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Importadoras Pioneiras

26 de Setembro de 2017

Os vinhos importados no Brasil têm história recente, pelo menos em maiores volumes e consistência de remessas contínuas. Dentro deste contexto, vale a pena recordar algumas importadoras pioneiras, sobretudo aquelas que priorizaram e se especializaram em determinados países até então inusitados em nosso mercado. Antes delas, uma menção especial para algumas que já se foram e deixaram saudades como Maison du Vin, Saveurs de France, Silmar do saudoso Silvio Rocha, Gomez Carrera, Callaz & Silvestrini e tantas outras.

monte do pintor 2005

um dos primeiros alentejanos no Brasil

Adega Alentejana

Em 1998, Manuel Chical, atual proprietário desde sempre, trouxe para o Brasil os vinhos alentejanos nunca vistos em nosso meio. Foi sucesso imediato, tal a agradabilidade destes vinhos na época. Por serem macios, frutados e acessíveis, mesmo em tenra idade, os paulistas sobretudo, receberam muito bem a novidade com mercado cativo até hoje. Destaque para o sóbrio e único Mouchão, um dos pilares da enologia alentejana. http://www.alentejana.com.br

KMM Armagh_2008

Um dos maiores Shiraz australianos

Importadora KMM

Embora a importado Mistral tenha trazido os espetaculares australianos da Penfolds, a importadora KMM com Marli Predebon sempre no comando desde 1992, construiu um portfolio invejável de grandes marcas deste país exótico. Sempre com vinhos bem pontuados, fieis ao terroir australiano, e de preços bem ecléticos, atingindo diversos padrões de consumidores. http://www.kmmvinhos.com.br

Premium Rippon Pinot Noir

Pinot Noir neozelandês de destaque 

Importadora Premium

Esta importadora mineira, sempre liderada pelos competentes Orlando Rodrigues e Rodrigo Fonseca, trouxeram em 1999 as primeiras levas de vinhos neozelandeses da melhor qualidade. Com portfolio variado e de preços para todos os bolsos, os brancos da Nova Zelândia caíram nos gosto brasileiro. O cuidado na escolha de produtores sempre foi preocupação fundamental desses sócios até hoje firmes no mercado. http://www.premiumwines.com.br

grand cru pulenta estate

vinhos sempre consistentes

Importadora Grand Cru

Embora atualmente esta importadora não tenha sua imagem focada somente nos argentinos, sua origem em 2002 marcou a entrada de grandes produtores deste país no auge de sua expansão vitivinícola. Evidentemente, eles continuam em destaque, mas o portfolio da importadora diversificou-se demais, tornando-se na atualidade uma das maiores do país com várias lojas em São Paulo e demais capitais. http://www.grandcru .com.br

tastevin muscat beaumes de venise

ótima qualidade e preço bem camarada

Importadora Club du Taste-Vin

Com 36 anos no mercado, esta importadora exclusiva para vinhos franceses é liderada desde sempre por François Dupuis, residente no Rio de Janeiro. Com presença bem mais enfática no público carioca, os paulistas também se abastecem com seus vinhos. A ideia é garimpar rótulos franceses não muito badalados a bom preço das principais regiões produtoras. Sempre fiel ao projeto original, só trabalha com vinhos franceses. http://www.tastevin.com.br

cellar alphonse mellot

Sancerre de personalidade

Importadora Cellar

Criada em 1995 e dirigida até hoje com mão de ferro pelo expert Amauri de Faria, esta importadora não introduziu os vinhos franceses e italianos propriamente no Brasil, mas sem dúvida nenhuma, deu e dá uma aula de como selecionar vinhos deste países de uma complexidade e diversidade ímpares. Seus rótulos primam por uma seleção de grande distinção e preços proporcionalmente bastante honestos. http://www.cellar-af.com.br

peninsula abadia retuerta

bodega de referência 

Importadora Peninsula

Há quase 20 anos no mercado, esta importadora se especializou em grandes vinhos espanhóis. Seu fundador e atual proprietário, Javier Dias Rabarain, prima por rótulos de grande destaque no cenário espanhol, tanto na escola mais tradicional, como no lado mais modernista. Menção especial a Juan Suárez Rodriguez, hoje não mais presente na empresa, pela enorme contribuição na divulgação do vinho espanhol. http://www.peninsulavinhos.com.br

expand renato ratti

Lançado na Expand, agora na Ravin

Importadora Expand

A grande importadora de vinhos nos anos 90 com um portfolio invejável, perfilando grandes vinhos do mundo, inclusive o mítico Romanée-Conti. Quem a sucedeu no mesmo porte e no desfile de grandes rótulos foi a importadora Mistral, até hoje com grande destaque no cenário nacional. Como não falamos dos vinhos sul-africanos, vale destacar a seleção impecável que a Expand dispunha na época com pelo menos meia dúzia de rótulos do mais alto nível.

Atualmente, importadoras como Mistral, Vinci, Decanter, Grand Cru, World Wine, Casa Flora, Zahil, e mais algumas lideram grande parte do mercado nacional. Mas isso é uma outra história para um artigo específico.

Enfim, um apanhado geral de como começou os vinhos importados no Brasil e ao mesmo tempo uma homenagem a essas importadoras pioneiras com fotos emblemáticas de cada uma delas. Todas elas continuam suas atividades, naturalmente com a ampliação de seu portfolio, mas sem perder a origem de suas convicções. Se solidificaram, conquistaram mercado e  fidelizaram clientes, fazendo do Brasil, especialmente na região sudeste, um dos países com maior diversidade em rótulos internacionais. Portanto, o amante de vinho brasileiro pode ficar tranquilo em ter a seu alcance uma grande diversidade de estilos, países, e as principais regiões no mundo do vinho. O grande empecilho é o preço com os escorchantes impostos praticados em nosso país. Mesmo os nossos vinhos, o vinho brasileiro, não foge das garras predatórias de nossa legislação.

Champagnes: Top Ten

9 de Dezembro de 2013

Dentre os inúmeros champagnes que fazem o sonho dos apreciadores das mágicas borbulhas, fica difícil apontar com precisão e certeza as melhores maisons da região. Cada um tem sua preferência por estilo, grau de doçura, assemblage das principais uvas e outros fatores até certo ponto subjetivos. Neste contexto, segue minha seleção, verificada ano após ano em termos de consistência e personalidade distinta de seus vinhos. Enfatizo mais uma vez, tratar-se de uma escolha inteiramente pessoal.

As Irrepreensíveis

Krug Grande Cuvée: A maestria do assemblage

Krug

Para os mais fanáticos, existe Krug e os demais champagnes. A finesse, a precisão de seus vinhos-base, o amadurecimento perfeito sobre as leveduras, fazem desta Maison uma das mais requintadas da região. Champagnes de exceção em toda sua linha. Fica difícil apontar um favorito, mas Clos du Mesnil Blanc de Blancs faz rever conceitos. Importadora LVMH (www.catalogomh.com.br). 

Bollinger

Aqui existe um empate técnico com a maison acima. A filosofia é muito semelhante. Talvez a Maison Bollinger numa sintonia fina caminhe mais para a potência, intensidade e estrutura, enquanto Krug exibe sua finesse e exotismo impressionantes. Sua cuvée mais emblemática reverenciada por James Bond é a mítica Bollinger RD com prolongado contato sobre as leveduras. Importadora Mistral (www.mistral.com.br).

Louis Roederer

Fechando o trio de ferro  de origem alemã, a Maison Loius Roederer prima pela precisão e disciplina germânicas. Sua cuvée de luxo Cristal, foi a pioneira e idolatrada pelos czares. Toda sua linha apresenta-se delicada e com marcante personalidade. Seus rosés são praticamente insuperáveis. Importadora Franco-Suissa (www.francosuissa.com.br) ou também no empório Santa Luiza (Jardins). 

Salon

Apesar de possuir um único estilo de champagne, Blanc de Blancs, seu rigor na elaboração é obsessivo. Poucas safras durante o século passado, perfazendo um total de somente trinta e sete millésimes. Se você fizer questão da mais pura mineralidade e  não se importar com preços, este é o caminho. Importadora World Wine (www.worldwine.com.br).

As Delicadas

Taittinger

Das dez escolhidas, esta maison é a mais popular e de maior produção. No entanto, mostra-se sempre delicada, sensual e muito convidativa para recepções e aperitivos. Sua cuvée de luxo Comtes de Taittinger, é uma das referências em Blanc de Blancs. Importadora Expand (www.expand.com.br). 

Deutz

Pertencente ao mesmo grupo da maison Louis Roederer, Deutz esbanja elegância com uma consistência invejável. Muito equilibrado, aromas finos e bem delineados. Um final de boca fresco e expansivo. Bem representado em toda sua linha. Importadora Casa Flora (www.casaflora.com.br). 

Um exemplo de rosé

Billercart-Salmon

Outro champagne extremamente fino e delicado. Equlibrado, mousse agradável e muito bem acabado. Seus rosés fazem fama e sem dúvida, estão entre os melhores da região. Abrir um jantar com esta maison já sugere o tom da refeição. Produção relativamente reduzida. Importadora World Wine (www.worldwine.com.br)

As Gastronômicas

Gosset

Maison já comentada em artigo especial neste mesmo blog, prima pela estrutura, corpo e vinosidade. Sua cuvée Grande Réserve tem estilo próprio, bem como a cuvée de luxo Celebris, de um exostismo marcante. Parceiro ideal na alta gastronomia. Importadora Grand Cru (www.grandcru.com.br). 

Millésime de exceção

Egly-Ouriet

Junto com a maison Salon, Egly-Ouriet é um champagne fundamentalmente artesanal e de baixíssima produção. São vinhos estruturados, marcantes e de longa guarda. Seu Brut Millésime confirma estas características, beirando a perfeição. Importadora World Wine (www.worldwine.com.br).

Pol Roger

Como não associar a figura de Sir Winston Churchill à esta nobre maison em sua cuvée mais prestigiada. Elegante, intenso e de textura macia, este champagne destaca-se em todo seu portfólio. Une potência e elegância como poucos neste seleto mercado. Importadora Mistral (www.mistral.com.br). 

Harmonização: Pappardelle alla Lepre

23 de Julho de 2012

Pappardelle é aquela massa larga, também chamada de fita, conforme figura abaixo. Pappardella alla Lepre é um dos mais tradicionais pratos toscanos. Infelizmente, Lepre ou Lebre em português é um animal cada vez mais difícil, por se tratar de caça. Normalmente, seu substituto imediato é a carne de coelho criado em cativeiro, em italiano, coniglio. Seu sabor não é tão marcante, mas apresenta resultados satisfatórios, principalmente se for adicionado funghi porcini na receita.

Pappardelle alla Lepre: Sabores da Toscana

Massas de um modo geral, não necessitam de vinhos muito espessos. Em particular, o pappardelle resulta numa textura mais rica. Além disso, o molho tem sabor marcante e aí estamos falando de tintos. Tanto no caso da lebre de caça, como do coelho com funghi porcini, tintos com certo envelhecimento encontram eco nos sabores do prato. Um Chianti Classico é a opção natural da Toscana. Mas atenção, precisa ser um Chianti Classico de verdade. Nomes como Castello di Ama, Fontodi, Fonterutoli e Castello dei Rampolla são altamente confiáveis. Esses vinhos com algum envelhecimento fornecem aromas defumados, de ervas e especiarias, muito apropriados ao prato. Um Rosso di Montalcino de um grande produtor também é uma bela opção. O importante é que sejam vinhos elegantes, de sabores marcantes sem serem pesados, criando uma sinergia com o prato. As importadoras dos vinhos acima citados são Mistral, Vinci, Expand e Cellar, respectivamente.

http://www.mistral.com.br

http://www.vinci.com.br

http://www.expand.com.br

www.cellar-af.com.br

Saindo da Itália, portugueses do Dão ou espanhóis de Rioja apresentam textura compatível, desde que devidamente envelhecidos. Riojas entre as categorias Crianza e Reserva são os ideais. Vinhos do sul da França de Languedoc ou Provence, mesclando uvas como Carignan, Cinsault e Mourvèdre, podem ser boas alternativas.

Por fim, cuidado com vinhos do Novo Mundo. Dificilmente, envelhecem bem, além de apresentarem textura dominadora. Geralmente, são muito frutados, potentes, e com a madeira muitas vezes sobressaindo.

Borgonha: Parte IX

19 de Abril de 2012

Terminada a intrincada sub-região da Côte d´Or, caminhamos mais ao sul em direção à Côte Challonaise, detalhada no mapa abaixo. Apesar de muita próxima da Côte de Beaune, nesta sub-região ocorrem mudanças drásticas em termos de terroir. Aqui não há mais a proteção segura a oeste das altas encostas da Côte d´Or. Portanto, os ventos frios afetam mais as vinhas, criando dificuldade no perfeito desenvolvimento e amadurecimento dos frutos. Além disso, torna-se uma região confusa topograrficamente e assim, os vinhedos melhores posicionados nos declives a sul e sudeste levam vantagens.

Os vales e encostas bem posicionadas são relevantes

O solo de natureza argilo-calcária ainda comanda as vinhas, mais propensas ao plantio da Chardonnay quando o calcário predomina, enquanto a Pinot Noir é mais indicada no predomínio da argila, embora os fatores inicialmente expostos sejam mais relevantes.

As principais comunas no sentido norte-sul são Bouzeron, Rully, Mercurey, Givry e Montagny. Algumas vinhas que destacam-se em seu posicionamento admitem algumas apelações Premier Cru. Contudo, não há um terroir tão privilegiado a ponto de termos qualquer sinal de vinhas Grand Cru.

Bouzeron é uma apelação própria dentro da Côte Chalonnaise específica para vinhos brancos com a casta Aligoté. Alíás, aqui se faz o melhor Aligoté da Borgonha e dentre eles destaca-se a domaine A. et P. de Villaine, propriedade do todo poderoso comandante da Domaine de La Romanée-Conti. Este vinho é trazido pela Expand (www.expand.com.br).  Como curiosidade, o famoso aperitivo Kir é elaborado com vinho Aligoté e o típico licor da região, Crème de Cassis.

Rully, a comuna seguinte, elabora brancos e tintos com Chardonnay e Pinot Noir, respectivamente. As apelações são comunais com 23 climats classificados como Premier Cru, entre brancos e tintos. São vinhos sem relevância, para consumo no dia a dia local. Um bom produtor trazido pela importadora Club Taste Vin (www.tastevin.com.br) é a Domaine de la Folie.

Em Mercurey, comuna abaixo, temos clara predominância dos tintos. São os mais encorpados e confiáveis de toda a Côte Chalonnaise. Existem 29 climats na apelação Premier Cru entre tintos e brancos. Os produtores Faiveley e Lorenzon são confiáveis  e representados no Brasil pelas importadoras Mistral (www.mistral.com.br) e Cellar (www.cellar-af.com.br), respectivamente.

Givry é a próxima comuna, com tintos predominando sobre os brancos. São 26 climats no total na apelação Premier Cru. Nemhum grande destaque a exemplo da comuna de Rully.

Finalmente, a comuna de Montagny, com vinhos exclusivamente elaborados com Chardonnay. É a melhor comuna para brancos de toda a Côte Chalonnaise com 49 climats da apelação Premier Cru. O solo tem predominância calcária com certas porções lembrando  o perfil Kimmeridgiano de Chablis. A importadora Cellar traz um bom exemplar do produtor Jean-Marc Boillot (www.cellar-af.com.br).

Borgonha: Parte VIII

16 de Abril de 2012

Após a comuna de Meursault, caminhando para o sul da Côte de Beaune, entramos no berço espiritual da Chardonnay. Aqui, a palavra mágica é Montrachet. Evidentemente, o excepcional vinhedo “Le Montrachet” é o mais cobiçado de todos os Grands Crus desta pequena área, conforme figura abaixo.

A perfeição da Chardonnay

Notem que no meio do mapa existe uma linha pontilhada dividindo as comunas de Chassagne-Montrachet à esquerda, e Puligny-Montrachet à direita. Com isso, dois Grands Crus são divididos entre as mesmas: Bâtard-Montrachet e o grande Le Montrachet. Ainda no mapa, observamos o Grand Cru Criots-Bâtard-Montrachet pertencendo exclusivamente à comuna de Chassagne-Montrachet. Por sua minúscula produção, menos de dez mil garrafas por ano, comprem o que estiver ao alcance dos olhos e do bolso. Do lado de Puligny-Montrachet, mais dois Grands Crus exclusivos: Bienveneus-Bâtard-Montrachet e o estupendo Chevalier-Montrachet. Este último para muitos, o grande rival da estrela maior.

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Dos cinco Grands Crus, três merecem atenção especial quanto a seus respectivos terroirs. Observem o esquema acima dos vinhedos em termos de altitude. Na parte mais baixa, temos Bâtard-Montrachet com seu solo de marga onde a argila destaca-se em meio ao calcário. Portanto, numa sintonia fina seus vinhos são mais densos, mais pesados, necessitando de uma boa decantação, principalmente se forem tomados relativamente jovens.

Em altitude oposta, temos o vinhedo Chevalier-Montrachet com seu solo de pedregosidade destacada. Este fato confere uma sutileza e elegância incríveis, impressionando a maioria dos degustadores, sejam eles experientes ou não. Bouchard Père et Fils, também grande comerciante da borgonha, elabora um Chevalier-Montrachet de cair o queixo.

Por fim, o grande Le Montrachet, com seus 7,93 hectares extremamente fracionados, posicionado entre os dois Grands Crus acima citados. A insolação é perfeita, tendo na época de maturação o sol batendo nas vinhas até nove horas da noite. Seu solo conjuga todos os fatores benéficos à Chardonnay, resultando num vinho extremamente elegante como Chevalier, e não menos denso e robusto como um Bâtard. A perfeição está próxima.

Alguns produtores destes grandes vinhos: Domaine Leflaive, Domaine de La Romanée-Conti, Comtes Lafon, Ramonet, Drouhin (Marquis de Laguiche), Carillon, Gagnard e Sauzet. Infelizmente, nem todos vêm para o Brasil. As importadoras Expand e Mistral possuem alguns destes produtores.

Alternativas interessantes a todos esses grandes vinhos citados, são alguns produtores ilustres nas vizinhanças de Chassagne e Puligny como Jean-Marc Boillot da importadora Cellar (www.cellar-af.com.br), com vários Puligny-Montrachet Premier Cru a preços atraentes. O produtor Hubert Lamy trazido pela importadora Premium Wines (www.premiumwines.com.br) elabora belos exemplares em Chassagne-Montrachet e na comuna vizinha de Saint-Aubin, com belos Premier Cru. Aliás, Saint-Aubin é uma alternativa interessante frente às comunas mais badaladas, principalmente na categoria Premier Cru. 

Borgonha: Parte V

15 de Março de 2012

Prosseguindo ainda na famosa Côte de Nuits, falaremos sobre as comunas de Morey-St-Denis e Vougeot. A primeira engloba cinco Grands Crus: Clos de Tart, Clos St-Denis, Clos de Lambrays, Clos de La Roche e Bonnes-Mares. Este último, embora com a menor parte, divide-se entre Morey-St-Denis e Chambolle-Musigny.

Os tintos de Morey-St-Denis pendem mais para um estilo Chambertin, com algumas nuances diferenciadas e misteriosas. Clos de Lambrays tem este mistério, é o mais fechado entre os Grands Crus. Clos St-Denis é o mais delicado, feminino, enquanto Clos de La Roche é o mais firme, mais Chambertin. Por último, o espetacular Clos de Tart, talvez o preferido do meu amigo Roberto Rockmann. De fato, é um grande vinho, tendo um pouco de todas as facetas de seus Grands Crus vizinhos. Consegue aliar com maestria, elegância e potência. Boa alternativa de preço aos proibitivos tintos da Domaine de La Romanée-Conti.

Clos de Tart: Propriedade murada

Importadoras de ótimos produtores desta comuna: Clos de Tart (www.cellar-af.com.br), Domaine des Lambrays (importadora Grand Cru) e Domaine Dujac (Expand).

Côte de Nuits: tintos superlativos

A comuna de Vougeot, produtora de tintos e brancos, talvez seja a síntese do alto risco para quem se aventura em borgonhas, inclusive no seu polêmico Grand Cru, Clos de Vougeot. Com aproximadamente 50 hectares, trata-se de um latifúndio para padrões borgonheses, com cerca de 80 produtores. A posição do vinhedo na colina em termos de altitude e composição de solo aliada à filosofia de trabalho de cada produtor, gera vinhos bastante distintos em qualidade e estilo. Vai desde o medíocre ao sublime. Produtores como Méo-Camuzet, Grivot (ambos da importadora Mistral), e Chateau de La Tour (importadora Decanter) são altamente confiáveis.

Méo-Camuzet: Produção minúscula

Outras apelações e comunas como Fixin, Marsannay e Hautes-Côtes de Nuits não apresentam destaques, exceto por um ou outro produtor de produção minúscula. Composição de solo e altitude são alguns dos fatores desfavoráveis para o sucesso de seus vinhos. Em grandes safras, onde a maturação da uvas fica próxima do ideal, seus vinhos ganham alguns atrativos.

Por ora, faremos uma pequena pausa sobre a Borgonha, retornando em breve com novos artigos.

Borgonha: Parte IV

12 de Março de 2012

As famosas comunas da Côte de Nuits são reverenciadas com vinhos sublimes, proporcionando borgonhas tintos perto da perfeição. Mas atenção, este é um campo minado, repleto de armadilhas que só os especialistas em áreas específicas são capazes de traduzir todo este esplendor. De fato, a proporção de calcário e argila deve ser sempre respeitada, e dela tirar o melhor proveito possível. O calcário dá elegância ao vinho, enquanto a argila fornece estrutura e vigor. Porém, cada um destes fatores tem seus limites.

Observando o mapa acima, vamos nos fixar nas comunas de Gevrey-Chambertin e Nuits-St-Georges, diametralmente opostas, a primeira no limite a norte, a segunda no limite a sul. As duas porporcionam vinhos estruturados, encorpados, aptos a longo envelhecimento. Evidentemente, sempre pensando nos melhores locais e produtores. A diferença básica entre as duas está na elegância. Gevrey-Chambertin possui maior proporção de calcário, enquanto em Nuits-St-Georges a argila predomina demais. Numa sintonia fina, os tintos de Nuits-St-Georges são um tanto rústicos se comparado ao seu concorrente mais ilustre. Pessoalmente, os dois são excelentes.

Alguns produtores: Rossignol-Trapet (www.cellar-af.com.br), Armand Rousseau (era trazido pela Expand). Os dois são excelentes em Chambertin. Domaine Henri Gouges (www.zahil.com.br) e Jacques-Frédéric Mugnier (www.cellar-af.com.br) são grandes nomes em Nuits-St-Georges.

Chambolle-Musigny e Vosne-Romanée

Novamente, uma comparação interessante. As duas comunas são famosas por fornecerem os tintos mais femininos e elegantes da Côte de Nuits. De fato, a presença de boa proporção de calcário em Chambolle promove esta elegância, principalmente em seu famoso vinhedo “Les Amoureusses”. No entanto, uma proporção um pouco maior de argila na comuna de Vosne-Romanée mantém esta elegância, mas com um ganho de profundidade e estrutura. Talvez aqui, a argila e o calcário tenham encontrado a proporção ideal, justificando o velho ditado: “Em Vosne não existem vinhos comuns”.

Esta análise é absolutamente genérica e um tanto superficial. Existem inúmeras exceções nos dois lados que podem contrariar esta tese. Contudo, de maneira geral, ela é relativamente consistente. O vinhedo “Le Musigny”, espetacular Grand Cru da comuna de Chambolle-Musigny é uma das exceções, onde a proporção de argila em relação ao calcário, é maior.

Produtores como Comte Vogüé, Georges Roumier e Jacques-Frédéric Mugnier são belas referências na apelação Chambolle-Musigny. Já para Vosne-Romanée, além da lendária Domaine de La Romanée-Conti, temos Méo-Camuzet, Anne-Françoise Gros e Jean Grivot, bastante confiáveis.

Os importadores destes produtores são: www.mistral.com.br (Vogüé, Camuzet e Grivot), www.cellar-af.com.br (Gros e Mugnier) e alguns exemplares da Domaine de La Romanée-Conti na Expand (www.expand.com.br).

A Elite dos Champagnes

8 de Dezembro de 2011

Nesta época do ano, a procura e curiosidade por este tipo de vinho são inevitáveis, embora mais uma vez, champagnes podem e devem ser apreciados durante todo o ano. Vinho Sem Segredo apresenta vários artigos envolvendo o tema, inclusive um mais específico em três partes  intitulado: Harmonização: Champagnes.

Hoje falaremos dos melhores champagnes, aqueles elaborados com os melhores vinhos-bases, dos melhores vinhedos e das melhores safras. É o caso da tão esperada degustação realizada todos os anos na ABS-SP, intitulada Top Champagne. Neste ano, o paínel composto de belos exemplares de safras relativamente antigas segue descrito abaixo:

Krug e Bollinger dispensam apresentações. Torna-se redundante comentá-los e elogiá-los, estando num patamar muito acima, mesmo entre os melhores. São champagnes de alta costura, elaborados com muito esmero em todos os detalhes.

Comtes de Taittinger é outro clássico no estilo Blanc de Blancs. Elaborado somente a partir de vinhedos Grand Cru da Côte de Blancs, as leveduras permanecem por longos anos na garrafa, antes do dégorgement. Extremamente delicado, perlage fino, mostrando toda a elegância da Chardonnay. Apesar da idade, envelhece muito bem devido à sua incrível acidez e destacada mineralidade.

Cuvée Contraste: nome bem apropriado

Deixei para o final, o exótico champagne Jacques Selosse, um revolucionário neste mundo de sofisticação. Muitos não gostam de seu estilo, mas isso não tira o brilho de seu talento. Na verdade, o revolucionário chama-se Anselme Selosse que assumiu a vinícola do pai no início dos anos 80, depois de ter estudado e estagiado na Borgonha em propriedades do quilate de Coche-Dury e Lafon (perfeccionistas em Meursault) e Domaine Leflaive (o maior nome em Puligny-Montrachet). Este aprendizado dispertou em Anselme duas obsessões: a busca por baixos rendimentos em seus vinhedos (o que não é muito comum em champagne) e a permanência prolongada das borras nos vinhos-bases, a fim de enriquecer aromas e texturas.

Baseado nestes critérios, seus vinhedos Grand Cru muito bem localizados em Cramant, Avize e Oger, todos na Côte de Blancs, além de Aÿ, Ambonnay e Mareuil-sur-Aÿ, somam pouco mais de sete hectares cultivados de forma orgânica.

Seus vinhos-bases são elaborados com leveduras naturais e baixíssimo nível de SO2 em todo o processo. A fermentação dá-se em barricas de vários tamanhos e idades, sempre com uma parcela de madeira nova (em torno de 16%).

Nosso champagne em questão é a cuvée Contraste, um Blanc de Noirs (100% Pinot Noir de um single vineyard de Aÿ) amadurecido entre cinco e seis anos sur lies antes do dégorgement. Trata-se de um Brut com no máximo seis gramas de açúcar residual por litro. É um champagne de corpo não só pela presença marcante de Pinot Noir, mas também pela incrível textura advinda de todo o processo de elaboração. Apenas 140 caixas por ano. Nesta cuvée participaram as safras de 2002 e 2003. O dégorgement deu-se em outubro de 2007.

Para uma melhor apreciação e entendimento desta proposta, é imperativo decantá-lo por pelo menos uma hora, e serví-lo entre 10 e 12 graus de temperatura. Nada de espanto, quando o vinho-base é de qualidade, não há o que temer. 

Harmonização: Vatapá

21 de Julho de 2011

Dentre os pratos da riquíssima cozinha baiana está o Vatapá, receita dada magistralmente na música do eterno Dorival Caymmi (clicar vídeo). Além disso, serve como recheio de outra especialidade baiana, o Acarajé (massa à base de feijão fradinho, frito em óleo de dendê).

Miniatura

http://youtu.be/WjXTXrZsSX8

 A receita leva farinha de rosca ou fubá, amendoim, castanha de cajú, pimenta malagueta, gengibre, cebola, coentro, tomate, leite de coco, azeite de dendê, camarões secos e alguns outros ingredientes que são segredos de cada autor. Tudo é triturado, mexido lentamente em fogo baixo formando um purê, conforme figura abaixo.

Vatapá: Textura cremosa

Na harmonização, devemos pensar num vinho branco saboroso, pois o prato exige sabor, além de uma textura espessa, pois o prato tem cremosidade. Neste contexto, os clássicos chardonnays passados em barrica de carvalho são a primeira opção. De fato, seu aroma intenso de fruta tropical, com toques tostados, e sabor amanteigado, vão muito bem com o prato. Se for borgonha, um Meursault apresenta a textura mais adequada. Sua acidez equilibra a gordura do prato, sem contar os aromas lembrando cajú dos grandes borgonhas.

No Novo Mundo, chardonnays californianos, chilenos, australianos e sul-africanos, com passagem por barrica, podem ser bem interessantes. Brancos com as uvas Sémillon, Viognier e Pinot Gris, podem ser belas alternativas, sempre com sabores intensos e boa textura. Gewurztraminer pode dar certo, embora sua crônica falta de acidez, pode tornar a harmonização um tanto cansativa.

Quanto mais novos forem esses vinhos, melhor. Terão mais fruta, mais frescor, combatendo principalmente, o lado que pode ser quente do prato, a pimenta. Se o abuso for para o lado do dendê, um toque de evolução no vinho, ajuda. Se o gosto pelo coentro falar mais alto, um Sauvignon Blanc de boa textura pode dar certo. Um Cloudy Bay da Nova Zelândia (Grupo LVMH – www.lvmh.com) ou um Steenberg Reserve da África do Sul (www.expand.com.br) ou também (www.winebrands.com.br).

Terroir: Alsace II

7 de Julho de 2011

A comparação dos brancos alsacianos é quase inevitável com seus vizinhos germânicos. Normalmente, o lado francês gera vinhos mais encorpados, mais opulentos e mais potentes em relação ao lado alemão. Como tudo é relativo, a Alsácia é uma região quente para padrões alemães. Por isso,  essas características são refletidas em seus vinhos. Entretanto, as versões Trocken dos atuais vinhos alemães aproximam-se muito do padrão alsaciano, a  ponto de confundirmos estes  exemplares numa degustação às cegas.

Tratando-se de vinhos varietais expressos nos rótulos, vamos detalhar a seguir, as principais uvas:

Riesling

Longe de menosprezar o alto padrão do Riesling alemão, a Alsácia talvez seja a única região fora da Alemanha a elaborar vinhos com esta caprichosa cepa, capazes de confrontar a excelência alemã. Seus aromas são típicos, mostrando com elegância sua trilogia aromática com aspectos florais, minerais e cítricos. A perfeição da mineralidade fica por conta da domaine Trimbach (os espetaculares Cuvée Frederic Emile e Clos Sainte Hune), com vinhos capazes de envelhecer por décadas. Já o lado mais opulento e exuberante está a cargo do produtor Zind-Humbrecht, com vinhos aromaticamente elegantes, macios e expansivos.

Na gastronomia, a Riesling acompanha muito bem pratos defumados, receitas com carne de porco e o clássico alsaciano Choucroute Garnie.

Domaine Trimbach – importadora Zahil – www.zahil.com.br

Zind-Humbrecht – Expand – www.expand.com.br

Pinot Gris e Gewurztraminer, respectivamente

É importante salientar que as uvas acima são rosadas, gerando vinhos de cores mais acentuadas,  tendendo ao dourado, principalmente com o envelhecimento em garrafa. Trata-se sempre de uma vinificação em branco, sem a presença das cascas.

Pinot Gris

Na Itália, Pinot Grigio. Na Áustria ou Alemanha, Ruländer ou Grauer Burgunder. Seja como for, nos vários países onde é cultivada, com vários outros sinônimos, em nenhum outro lugar além da Alsácia, esta uva gera vinhos de tamanha complexidade e sofisticação. Em terroir alsaciano, seus vinhos lembram o lado floral mais discreto da Gewruztraminer com nuances de talco. Gustativamente, apresentam a textura e maciez de um chardonnay de bom corpo. Nas versões adocicadas, costuma ser o parceiro ideal para o autêntico foie gras alsaciano.

Gewurztraminer

Apesar de seus aromas florais intensos, além de lichias e especiarias, não há paralelos mesmo do lado alemão, para o estonteante “Gewurz” da Alsácia. Sua acidez costuma ser deficiente, mas quando não há este inconveniente, são vinhos exóticos e apaixonantes. Parceiro número um para o poderoso queijo local Munster. Culinária indiana com pratos mais aromáticos que picantes é outra pedida certa.

Muscat

As variedades Muscat à petits grains e Muscat Ottonel geram os convidativos moscatéis da Alsace. São vinhos leves, delicados e aromáticos, muito apropriados para aperitivos e pratos vegetarianos, inclusive com aspargos.

Em resumo, se você quer um ótimo moscatel seco, se você quer o melhor riesling além da Alemanha, se você quer os melhores Pinot Gris e Gewurztramminer do mundo, escolha a Alsácia. Terra dividida tantas vezes ao longo da história entre França e Alemanha, soube com maestria tirar proveito deste conflito, praticando de forma singular, um dos mais belos exemplos em vitivinicultura.


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