Posts Tagged ‘priorato’

Gorgonzola, o queijo do inverno

15 de Agosto de 2018

Atendendo solicitações, mais um artigo sobre o queijo Gorgonzola, um dos itens mais consultados em Vinho Sem Segredo. Desta feita, três receitas variadas, aproveitando este friozinho do que resta do inverno. Na falta do legitimo italiano, os tipos Gorgonzolas disponíveis no mercado podem satisfazer, sobretudo quando incorporados às receitas.

risoto aspargos e gorgonzola

Risoto de Aspargos e Gorgonzola

Principalmente para aqueles que deixaram a carne de lado, é uma receita reconfortante para o inverno com sabores bem particulares. O arroz italiano é elaborado com caldo de legumes e no meio do processo, adicionado o gorgonzola diluído no próprio caldo. São adicionados os aspargos previamente cozidos al dente e um pouquinho de páprica doce. Depois de servido, decore com as pontas de aspargos cozidas e um pouco de pistache grosseiramente  quebrado para dar crocância e sabor ao prato.

Aspargos são sempre componentes difíceis para harmonizar com vinhos. No entanto, neste caso ele faz parte do prato com certa cremosidade, além do sabor do gorgonzola. Um Torrontés argentino de Salta pode ser um vinho surpreendente com muita personalidade e frescor. Outra pedida incomum é um jovem Condrieu com a casta Viognier. Quando jovem conserva um bom frescor e agrega sabores exóticos ao prato. Por fim, é um prato decididamente para brancos. Os tintos não encontram eco nos sabores do aspargo. Uma solução mais comum é um fresco Chardonnay frutado, quase sem madeira. Um belo Pouilly-Fuissé da Borgonha, por exemplo.

gnocchigorgonzola-PatioLan

Nhoque ao molho de Gorgonzola

Acima uma bela massa com esse delicioso molho cremoso. O Gorgonzola neste caso é diluído à base de creme de leite fresco. Os temperos e ervas ficam por conta do freguês. O importante é ter o sabor delicado, mas presente do queijo, além da cremosidade adequada, nem muito aguado, nem muito espesso. A pimenta do moinho pode ser grosseiramente moída na finalização. Outro prato vegetariano, digamos assim.

É lógico que um Chardonnay bem intenso de fruta e com pouca madeira, se for o caso, cai muito bem. O Novo Mundo está cheio de opções. Como alternativas, um branco Antão Vaz do Alentejo vai no mesmo caminho. Rioja branco Reserva com a medida exata que costuma dar na madeira, proporcionam vinhos aromáticos e bem equilibrados. Se a opção for por tintos, os do sul da Italia com bastante fruta e taninos moderados caem bem. Nero d´Avola da Sicilia ou um tinto da Puglia sem ser muito concentrado.

file molho gorgonzola

Filé ao molho Gorgonzola

Trata-se praticamente do mesmo molho do prato de massa. Neste caso, podemos acrescentar um pouco de mostarda e deixar a espessura do molho mais cremosa. Como se trata de carne vermelha em corte alto ao ponto, os tintos são absolutos nesta harmonização. Só devemos tomar cuidado com os taninos. Embora o sabor e intensidade do queijo esteja diluídos no molho, o choque (sal x taninos) deve ser considerado para evitar amargor. Aqui podemos pensar em vinhos de certa potência como alguns Amarones, Shiraz da Australia, e alguns Prioratos. São vinhos de grande intensidade e taninos moderados. Todos eles na medida certa para o inverno. A guarnição deste prato pode ser batatas ao forno ou um risoto de açafrão. 

Para aqueles que preferem o queijo puro, sozinho, ou acompanhando somente de pão italiano, os Sauternes da região francesa de Bordeaux, bem como os clássicos Portos, são pedidas certeiras. Como alternativa mais original ao Porto, podemos pensar no Recioto della Valpolicella, a versão doce do Amarone.

De resto, é só por a imaginação para funcionar. Gorgonzola vai bem com figos, com brócolis, alho-poró, nozes, abóbora, entre outros ingredientes. Bom apetite!

 

 

Havia umas pedras no meio do caminho …

11 de Outubro de 2017

Espanha, terceira maior produtora mundial de vinhos, vai muito além de Rioja e Ribera del Duero, regiões de referência nos vinhedos espanhóis. Vamos falar hoje de solos pedregosos, de xisto, em lugares montanhosos, moldando tintos de muita personalidade e caráter, Bierzo e Priorato, conforme mapa abaixo.    

espanha relevo

Bierzo: canto superior esquerdo

Priorato: canto superior direito

Embora as duas regiões sejam de caráter montanhoso e solos parecidos de xisto, a diversidade de clima entre ambas, resultam em escolhas de uvas diferentes para que possam expressar  com sucesso seus respectivos terroirs.

Bierzo    

Administrativamente, Bierzo pertence à ampla região de Castilla y Léon, bem nas limitações da divisa. Contudo seu solo, subsolo, e clima, têm muito mais a ver com a região da Galicia. De fato, a umidade relativa, a pluviosidade, e as temperaturas relativamente baixas, são influenciadas pelo mar Cantábrico e o Atlântico. Assim temos, temperatura média anual em torno de 12º centígrados e precipitações por volta de 700 mm. O solo tem textura franco-limosa em ladeiras entre altitudes de 450 a 800 metros. A pedregosidade também é importante com uma espécie de xisto chamado de pizarras. Com quase três mil hectares de vinhas, a Mencia domina amplamente os vinhedos de uvas tintas.

Priorato

Priorato ou Priorat, como os espanhóis gostam de chamar, é também uma região montanhosa com solo pedregoso na paisagem catalã, mas com uvas e climas distintos da região de Bierzo. Outro ponto semelhante entre as duas regiões são suas histórias antigas e muito ricas atreladas a um passado religioso. Em tempos recentes, final da década de 80 para Priorato e um pouco mais tarde para Bierzo, essas vinhas antigas foram revitalizadas, renascendo assim um patrimônio viticultural inestimável.

As principais castas cultivadas em quase dois mil hectares de vinhas em terrenos de grande declive são Garnacha e Cariñena, esta última conhecida como Mazuelo. As altitudes variam muito entre 100 e 750 metros. Com verões bastante quentes, podendo chegar a 40º centrigrados em determinados períodos, temos também pluviosidade mais baixa que Bierzo, entre 400 e 600 mm anuais extremamente concentrada no inverno. Nessas condições de secura, as uvas acima mencionadas de maturação tardia não apresentam dificuldades de amadurecimento, gerando vinhos robustos e de grande riqueza aromática. Para contrabalançar este cenário, as noites costumam ser muito frias, provocando a tão benvinda amplitude térmica e assim conservando um bom nível de acidez nas uvas. Compondo este terroir, a influência do mar Mediterrâneo, mais quente e bastante diverso dos mares do noroeste, próximos a Bierzo, apenas amenizam o calor nestas terras da Catalunha.

Os solos de pizarras aqui também presentes são chamados de llicorella com quatro tipos geologicamente distintos: pizarra (praticamente em todo o território), pizarra gresosa de origem mais arenosa, pizarra del devoniano (rocha mais antiga do Priorato), e pizarra moteada (rocha extremamente dura como granito encontrada quase exclusivamente em Porrera, microterroir da região). Vale mencionar que Priorato é uma das duas regiões com denominação de origem qualificada, ou seja, DOCa (Denominacion de Origen Calificada). O outra DOCa é a tradicional Rioja.

llicorella x pizarra

Na foto acima, os solos do Priorato e Bierzo, da esquerda para direita. Semelhantes em sua constituição, transmite a típica mineralidade aos vinhos. As diferenças climáticas são imperativas nas respectivas diferenças de terroir.

Bierzo x Priorato

Esta com certeza é a segunda maior rivalidade na Espanha em termos de regiões, após Rioja x Ribera del Duero, mais clássicas e tradicionais. Neste embate, só o consumidor se beneficia com vinhos de grande personalidade e uvas bastante típicas, marcando com propriedade os respectivos terroirs.

Podemos dizer que os tintos de Bierzo são relativamente menos encorpados que os do Priorato. Parece também que eles conservam uma melhor acidez. Aromaticamente, os dois são muito interessantes com toques minerais notáveis. Talvez numa sintonia fina, poderiamos dizer que os de Bierzo são mais elegantes, enquanto que os do Priorato, mais potentes.

Aqui no Brasil, felizmente temos bons exemplares de ambos. Evidentemente, Priorato por já ser um vinho mais consagrado, seus preços não são tão atraentes. Já os de Bierzo, não alcançaram semelhante status e assim, podemos encontrar boas ofertas.   

Dominio de Tares Cepas Viejas e Bodegas Peique Viñedos Viejos são belos exemplos deste distinto terroir de Bierzo com cepas muito antigas. É imperativo que se decante esses vinhos por duas horas. Podem ser encontrados nas importadoras Tahaa e Decanter, respectivamente.

Do lado do Priorato, Alvaro Palacios Les Terrasses e Mas Igneus FA112 baseados nas uvas Garnacha e Cariñena com passagem por barricas francesas, podem ser encontrados nas importadoras Mistral e Vinissimo, respectivamente. Também devem ser decantados previamente. Por ser uma região com mais notabilidade que Bierzo, seus preços são geralmente mais caros.

l´ermita priorato 2013

O Petrus do Priorato

L´Ermita de Alvaro Palacios simboliza o que há de mais exclusivo no Priorato. Um vinhedo de pouco mais de um hectare de vinhas centenárias de Garnacha e rendimentos muito baixos, perfazendo em torno de mil garrafas por safra. Um vinho que atinge mil euros cada garrafa com tranquilidade. Disputado nas melhores adegas. O da foto acima tem 100 pontos.

Enfim, um belo tema para degustações didáticas onde a influência climática é determinante para um mesmo tipo de solo, gerando vinhos distintos e igualmente notáveis.

Beato e o ano 1964

26 de Junho de 2016

Eu não tenho dúvida que Manoel Beato, marco da sommellerie no Brasil, é muito melhor que seu próprio ano. De fato, 1964 não é um ano de grandes emoções na maioria das regiões vinícolas mundo afora. Mesmo em Bordeaux, a margem esquerda ficou prejudicada devido à chuvas inesperadas na época da colheita. Contudo, a margem direita talvez seja o oasis neste caos mundial. Pomerol e Saint-Emilion produziram tintos excelentes. Só para dar dois exemplos, Petrus foi quase perfeito com 99 pontos RP, e Cheval Blanc com 96 pontos RP. Provavelmente, se já não os tomou, Beato certamente realizará mais este feito. Enfim, vamos aos vinhos da comemoração.

margaux 1964gaja 1964

os bons velhinhos

creme com morilles restaurante oui

creme com morilles

O prato acima de entrada foi uma excelente opção para acompanhar vinhos velhos, já evoluídos. A delicadeza dos cogumelos e do creme não arranharam de forma alguma a fragilidade e sutileza dos bons velhinhos.

De inicio, tanto o Barbaresco de Gaja (genérico, não aqueles de vinhedo), como o Chateau Margaux, ambos 1964, estavam em seus últimos suspiros. Percebe-se o pedigree de ambos, mas sabemos que seu auge passou, deixando a boca seca, sem a vibração da fruta. Houve também a presença de um dos maiores DRCs, Romanée-St-Vivant 1978, tinto de grande complexidade e esplendor. Entretanto, a garrafa estava com problemas e acabou sendo uma decepção. Tudo caminhava em trevas …

monfortino 1971

Barolo de raça

De repente, eis que surge o vinho do almoço. Um dos maioires Monfortinos de todos os tempos, safra 1971 (98 pontos RP), embora o 1964 não fosse uma má ideia, também com boa cotação. Um Barolo para homens, não para meninos. Imponente, marcante, viril, e com uma complexidade impar, emanando cacau e o clássico toque alcatroado. Está no seu melhor momento, embora sem sinais de decadência, clamando pelas belas trufas brancas de Alba. Uma maravilha!

rioja alta 904 1964

um dos maiores da história

Contudo, Manoel ainda tinha alguns trunfos na manga. Deu-nos o privilegio de provar um dos grandes clássicos de Rioja, o fenomenal La Rioja Alta Gran Reserva 904 de seu ano, 1964. Outra maravilha que ombreou-se ao monstro do Piemonte, só que pelo lado da delicadeza e elegância. Um verdadeiro Borgonha espanhol com seus toques empireumaticos de caramelo, bala de cevada, especiarias doces, e fruta ainda deliciosa e vibrante. Estes dois tintos acompanharam muito bem o rico Cassoulet (foto abaixo) preparado especialmente para o evento no restaurante Oui, sempre com pratos surpreendentes.

cassoulet restaurante oui

prato de sustância

Fazendo um parêntese neste grande tinto espanhol, o Gran Reserva 904 é composto basicamente de Tempranillo de vinhas antigas com um pitada de Graciano, outra uva local. O vinho amadurece pelo menos quatro anos em barricas de carvalho americano com várias trasfegas semestrais. Neste procedimento, o vinho se oxigena periodicamente e ao mesmo tempo, é clarificado naturalmente, não deixando sedimentos na garrafa. É um processo semelhante ao estilo Tawny no vinho do Porto. Nesta safra especificamente de 1964, tem 97 pontos RP. Enfim, um grande fecho antes de passarmos às sobremesas.

l´ermita priorato 2013

o suprassumo do Priorato

No meio do caminho apareceu o tinto acima para uma avaliação, um verdadeiro infanticídio. O mítico L´Ermita de Alvaro Palacios do Priorato, safra 2013. Proveniente de parreiras centenárias com a uva Garnacha, tem uma pitada também de Cariñena (Carignan francesa). Pela expectativa de um vinho de cem pontos, esperávamos mais, principalmente em termos de corpo, já que é uma característica marcante da região. De fato, está muito novo, mas tenho ressalvas quanto à sua estrutura para a longevidade e pontuação que se espera. Façam suas apostas.

mousse de mascarpone restaurante ouicarolina com creme patissiere

dueto de sobremesas

Com as sobremesas, outras duas belas surpresas de acompanhamento. Um SGN (Sélection des Grains Nobles) da Alsácia da Maison Hugel 1988 com a uva Gewurztraminer. Uma profusão de aromas envolvendo lichias, flores, mel, resinosos e toda a complexidade dada pela ação da Botrytis. Fez um belo par com a mousse de mascarpone. Logo em seguida, um raro Porto Branco Colheita 1964 da casa Krohn, combinou muito bem com a carolina recheada de crème pâtissière, sobretudo em termos de texturas.

hugel sgn gewurztraminerkrohn branco colheita 1964

Contrastes e Semelhanças difusas

Outro parêntese para esses vinhos, raros e de safras antigas. O alsaciano SGN (Sélection des Grains Nobles) é a categoria máxima em vinhos doces na região, partindo de uvas botrytisadas. A safra 1988 é uma das mais reputadas nesta classificação. Já o também raro Colheita Branco é ainda mais exclusivo que o próprio Colheita Padrão, elaborado com as tintas do Douro. Para este Branco, somente as uvas brancas da região participam do blend. A cor com o envelhecimento adquire um topázio bem particular, enquanto os aromas são mais delicados e sutis que o Colheita tradicional. O ponto alto do equilíbrio e longevidade desta rara categoria é sua incrível acidez.

Em suma, não poderíamos esperar outra coisa do Manoel, do que gratas surpresas. Mesmo num ano complicado, ele soube como ninguém pinçar preciosidades no vasto mundo de Bacco, mostrando a incrível diversidade desta bebida, e raridades poucas vezes degustadas. Além disso, pratos bem pensados para a ocasião com harmonizações sutis. Vida longa Manoel! Parabéns!

Vinhos de Inverno

10 de Junho de 2015

Com a aproximação do inverno, os pratos ficam mais ricos, saborosos e intensos, sendo muito bem-vindos com as baixas temperaturas. E com o vinho não é diferente. O teor alcoólico é um bom indicador destas características. Portanto, vinhos encorpados do Novo Mundo encaixam-se perfeitamente neste cenário. Contudo, para aqueles que não abre mão dos europeus, alguns clássicos são imbatíveis.

Pensando na Itália, o grande tinto do Vêneto é o primeiro a ser lembrando, Amarone della Valpolicella. Vinho macio, quente e de taninos bem amalgamados. Os tintos do sul da Bota também cumprem seu papel. Primitivo de Manduria na Puglia, Taurasi com a uva Aglianico na Câmpania e os atualmente baldados tintos da Sicília. Logicamente, não esquecendo do Piemonte, temos os Barolos e Barbarescos calcados na temperamental casta Nebbiolo.

Grana Padano e Amarone: Casamento eterno

Agora dirigindo-se à França, tintos do Rhône e da Provença são os mais indicados. Châteauneuf-du-Pape é o mais emblemático. Como alternativas de preço, Gigondas e Vacqueyras são belas escolhas. O tinto Cornas baseado na Syrah é o legítimo representando do Rhône Norte. Da Provença, a apelação Bandol resume bem o poder da casta Mourvèdre, assim como outros tintos do sul da França. No sudoeste francês, como não lembrar das apelações Madiran e Cahors, baseadas respectivamente nas castas Tannat e Malbec, acompanhando os gordurosos e densos Cassoulet e Confit de Canard.

Canard e Cahors

Falando agora da Terrinha, Portugal tem nos vinhos alentejanos a força e o calor de seus tintos. Baseados no binômio Aragonês e Trincadeira, também conhecida em outras paragens como Tinta Roriz e Tinta Amarela, respectivamente. Porém, os tintos durienses não ficam para trás, principalmente levando-se em conta a dinamização recente da região conhecida com “Douro Boys”.

No outro lado ibérico, a Espanha mostra força nos robustos tintos do Priorato, calcados nas uvas Garnacha e Cariñena, as mesmas francesas Grenache e Carignan. Os potentes tintos de Ribera del Duero e de seu vizinho mais humilde da denominação Toro são também exemplos clássicos. Não esquecendo de Rioja, os estilos mais modernos e de certa potência, permitem enquadra-los neste cenário.

Safra histórica de Vintages (1994)

Para os vinhos de sobremesa ou de meditação, a península ibérica é especialista. Jerezes, Portos, Madeiras, Moscatéis, fazem boa companhia aos queijos mais curados, sobremesas mais intensas, na apreciação do Puros após jantares mais ricos, ou mesmo em apresentação solo, lendo um bom livro e ouvindo boa música, ou uma boa prosa. Quanto aos Puros (cubanos), marcas como Partagás, Bolívar e Cohiba, têm a força para o clima invernal.

Do lado francês, Banyuls e Maury são os fortificados mais perto do Porto, conhecidos também por Vin Doux Naturel. Já a Itália, os Passitos são emblemáticos. Essa denominação cai bem no sul do país com a ilha de Pantelleria. Já ao norte, a expressão Recioto emblematiza o mesmo processo. Não poderíamos deixar de mencionar o famoso Vinsanto, o vinho de meditação símbolo da Toscana.

Lógico que tudo isso vale para o Dia dos Namorados, data clássica em nosso calendário. Se você é daqueles que não abre mão do Champagne nesta ocasião, procure por exemplares mais densos, calorosos, como Bollinger, Krug, um Blanc de Noirs e evidentemento, os rosés, especialmente um Gosset.

Confraria: Espanha em Alto Nível

11 de Dezembro de 2014

Jantar à francesa regado a vinhos espanhóis. Evidentemente, Ribera del Duero e Rioja brilharam à mesa. O desfile  foi extenso, sendo paulatinamente servidos dois a dois. O único branco foi o estupendo Tondônia Gran Reserva 1964. Ainda bem fresco em boca com total harmonia entre madeira e fruta. Bem estruturado, é grande parceiro para os pratos de bacalhau, por exemplo.

Outro ponto interessante foi a comparação das famosas taças Riedel com as taças Zalto´s de origem austríaca não encontradas no Brasil ainda. Seu diferencial, além do belo design, é o peso extremamente leve. Pessoalmente, achei o desempenho da Zalto´s surpreendente. Os aromas eram mais intensos e em boca, o vinho tornava-se mais macio. Entretanto, as opiniões foram diversas sem esquecer que as taças Riedel mantêm um padrão muito alto. Em resumo, valeu a experiência.

L´Ermita: Ícone do Priorato

O encontro começou com o vinho acima, uma double Magnum devidamente decantada. Apesar de seus quinze anos, o vinho ainda está em tenra idade. Contudo, seus aromas são envolventes, extremamente macio em boca e agradavelmente quente, mantendo as características de seu terroir. Foi um dos vinhos que acompanhou o maravilhoso Jamon Joselito, o melhor de todos os Pata Negra, ou seja, uma iguaria soberba da charcuterie. Segue foto abaixo:

O ácio oleico encontrado neste presunto dá origem a uma das gorduras mais saudáveis que são presentes também nos melhores azeites extra-virgens.

A arte da manipulação

Os tintos do jantar privilegiaram a safra de 2004, uma das maiores dos últimos tempos na Espanha. Todos de ótimo nível com destaque para o Pingus e o El Pison. O primeiro, um Ribera del Duero de preços estratosféricos, mostrou potência, concentração e um longo final de boca. El Pison da bodega riojana Artadi, pende mais para elegância, mas com muita profundidade. Características próprias do terroir de Rioja Alavesa. Enfim, duas grandes promessas para vinhos de guarda com notas 100 de Robert Parker.

2004: Talvez o melhor da dinastia

Dois notas 100 lado a lado

Aproveitando a foto acima, os Vegas foram um caso à parte. Primeiramente, um 1965 degustado em Magnum. Brilhante, super elegante e habitualmente inteiro, como se espera de um Vega mesmo com idade. Já o mesmo exemplar em garrafa standard (750 ml), um pouco cansado, com o acetato de etila, próprio desta bodega, confirmando a melhor conservação em magnum e por conseguinte, a longevidade dos grandes vinhos. Já o 1962, um dos nota 100 de Parker, cresceu durante a degustação. Embora já delicioso desde a abertura, após três horas decorridas, portanto, no final do jantar, estava ainda mais exuberante, com aromas exóticos e delicados lembrando um bom Lafite. Realmente, um grande exemplar.

Toda a turma junta

No final da noite, a adega do anfitrião foi invadida e saqueada com duas preciosidades: Château Montrose 1990 e Château Haut-Brion 1989. Dois notas 100 de Parker de primeiríssima grandeza. O Haut-Brion com aquela elegância de sempre, um dos melhores de toda sua série. O Montrose, esse é pessoalmente o melhor do château já degustado. Ainda inteiro, vigoroso, com muita vida pela frente. A maciez e a concentração deste exemplar são notáveis.

Só a garrafa já vale a experiência

Puros incluindo o insuperável Behike (Cohiba)

Terminando a noite, vieram os Puros. Aliás, muito bem conservados e climatizados pelo anfitrião. Foram devidamente acompanhados por belos Cognacs. Paradis, um dos tops da Hennessy e Richard, uma escultura da apelação Grande Champagne, a começar pela linda garrafa. A combinação foi inenarrável. Santé pour tous!

Terroir: Priorato

1 de Agosto de 2011

Priorato ou Priorat (em catalão) compartilha com Rioja a classificação máxima nas atuais leis espanholas, como Denominación de Origen Calificada (DOCa). Situada na porção nordeste da Espanha, sub-região da Catalunha, dentro da província de Tarragona. Abaixo, mapa dos principais municípios que formam o Priorato.

11 municípios formando a famosa denominação

Esta região foi inspiração para outra denominação espanhola chamada Bierzo, apresentada em artigos anteriores enfatizando a uva local Mencía. De fato, há muitas características em comum, tais como: solos ricos em pizarras (espécie de argila laminar), orografia acidentada e revitalização de vinhedos antigos com cepas autóctones. Pizarra ou llicorella em catalão, são solos pedregosos de origem metamórfica, ou seja, modificação de argilas ricas em mica e quartzo por ação de temperatura e pressão ao longo das eras geológicas.

Voltando ao Priorato, na década de oitenta do século passado, houve uma recuperação dos vinhedos plantados com antigas cepas de Garnacha (Grenache) e Cariñena (Carignan), motivada por enólogos famosos (sobretudo, René Barbier e Álvaro Palacios) que perceberam o potencial da região. Com rendimentos muito baixos e uma bela concentração nos mostos gerados a partir de videiras antigas, foi possível elaborar vinhos musculosos e com incrível mineralidade, advinda deste solo particular. São vinhos potentes, calorosos e bem apropriados para este nosso período invernal.

Relevo montanhoso: altitude entre 300 e 700 metros

Apesar de existirem pequenas quantidades de vinhos brancos, rosés e até fortificados (generosos), estamos ressaltando os tintos, que efetivamente deram fama à região. Os tradicionais tintos do Priorato são elaborados à base de Garnacha e Cariñena de videiras antigas, em proporções variadas. Podem ser até varietais. Nos Prioratos mais modernos, há uma mescla com castas internacionais (francesas) como Cabernet Sauvginon, Cabernet Franc, Merlot, Pinot Noir, Syrah, Ull de Lebre (Tempranillo) e Picapoll Negro, em pequenas proporções, sem uma definição rigorosa.

Solos de pizarras (Llicorella em catalão)

A graduação alcoólica mínima para esses tintos é de 13,5º e o tempo de permanência em barricas é de seis, doze e vinte e quatro meses para as designações crianza, reserva e gran reserva, respectivamente. Para vinhos de tal concentração, o rendimento máximo é de 39 hectolitros por hectare, sendo que na prática, mostra-se bem menor (muitas vezes, abaixo de 20 hl/ha). Os vinhedos de Garnacha e Cariñena respondem por mais de 60% da área de cultivo.

Nas principais importadoras  (Mistral, Vinci, Grand Cru, Decanter) podem ser encontrados belos exemplares. Evidentemente, os vinhos de alta gama dos produtores mais famosos têm seu preço. A produção é muito pequena e os rendimentos são baixíssimos. Pratos à base de carnes vermelhas ou caças com molhos densos e condimentados costumam harmonizar muito bem.

Destaques: Clos Mogador (Mistral), Alvaro Palacios (Mistral), Mas Martinet (Grand Cru) e Roquers de Porrera (Decanter). As respectivas importadoras estão entre parênteses.


%d bloggers gostam disto: