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Melhores vinhos de 2019

6 de Novembro de 2019

Ao longo do ano provei muita coisa boa entre vinhos de sonhos, inacessíveis, seja pelo preço, seja pela dificuldade em encontra-los. Paralelamente, provei os vinhos terrenos, mais acessíveis e disponíveis no mercado brasileiro. Com a aproximação do final de ano, ficam algumas dicas para festas, presentes, e mesmo para seu consumo pessoal. São doze indicações, formando uma caixa de 2019 nos mais variados estilos.

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1 – Champagne Agrapart Mineral Extra-Brut Grand Cru 2012

Uma das mais badaladas e reputadas Maisons de Champagne na atualidade, muito bem pontuada nos melhores guias. Este provado e nomeada Cuvée Mineral, já o nome diz tudo. Extremamente mineral, seca, acidez incisiva, um autêntico Blanc de Blancs. Vale experimentar todos os outros champagnes da Casa trazidos com exclusividade pela importadora Juss Millesimes (www.juss-millesimes.com.br).

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2 – Nicolas Joly Coulée de Serrant 2011

Nicolas Joly dispensa comentários. Pai da Biodinâmica e exímio enólogo, faz um dos brancos mais espetaculares de toda a França dentro de Savennières no Vale do Loire com apelação própria Coulée de Serrant, um monopole com sete hectares de vinhas de cultivo esmerado. O vinho com a uva Chenin Blanc precisa ser decantado com horas de antecedência, antes do serviço. Vinho de grande complexidade e persistência aromática. Os outros vinhos de Nicolas Joly são igualmente de grande distinção. Trazidos pela importadora Clarets (www.clarets.com.br).

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 3 – Chateau Le Bon Pasteur 2007

Um Bordeaux relativamente pronto para ser tomado. Um dos clássicos de Pomerol onde a uva Merlot e Cabernet Franc moldam vinhos elegantes e macios. A safra 2007 ajuda na precocidade do vinho com taninos afáveis e aromas já desenvolvidos. Trazido pela importadora Clarets, muitos outros Bordeaux interessantes podem ser apreciados. Uma especialidade da Casa (www.clarets.com.br).

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4 – Chateau Gloria Saint-Julien 2010 

Um dos clássicos Crus Bourgeios de Saint-Julien, embora esta classificação seja um tanto polêmica. De fato, o chateau tem uma consistência muito boa, safra a após safra. Nesta 2010, uma safra clássica de grande longevidade. No momento, precisa ser devidamente decantado, mas já apresenta belos aromas e boa harmonia em boca, embora possa ser adegado por pelo menos mais dez anos. Dá uma boa ideia de um belo Grand Cru Classe. Importadora Mistral (www.mistral.com.br).

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5 – Benjamin Romeo La Viña de Andrés Romeo 2012 

Não é um vinho barato, mas é um baita Tempranillo. Um estilo moderno e extremamente elegante, sem exageros. Uma boa extração de frutas com muito cuidado e sutileza. A madeira empregada é francesa da mais alta qualidade, escolhida pessoalmente por Benjamin Romeo. Boca harmônica e longa persistência aromática. Trazido esse e outros da bodega pela importadora Premium (www.premiumwines.com.br). 

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6 – Porto Quinta do Noval LBV Unfiltered 2012 

Quinta do Noval, Casa de elite no cenário de vinhos do Porto. Esta talvez seja sua maior pechincha. Um LBV não filtrado que tem nível de muitos Vintages por aí. Extrema concentração, pureza de frutas, e muito expansivo em boca. Deve ser obrigatoriamente decantado e pode durar por longos anos em adega. Difícil bate-lo nesta categoria. Trazido pela Adega Alentejana (www.alentejana.com.br).

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7 – Maison Roche de Bellene Chambolle-Musigny Vieilles Vignes 2014 

Por ser um vinho comunal, impressiona muito bem. São vinhas entre 50 e 70 anos na comuna de Chambolle-Musigny. Um tinto robusto de frutas escuras e um toque terroso. Sai um pouco daquela feminilidade de Chambolle, mais muito elegante. Taninos muito finos e destacada persistência aromática. Um belo exemplar da Borgonha. Trazido pela importadora Premium (www.premiumwines.com.br).

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8 – Chateau Calon-Ségur 2009 

Um das safras históricas deste Chateau de Saint-Estèphe com 96 pontos Parker. Baseado em 90% Cabernet Sauvignon, complementado com Merlot e Petit Verdot. O vinho tem uma estrutura magnifica com taninos muito finos e uma bela acidez. Fatores estes que lhe conferem enorme longevidade. Os aromas ainda são um tanto tímidos, mas de muita classe. Uma das melhores pedidas desta bela safra. Importadora Mistral (www.mistral.com.br).

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9 – Casa Marin Pinot Noir Litoral 2013 – Vinci

Como é difícil encontrarmos um Pinot Noir fora da Borgonha. Na zona fria do Vale San Antônio no Chile, Casa Marin elabora algo interessante. Um Pinot Noir com frescor e aromas elegantes desta casta. Madeira bem colocada, vinho ainda jovem, mas com bom poder de fruta e notas defumadas bem mescladas ao conjunto. Bem equilibrado em boca. Uma opção segura e uma das referências na América do Sul. Seu Sauvignon Blanc também é ótimo. Importadora Vinci (www.vinci.com.br). 

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10 – Travaglini Gattinara 2013 – World Wine

Travaglini é um dos destaques na denominação Gattinara do Piemonte. Um Nebbiolo de clima alpino, menos encorpado que os clássicos Barbarescos e Barolos. Contudo, um vinho muito elegante e com toques terciários típicos da casta. Muito equilibrado e com boa persistência aromática. Boa pedida para pratos com trufas. Importadora World Wine (www.worldwine.com.br). 

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11 – Domaine Ferret Pouilly-Fuissé 2011 – Mistral

Domaine Ferret é referência absoluta na apelação Pouilly-Fuissé com vinhos muito equilibrados e de grande classe. Este provado é dos mais simples e já muito bem construído. Suas outras tantas cuvées, uma melhor que a outra. Tem perfil para enfrentar um bom Premier Cru das famosas apelações de Beaune. Sempre um porto seguro. Importadora Mistral (www.mistral.com.br). 

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12 – Zind-Humbrecht Muscat Goldert Grand Cru 2011

Muscat é uma das quatro castas nobres da Alsace, mas é a menos prestigiada. Neste exemplar do ótimo produtor Zind-Humbrecht ela alcança outra dimensão, dificilmente encontrada na maioria dos vinhos concorrentes. Trata-se de um vinhedo Grand Cru de solo calcário, o qual confere extrema elegância e mineralidade ao vinho. Tem um leve açúcar residual muito bem equilibrado por uma acidez vibrante. Seus aromas são típicos da casta, mas com muitas nuances. Vai muito bem com comidas asiáticas com toques agridoces. Importadora Clarets (www.clarets.com.br). 

Sempre que fazemos uma seleção, alguma injustiça, alguma falta, pode ser notada. Alguns outros vinhos poderiam ter entrado nesta caixa, mas os que estão aí são bem diversificados e devidamente testados. Tenho certeza que cada leitor irá em alguns deles ter seu gosto pessoal atendido. Que outros bons vinhos venham em 2020, já batendo em nossa porta!

 

 

Minha Seleção 2018 ABS-SP

28 de Novembro de 2018

Como um dos Diretores de Degustação da ABS-SP, neste artigo faço uma seleção dos dez melhores vinhos degustados na entidade ao longo de 2018. Alguns dos critérios escolhidos foram preço acessível, disponibilidade do produto, originalidade, e uma seleção com vários tipos de vinhos. É evidente que se trata de uma escolha pessoal onde alguns outros vinhos também interessantes ficaram de fora. Enfim, os dez escolhidos seguem abaixo.

1. Huet Vouvray Pétillant Brut 2007

Este é o único espumante da lista, e ainda assim um Pétillant (pouquíssimo gás dissolvido no vinho). Essa era a maneira tradicional de se elaborar Vouvray na chamada Old School. Apelação importante do Loire onde reina a casta Chenin Blanc. O produtor dispensa comentários, Domaine Huet. Esse vinho, a princípio um branco tranquilo, é engarrafado com algum açúcar residual natural, muito comum na região. Com o passar do anos em adega, ele adquire uma pequena quantidade de gás dissolvida, resultado de lenta fermentação daquele açúcar residual pelas leveduras naturais presentes no vinho. O resultado é um vinho extremamente gastronômico, de rica textura, e leve efervescência das borbulhas. Aromas elegantes e complexos denotando mel de flor de laranjeira, maracujá, amêndoas, e notas de pâtisserie. Pode ser uma bela opção para entradas com foie gras ou patês de caça, especialmente aves. Um vinho que vale no mínimo, pela curiosidade. Importadora Premium (www.premiumwines.com.br). 

2. Viña Aquitania Sol de Sol Chardonnay 2009

Se não for o melhor, está entre os melhores Chardonnays chilenos. Mais do que ser muito bom, provou que pode envelhecer bem, pois este exemplar com quase dez anos, estava em seu esplendor. Ainda muito rico em frutas tropicais, madeira bem integrada, e um equilíbrio notável. Tem um estilo europeu, bem diferente do que se espera de um vinho chileno. Já um clássico do Chile, é elaborado com uvas do frio Valle de Malleco, bem ao sul do país. Importadora Zahil.

ABS 2018 RICCITELLI SEMILLON

Descorchados: 92 pontos

3. Matias Riccitelli Old Vines Sémillon 2017

Um branco que foge totalmente dos padrões argentinos, velhas vinhas de Sémillon plantadas no anos 70 na fria região da Patagônia, bem ao sul do país. O vinho é amadurecido por seis meses em barricas  (60%) e tanques de concreto (40%). O contato com as leveduras após a fermentação por algumas semanas, confere textura e complexidade ao conjunto. Bela riqueza aromática, mesclando ervas, mel, baunilha, e pêssegos. Sempre macio, sem perder o fresco. Notável persistência aromática. Importadora Winebrands.

 

números 4 e 6

4. Travaglini Gattinara DOCG 2012

Travaglini é a grande referência quando falamos de Nebbiolo da DOCG Gattinara. Localizada bem ao norte da denominação Barolo, seus vinhos primam muito mais pela elegância e sutileza, do que pela potência. Com toques florais e de alcaçuz, este tinto é muito equilibrado e elegante. Seus taninos são delicados para a casta em questão, além de expansivo em boca. Preço bem razoável para Nebbiolos deste porte. Importadora World Wine.

5. Cantina Cellaro Due Lune IGT 2013

Com a Sicilia em voga, este é o segundo de uma série de italianos da lista. Um corte clássico da ilha com Nerello Mascalese predominando (70%) e Nero d´Avola como coadjuvante (30%). O vinho passa cerca de oito meses em barricas francesas. Um tinto moderno, mas de muita tipicidade, com bom poder de fruta, toques tostados elegantes, florais, e chocolate escuro. Bem balanceado em boca, taninos de boa textura, e final bem acabado. Preço bem honesto para o que oferece. Importadora Casa Flora.

6. Castellare di Castellina Chianti Classico 2014

Dos vários toscanos degustados ao longo de 2018, este Chianti Classico chamou a atenção pela elegância e por seu preço honesto. Madeira bem colocada, aromas típicos da Sangiovese, e taninos muito bem moldados. Seu belo frescor o torna muito gastronômico. Vinícola tradicional da região histórica de Castellina in Chianti. Importadora Mistral.

 

números 5 e 7

7. Chateau Fayau Bordeaux Superieur 2015

Premiando a bela safra 2015 de tintos bordaleses, este Chateau relativamente simples, mostrou tipicidade, equilíbrio, elegância, e sobretudo bom preço. Neste típico corte bordalês, uma expressiva porcentagem de Cabernet Franc presente, dá um toque a mais de elegância ao conjunto. Pronto para ser tomado. Importadora Mistral.

8. Vinhas da Ciderma Grande Reserva 2007

Nas últimas degustações do ano, apareceu este belo tinto do Douro com castas locais, esbanjando classe e vivacidade. Embora já com dez anos de evolução, não denuncia a idade. Muita fruta no aroma, toques resinosos e de alcaçuz com taninos de ótima textura. Madeira bem equilibrada e bela expansão em boca. Ótimo momento para ser apreciado. Importadora Premium.

 

números 9 e 10

9. Quinta do Noval Porto LBV Unfiltered 2009

Podemos considera-lo como um mini-vintage, tal a concentração e qualidade deste Porto. Cor retinta, aromas de frutas escuras, toques florais, de torrefação e algo mineral. Seus taninos são densos e muito bem construídos. Doçura e equilíbrio notáveis, além de uma bela persistência aromática. Convém decanta-lo para aeração e também na separação dos sedimentos, já que não é filtrado. Dentro da categoria LBV é dos mais distintos. Importadora Adega Alentejana (www.alentejana.com.br).

10. Alois Kracher Noble Reserve Trockenbeerenauslese 

Finalizando a lista, um belo vinho botrytisado da Áustria. O produtor Alois Kracher é referência na região de Burgenland, famosa pela regularidade em propiciar o fenômeno da “podridão nobre”. Num corte inusitado de Welschriesling (Riesling Itálico), Chardonnay, e Traminer, o vinho é maturado em grandes toneis de madeira inerte. Com 195 g/l de açúcar residual, sua doçura é perfeitamente equilibrada por uma revigorante acidez. Os aromas marcantes de Botrytis, mel, flores, e pêssegos, são notáveis. Untuoso em boca e de grande persistência aromática. Pela complexidade e estilo de vinho, tem um preço bem convidativo na importadora Mistral. Vale lembrar, neste tipo de vinho estamos falando em meia-garrafa.

Passando por vários tipos, estilos, preços, e regiões de vinhos, espero que esta lista possa ajuda-los nas compras e presentes no fim de ano com a aproximação das festas e comemorações. As safras e preços podem ter sido alteradas ao longo do ano, mas nada que prejudiquem a qualidade e indicação destes vinhos. A maioria varia entre 150 e 300 reais. Aproveitem!

Risotos e Lareira

8 de Julho de 2018

Risotto em italiano, ou Risoto aportuguesado, é um prato do norte da Itália, elaborado com arrozes da região como Arborio ou Carnaroli, por exemplo. Normalmente é servido como primo piatto na cucina italiana, mas aqui entre nós, muitas vezes atua como guarnição para algum tipo de carne. Seja como for, é um prato delicioso, reconfortante, e muito adequado para o friozinho do nosso inverno. Nesse sentido, vamos a quatro receitas  ecléticas, harmonizando com alguns tipos de vinhos.

Nebbiolo e Sangiovese com funghi porcini

Em termos de textura, o risoto apresenta notável cremosidade, sugerindo vinhos com alguma densidade que normalmente tendem a ser mais encorpados. Como é próprio da cozinha italiana, o risoto é mais uma base que conduz o sabor do prato de acordo com o ingrediente principal. É o mesmo raciocínio das pizzas e massas, onde os ingredientes mais importantes definem os tipos de vinhos mais adequados.

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Restaurante Gero: cremosidade perfeita

Risotto ai Funghi Porcini

Um dos mais saborosos, pode ser servido numa sequência de pratos ou acompanhando carnes como ossobuco, filet mignon grelhado com molhos à base de vinhos, demi-glace, ou molho rôti. Neste caso, é um terreno para tintos de bom corpo e sabores marcantes. Um toque de envelhecimento é bem-vindo, fazendo a liga com os sabores do risoto. Aqui cabe um Barbaresco, um Brunello, um Ribera del Duero, ou um Douro, todos de boa procedência e com pelo menos dez anos de safra. É importante neste primeiro exemplo, vinhos de boa complexidade e toques terciários.

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Risoto de Linguiça e Legumes

Escolha a linguiça de sua preferência, mais ou menos apimentada, e legumes como cenoura, ervilhas, pimentão, por exemplo. Um pouco de salsão na preparação inicial dá um toque especial ao conjunto. Aqui pode ser um prato em si, já que inclui uma bela proteína. Para Harmonização, continuamos nos tintos, mas podem ser mais simples em relação ao risoto anterior. Os sabores mais apimentados e com certa rusticidade, pedem vinhos tintos vigorosos, frutados, e de algum frescor. Os italianos da Sicília com as uvas Nero d´Avola ou Nerello Mascalese podem ser belas opções. Do lado português, que tal um alentejano ou vinhos da região de Lisboa. O cuidado é procurar alentejanos novos e com bom frescor. Do lado de Lisboa, vinhos um pouco mais densos para casar com a textura do prato. Alguns Garnachas espanhóis também podem dar certo. Do lado francês, Syrahs do Rhône relativamente novos e de categorias mais simples como Crozes-Hermitage ou Saint-Joseph são belas pedidas.

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Risoto de Bacalhau

Para aqueles que não comem carne vermelha, mas não abrem mão de sabores marcantes, esta é uma das melhores opções. Cada um tem sua receita e ingredientes adequados como azeitonas pretas, brócolis na finalização, pimentões, entre outros. Como se trata de bacalhau, tintos e brancos podem gerar grandes polêmicas na harmonização. Na ala dos brancos, Chardonnays barricados são opções clássicas e certeiras no sentido de texturas e sabores de personalidade. Dentro de Portugal, os brancos do Dão com a casta Encruzado, além dos brancos alentejanos com a casta Antão Vaz, são pedidas clássicas. Do lado dos tintos, é só prestar atenção nos taninos. Eles devem ser discretos e com boa polimerização. Pode ser um alentejano macio, novo, e de muita fruta, ou partir para os sabores mais marcantes do bacalhau com tintos já evoluídos e de aromas terciários. Os Dãos garrafeiras se prestam muito bem neste caso, além dos Riojas Reserva e Gran Reserva com toques balsâmicos e de madeira perfumada. Os taninos nestes casos são bem resolvidos e delicados.

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bela foto: Flavia Blogger

Risoto de Camarão e Aspargos

Uma receita para quem não abre mão dos vinhos brancos. Os aspargos pedem vinhos de bom frescor. O toque adocicado do camarão vai ao encontro de vinhos frutados e porque não, algum toque off-dry. Neste sentido, um belo Riesling do Reno ou melhor ainda da Alsácia com mais textura, pode calibrar bem o prato. Como sugestão, os vinhos do produtor alsaciano Zind-Humbrecht (importadora Clarets) costumam apresentar textura mais cremosa e um toque sutil sugerindo doçura. Neste caso, tanto Riesling como a exótica Pinot Gris da Alsácia são escolhas certeiras. Vinhos brancos do Rhône Norte com a uva Viognier são emblematizados na apelação Condrieu. Um Sauvignon Blanc com muita fruta e frescor é outra combinação certeira, mas precisa ter textura. Um Cloud Bay da Nova Zelândia ou o chileno Amayna da importadora Mistral apresentam este perfil adequado ao prato.

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Esta é a versão do risoto sem a presença da manteiga, onde o azeite extra-virgem pode fazer o papel. É mais leve, saudável e digestivo. O restaurante Ristorantino tem várias opções nesta versão extremamente bem executadas como o de bacalhau ou de camarão.

Enfim, os risotos são opções de prato quase imprescindíveis para essa época do ano, apresentando uma infinidade de sabores de acordo com os ingredientes escolhidos e a criatividade de cada um. Saúde a todos!

Esses caras chamados Taninos

3 de Setembro de 2016

Se você gosta de vinho e detesta química, basta saber que taninos são substâncias desagradáveis, ou seja, são adstringentes e amargas. Geralmente, o pessoal não gosta. Outra coisa, taninos são um dos maiores vilões na enogastronomia. Tanto o sal, como a acidez, potencializam sua ação, tornando um verdadeiro tormento combiná-los com certos pratos. Para comprovar, basta experimentar um Tannat com queijo azul (tipo gorgonzola) claramente salgado, e/ou uma salada com molho tendendo para a acidez, característica absolutamente normal.

Agora, se você gosta de vinho tinto e quer entender um pouco mais sobre este vilão, vamos tentar esclarecer o assunto sem que você precise fazer um doutorado em química.

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o bom português: tânico ou tanante?

Os taninos presentes no vinho são supostamente naturais, embora haja na indústria química taninos sintetizados. Eles existem na natureza como forma de preservação e defesa das plantas frente a ataques de animais. Estão presentes nos vegetais, frutos e todo o material lenhoso. Além de adstringentes e amargos, são indigestos. Portanto, é um aviso de alerta ao predador, sobretudo insetos.

Quimicamente, os taninos são definidos como polifenóis, que nada mais são do que núcleos aromáticos ligados à hidroxilas (OH). Portanto, são substâncias altamente reagentes, solúveis na água e no álcool. Apesar de possuírem hidroxilas, característica comum dos álcoois, não devem ser confundidos com os mesmos, tendendo mais a substâncias ácidas.

Uma das reações mais importantes dos taninos e que nos interessa muito, são suas ligações com proteínas. Quando bebemos vinho tinto sem alimento, percebemos muito mais a sensação dos taninos. A explicação vem do fato dos mesmos reagirem com uma proteína da saliva chamada mucina, responsável pelo poder de lubrificação da mesma. Portanto, percebemos claramente aquela sensação de adstringência. Daí, uma das melhores pedidas para conciliarmos taninos com comida é combiná-los com carne vermelha suculenta, pelo menos ao ponto, grelhada corretamente, e rica em proteínas. Os taninos agradecem e deixam sua saliva em paz.

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suculência: os taninos agradecem

Os taninos que percebemos no vinho vêm em parte da própria uva, sobretudo as mais tânicas como Cabernet Sauvignon, Tannat e Nebbiolo, e em parte, das barricas de carvalho, principalmente as novas. Ocorre, que esses taninos pertencem a grupos diferentes chamados: taninos hidrolisáveis (da madeira) e taninos condensados (do vinho propriamente dito).

Taninos Condensados

São taninos mais estáveis, não hidrolisáveis, embora sejam solúveis em água, dependendo de sua dimensão molecular. Sofrem a polimerização, juntando-se em cadeias longas e assim, diminuindo a adstringência com uma textura mais agradável. Num certo momento da polimerização, precipitam-se formando sedimentos na garrafa devidamente adegada, o que chamamos também de borra.

A qualidade desses taninos está ligada à maturação fenólica do cacho de uvas, em última análise, de cada grão de uva, e também das partes envolvidas no processo de esmagamento e maceração das uvas. Os melhores taninos vêm da pele da uva, ou seja, a casca devidamente madura. O engaço (estrutura ramificada que sustenta os grãos de uva) e sobretudo as grainhas (sementes dos grãos), fornecem taninos de qualidade inferior, com adstringência e amargor demasiados. Se forem utilizados, mesmo com o passar do tempo do vinho em garrafa, o problema ameniza, mas persiste sem solução. Em alguns casos, de uma perfeita maturação das uvas, o próprio engaço pode ser vinificado junto, embora certos produtores não concordem com este procedimento. Na maioria das vezes, as uvas são totalmente desengaçadas.

Taninos Hidrolisáveis

Presentes na madeira de carvalho, matéria-prima importantíssima no amadurecimento dos vinhos tintos mais estruturados e ricos em taninos, os taninos da madeira são mais reativos formando o ácido gálico. Isso é importante na preservação do vinho em termos de estabilização de seus componentes. A micro-oxigenação fornecida pelas aduelas das barricas (ripas de madeira que forma o barril) reage sobretudo com os taninos hidrolisáveis da madeira, preservando assim da oxidação os taninos condensados do vinho. Portanto, para os vinhos sabidamente de guarda, os taninos condensados da uva e do vinho em última análise, seguem tranquilos numa lenta evolução em garrafa, se polimerizando lentamente, e contribuindo para a formação do chamado bouquet ou aromas terciários.

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    Barolo: rico em taninos, mas pobre em antocianos

Antocioanos

É um outro grupo de polifenóis responsável pela cor violácea dos vinhos tintos. São altamente reagentes, oxidando-se e polimerizando-se com facilidade. Não fornecem estrutura ao vinho em termos de corpo e também não são adstringentes. É importante separar bem estas duas famílias de polifenóis, taninos e antocianos, para entender a evolução de certos vinhos.

Por exemplo, um Beaujolais de boa qualidade e procedência costuma ter quando jovem uma coloração intensa e violácea por sua riqueza em antocianos. Com pouco tempo em garrafa, a cor decai rapidamente atingindo toques atijolados. Como ele é pobre em taninos, o vinho tem vida relativamente curta, oxidando-se rapidamente.

De modo contrário, quando nos deparamos com um Nebbiolo do Piemonte, Barolo ou Barbaresco, pobre em antocianos, sua cor não costuma ser muito intensa, tendendo ao atijolado em tempo relativamente curto. Contudo, a Nebbiolo é rica em taninos e daí vem a explicação pela incrível longevidade de seus vinhos.

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pigeage: extração de cor e taninos

Longevidade dos Tintos

Em muitos casos, o componente mais importante para um vinho tinto vencer o tempo, adquirindo complexidade e maciez, são os taninos. Para isso, os taninos devem ser de boa qualidade, em última análise, de boa textura, e em quantidade considerável, contribuindo para a estrutura do vinho. Essas características só são alcançadas com um ciclo de maturação da uvas estendido, visto que a maturação e acumulação fenólicas são mais vagarosas que o ganho de açúcar nas uvas. Os exemplos clássicos são a Cabernet Sauvignon na margem esquerda de Bordeaux, e a Nebbiolo no Piemonte para os vinhos Barolo. Duas uvas sabidamente tânicas.

Para que o trabalho de campo seja complementado com sucesso na cantina, esses taninos precisam ser extraídos com precisão e sem excessos. A temperatura ideal de fermentação fica um pouco acima de 30°C (trinta graus centígrados) e o tempo de maceração, inclusive pós-fermentativo é muito variado, podendo prolongar-se por algumas semanas.

Em contrapartida, a baixa extração de taninos quando queremos um vinho macio desde jovem, sem as características de um vinho de guarda, é fermentá-lo em temperaturas mais baixas, por volta de 25°C, e com macerações curtas. O clássico exemplo vem de boa parte dos tintos australianos, bastante frutados e macios.

Pronto, ficou mais fácil de digeri-los …

Entre Tintos e Brancos

22 de Agosto de 2016

Nas últimas provas realizadas entre amigos, brancos e tintos destacaram-se numa diversidade de propostas, uvas, regiões e estilos.

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safra prazerosa e acessível

O vinhedo Perrières expressa de forma magnifica toda a essência de um Meursault, sobretudo nas mãos de Michel Bouzereau. Com vinhas plantadas em 1960, 78 e 97, seus vinhos têm estrutura e equilíbrio notáveis. A fermentação e amadurecimento são feitos em barricas, sendo 25% novas. Medida certa para não marcar o vinho. Notas de mel, frutas brancas maduras, e um elegante tostado em meio a um toque mineral, somam-se a uma textura macia, prolongando o final de boca. Já muito agradável, vai bem com vitela, peixes, e frutos do mar em molhos brancos, além de ostras gratinadas. Importadora Cellar.

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branco exótico

Os vinhos eslovenos de Marko Fon são sensação no momento pelo seu exotismo. Ele trabalha com as brancas Vitovska e Malvazija Istarska, ambas uvas locais. Na foto acima, trata-se da Malvazija, também conhecida como Malvasia Istriana, própria do nordeste italiano (Friuli). Suas vinhas de quatro hectares são de idade avançada, algumas centenárias, num solo calcário no Carso (Kras), sub-região eslovena bem próxima do mar adriático, sofrendo sua influência salina.

O mosto é fermentado com algum contato com as cascas em toneis de madeira inerte com leveduras naturais. Esse tipo de Malvasia confere grande acidez ao vinho e pureza em fruta. Um branco vibrante, bastante austero e fechado logo que aberto, necessitando de decantação por pelo menos uma hora. Aromas exóticos lembrando pêssegos, damascos e carambola, além de um fundo mineral e ervas. Ele lembra de maneira sutil um vinho Laranja. Pode acompanhar bem bacalhau, pratos com aspargos, e numa combinação ousada, ostras frescas com geleia de estragão. Importadora Decanter.

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o inimitável Aldo Conterno

Todos aqueles que já tomaram bons Barolos precisam ter a experiência com um Aldo Conterno. O homem consegue fazer um Borgonha dentro do Piemonte, tal a delicadeza de seus Nebbiolos. Este do vinhedo Colonnello com vinhas entre 40 e 45 anos prima pela elegância numa escola tradicionalista. Seus 28 meses em carvalho da Eslavônia promovem a micro-oxigenação certa para seus aromas etéreos com notas de alcaçuz, cerejas negras, alcatrão e especiarias. Seus taninos são um capitula à parte. E olha que taninos de Nebbiolo não são fáceis. Muito equilibrado e um final extremamente harmônico. Importadora Cellar.

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foge do estilo Novo Mundo

O que encanta de cara neste vinho é o frescor, apesar de seus quase dez anos (safra 2007). A cor é escura, muito intensa. Melhorou muito com o tempo em taça, ratificando que os vinhos com a uva Syrah são muito redutivos, merecendo longa decantação. Frutas negras em geleia, toques defumados, de chocolate escuro, e especiarias, além de toques mentolados e minerais. Corpo de médio a bom, taninos de rara textura, e um final fresco e longo. As vinhas situam-se em Rosario, setor nobre da vinícola com grande influência do Pacifico no Valle San Antonio. Muito agradável no momento, embora vislumbre ainda bons anos de guarda. Uma verdadeira referência de Syrah no Chile. Importadora Grand Cru.

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safras espetaculares: 1964, 1973 e 2001

Viña Ardanza Reserva Especial 2001

A bodega Rioja Alta dispensa comentários com seus ótimos vinhos cheios de personalidade. Viña Ardanza é o terceiro na hierarquia, atrás dos estupendos Gran Reserva 904 e 890. Costuma mostrar o caminho do estilo da casa com seus toques balsâmicos, de especiarias, caramelo, cevada, além de um equilíbrio gustativo notável. Contudo, neste ano 2001 superou em todos os sentidos, merecendo a menção Reserva Especial. Já na cor, percebemos a alta concentração do vinho, nem de longe denotando seus 15 anos de vida. Mais encorpado que o normal, taninos ultra finos e uma expansão de boca marcante. Definitivamente, um grande ano para esta bodega. Importadora Zahil.

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o equilíbrio dos Madeiras

Cossart Gordon Madeira Verdelho 5 Years Old

Os Madeiras costumam relacionar suas uvas mais nobres com o grau de doçura do vinho. Portanto; Sercial para o seco, Verdelho para o meio seco, Boal para o meio doce, e finalmente, Malmesy para o doce. Este Medium Dry degustado, surpreendeu pela doçura e complexidade apresentadas. Acompanhou muito bem um Partagas E2, finalizando um belo almoço. Suporta bem sobremesas levemente adocicadas como bolos e tortas de frutas secas. Belo equilíbrio em boca, sustentado por uma acidez marcante e agradável. Expansivo, álcool na medida certa, e final de grande frescor. Bela opção no mercado. Importadora Decanter.

Sommellerie: Um novo Campeão Mundial – Parte II

27 de Abril de 2016

Continuando a jornada, partimos agora para a terceira mesa com seis pessoas. O serviço aqui era decantar uma Magnum (um litro e meio) de Malbec Gran Reserva Tomero 2011 da Bodega Vistalba. Um vinho jovem que precisa de aeração e portanto, deve ser decantado. A decantação foi executada à vela com dois decantadores de base larga, eficientes na oxigenação. O uso da vela poderia ser dispensado, já que provavelmente o vinho não tem depósito. Por via das dúvidas, é prudente usa-la, pois atualmente há muitos vinhos não filtrados. O desempenho que menos me agradou foi da irlandesa Julie Dupouy, a qual só utilizou um decanter e não apagou a vela no término do serviço. Quando o vinho foi servido à mesa, o comandante da mesma alertou o sommelier que uma pessoa não tomava vinho tinto e que portanto, havia um vinho branco a ser servido exclusivamente à mesma. Biraud não só serviu corretamente os dois vinhos como também, sugeriu a harmonização de ambos. Para o Malbec, um corte de carne ao ponto acompanhado de molho chimichurri (especialidade argentina) e para o branco, um vinho alemão da Francônia, em garrafa típica (tipo cantil) com a uva Sylvaner, sugeriu um ceviche de corvina, realçando sua acidez e mineralidade.

Saindo da terceira mesa, os candidatos enfrentaram uma série de baterias de vinhos e destilados às cegas. O primeiro flight foi de quatro brancos servido nesta ordem: Torrontés argentino de Salta, Riesling alemão do Nahe, Riesling francês da Alsácia, e um espanhol Albariño Rias Baixas Rosal.

Um dos brancos degustados, safra 2011

O desempenho de Biraud e Arvid foi muito parecido. Os dois acertaram os três primeiros vinhos e erraram o último. Biraud arriscou um Sauvignon Blanc europeu e Arvid palpitou por um Chardonnay sem madeira argentino. Julie, a irlandesa, só acertou o riesling alemão.

O segundo flight de quatro tintos foi servido nesta ordem: espanhol de Ribera del Duero,  Nebbiolo d´Alba do Piemonte, Malbec argentino e um Bordeaux de margem esquerda Pontet-Canet 2003.

grande Bordeaux de margem esquerda (RP 95 pontos)

Nesta bateria, o equilíbrio foi maior entre os concorrentes. Biraud, acertou o Malbec argentino e o Bordeaux do Médoc. Arvid, acertou o Nebbiolo d´Alba, o Malbec e o Bordeaux. No caso de Julie, acertou o Nebbiolo e o Malbec.

O terceiro e último flight foi de oito destilados nesta ordem: Rum Zacapa da Guatemala, Bas-Armagnac, Cognac, o mexicano Tequila Donjulio, uísque americano Bourbon, eau-de-vie Prune (ameixa escura), uísque japonês  Imazaki e Pisco chileno. Na continuação dos destilados, houve um licor francês Chartreuse, descrito brilhantemente por Biraud, sugerindo um suflê de chocolate com sorvete de verbena e canela para acompanhamento.

Neste último flight, os candidatos foram praticamente perfeitos. Foi dada a lista dos destilados acima  fora de ordem a cada um deles com a tarefa de indicarem em cada taça o destilado correto. Biraud e Arvid só trocaram a ordem do Cognac e Armagnac. Julie por sua vez, acertou todos. Isso prova que mesmo para degustadores excepcionais, Cognacs e Armagnacs envelhecidos e de boa procedência, as diferenças são muito sutis.

o grande licor francês Chartreuse em cuvée especial

Em seguida aos flights, houve uma série de oito slides com erros nas descrições de vários tipos de vinho a serem assinalados oralmente pelos candidatos.

Neste momento, aparentemente as provas pareciam encerradas antes do anúncio do vencedor. Contudo, haviam mais surpresas. Uma série de dez slides com fotos de vinícolas e personalidades do vinho a serem descritas pelos candidatos. Figuras como Angelo Gaja (Piemonte), Joseph Phelps (Napa Valley) e René Barbier (Priorato), além de vinícolas como Almaviva e Chateau Haut-Brion, foram mostradas nesta prova.

o campeão em sua última tarefa

Encerrando a longa prova, os concorrentes teriam que cumprir a tarefa de servir uma magnum de Moët & Chandon em quinze taças de maneira equitativa, sem volta às taças anteriores e se possível, não sobrar nada na garrafa. Visualmente, depois de executada, parecia que um tinha copiado os outros. Em olhos de lince, os juízes foram avaliar a tarefa minuciosamente.

Logo após, as taças foram servidas a todos os sommeliers dos países participantes deste magnifico evento para um brinde final. Aí sim, finalmente foi anunciado o grande vencedor, o sueco Arvid Rosengren.

Foi pena Paz Levinson não se classificar para a grande final por pequenos detalhes, ficando com a quarta colocação, sobretudo por ter sido em seu país, Argentina. Outras oportunidades virão. Quem sabe em 2019!, próximo concurso.

Entre um gole e outro

11 de Agosto de 2015

Mais um almoço entre amigos, belos vinhos, pratos e boa conversa. A vida não precisa muito mais que isso. Um dia ensolarado, aguardando a enogastronomia. Para iniciar, dois brancos acompanhando um prosciutto San Daniele com kiwi (quiuí no bom português) e melão, conforme fotos abaixo.

Clássico dos Alvarinhos

O consistente Palácio da Brejoeira mostrou-se com uma cor citrina, aromas florais, frutas brancas delicadas e boa mineralidade. A harmonização com o presunto foi positiva com a boa acidez do vinho combatendo o sal e a gordura do mesmo. Os sabores delicados de vinho e prato também deram as mãos. Com as frutas juntas, o kiwi saiu-se melhor. O lado cítrico da fruta foi mais favorável ao vinho. Como alternativa aos brancos do Friuli, combinação clássica deste presunto, este português cumpriu muito bem seu papel.

Gaja: a habitual elegância

Esse é um dos brancos de Gaja, gênio do Piemonte, elaborado com Sauvignon Blanc. Sua vinificação engloba um bom trabalho de bâtonnage e leve passagem por barricas, tornando o vinho macio e com boa complexidade aromática. Contudo, é difícil identifica-lo pela casta com os descritores aromáticos mais clássicos. Não importa, é um vinho de personalidade, equilibrado e muito bem acabado. Seu grande trunfo na harmonização foi com o melão e o presunto juntos. A sutil doçura da fruta casou bem com os aromas e a textura do vinho, culminando numa ótima delicadeza em boca. Enfim, uma bela entrada com bom exercício de harmonização.

Arroz de Pato: estrela da mesa

A foto acima mostra nosso prato de resistência, um belo e delicado arroz de pato. Sua surpreendente delicadeza acabou influenciando a harmonização com um embate de dois grandes tintos entre França e Itália. Um Bordeaux de Saint-Estèphe e um Barolo do inimitável Aldo Conterno.

A incrível longevidade dos Bordeaux

Os tintos de Saint-Estèphe possuem alta capacidade de envelhecimento. Sua acidez e estrutura tânica permitem comprovar esta característica. E este exemplar acima é considerado um Cru Bourgeois, hierarquia abaixo dos famosos Grands Crus Classés. Com seus 27 anos, a cor está predominantemente rubi com discretos traços alaranjados de borda. Aroma elegante, denotando ervas finas, frutas escuras, toques terrosos e defumados. Muito bem equilibrado, taninos presentes com boa polimerização e um final firme e longo. Se impôs um pouco sobre o prato, pedindo sabores mais intensos. Nada que comprometesse o conjunto. Este 1988 pode manter-se tranquilamente por mais cinco anos neste platô de evolução. Viva este solo sagrado!

Colonnello: um dos crus da trilogia

Agora, passemos ao tabernáculo do Barolo, Poderi Aldo Conterno. Colonnello é um de seus Crus formando a trilogia com os vinhedos Cicala e Romirasco. Este em questão, trata-se do lado mais feminino, mais elegante, de seu mentor. De fato, esta delicadeza camuflando um força extraordinária, principalmente por sua estrutura tânica, foi o grande trunfo para a harmonização com o prato. Seus taninos delicados e sua bela e refrescante acidez combateram de forma brilhante a gordura e a textura do arroz de pato. Os toques minerais do vinho, defumados e um resinoso elegante, aliaram-se perfeitamente aos sabores do pato permeados no arroz. Mais uma vez, vinhos italianos à mesa são praticamente imbatíveis nas harmonizações. Eles sempre dão um jeito de se amoldarem à comida, valorizando-a e por consequência, virando as estrelas naturalmente.

Produtor e safra excepcionais

O que falar do vinho acima? Safra histórica e uma casa do Porto de alta reputação. É neste patamar de 38 anos de idade que você começa ter a real dimensão do que são os Portos Vintages. A cor sem aquele aspecto retinto, dá lugar a um rubi com certa transparência e limpidez impressionantes. Os aromas tornam-se elegantes, sutis, longe daquela potência dos primeiros vinte anos de vida. Toques florais, de ervas, especiarias. O lado balsâmico, mineral e de todos os empireumáticos (chocolate, café, caramelo, …). Em boca, a fusão do álcool, taninos e acidez é harmoniosamente amalgamada, num final longo, limpo e interminável. Esse vinho é tudo isso e mais um pouco. Foi escoltado por pães-de-mel caseiros com cardamomo, passas e nozes. A Dolce Vita!

Zacapa: a sublimação de um grande rum

Após muitas taças, garfadas, conversas, risadas, vamos à varanda para os cafés e chás. Um suave brisa vai direcionar o espirito dos Puros que virão a seguir. Por sinal, deve ser algo de alto calibre, à altura do destilado na foto acima, o espetacular rum guatemalteco Zacapa. Neste caso, foi escolhido um Partagás E2 bitola 54. Charuto de grande força aromática, fluxo intenso e sabores marcantes.

Voltando á nossa joia acima, este Gran Reserva X.O. é o máximo em refinamento da casa. Vejamos alguns detalhes: o canavial encontra-se a 350 metros de altitude em solo vulcânico. A extração deste néctar leva-se em conta apenas a primeira prensagem chamada “miel virgen”. Há um trabalho lento e minucioso de fermentação com leveduras especialmente cultivadas. Após a destilação, o envelhecimento do produto dá-se a 2300 metros de altitude num sistema de soleras de alta complexidade. A idade média dos runs neste blend varia de 6 a 25 anos, amadurecidos em tonéis antigos de Cognac. Com todo respeito aos grandes Cognacs, Armagnacs e Malt Whisky, este rum ombreia-se neste grupo. A cor está descrita na foto. Os aromas são intensos e altamente complexos, mesclando mel, pâtisserie, baunilha, caramelo, chocolate, entre outros. Em boca, uma bela untuosidade, com a acidez equilibrando bem os açúcares e álcoois. Sua presença no palato, sua potência e persistência foram decisivas para uma harmonização espetacular com nosso Partagas.

Agradecimentos aos amigos e companheiros de copo, já aguardando nosso próximo encontro. Como fiel gladiador lhe saúdo amigo: Ave César!

Vinhos de Inverno

10 de Junho de 2015

Com a aproximação do inverno, os pratos ficam mais ricos, saborosos e intensos, sendo muito bem-vindos com as baixas temperaturas. E com o vinho não é diferente. O teor alcoólico é um bom indicador destas características. Portanto, vinhos encorpados do Novo Mundo encaixam-se perfeitamente neste cenário. Contudo, para aqueles que não abre mão dos europeus, alguns clássicos são imbatíveis.

Pensando na Itália, o grande tinto do Vêneto é o primeiro a ser lembrando, Amarone della Valpolicella. Vinho macio, quente e de taninos bem amalgamados. Os tintos do sul da Bota também cumprem seu papel. Primitivo de Manduria na Puglia, Taurasi com a uva Aglianico na Câmpania e os atualmente baldados tintos da Sicília. Logicamente, não esquecendo do Piemonte, temos os Barolos e Barbarescos calcados na temperamental casta Nebbiolo.

Grana Padano e Amarone: Casamento eterno

Agora dirigindo-se à França, tintos do Rhône e da Provença são os mais indicados. Châteauneuf-du-Pape é o mais emblemático. Como alternativas de preço, Gigondas e Vacqueyras são belas escolhas. O tinto Cornas baseado na Syrah é o legítimo representando do Rhône Norte. Da Provença, a apelação Bandol resume bem o poder da casta Mourvèdre, assim como outros tintos do sul da França. No sudoeste francês, como não lembrar das apelações Madiran e Cahors, baseadas respectivamente nas castas Tannat e Malbec, acompanhando os gordurosos e densos Cassoulet e Confit de Canard.

Canard e Cahors

Falando agora da Terrinha, Portugal tem nos vinhos alentejanos a força e o calor de seus tintos. Baseados no binômio Aragonês e Trincadeira, também conhecida em outras paragens como Tinta Roriz e Tinta Amarela, respectivamente. Porém, os tintos durienses não ficam para trás, principalmente levando-se em conta a dinamização recente da região conhecida com “Douro Boys”.

No outro lado ibérico, a Espanha mostra força nos robustos tintos do Priorato, calcados nas uvas Garnacha e Cariñena, as mesmas francesas Grenache e Carignan. Os potentes tintos de Ribera del Duero e de seu vizinho mais humilde da denominação Toro são também exemplos clássicos. Não esquecendo de Rioja, os estilos mais modernos e de certa potência, permitem enquadra-los neste cenário.

Safra histórica de Vintages (1994)

Para os vinhos de sobremesa ou de meditação, a península ibérica é especialista. Jerezes, Portos, Madeiras, Moscatéis, fazem boa companhia aos queijos mais curados, sobremesas mais intensas, na apreciação do Puros após jantares mais ricos, ou mesmo em apresentação solo, lendo um bom livro e ouvindo boa música, ou uma boa prosa. Quanto aos Puros (cubanos), marcas como Partagás, Bolívar e Cohiba, têm a força para o clima invernal.

Do lado francês, Banyuls e Maury são os fortificados mais perto do Porto, conhecidos também por Vin Doux Naturel. Já a Itália, os Passitos são emblemáticos. Essa denominação cai bem no sul do país com a ilha de Pantelleria. Já ao norte, a expressão Recioto emblematiza o mesmo processo. Não poderíamos deixar de mencionar o famoso Vinsanto, o vinho de meditação símbolo da Toscana.

Lógico que tudo isso vale para o Dia dos Namorados, data clássica em nosso calendário. Se você é daqueles que não abre mão do Champagne nesta ocasião, procure por exemplares mais densos, calorosos, como Bollinger, Krug, um Blanc de Noirs e evidentemento, os rosés, especialmente um Gosset.

Em Grandes Vinhos não há preconceito de cor

24 de Abril de 2015

Mais um encontro memorável entre amigos, e vinhos deslumbrantes. O responsável pelo almoço foi o Barolista e Borgonhês Roberto Rockmann, e que vinhos! Um Chablis inesquecível e um Barolo fora da curva. Mas antes de entrarmos nestes detalhes, vamos nos ater à sequência do almoço. De cara, o champagne abaixo, um belo rosé Laurent-Perrier, uma das especialidades da Maison.

Perlage e vivacidade notáveis

Traindo os belos Jerezes, champagne rosé combina muito bem com os insuperáveis presuntos Pata Negra. Na falta de champagne, um belo Cava Rosé cumpre bem o papel. A acidez equilibra a gordura da iguaria e seus aromas e sabores vão de encontro ao toque frutado do jamon. A sensação refrescante da harmonização prepara o paladar para o seguimento da refeição.

Dois rótulos para o mesmo prazer

A partir da foto acima, a coisa começa a ficar séria. Na apelação Chablis existe uma hierarquia inquestionável. Os produtores e primos, Dauvissat e Raveneau, são incontestes. Bem depois, puxam a fila três ou quatro bastante confiáveis e finalmente, os duvidosos, inconstantes, que muitas vezes decepcionam a maioria que cria expectativas com o glamour da apelação. O exemplar em questão era o Chablis da direita, safra 2008, um Premier Cru La Forest, decantado vinte e quatro horas antes de sua apreciação. E como fez bem esta decantação! A mineralidade, os tostados de avelã e sua salinidade, eram admiráveis. A sutil maciez advinda de um trabalho bem executado de bâtonnage (revolvimento das borras) lhe dá um acabamento incrível frente à avalanche de acidez em seu primeiro contato. A persistência e o final de boca são indescritíveis. A trouxinha de salmão abaixo casou perfeitamente com a mineralidade do vinho, além do casamento de texturas. Só para encerrar o capítulo Dauvissat, os dois rótulos acima trata-se do mesmo vinho, dependendo do mercado de exportação. Dado importante para uma compra segura.

Pureza de sabores entre vinho e prato

Antes de passarmos ao vinho principal, uma confirmação taxativa sobre a harmonização dos grandes Malt Whisky de Islay com salmão defumado. O alto teor de turfa é responsável por esse casamento. Os aromas medicinais do malte casam perfeitamente com a maresia do peixe. O malte escolhido foi o grande Laphroaig Ten Years Old. Inclusive serviu como Sorbet para limpar o paladar para a próxima etapa.

Mantendo o alto nível, agora entramos no tabernáculo da denominação Barolo. Este é um tinto piemontês que cativa muitos fãs mundo afora com seus produtores preferidos. Contudo, sejam quais forem, ninguém supera os irmãos Conterno, Aldo e Giacomo Conterno, em suas respectivas aziendas. O da foto abaixo degustado com muitas horas de decantação, vem da bela safra 1996 e um vinhedo único denominado Cicala. A cor ainda muito bem conservada, anunciava a impecável forma desta garrafa. Seus aromas eram de uma delicadeza incrível mesclando florais, terrosos, alcaçuz e notas magistralmente defumadas. Boca muito bem equilibrada com taninos de rara textura. Acompanhou magnificamente uma Rabada oferecida pelo anfitrião que ficou à altura do vinho. Simplesmente, um Barolo inesquecível.

Um Barolo de outro planeta

Castelnuovo Berardenga: um terroir único

Para acompanhar a rabada na eventual falta do Barolo, tivemos um toscano Fontalloro 1998 do sul do Chianti Classico, mais especificamente de Castelnuovo Berardenga. A cantina Félsina é extremamente fiel a este terroir. Um 100% Sangiovese em plena forma, mas naturalmente abaixo do monstro piemontês. Seus aromas de cerejas em licor, toques defumados, minerais (terroso) e de funghi, ajudaram a finalizar o prato e principalmente, arrematar um queijo Comté devidamente afinado. Pessoalmente, um dos melhores queijos franceses, originário da região do Jura.

Cores toscanas e piemontesas

A taça acima da esquerda trata-se do Fontalloro com preenchimento de copo mais denso e cor menos evoluída. A taça da direita pertence ao Cicala com cor menos densa no centro da taça e mais atijolada nas bordas. Como as idades dos vinhos são muito próximas (96 e 98), fica patente a quantidade discreta de antocianos nos vinhos piemonteses, perdendo a cor com mais facilidade, embora seus taninos sejam poderosos. Numa degustação às cegas, esse pode ser um dado importante.

Vista Alegre: um 30 anos sempre consistente

Com a tarde caindo, é hora das sobremesas. Várias tortinhas; de maça, pera e banana. O Tawny acima com seus toques a frutos secos, confitados e o característico caramelo, complementou bem os doces citados. É sempre um Porto muito consistente neste estilo com muita tipicidade. Bem equilibrado em álcool e açúcar residual, termina com um final muito agradável e elegante. Presente do doutor César.

Já no começo da noite, chega a hora da conversa na varanda. Como a temperatura estava mais para verão que outono, o drink cubano Mojito entrou em ação com vários Puros de respeito. Bolívar Belicosos, Partagas D4 e H. Upimann nº 2, encerraram a festa calmamente. Agradecimento aos amigos por mais este encontro inesquecível.

Barolo x Pommard

6 de Março de 2015

 Continuando nossa série de degustações inusitadas, o título acima propõe um desafio ousado, confrontar lado a lado, Piemonte e Borgonha. Embora esta analogia já tenha sido citada, não é fácil encontrar os estilos e pontos mais parecidos. As duas regiões partem de vinhos varietais, climas frios, e solos envolvendo argila e calcário. As taças utilizadas são as mesmas, naquele estilo mais bojudo. Contudo, as características da uvas são bem diferentes.

A Nebbiolo, uva do Barolo, tem maturação tardia, pois é rica em taninos, mas pobre em antocianos. Daí, sua cor assemelhar-se ao borgonhas, não muito intensa e perdendo rapidamente a tonalidade rubi com o tempo. Além dos taninos, a Nebbiolo mostra-se com alta acidez. Esses dois componentes já são suficientes para comprovar a incrível longevidade destes vinhos.

Pio Cesare: Belo produtor de Serralunga d´Alba

A Pinot Noir, uva dos borgonhas tintos, tem estrutura tânica mais discreta e baixa pigmentação na cor. A acidez é seu principal componente em termos de estrutura como regra geral. Em resumo, podemos dizer que os tintos da Côte de Beaune são mais delicados e os tintos da Côte de Nuits são mais estruturados e longevos, numa visão bastante genérica. E exceções não faltam na Borgonha.

Na apelação Pommard, contígua à apelação Volnay, os vinhos apresentam perfis completamente opostos. Volnay é a pura expressam dos tintos da Côte de Beaune, delicados, sutis e femininos. Essa diferença no estilo dos vinhos em comunas tão próximas deve-se ao perfil geológico de ambos. A presença de calcário em Volnay é muito mais destacada, gerando vinhos delicados e elegantes. Já em Pommard, os vinhos são musculosos, um tanto rústicos, e bastante austeros quando jovens. Apesar do solo de marga (mistura de argila e calcário), temos um perfil pedregoso, rico em óxido de ferro. Essa é uma das razões para os tintos de Pommard serem bastante ricos em cor. Em seu envelhecimento, os toques defumados, terrosos e de couro, lembram muito os grandes Barolos quando envelhecem.

Courcel:Referência nesta apelação

Do lado piemontês, os solos na região de Barolo são ricos em peculiaridades. No entanto, temos dois perfis distintos e clássicos na região, o solo Tortoniano e o solo Helvético. O primeiro, apresenta um solo de marga azulado, rico em manganês e magnésio, gerando os Barolos mais frutados e abordáveis na juventude. Já o segundo solo,  é um arenito rico em ferro, gerando os Barolos mais austeros na juventude, mas com grande poder de longevidade.

Uma outra comuna que pode gerar vinhos  para esta comparação é Nuits St-Georges, esta na Côte de Nuits. São vinhos potentes, ricos em taninos e bastante longevos, sobretudo aqueles situados na parte sul da comuna, ou seja, abaixo da cidade homônima. Produtores como Henri Gouges exemplificam bem este estilo.

Os produtores citados são respectivamente das importadoras Decanter (www.decanter.com.br), Cellar (www.cellar-af.com.br) e Zahil (www.zahil.com.br).


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