pouco mais de 30 em números absolutos se afastam do rio Loire, e de solos mais xistosos da região. Notem que as melhores propriedades ficam na periferia das principais apelações.

nicolas joly e seus vinhosos dois melhores Savennières em termos de terroir e autenticidade

A cor de seu vinho branco, semelhante a um vinho laranja, deve-se ao fato de só colher a uva com extrema maturidade, fazendo várias passagens pelo vinhedo. Para o Coulée de Serrant especialmente, há frequentemente uma parcela de uvas botrytisadas que fazem parte de sua Cuvée, assim como nos grandes vinhos doces. Esses sabores doces não são percebidos, apenas os aromas de mel característicos destes vinhos e uma certa untuosidade em termos de textura.

As propriedades dos vinhos acima são muito antigas, datando do começo do milênio passado, cultivadas por monges cistercienses. A média de idade das vinhas do Grand Vin chegam entre 35 e 40 anos, podendo algumas chegar a 80 anos de idade. Em 2015  foi registrada a 885° colheita no vinhedo, demonstrando a tradição e a força do terroir desta propriedade. O redimento é muito baixo, entre 20 e 25 hectolitros por hectare e o solo xistoso tem nuances vermelhas, único na região, prinpalmente por fatores de drenagem das vinhas. Ele vinifica em barricas próprias, de acordo com os preceitos da biodinâmica com trabalho de bâtonnage e apenas 5% de madeira nova.

coulle de serrant solos e vinhassolos xistosos e vinhas num grande vinhedo: Coullé de Serrant

No seu Clos de La Bergerie, sua parte em área é de apenas 3,2 hectares de vinhas. A idade média da vinhas e seu respectivo rendimento não são tão rigorosos como o Grand Vin, mais muito próximo em números. Os preceitos da biodinâmica e todo o ritual de vinificação é exatamente como Coullé de Serrant. São elaboradas entre 8 e 10 mil garrafas por safra, apenas.

Por fim, seu terceiro vinhos Les Vieux Clos de apelação Savennières de apenas 5,5 hectares de vinhas que fica à esquerda desta apelação, parte de vinhas um pouco mais jovens e de baixos rendimentos, embora o limite da apelação menciona em torno de 50 hectolitros por hectare. Nesta vinho de Nicolas Joly não passa de 35 hl/ha, muito mais restrito do que a maioria da apelação. Seus métodos e preceitos biodinâmicos são também preservados na elaboração deste vinho.

Decantação e Longevidade

Esses vinhos, sobretudo do Nicolas Joly, devem ser decantados por horas antes do consumo, embora sejam vinhos brancos. A própria temperatura foge um pouco do habitual, deixando entre 12 e 14 graus a temperatura de serviço. O próprio Nicolas Joly fala em 24 horas de decantação para seu Coulée de Serrant.

baiao de dois mocotó

baião de dois do Mocotó

Quanto à longevidade, esses vinhos podem durar tranquilamente 10, 20 anos ou mais, tal a estrutura que possuem e a resistência natural quanto a aspectos oxidativos. São vinhos diferentes, de um belo corpo, aromas e sabores marcantes.

pato no tucupi paraensePato no tucupi: cozinha paraense

Na gastronomia temos a harmonização local com peixes mais gordos de rio, cogumelos e amêndoas em sua composição do prato. Vindo para nossa cozinha regional,  temos vários pratos da cozinha do norte e nordeste que são mais robustos e de difícil harmonização. Como exemplo, temos o Baião de Dois e o polêmico Pato no Tucupi, especialidade da culinária paraense. Esses vinhos tem acidez, personalidade e força para estes tipos de prato.

Todos esses vinhos são importados pela Clarets do Brasil, importadora especializada em alta gama de vinhos franceses. Além disso, seus preços são bem convidativos (www.clarets.com), num dos mais emblemáticos vinhos franceses.

França: Geologia

9 de Março de 2020

Estudar os vinhedos franceses também é entender o que está há milhões de anos embaixo do solo. Não que explique tudo, mas é mais fácil compreender noções de terroir quando o solo aflora o que está por debaixo. Veja o seguinte mapa:

France geologie

como embaixo pode afetar em cima

Veja no mapa acima que a região do Loire, muito extensa, passa perto do oceano atlântico, tendo como base o maciço armoricano de granito e xisto. Isso é refletido no solo até a região de Anjou, aproximadamente. Dali para dentro do continente, a bacia parisiense começa a dominar, e temos um solo mais calcário, sobretudo em Vouvray.

champagne solo calcáriosubsolo calcário em Champagne

A mesma formação se encontra no Loire, perto de Vouvray, casas e compartimentos instalados na própria rocha (Maison troglodyte).

Continuando na bacia parisiense, temos a região de Champagne totalmente envolvida neste contexto com um solo extremamente calcário. Seguindo a leste de Champagne, temos a montanha de Vosges, uma série de transformações geológicas de natureza granítica, ricas em minerais, acrescida da depressão renana (fossé rhenan). Tudo isso fazendo parte de uma falha gigantesca de norte a sul no extremo leste françês. É por isso que a Alsace é tão diferente de Champagne em termos de clima e solo, pois a mesma é extremamente ensolarada no verão e barra todo frio e umidade oceânica vindo de oeste para a montanha de Vosges.

borgonha solos

No esquema acima, temos na inclinação da colina os melhores solos da Côte d´Or. A mistura abençoada de marga (argila e calcário) e calcário rico em fósseis, são ideiais para as uvas Chardonnay e Pinot Noir.

A Borgonha ocorre de um milagre espremida entre a grande falha onde o maciço central e os Alpes se deslocam, formando uma série de colinas, entre elas, a famosa Côte d´Or, um dos mais perfeitos terroirs em termos de solo, drenagem e exposição solar.

Continuando a falha mais a sul, temos a região do Rhône onde o granito predomina no norte, e a influência alpina refletida na Provence dá um solo mais erodido no sul do Rhône, com baixo relevo e muitas pedras e areia. Dali pra frente a falha se prolonga, separando definitivamente a região do Languedoc com a Provence.

cognac e chene

cognac e madeira:casamento perfeito

Por estar mais ao norte de Bordeaux e ter maior influência da bacia parisiense, a falta de proteção a oeste do oceano atlântico e a presença maior de calcário, faz desta região de Charentes, Cognac, um paraíso da uvas brancas ácidas, ideais para a produção da aguardente mais famosa da França. As exportações em valores de Cognac desta região supera todas as bebidas produzidas no território francês, inclusive Champagne e os vinhos de Bordeaux.

Finalmente sobra a oeste a grande e antiga bacia da Aquitânia, diferente morfogicamente da grande bacia parisiense. Nesta, o calcário ainda está muito presente na superfície, enquanto em eras geológicas mais antigas, a bacia da Aquitânia é rica em hidrocarbonetos, dando origem ao Petróleo e gás. Não se esqueçam que em Pauillac, há uma destacada refinaria de Petróleo na divisa de St-Estèphe e Pauillac. Por ser rica em cascalho, areia e argila, a região de Bordeaux pende mais para grandes tintos, enquanto na bacia parisiense, a produção destacada é de brancos, sobretudo Champagne e os vinhos do Loire.

maciço central carvalhoMaciço Central, a maior floresta de carvalhos na Europa

No maciço Central, o subsolo granítico com natureza mais metarmórfica superficialmente, é o lar ideal para os bosques de carvalho na Europa. Não só em quantidade, mas também qualidade, o carvalho francês está entre os mais valorizados do mundo.

mapa sul da frança

Sul da França com o mar mediterrâneo em solos complexos entre Languedoc e Provence, separados em Nîmes no delta do Rhône.

 

No sudoeste, abaixo da Aquitânia, houve uma forte pressão dos Pirineus, Maciço Central e Alpes,  formando outra bacia sedimentar do Sudoeste, o que conhecemos por Languedoc a oeste, e Provence a leste. Os solos são muito variados com areia, xisto, argila, calcário, arenito e pedras. Em linhas gerais, temos mais argila e xisto no Languedoc, enquanto no Provence temos solos variados com a presença do calcário. No que diz repeito a Roussillon, mais encostado nos Pirineus, sofre influência do mesmo com um releve mais montanhoso e xistoso.

Quanto ao Jura, uma cadeia de montanhas importante, de natureza argilo-calcária, surge da pressão do maciço central com a influência da fronteira franco suíça, outra cadeia de montanhas.

calvados et cidre

Calvados et Cidre (destilado e fermentado de maçãs)

A parte norte da França, composta basicamente por Normandia e Bretanha, fica numa latitude muito extrema para as vinhas. Em linhas gerais, temos mais granito e xisto na Bretanha, influência do maciço armoricano. Já na parte leste, o calcário predomina na Normandia com outras culturas fora a vinha. Região de maças, centeio, legumes e produção de leite.

Um panorama geral de toda a França, onde vinhos e destilados se superam, além de fornecer o melhor carvalho do mundo. A pauta de exportação da França no que se refere a bebidas (vinhos e espirituosos), muito importante para o governo francês,  perde entre outras coisas para os setores de exportação da Aeronáutica e Cosméticos.

 

Vinhos e Solos

15 de Fevereiro de 2020

Quando pensamos numa região francesa com tamanha variedade de vinhos, estilos e solos, além da extensão do rio Loire em todo seu percurso, percebemos melhor o conceito de terroir e sua interação com clima, solos e uvas.

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panorama geral da região

O Loire tem aproximadamente 57 mil hectares de vinhas com cerca de 50 apelações de vinhos. Seu percurso ronda perto de 800 quilômetros de extensão. Suas quatro cepas e quatro vinhos principais são pela ordem: Cabernet Franc, Chenin Blanc, Melon de Bourgogne (Muscadet), e Sauvignon Blanc. Por estas características seus melhores vinhos são brancos (41% à base de Chenin Blanc, um pouco de Muscadet e Sauvignon Blanc), tintos e rosés (43% à base de Cabernet Franc), e 14% de espumantes (localmente chamado de Fines Bulles).

De toda a produção, os franceses ficam com 79% (253 milhões de garrafas) e a exportação fica com 21% (67 milhões de garrafas), provando que os franceses entendem de vinhos de estilos variados e são muito gastronômicos. Os outros países não entenderam totalmente a questão, tendo muito a fazer em termos de exportação, sobretudo em países de terceiro mundo.

loire climas

Clima Atlântico sendo rechaçado ao longo do continente

Na região atlântica do Muscadet a infuência marinha é muito grande. À medida que vamos caminhando para Angers e Saumur,  esta influência vai diminuindo com maior impacto do clima continental. Aqui estão sobretudo as apelações Muscadet, Savennières (Chenin seco) e os famosos Coteaux du Layon, englobando Quarts de Chaume e Bonnezeaux.

loire geologia

A geologia comandando o terroir

Neste contexto, temos total infuência do maciço armoricano (massif armoricain), uma das mais antigas geologias com rochas ígneas do tipo granito, mica, e gneiss. Gera vinhos delgados e de muita boa acidez como o Muscadet. Em relação à Chenin Blanc, cepa do médio Loire, sob a ação do xisto (rocha metamórfica), gera Chenin Blanc seco de incrível acidez  e mineralidade como o Savennières. Já os doces Coteaux du Lyon com incrível acidez gera vinhos profundos e equilibrados. Os Quarts de Chaume e Bonnezeaux são vinhos intensos e profundos, segundo padrões do Loire.

Em contrapartida a região de Saumur e sobretudo Tours estão amplamente dominados pelo calcário da bacia parisiense (massif parisien), uma bacia sedimentar. Os vinhos têm muito boa acidez, mas são sutis e delicados. É o caso dos tintos à base de Cabernet Franc, e os Chenins sob a denominação Vouvray.

É facil fazer a experiência de um quarts de chaume com um vouvray moelleux. Os dois são Chenin Blanc, mas um de xisto, outro de calcário. O Quarts de Chaume vai parecer mais intenso e robusto, enquanto o Vouvray vai parecer mais delicado e elegante, embora com ótima acidez. Apesar da aparente fragilidade, o Vouvray suporta envelhecimento em garrafa bastante prolongado, por anos. É a expressão mais fiel dos vinhos alemães na França. Foto abaixo. 

um de xisto, outro de calcário

92042eb2-fae5-49ed-8ae1-bfd00d10f8e8a personalidade do calcário

O da esquerda feito no Valle de Uco, Argentina, o da direita, um típico Cabernet Franc de Tours. A leveza e a mineralidade dos dois são notáveis. O primeiro de uma área específica do Valle de Uco, Guatallary, é um terroir aluvial com presença de calcário ativo importante. O segundo nesta região de Tours, o calcário se faz presente, mostrando leveza e elegância. Em terras distantes entre si, o calcário une estilos de vinhos semelhantes. O primeiro é importado pela Grand Cru e o segundo importado pela World Wine (uma referência desta apelação). Fotos acima.

Cabernet Franc

No caso da Cabernet Franc, a mesma coisa. Apelações como Chinon e Bourgueil de Tours, sobretudo, são de uma delicadeza que a Cabernet Franc não encontra em outras paragens. É o solo calcário comandando o estilo delicado e elegante do vinho. Já os tintos de Saumur-Champigny são dominados mais pelo xisto que encomtrar em Saumur, portanto um pouco mais intensos e estruturados.

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bem típico da apelação

Sauvignon Blanc

No caso do Sauvignon Blanc do extremo Loire, bem a leste, as apelações Sancerre e Pouilly-Fumé são muito interessantes. A própria apelação Pouilly-Fumé em determinados solos lembram os bons Chablis pela mineralidade, embora de cepas diferentes. Num destes solos calcários, temos o Kimmeridgiano ou Kimméridgen, o qual são solos de animais marinhos (ostras, sobretudo) calcinados na rocha. São os solos encontrados em Chablis e na própria apelação Pouilly-Fumé, que conferem aos vinhos a incrível mineralidade. 

fbd58601-33cc-4dac-82ff-c32bf4e2df18muito típico de Vouvray

Um belo espumante elaborado pelo método clássico com notas de mel e brioche, lembrando alguns champagnes. Importado pela Mistral.

Fines Bulles

Podemos dividir os espumantes em apelações mais conhecidas e regionais. Por exemplo: Anjou e Cremant de Loire. No primeiro, o solo é dominado por xistos, conferindo aromas de damascos e mel, e uma presença mais floral da Sauvignon e Chardonnay. São espumantes mais densos que os demais. Já Cremant de Loire, os solos são muito variados, mas os espumantes costumam ser mais estruturados que a média da região.

Os espumantes de Saumur vêm de solos de transição com um pouco de xisto e a maioria calcário. São espumantes de médio corpo com notas de frutas brancas, amêndoas grelhadas e baunilha.

Por fim, os espumantes de Touraine e Vouvray. São feitos pelo método champenoise, sobretudo os Vouvray. As notas são de mel, brioche e frutas em compotas. São delicados e elegantes, regidos pelo calcário.

img_7317vinho verde típico com leveza e off-dry

Este Vinho Verde elaborado pela Adega Guimarães dá uma boa ideia de tipicidade, frescor e leveza. Trazido pela importadora Grand Cru.

Vinho Verde x Mucadet

A região do Vinho Verde em Portugal tem influência oceânica e origens antigas do mesmo maciço que a região do Nantes, Maciço Armocariano, ou seja, granito. Só que esta região está na latitude 41 a 42 N, enquanto Nantes, a região do Muscadet está na latitude 47 N. As uvas também não são as mesmas. Enquanto na região do vinhos verdes, temos Arinto, Trajadura, Loureio e Azal, entre outras, a região de Muscadet tem uma só uva que se chama Melon de Bourgogne, uma uva bem mais discreta. Com isso, a região dos vinhos verdes com uvas mais aromáticas e latitude mais baixa, consegue elaborar vinhos aromaticamente mais expressivos, embora conserve leveza e acidez. Já a região do Muscadet, bem mais fria e uma uva menos expressiva, dá vinhos mais discretos aromaticamente, também com muita acidez. Portanto, o perfil do vinho em termos de leveza e frescor se conserva nos dois casos, pelo subsolo granítico. 

Adega Revista no Sábado

14 de Novembro de 2018

Em evento comemorativo da Revista Adega, foram escolhidos alguns painéis temáticos para degustação de vinhos pouco comuns em nosso dia a dia. O evento realizado no charmoso Hotel Unique foi muito bem montado com serviço dos vinhos preciso a cargo das sommelières Gabriela Monteleone e Gabriele Frizon.

img_5298abrindo os trabalhos

Nesta primeira degustação, foi escolhido o ícone da Familia Torres, um dos grupos vinícolas mais importantes no cenário internacional, o tinto Mas La Plana Cabernet Sauvignon, cuja primeira safra de 1970, mais conhecido como Gran Coronas Etiqueta Negra, ganhou o importante concurso francês Gault-Millau em 1979, frente a notáveis tintos bordaleses.

As primeiras vinhas datam de 1966, plantadas na Catalunha, nordeste da Espanha, mais precisamente na região de Penedès. Com o passar do tempo, as vinhas criaram raízes, refletindo nos vinhos um terroir mais preciso. Conforme foto acima, a vertical começou com o ano 1977, terminando com o exemplar de 2013. Os vinhos são importados pela Devinum (www.devinum.com.br).

img_5300perfis em evolução

A garrafa em magnum do ano 1977 estava perfeita com total evolução do vinho. Neste exemplar, percebemos um caráter notadamente espanhol nos aromas, denotando notas de coco referente ao carvalho americano. Lembra muitos os Riojas Gran Reservas. Seus toques balsâmicos, de frutas secas e em compota, bala de cevada, mostravam aromas sedutores. Em boca, embora ainda prazeroso, percebia-se o peso da idade, com um final de boca mais seco, mostrando que a fruta está indo embora. As garrafas remanescentes devem ser tomadas rapidamente, aproveitando ainda a exuberância de seus aromas, confirmando a distinção deste tinto.

Já o 1989, mostra o auge deste estilo mais tradicional, embora não seja tão marcadamente espanhol. A cor já com borda atijolada pela idade, mostra a evolução de seus aromas terciários com notas de ervas secas, café, tabaco, e algo defumado. Em boca, apresenta mais vigor que o vinho anterior, mas segue na linha de elegância com perfeito equilíbrio. Um vinho que se encontra num ótimo momento para ser tomado com todos os seus aromas e taninos plenamente desenvolvidos.

img_5301safra em double magnum

Aqui chegamos no ponto alto da degustação nesta bela safra de 1999. É bem verdade que o formato double magnum ajudou no perfeito estado da garrafa. Além disso, nesta fase da bodega, percebe-se um vinho claramente de padrão internacional, elaborado integralmente com barricas francesas. O vinho encontra-se já muito prazeroso se devidamente decantado. Contudo, ainda há segredos a serem revelados. A cor tem um tendência discretamente atijolada de borda. Os aromas são intensos de fruta concentrada, notas de café, chocolate, um tostado fino, e um toque mineral. Apresenta-se com bom corpo, bela estrutura tânica, e muito boa persistência aromática. Seus taninos são finos e muito bem equilibrados com demais componentes. Talvez algo perto de dez anos para atingir o apogeu. Belo exemplar.

img_5302belas promessas

Duas safras em evolução, mas com diferenças marcantes. O 2006 não mostra ser um grande ano. Ao longo da degustação seus aromas sempre muito tímidos. Fruta discreta, toques de especiarias  e um tostado fino, apenas. Em boca, mostrou-se ser o menos encorpado e o menos persistente entre todos. Seus taninos não eram tão finos como os demais. Falta um pouco de meio de boca. Embora ainda novo, não deve ser muito longevo.

Já o 2013 é outra história. Tinto de muito vigor, cor compacta, e uma montanha de taninos. Deve ser decantado por pelo menos duas horas. Um pouco fechado de inicio, mas seus aromas foram abrindo progressivamente com frutas escuras, toques minerais e de alcaçuz, além de uma nota de charcutaria (embutidos). Belo corpo, macio, taninos de ótima textura, e persistência aromática expansiva. Este sim, vai longe em adega.

pausa para o almoço

Uma pausa paro o almoço na cobertura do hotel Unique. Tomate confitado com creme de burrata de entrada, tartar de angus com salada, fritas e mostarda como prato principal, e crème brûlée de chá mate como sobremesa. O espumante rosé Desirée da Bueno Vinhos acompanhou adequadamente o refrescante almoço.

img_53081grandes promessas

Continuando o dia, partimos para a degustação de tintos argentinos da família Zuccardi. Trata-se de um inovador projeto no Valle de Uco, mais precisamente em Altamira num local extremamente pedregoso de solo aluvial com presença de carbonato de cálcio. O engenheiro Alberto Zuccardi está à frente da vinícola intitulada Piedra Infinita. São vinhas ainda muito jovens, mas com ótimo potencial. Na foto acima, os exemplares que mais me agradaram.

São vinhos de cores muito concentradas, praticamente sem nenhuma evolução de borda. As duas safras apresentaram aromas de frutas escuras intensas e bastante frescas, toques florais, minerais e de café. Encorpados, macios, e de muito frescor em boca. Os taninos são abundantes e finos. Bem equilibrados em álcool e de muito boa persistência aromática. A diferença básica das safras 2013 e 2015 são as porcentagens invertidas entre madeira e concreto. Na safra 2013 predomina a madeira, enquanto na safra 2015, o concreto. Aromaticamente, há um sutil predomínio das notas de café em 2013, enquanto a mineralidade é mais presente na safra 2015. Tintos ainda muito jovens em franca evolução. Esses tintos são importados pela Grand Cru (www.grandcru.com.br).

Tendências e Descobertas

Neste último painel, foram apresentados alguns vinhos mais distintos, diferentes, e de padrão pouco usual. Comento dois dos que gostei mais, de uvas e estilos totalmente diferentes entre si.

img_5313mineralidade de Limari

Aparentemente, mais um Sauvignon Blanc de vale frio do Chile. O que diferencia este vinho é sua presença em boca, calcada numa acidez marcante, refrescante, acompanhada por uma salinidade muito revigorante. Os fortes aromas herbáceos até incomodam um pouco, embora seja acompanhado de fruta bastante fresca, além de um intrigante toque esfumaçado (algo mineral, já que não passa em madeira). Bela persistência aromática. Importado pela World Wine.

img_5314biodinâmica na veia

Este teria que ser o Gran Finale, o majestoso Coulée de Serrant de Nicolas Joly. Este é um branco que deve ser decantado com horas de antecedência, tal a profundidade de seus aromas. Por ser de fato tão jovem, safra 2014, pessoas que não estão acostumadas a ele podem não entender completamente todo seu potencial. Trata-se de um vinhedo exclusivo, um verdadeiro patrimônio viticultural francês. O vinho é elaborado à base de Chenin Blanc dentro dos mais rígidos preceitos biodinâmicos. A cor é muito intensa, já começando pelo dourado. Com a evolução do vinho em garrafa, torna-se alaranjado, até podendo ser confundido com os famosos Laranjas, tão em voga. Seus aromas vão se revelando aos poucos, a medida que o vinho vai sendo aerado. Notas de marmelo, damascos, ameixa amarela, fruta em caroço, e outras frutas exóticas vão aparecendo. Toques florais e de especiarias, notadamente o curry, vão se intensificando. Em boca, lembra um vinho tinto por sua estrutura portentosa. Macio e ao mesmo tempo com incrível frescor num equilíbrio harmônico. Sua persistência aromática reverbera por minutos. Um lição para quem quer saber o que é um grande vinho branco. Sensacional. Nota 95+ de Parker. Importadora Clarets (www.clarets.com.br).

Meus agradecimentos à Revista Adega por mais esta iniciativa, sempre procurando mostrar painéis de vinhos criativos e educativos, ampliando cada vez mais a cultura do vinho em nosso país. Os anfitriões Christian Burgos e Eduardo Milan sempre muitos gentis e solícitos com todos os convidados. Abraços a todos!

Franceses no Top Ten

21 de Novembro de 2017

A lista de vinhos mais esperada no final de ano são os premiados da revista Wine Spectator, a despeito de toda a polêmica que envolve seus critérios. Seja o Top 100 ou Top 10, assunto é que não falta.

Neste ano, como de costume, um pelotão de americanos nos dez mais. Sem entrar no mérito do ranking e suas pontuações, são vinhos muito bem feitos, de ótima concentração, e dentro do estilo Novo Mundo, o que há de melhor.

a bela safra 2014 em Bordeaux

Falando agora dos franceses, tema do nosso artigo, vale destacar a ótima safra 2014 em Bordeaux. Se por um lado a safra 2015 mostra-se superior e com preços nas alturas, 2014 pode ser uma boa alternativa, sobretudo na margem direita. É o caso do Chateau Canon La Gaffelière no sétimo lugar com 95 pontos. Um St-Emilion de corte clássico com 55% Merlot, 37% Cabernet Franc, e 8% Cabernet Sauvignon. A boa participação da Cabernet Franc confere finesse e uma certa delicadeza ao vinho.

Outro destaque da safra 2014 foram os vinhos doces na região Sauternes-Barsac. O número três da lista é o tradicional Chateau Coutet,  o mais delicado nos já delicados vinhos de Barsac. Com 75% Sémillon, 23% Sauvignon Blanc e 2% Muscadelle, esse vinho alcançou 96 pontos. É um corte clássico na região com predomínio amplo da Sémillon, uva suscetível ao ataque da Botrytis e ao mesmo tempo, fornecendo estrutura ao conjunto. Os vinhos de Barsac costumam ser mais delicados e elegantes se comparados aos ilustres vizinhos de Sauternes. A maior porporção de calcário no solo explica em parte as características. Chateau Coutet personifica bem este estilo. Ótima referência, independente de safra.

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Domaine Huet: referência absoluta em Vouvray

Mais um branco francês e mais uma figurinha carimbada na Wine Spectator, o estupendo Domaine Huet. Qualquer vinho deste domaine é sempre muito bem feito, sendo referência absoluta na apelação Vouvray, uma das mais nobres do Loire com a casta Chenin Blanc. Vouvray tem a capacidade de moldar brancos de vários teores de açúcar residual, além de grandes espumantes. É o que há de mais alemão dentro da França. Este Vouvray Demi-Sec 2016, sexto lugar com 95 pontos, tem 20 gramas de açúcar residual por litro, se aproximamdo de um Spätlese alemão. Apesar de sua aparente fragilidade, são vinhos delicados, elegantes, minerais, e com uma capacidade de evoluir por décadas em adega. Sempre uma grande pedida.

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Gigondas: apelação negligenciada por muitos

Agora mais um tinto francês da excelente safra 2015 em toda a França, inclusive no vale do Rhône. Gigondas é uma bela opção de compra aos badalados, caros, e inconstantes Chateauneuf-du-Pape. Este Chateau de Saint Cosme é um blend de 70% Grenache, 14% Syrah, 15% Mourvèdre, e 1% Cinsault. O famoso corte GSM maturado num bom balanço de barricas novas, usadas, e tanques de concreto. Vinho que privilegia a fruta, a maciez, e a concentração de sabores, ricos em ervas e especiarias. Chateau de muita consistência. Alcançou o quinto lugar com 95 pontos para um tinto de pouco mais de quarenta dólares no mercado internacional.

Esses quatro franceses descritos acima estão entre os Top Ten de 2017. Temos ainda um Brunello e cinco americanos fechando o ranking. Pensando agora num Top Ten pessoal, só de franceses, seguem abaixo os seis restantes, incluídos na lista dos Top 100 de 2017.

Completando a lista da bela safra 2014 em Bordeaux, temos mais dois tintos de peso. Um margem direita Saint-Émilion, e outro margem esquerda Saint-Julien.

Clos Fourtet St Emilion 2014 

Este é um Premier Grand Cru Classe de St-Emilion com predominância de Merlot no corte, cerca de 89%. Tinto de muita fruta escura, maciez e profundidade. Bem balanceado com a madeira (40% de barricas novas). 62º lugar com 95 pontos.

Chateau Léoville Las Cases 2014 

Este autêntico margem esquerda tem predomínio amplo da Cabernet Sauvignon com 75% no corte. Referência na comuna de St-Julien, o melhor dos Léoville é vizinho do grande Latour. Tinto de muita consistência, rica estrutura tânica, e enorme longevidade. 91º lugar com 95 pontos.   

Domaine des Baumard Savennières 2015 

Voltando ao Loire, outro Domaine de peso, Baumard. Especializado em Savennières, a melhor apelação para Chenin Blanc seco, a bela safra 2015 brilhou com o sol necessário para a tardia Chenin Blanc. Frutas exóticas como marmelo, toques minerais e de cera, além de uma acidez que garante muitos anos em adega. 15º lugar com 94 pontos.

Agora vamos à Borgonha que não podia ficar de fora. Contudo, fugindo um pouco das regiões badaladas. Portanto, mais ao sul da região, chegando até Beaujolais.

J.A. Ferret Pouilly-Fuissé 2015 

Referência da apelação Pouilly-Fuissé, Domaine Ferret molda vinhos de grande personalidade. Seus Crus especiais apresentam uma complexidade sem igual. Este em questão é a cuvée básica. Sua vinificação é parcialmente feita em barricas, nunca novas. O resultado é vinho cheio de frutas, toques florais, e incrível mineralidade. Sempre, uma compra certeira. 43º lugar com 92 pontos.

Dominique Piron Morgon La Chanaise 2015 

Para quem gosta de Beaujolais, Morgon é meu Cru predileto. Com certo envelhecimento, ele adquire alguns toques minerais de um autêntico Borgonha. Dominique Piron é um especialista desta comuna com vinhos sempre muito equilibrados. 56º lugar com 91 pontos. É o máximo que um Beaujolais pode atingir. Envelhece bem por pelo menos cinco anos.

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Domaine Faiveley Mercurey  1º Cru Monopole Clos des Myglands 2015    

Embora não seja meu estilo preferido de Borgonha, devo admitir de Faiveley é um produtor cheio de tradição e de fãs inveterados. Sempre procura fazer uma vinificação junto com o engaço, o que gera vinhos robustos e de muita força. Este monopólio de pouco mais de seis hectares trabalha com vinhas antigas, entre 63 e 82 (idade de plantação). De todo modo, Faiveley é referência absoluta na pouco badalada apelação Mercurey (Côte Chalonnaise). 83º lugar com 93 pontos.

Da lista acima, alguns produtores que podem ser encontrados no Brasil através das seguintes importadoras abaixo. Os Bordeaux mencionados podem ser encontrados em algumas importadoras, já que não há exclusividade na comercialização.

http://www.mistral.com.br (Faiveley, Ferret, Coutet, Baumard, Ferret)

http://www.decanter.com.br (Dominique Piron)

http://www.premiumwines.com.br (Domaine Huet)

http://www.winebrands.com.br (Chateau de Saint Cosme)

 

Um Rosé Quadrado da Provence

9 de Novembro de 2014

Agora com a primavera e o verão chegando, a enogastronomia nos convida a pratos mais leves, mais frescos e por conseguinte, a vinhos compatíveis com esta proposta. E por que não os rosés? Principalmente so for da Provence, terra não só francesa, mas mundial dos rosés de estilo. Só a garrafa abaixo, é motivo suficiente para desfruta-la.

Rose da Provence

Só a garrafa já vale a experiência

Chateau de Berne é um domaine situado dentro da apelação Côtes de Provence na parte mais interiorana, fugindo do litoral. O clima de certa forma tende ao continental com invernos relativamente rigorosos e verões intensos. As vinhas da propriedade dividem-se em duas. O chamado Le Plateau, a 300 metros de altitude com solos pobres e de alta pedregosidade. Os rendimentos neste caso são baixos. O outro setor chamado Le Chateau, apresenta altitudes em torno de 250 metros com solos menos pedregosos e maior proporção de areia. A vinificação é feita por pressurage, método que consiste num menor contato das cascas na maceração do mosto, transmitindo uma cor mais tênue, tendendo ao tom salmão. Com isso, consegue-se aromas mais delicados com toque florais, frutas vermelhas e amarelas como ameixas e pêssegos, além do lado herbáceo e de certas especiarias. O blend é feito com 30% Cinsault, 40% Grenache, e 30% Cabernet. Nesta mescla, a Cinsault transmite mais cor, a Grenache fruta e poder alcoólico e a Cabernet, certa estrutura ao conjunto. O corpo é relativamente leve, aromas delicados e boca com bom frescor a despeito de uma textura macia e final bem acabado.Pratos leves  à base de peixes, legumes e ervas são ideais para uma boa harmonização. Tortas e pizzas dependendo dos ingredientes também são belas opções. Importado pela Grand Cru (www.grandcru.com.br).

Aproveitando o ensejo, vamos atualizar alguns números sobre os rosés da Provence. Os rosés perfazem 88,5% dos vinhos elaborados na Provence. Por sua vez, as apelações provençais de rosés respondem por 35% das apelações francesas de rosés em termos de produção. Em nível mundial, os rosés provençais somam 5,6% da produção mundial deste tipo de vinho. Os gráficos abaixo ilustram os dados acima.

Rosés do Mundo: cerca de 10% da produção mundial de vinhos

A França lidera o ranking

Surpreendentemente, os Estados Unidos apresentam uma produção expressiva de rosés a despeito da qualidade. Outra curiosidade é o Reino Unido, sendo um território de pouca tradição vinícola. Contudo, briga de igual para igual com Alemanha e Itália.

Loire e Rhône: produções expressivas

Tradicionalmente, Loire e Rhône continuam com produções expressivas neste tipo de vinho, além de todo o sul da França participar no conjunto com porcentagem destacada. A região bordalesa também tem sua contribuição.

Lembrete: Vinho Sem Segredo na Radio Bandeirantes (FM90,9) às terças e quintas-feiras. Pela manhã, no programa Manhã Bandeirantes e à tarde, no Jornal em Três Tempos.

Clos de L´Olive: Tesouros do Loire

8 de Maio de 2014

Cabernet Franc é uma uva pouco degustada e pouco comentada na versão solo. De fato, como varietal, encontra seu terroir no Loire, mais precisamente em Touraine, nas apelações Chinon, Bourgueil, e Samur-Champigny, sobretudo. No exemplar abaixo, temos um Chinon de vinhedo murado, vinhas antigas, moldado para guarda.

Bom parceiro para cogumelos

Couly-Dutheil é um produtor tradicional na apelação Chinon. Clos de l´Olive é uma de suas cuvées especiais. Trata-se de um vinhedo murado da idade média, cultivado por monges. Tem perfeita exposição sudeste num solo argilo-calcário. O solo com predominância calcária fornece elegância ao vinho. As vinhas são antigas com algumas chegando a mais de cem anos. A fermentação pressupõe longa maceração pós-fermentativa e o amadurecimento dá-se em cubas de pedras, sem nenhum contato com madeira.

Cor surpreendente para seus nove anos

A safra 2005 está entre as melhores da Europa e no Loire especificamente, foi muito boa. O vinho foi decantado por duas horas para a expressão de todos seus aromas. Por sinal, muito elegante, transmitindo frutas escuras com bom frescor, notas de especiarias (pimenta negra), e toques minerais terrosos. Os taninos além de finos, estavam completamente polimerizados em cadeias longas. Muito sedoso em boca com álcool e acidez equilibrados. Expansivo e muito bem acabado. 

Risoto de cogumelos e legumes

O prato escolhido para harmonização foi o risoto acima (foto) com textura, aromas e sabores em sintonia com o vinho. Pratos com cogumelos são pedidas certas com esses tintos do Loire. A sutileza de sabores do prato permite que o vinho se expresse em toda sua plenitude e delicadeza. Um não ofusco o outro. Há sim, um complemento de aromas e sabores. Enfim, uma aula inesquecível da capacidade evolutiva de um grande Chinon. Importado pela Decanter (www.decanter.com.br). 

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Final de Ano: Harmonização Parte I

12 de Dezembro de 2013

Nesta época são inevitáveis as dicas de vinhos e pratos para as festas de final de ano. Peru, panetone, espumante, dentre outros itens, já foram exaustivamente comentados neste mesmo blog. A ideia este ano é sugerir alguns pratos diferentes com suas respectivas harmonizações. Portanto, teremos uma entrada, primeiro prato, segundo prato e sobremesa.

salade au brieSalada refrescante para o verão

Essa é uma entrada que pode perfeitamente ser acompanhada por um espumante, vinho obrigatório nestas ocasiões. O molho da salada inclui uma gema de de ovo, mostarda, azeite, limão, sal e pimenta moída na hora. As folhas podem ser um mix de hortaliças (alface, rúcula e escarola, por exemplo). O tostado do pão de forma cortado em quatro partes com o queijo brie gratinado, além dos pedacinhos de bacon fritos, sugere um espumante elaborado com o método tradicional (champenoise), ou seja, segunda fermentação na garrafa. O contato maior com as leveduras criam aromas com maior sinergia para os ingredientes acima citados. Pode ser um Cava (espumante espanhol), um Franciacorta (um dos mais refinados espumantes italianos, produzido na Lombardia), ou por que não um champagne de estilo mais delicado (Taittinger, por exemplo). Espumantes nacionais de boa procedência como os da Cave Geisse são bem-vindos. 

zuppa genoveseFrutos do mar: apropriados à época

O prato acima é antes de tudo uma homenagem a Maria Zanchi de Zan, grande cozinheira italiana, com o saudoso restaurante de mesmo nome. Na verdade este prato denominado Zuppa di Pesce alla Genovese é praticamente uma Bouillabaisse, prato típico da Provença, inclusive com todos os ingredientes da região; azeite, alho, ervas, tomate e pimenta. 

Para a elaboração deste prato precisamos de um bom caldo de peixe elaborado em casa com uma receita tradicional. Os frutos do mar ficam por conta de cada um, dependendo da disponibilidade. Normalmente são os camarões, salmão, lulas, vôngole, polvo e lagosta. Frite esses frutos do mar em azeite, alho, salsinha, tomilho e manjericão. Em seguida, acrescente os tomates pelados e pimenta do moinho. Cubra com o caldo de peixe coado, e deixe cozinhar por vinte minutos. Sirva com fatias de pão torradas e passadas no azeite.

Com relação à harmonização, um belo rosé, sobretudo da Provença, é a indicação mais óbvia. Pode ser até um espumante rosé, se preferir ficar no mundo das borbulhas. Vinhos brancos com bom frescor, toques herbáceos e textura adequada, são bons acompanhamentos. Um Sauvignon Blanc de Marlborough (Nova Zelândia), um chileno dos vales frios (Sauvignon Blanc Terrunyo é uma boa pedida), um Verdejo (uva branca) de Rueda (região espanhola próxima à Ribera del Duero) ou um branco grego moderno (uva Assyrtiko da ilha de Santorini) são exemplos a serem testados. No caso de tintos, um Sancerre (vale do Loire) é uma opção quase isolada. 

Próximo post, segundo prato e sobremesa.

O Mestre Joël Robuchon

28 de Outubro de 2013

Preparando mais uma obra de arte

A foto acima é o início da finalização de uma das entradas mais famosas em seus restaurantes, tomato millefueille, ou seja, um mil folhas de tomate, carne de caranguejo, maçã e abacate. A proporção precisa dos ingredientes leva a sabores extremamente harmônicos.

Eleito como Chef do Século pelo guia Gault Millau, colaborador da publicação Larousse Gastronomique, e detentor de vinte e oito estrelas pelo guia Michelin ao redor do mundo, um recorde incontestável, Robuchon dispensa apresentações.

Fechando a trilogia dos grandes Chefs, a sobremesa fica por conta do genial Joël Robuchon. Com vários restaurantes ao redor do mundo, este Chef prima pela precisão e requinte de suas receitas. A foto abaixo, ilustra um pouco este conceito.

Praline Mousse and Apricot Compote

Tirando o crocante do biscoito, a mousse, o sorvete e o abricot (damasco), apresentam textura macia. O vinho além de certa doçura, deve ter presente uma bela acidez. O damasco, embora maduro e doce, exige esta acidez no vinho. Os aromas e sabores de frutas secas como o pistache e amêndoas presente no sorvete em forma de quenelle (moldado na colher), pedem um vinho com certa oxidação e/ou aromas empireumáticos (caramelo, café, chocolate) advindos da madeira. A compota de damasco e a própria mousse evidenciam o sabor doce da sobremesa.

Neste contexto, um Tokaji 5 Puttonyus possui doçura e principalmente acidez suficiente para o prato. Os aromas de damascos são emblemáticos neste tipo de vinho.Outra boa alternativa, embora mais delicada, seria um Vouvray Moelleux com certo envelhecimento, evidenciando seus toques marzipã (amêndoas), mel e marmelo. A notável acidez da uva Chenin Blanc neste caso dinamiza a harmonização. Pode talvez faltar um pouco de corpo e textura, dependendo do grau de Botrytisação (Botrytis Cinerea) em questão. O produtor Domaine Huet, trazido pela importadora Premium (www.premiumwines.com.br), é referência desta apelação do Loire.

Fora da França, talvez um Passito di Pantelleria possa dar conta do recada, embora ache-o um pouco invasivo para o prato. Contudo, seus aromas complementam muito bem os sabores da sobremesa. Quanto aos Late Harvest do Novo Mundo, um Sémillon australiano de Riverina é uma boa alternativa. De todo modo, a uva Sémillon é a chave para esta harmonização por conta de seus aromas quando vinificada na versão doce.

Harmonização: Vieiras ao Creme de Moranga e Bacon Crocante

3 de Outubro de 2013

Aqui vai uma homenagem  a um dos grandes Chefs de toda a Europa no século vinte. Frédy Girardet, nascido em Lausanne (Suíça), brilhou como poucos na década de oitenta no Restaurant de l´Hôtel de Ville à Crissier (comuna no cantão de Vaud), naturalmente três estrelas no guia Michelin. Faz parte da requintada trilogia de grandes Chefs com Joël Robuchon e Paul Bocuse.

Inusitada combinação de vieiras e bacon

Falar de um só prato deste mestre é como falar de um dos mais de mil gols marcados pelo genial Pelé. Entretanto, pelo requinte e exotismo do prato, ficaremos com a foto acima: Saint-Jacques grillés au thym, crème de potiron et friolets de lard fumé d´après Frédy Girardet, ou seja, Vieiras grelhadas ao Tomilho, Creme de Moranga e Bacon Crocante, segundo Freddy Girardet. Antes da harmonização, vamos à receita:

Para o creme de moranga, dourar a cebola picada na manteiga e em seguida, colocar os pedaços da moranga, um pouco de caldo de peixe, e deixar cozinhar virando um creme. Na sequência, juntar creme de leite, acrescentando sal, pimenta moída na hora e noz moscada. Para o bacon, preparar as tiras do mesmo no forno, ficando crocante depois de esfriar.

Para as vieiras, teremos um molho que será acrescido às mesmas. Neste molho teremos suco de laranga, zeste da mesma, folhas de tomilho, azeitonas pretas em pedaços, uma anchova picada e azeite. Misturar bem os ingredientes. Último passo, cozinhar feijão branco em água com louro, cebola, sal e um bouquet garni.

Montagem do prato: Grelhar as vieiras rapidamente com sal e pimenta caiena. Colocar primeiramente no prato o creme de moranga com os feijões brancos. Em seguida, colocar as vieiras e o molho das mesmas por cima. E finalmente, espetar o bacon crocante. Se as suas vieiras estiverem acompanhadas do respectivo coral, desmanche-o e coloque-o sobre o creme de moranga.

Chefs históricos: Bocuse, Girardet e Robuchon

Para a harmonização, devemos levar em conta alguns fatores. É um prato requintado, porém de sabor marcante. Textura macia, tendência adocicada da moranga, sabores marcantes do bacon, anchova e azeitona. O vinho precisar ter certa textura, acidez suficiente para a gordura do creme, mineralidade para enfrentar o bacon e principalmente a anchova. Tudo nos leva ao mundo dos brancos.

Se pensarmos em Champagne, precisamos algo com boa estrutura e presença marcante de Pinot Noir. Pode ser um millésime da Krug ou Bollinger com pelo menos dez anos de safra (os toques de torrefação farão boa parceria com o bacon). No campo dos borgonhas, um Corton-Charlemagne apresenta a textura ideal entre um Chablis e um Meursault. Sua mineralidade é bem agradável com os sabores do prato. Para outros chardonnays com passagem por madeira, a mesma deve ser bem sutil para não distorcer sabores. Um riesling alsaciano mostra corpo e textura adequados ao prato. Contudo, devemos evitar os mais secos, pois temos uma leve sensação de doçura no prato. Devemos portanto, evitar os vinhos da maison Trimbach (muito secos e austeros) e também da maison Zind-Humbrecht (um tanto invasivos e opulentos). Uma boa pedida são os belos rieslings do produtor biodinâmico Marcel Deiss (importadora Mistral – http://www.mistral.com.br). 

Se a opção for pelos tintos, fica difícil fugir da Pinot Noir. Precisa ser um vinho delicado, muito pouco tânico e jovem, com bastante fruta e frescor para realçar o sabor da moranga e das vieiras. Uma boa pedida seria um Sancerre tinto (Loire) ou um borgonha da Côte de Beaune bem delicado. Um Cru de Beaujolais elaborado com a uva Gamay também dá conta do recado. Fleury, Saint-Amour ou Broully são os mais indicados. Contudo, os brancos são bem mais harmônicos.


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