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A Hierarquia em Pomerol

31 de Janeiro de 2020

Embora tenhamos os tintos mais caros entre a elite de toda região bordalesa, Pomerol não dispõe de uma classificação oficial até hoje. Em 1855, época da primeira grande classificação dos vinhos bordaleses, Pomerol gozava de pouco prestígio e o grande rei Petrus não havia nascido. 

Com cerca de 800 hectares de vinhas, Pomerol é menor que qualquer comuna famosa do aristocrático Médoc. As propriedades são muito pequenas, sendo a maioria com menos de dez hectares. A uva praticamente é uma só, a sensual Merlot, complementada por pequenas proporções de Cabernet Franc e eventualmente, uma pitada de Cabernet Sauvignon. Nessas condições Pomerol tem um ar borgonhês dentro de Bordeaux.

Embora a Merlot assuma um papel de maciez, aparando as arestas no corte bordalês, aqui em Pomerol ela assume uma postura diferente, mais estruturada, criando um poder de longevidade aos vinhos, sobretudo quando falamos do rei Petrus. Aliás, Parker define três grupos de Pomerol bastante distintos em estilos. O primeiro, do time de cima, fica com Petrus, Lafleur e Trotanoy. São vinhos extremamente estruturados, longevos e com grande carga tânica. Lafleur por exemplo, é o único que consegue ombrear-se em estilo ao astro maior. Já Trotanoy, é o mais acessível dos três, embora com ampla capacidade de envelhecimento. 

96384eba-7f42-4730-9cf1-238a0925fb4e-1uma das grandes safras de Trotanoy!

Um segundo grupo de vinhos mais macios e abordáveis, estão como exemplo os chateaux L´Evangile e La Conseillante, mais próximos do que conhecemos como Merlot propriamente dito. Finalmente, um terceiro grupo de Pomerol que se parece mais com os vinhos do Médoc. Aqui a proporção de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon é mais acentuada, embora a Merlot continue sendo majoritária. O famoso Vieux Chateau Certan (VCC) é o exemplo mais emblemático.

Em termos de classificação, nada oficial até o momento, mas assim como na região de Sauternes, o todo poderoso Yquem é considerado soberano na região, o rei Petrus tem o mesmo prestígio entre os principais Pomerol. Assim como Yquem, Petrus deu fama à região, sobretudo a partir da segunda metade do século passado. 

Existem muitas tentativas de classificação onde escritores famosos deram seus palpites e justificativas. Falando de Parker, um dos maiores conhecedores da matéria, vamos a um estudo recente baseado em notas dos principais chateaux.

pomerol 1995 a 2008

classificação técnica entre 2016 e 1995

pomerol 2

La Violette e Hosanna são grandes destaques

Sem nenhuma surpresa, o primeiro lugar ficou com Petrus, um tinto muito estruturado, mas que demanda tempo para seu total desenvolvimento. Outro fator impeditivo é seu preço, sempre muito alto.

Com média de notas praticamente encostada no astro maior, L´Eglise Clinet surpreende outros potenciais candidatos ao segundo posto com um vinho baseado em Merlot e com enorme potencial de envelhecimento.

img_6906Lafleur, o grande rival de Petrus!

Em terceiro lugar sem nenhuma surpresa, o grande Lafleur. Talvez o único da turma a bater de frente com o Petrus, sobretudo por sua austeridade e longevidade. Tem alta porporção de Cabernet Franc no corte num vinho enigmático.

Com as vinhas reavivadas recentemente, La Violette voltou a brilhar com notas altíssimas. Um vinho 100% Merlot de rendimentos muito baixos e alta concentração. É necessária a decantação para safras jovens, bem como para as mais antigas com muito sedimentos. São apenas 1,68 hectare de um vinho impactante, assumindo o quarto lugar.

Do mesmo produtor de Vieux-Chateau-Certan, Le Pin é um vinho de boutique com produções baixíssimas, entre 600 e 700 caixas por safra. Um vinho 100% Merlot de alta classe e concentração. As safras 82, 89 e 90, são históricas. Em termos de preços, até mais caro em algumas safras do que seu grande rival Petrus. Fica em quinto lugar.

Com vinhedos muito próximos a Petrus, Hosanna assume o sexto lugar. Suas vinhas foram usadas para outros chateaux na região num passado recente. Em 1999 parte do vinhedo foi para a família Moueix e desde então, o chateau assume incrível regularidade e precisão. O blend  é composto por 70% Merlot  de vinhas velhas e 30% Cabernet Franc plantadas na década de setenta. Um vinho elegante e sedutor.

Em sétimo lugar, Chateau Trotanoy é classicamente um dos rivais de Petrus, juntamente com Lafleur. Sua posição nesta tabela deve-se a uma certa irregularidade nas safras. No entanto em algumas, consegue superar o astro maior. Pertence a família Moueix. Importado pela Clarets (www.clarets.com.br). 

img_7072uma das safras mais perfeitas do astro-rei

Em oitavo lugar, Vieux-Chateau-Certan é classicamente um dos grandes da região, na elite de Pomerol. Com participação das Cabernets no corte, este chateau tem um viés de margem esquerda, lembrando algo do Médoc. Algumas safras perfeitas e com preços bem convidativos, dada a fama da região. A safra de 90 é extremamente prazerosa e um dos destaques deste grande ano.

Um dos mais antigos chateaux em Pomerol, L´Evangile assume o nono lugar. No começo do século passado era considerado um vinho de elite juntamente com Petrus e Vieux-Chateau-Certan. Tem um corte clássico com 80% de Merlot e 20% Cabernet Franc. Suas vinhas estão localizadas próximas a Saint-Emilion, bem perto de Cheval Blanc. Apesar de certa irregularidade nas safras, é um vinho sedutor e que envelhece bem.

Em décimo lugar, Chateau Clinet é um dos mais antigos da região. Muito bem localizado, tem uma das vinhas de Merlot mais antigas, plantadas em 1934, conhecida como ¨La Grand Vigne”. Tem uma porcentagem importante de Cabernet Sauvignon para padrões da região. A partir de 2004, mudanças importantes nas vinhas e na cantina, elevaram seu padrão de qualidade.

Comentado em detalhes os dez primeiros tintos deste estudo recente de Parker, os outros dez chateaux incluem nomes de peso como La Conseillante, La Fleur-Petrus e Latour à Pomerol. Enfim, um estudo recente, técnico, e que mostra a elite desta região modesta em tamanho, mas com alto grau de qualidade.

Outras tentativas de classificação foram sugeridas por dois famosos Master of Wine, Clive Coates e Mary Ewing-Mulligan´s. O primeiro um inglês famoso por sua especialidade na Borgonha. Já a segunda é uma autora americana ligada a vários órgãos internacionais, entre eles, Wine & Spirit Education Trust.


Clive Coates

First Growth: somente Petrus.

Outstanding Growth: L´Evangile, La Fleur-Petrus, Lafleur, Latour à Pomerol, Trotanoy e Vieux Chateau Certan.

Exceptional Growth: Le Pin, Certan de May, Clinet, La Conseillante, Clos L´Eglise, La Fleur de Gay e Gazin.

Very Fine Growth: Hosanna, Bon-Pasteur, Le Gay, Nenin, entre outros.


Mary Ewing-Mulligan´s

Class One: Petrus e Lafleur.

Class Two: Trotanoy, L´Evangile, Vieux Chateau Certan, L´Eglise Clinet, Clinet, La Fleur-Petrus, Clos l´Eglise, La Conseillante, Certan de May, Latour à Pomerol, Nenin e La Fleur de Gay.

Class Three: Petit-Village, Feytit-Clinet, Rouget, Bon-Pasteur, La Croix du Casse, Gazin, Grave à Pomerol, Hosanna, Le Gay e La Croix de Gay.


Percebe-se que estas classificações não são tão técnicas quanto a de Parker. Entre outros fatores, entra em conta a história e tradição do chateau. Hosanna tem classificação discreta nos dois casos por ser um fenômeno recente na história. O mesmo podemos dizer de La Violette, um chateau extremamente jovem. O próprio Latour à Pomerol bem classificado, foi grande em outras épocas de safras mais antigas. Certan de May acompanha este raciocínio. Le Pin por ter surgido como “vinho de garagem”, tem pouco impacto numa classificação tradicional.

Enfim, tentamos dar uma ideia dos principais chateaux da região, enfatizando não só a tradição, mas o progresso na região em fazer vinhos modernos e impactantes. Numa coisa todos concordam, Petrus continua sendo o Rei!

Bordeaux Nota 100 numa das mãos

17 de Julho de 2019

Um vinho dito perfeito ou mais realisticamente que flerta com a perfeição, é por contraponto um vinho sem ressalvas. Se é difícil e subjetivo apontar suas qualidades, aromas e nuances, fica mais fácil não conseguir apontar algo que desagrade ou que deixe a desejar. Portanto, se não conseguimos tirar um único ponto de um determinado vinho, ele é um nota 100, símbolo da perfeição, tornando-se com o tempo uma lenda.

Quando comecei a provar grandes vinhos, após um breve espaço de tempo, fiz uma pequena lista de grandes nomes, achando que seriam os melhores para todo o sempre. Ledo engano, quanto mais provo, quanto mais repito aqueles mesmos vinhos que um dia endeusei de maneira absoluta, quanto mais sinto a evolução deles ao longo do tempo, mais dúvidas, mais dilemas, mais senões, turbilhonam a mente, sem uma conclusão definitiva. Além da emoção do momento, nunca devemos nos esquecer que obras de arte não se comparam, apenas estão a nosso alcance para serem apreciadas.

Neste sentido, faço uma nova lista, desta vez sem ilusões e conclusões definitivas, sabendo que além destes, tanto outros poderiam estar incluídos, e quem sabe com o tempo, esses mesmos vinhos seriam substituídos por outros. Enfim, vou me resumir a Bordeaux, um terroir de muitos notas 100, e neste caso apenas cinco, que cabem numa das mãos.

Deixei de lado mitos que com o tempo foram desaparecendo, ficando quase inacessíveis, e altamente sujeitos a falsificações. Vinhos que quem os provaram, ficou a lembrança inesquecível na pátina do tempo, como Margaux 1900, Cheval Blanc 1921, Mouton 1945, Petrus 1929. Todos eles imortais.

A lista abaixo é de ordem aleatória, cabendo a cada um com suas preferências pessoais, ordena-los a seu modo. São vinhos caros, difíceis de serem encontrados, mas ainda assim acessíveis para os entusiastas persistentes e tenazes. 

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Chateau Haut Brion 1989

Primeiramente, uma homenagem a este único Premier Grand Cru Classé de Graves na classificação de 1855. Um chateau altamente consistente na maioria das safras por suas elegância e empatia, mesmo em tenra idade. Nesta safra em particular, potencializa todas suas virtudes num vinho de muita força e presença. Um final muito bem acabado e radiante quase querendo dizer: a minha idade não é a que eu tenho, mas a que pareço.

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Chateau Mouton Rothschild 1986

Outro grande vinho da ótima década de 80. Mouton costuma ser um tinto muito inconstante, dependendo da safra, mas quando acerta, é excepcional. Este Mouton 86 é totalmente diferente em estilo do Haut Brion acima. Um vinho cheio de cerimônias e segredos, necessitando de algumas horas de decantação, obrigatoriamente. Um vinho que se mostra muito pouco ainda, mas dá uma aula de taninos e potência. Tem uma força e energia impressionantes, testando nossas paciência e curiosidade. Será certamente um daqueles vinhos imortais, atravessando décadas.

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Le Pin 1982

Falar dos melhores da mítica safra 82 é arrumar confusão e polêmica. Afinal, deslumbrantes chateaux desfilaram nesta safra com galhardia. Minha escolha foi para homenagear Pomerol e lembrar para alguns que o rei Petrus tem seus concorrentes. Le Pin tem uma produção diminuta, menor ainda que Petrus, e também trabalha com 100% Merlot. Sua história é mais recente, sendo um dos precursores dos chamados “vins de garage”. Nesta safra, ele se supera, mostrando toda a sensualidade e presença de um grande Pomerol. Lembrar que Petrus nesta safra foi abaixo das expectativas.

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Chateau Latour 1961

Numa relação de cinco grandes Bordeaux, não poderia deixar de estar presente o grande Latour, o senhor do Médoc. Outro vinho de consistência e longevidade impressionantes, safra após safra. Dentre muitos maravilhosos Latour, este impressiona pela rica estrutura e enorme longevidade, sem demonstrar as marcas do tempo. Taninos poderosos e ultrafinos permeiam a taça. Na mesma linha do Mouton 86, necessita de algumas horas de decantação. Um verdadeiro monumento a Bordeaux.

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Chateau Lafite Rothschild 1953

Este é outro Chateau que não poderia ficar de fora. O mais delicado, o mais sutil, o mais borgonhês de Pauillac. Escolhi esta safra porque é o melhor 53 para Parker. Uma safra não tão badalada, mas de belos vinhos. Poderia ter sido um 59, mas acho 53 um dedinho superior. Lafite é um vinho que envelhece magnificamente, mostrando todas suas sutilezas e segredos com um aporte de acidez que lhe conferem uma tensão no equilíbrio gustativo quase única. Seus toques orientais e de cedro no aroma são marcas registradas que denotam classe e distinção. 

Enfim, um preâmbulo para uma bela degustação que terremos em breve com esses tema. Evidentemente, não necessariamente esses vinhos, mas com certeza, preciosidades deste mesmo nível, marcando momentos inesquecíveis. Aguardem!

Bordeaux 82, o Paraíso existe!

12 de Maio de 2019

O ano de 1982 só não foi perfeito porque nossa seleção do saudoso Telê Santana lamentavelmente não levou o título mundial. Em compensação, Bordeaux teve sua safra gloriosa, generosa, em ambas as margens com uma das colheitas mais fartas de todo o século XX. Podemos pensar em safras como 53, 55, 59 (minha safra), 90, 95, 96, e as minúsculas mas espetaculares safras 45 e 61. Entretanto, os prazeres de provar um 82 são notáveis com vinhos no auge de seu apogeu, sendo que alguns ainda chegando em seu momento perfeito.

As perspectivas desta safra na época não eram muito animadoras pela crítica especializada, dizendo ser uma safra de acidez discreta, não apta a longo envelhecimento. Eis que surge a opinião de um jovem advogado americano contrariando os papas da época, afirmando ser uma safra de fruta esplendorosa, taninos abundantes, de textura sedosa, e com um extrato fabuloso para décadas de envelhecimento. Surge a partir daí, o mito Robert Parker, um americano ditando regras em meio à soberba francesa. Sua influência chegou a tal ponto, que a precificação de cada safra em Bordeaux dependia diretamente de sua avaliação e comentários.

Após este prefácio, tudo isso foi confirmado num memorável jantar no restaurante Fasano com um menu coordenado para quatro grandes flights.

as preliminares do jantar

À espera dos convivas, mesa posta e alguns drinks estimulando os sentidos como o clássico Dry Martini. Na recepção, ainda fora da mesa, uma trilogia de champagnes dando o tom do evento, foto abaixo. Salon 97 ainda uma criança. Cheio de tensão e mineralidade, suas borbulhas exibiam a delicadeza de um dos mais longevos champagnes. Como contraste, mas igualmente brilhante, um Cristal 82 maduro de uma bela safra. Champagne gastronômico, frutas maduras, cheio de brioche e pâtisserie. Borbulhas um tanto discretas, mas com uma textura inigualável. No meio do caminho, um Dom Perignon 2000, sempre elegante, delicado e estimulante. Nada melhor para esquentar os motores!

trilogia em Champagne

Sem mais delongas, vamos ao desfile bordalês com muitas surpresas e algumas decepções, fatos inerentes, sobretudo em degustações às cegas. As garrafas foram abertas e checadas pelo competente sommelier Fábio Lima, sob a batuta do mestre Beato. O maître Almir, patrimônio da Casa, coordenou a sequência de pratos à mesa.

img_6068-1vizinhos num desempenho brilhante

Neste primeiro flight, a primeira baixa. Montrose estava prejudicado com um “elegante ” bouchonné. Já os dois vizinhos brilharam, pois estão lado a lado na divisa de comunas entre St Estèphe e Pauillac. Lafite 82 talvez em sua melhor garrafa na noite, pois tivemos quatro delas, manteve a hierarquia num vinho elegante e aristocrático. Cos d´Estournel ratificou sua nobreza numa das melhores safras de toda sua história. Vinho de uma riqueza impressionante, bem estruturado, e longe de qualquer sinal de decadência. A primeira grande surpresa do jantar.

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o carneiro saltitante brilhou!

Neste segundo flight, mais uma baixa. O La Mission, um dos notas 100 de 82 estava um tanto estranho. Na verdade, seus aromas estavam muito redutivo, necessitando intensa oxigenação. Depois de um bom tempo na taça, mostrou sua elegância. Já o Mouton 82 quando a garrafa é perfeita, é um vinho quase imbatível. Exuberante, rico em aromas e uma textura extremamente sedosa. Outro grande que brilhou foi o Gruaud Larose que só não levou o flight, porque o Mouton estava perfeito. No entanto, este St Julien nesta safra especificamente, é um dos grandes destaques com uma consistência impressionante.

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aqui a hierarquia não foi respeitada

Embora os dois Premiers, Lafite e Mouton, sejam magníficos, estas duas garrafas não estavam em sua melhor forma, provando que em vinhos antigos, a garrafa é que manda e não a safra. Neste contexto, o Pichon nadou de braçadas numa garrafa magnífica. Realmente Pichon Lalande 82 é seguramente um dos cinco melhores  chateaux desta safra com uma elegância, equilíbrio e distinção, notáveis. É de fato, um super Deuxième. 

dois pratos de um menu em quatro atos

Num menu para vinhos desta estirpe, a delicadeza, sutileza e sintonia de sabores, devem andar em sincronismo. Para o primeiro prato, foi pensado algo que aguçasse os sabores terciários dos vinhos com uma Textura de Cogumelo. No segundo flight, para estimular e reavivar as papilas, um tartar de atum entrou em cena com vinhos mais frutados e de taninos mais dóceis. O terceiro prato, foto acima, era um risoto de pato com foie gras, valorizando os bordeaux de textura mais rica. Por fim, cordeiro em crosta de ervas e pistache, foto acima, dando suculência aos vinhos de taninos mais firmes e estruturados.

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St Estèphe brilhou novamente

Novamente uma baixa da degustação. Lafite 82 em sua terceira garrafa, com toques de oxidação e evolução estranha de aromas, algo resinoso. Leoville Las Cases 82, sempre um dos vinhos mais austero da safra, mas de muita sofisticação e sobriedade. Por fim, a segunda garrafa do Cos d´Estournel, magnífica. Levou o flight e se revelou de longe, a maior pechincha da noite. Um vinho que se encontra no seu esplendor com amplo platô de estabilização. Deve ainda dar muitas alegrias. 

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flight arrebatador 

Neste último flight, no apagar das luzes, eis que surge o único 86 da brincadeira. O grande Le Pin numa garrafa esplêndida. Só de peitar o grande Pichon, novamente numa garrafa perfeita, percebe-se a distinção deste grande Pomerol. O único margem direita e o único não 82, levou o prêmio da noite como melhor vinho, na opinião de muitos presentes. O Lafite também foi bem, embora de uma garrafa ainda meio tímida, frente ao desempenho perfeito de seus concorrentes de páreo. Pichon despediu-se glorioso nesta segunda garrafa, já deixando saudades de uma noite de sonhos.

A conversa continuou um pouco mais à mesa em meio a cafés, petits-fours, champagne, e grappas. Agradecimentos a todos os confrades, em especial ao Camarguinho, que com muita classe e fidalguia, proporcionou um encontro descontraído e bastante animado. Que o entusiasmo, generosidade, e cumplicidade, continuem reinando nesta confraria!

Remadejo: Algoritmo da Felicidade

13 de Maio de 2018

Bem mais perto do que se imagina, nos arredores de São Paulo, um cenário lindo para uma festa bordalesa com certeza. O anfitrião cuidou de todos os detalhes para que os convivas se sentissem no paraíso de Bacco, Fazenda Remadejo.

IMG_4616.jpgvista de acordo com os vinhos

Na chegada para matar a sede, champagne Perrier-Jouet Belle Epoque 2004, cuvée especial da Maison com um ar de “Meio-dia em Paris”. O blend é composto de partes iguais de Chardonnay e Pinot Noir e uma pitada de Pinot Meunier. Com mais de seis anos sur-lies, os aromas de brioche são enfatizados, mas sem exageros. A leveza, o lado floral e de frutas cítricas, fazem deste champagne uma bebida perfeita para aperitivar. 

a chegada e a recepção

Com a chegada de todos, fomos para a adega do anfitrião checar um Petrus 1997 em Magnum, preparando as papilas. Surpreendentemente, este Petrus estava bem abordável. Normalmente em tenra idade, Petrus se mostra duro e sem muita conversa. Contudo, seus taninos estavam afáveis e seus aromas bem agradáveis, mostrando a grandeza deste mito de Pomerol.  Um lado terroso, sugerindo trufas em seu envelhecimento, além de especiarias e frutas negras como ameixas, por exemplo. Não está na elite dos grandes Petrus, mas é delicioso, equilibrado, e com todas as digitais do Chateau. Robert Parker, 91 pontos com apogeu previsto para 2025. Bela pedida!

227feffa-dcd1-4461-a17c-0bfa322225c6.jpgas boas vindas do encontro

Os tintos começaram arrasadores na mítica safra de 82. Dois 100 pontos e Haut Brion com 95, conforme foto abaixo. Começando pelo Latour, é redundante elogiar este vinho. Segundo Parker, Latour 82 vai mais longe que o 61, sendo este último, um monumento a Pauillac. Enfim, o vinho estava maravilhoso. Taninos finíssimos, o toque aromático de couro fino, e uma persistência aromática incrível. Vai longe em adega. Já os outros dois, bem mais prontos e igualmente espetaculares. Começando pelo Le Pin 82, a melhor safra do chateau, e um dos melhores entre todos os 82, estava uma delicia na boca. Macio, licoroso, lembrando cerejas escuras, traços de chocolate, e um fundo mineral. Taninos totalmente polimerizados, estando no esplendor de sua forma. Um Pomerol de livro. Por fim, Haut Brion, outro margem esquerda de consistência incrível. Sempre um prazer bebe-lo, embora ainda não totalmente pronto. Seus aromas de estábulo, ervas finas, caixa de charuto, são de arrepiar. Boca elegante, equilibrada e um final de rara beleza. Vai mais uns dez aninhos fácil em adega.

IMG_4623.jpga santíssima trindade

Em seguida, mais um trio de tirar o fôlego, de outra safra mítica, 1961. Entretanto, por questões de garrafa, não brilhou tanto como no flight anterior. Com exceção do rei Petrus, os outros dois estavam bem cansados. Petrus 61 está na elite dos grandes da história com 99 pontos. Mesmo esta garrafa, estava um pouco cansada, mas longe de qualquer decadência. Seus aromas terciários eram etéreos, lembrando trufas, adega úmida (não confundir com bouchonné), toques minerais e de manteiga de cacau. Boca harmoniosa e ampla. Um Petrus em seu apogeu, o que não é fácil.

Falando agora do Chateau Mouton Baron Philippe, é um vinhedo colado ao grande Mouton Rothschild. Este Cru Classe se chamava Chateau d´Armailhac na época que foi comprado pelo lendário Baron Rothschild. Entre os anos de 1956 e 1988, o Chateau mudou de nome para Mouton Baron Philippe, voltando após esta data, ao nome original que permanece até hoje, Chateau d´Armailhac. Quanto ao vinho degustado, mesmo em Magnum, era o mais cansado de todos. Tinha um interessante toque de funghi porcini, mas a boca já comprometida, secando o palato e faltando fruta. Na única anotação de Parker, ele dá 91 pontos e diz ter atingido o apogeu em 2003. Acho que ele tem razão …

No último vinho, Pichon 61, é um dos grandes do Chateau em safras antigas, juntamente com o 1945. Parker dá 95 pontos com apogeu previsto para o ano 2000. Portanto, nas boas garrafas é um vinho no auge com muita sorte. Este porém, já viveu melhores momentos. Percebe-se que foi um grande vinho pela elegância  e taninos de rara textura. Contudo, a boca já está seca, faltando fruta, e percebe-se uma acidez dominante, sem integração com o conjunto. Em vinhos antigos, o que vale são as grandes garrafas …

IMG_4624.jpgo campeão no centro do podium 

Fora os bordaleses, outros vinhos abrilhantaram o almoço como este excepcional Madeira abaixo, safra 1928 com a uva Sercial. Esta uva elabora os grandes Madeiras secos, para aperitivos, ou para pratos específicos como patês de caça. Neste caso, acompanhou muito bem uma brandade de bacalhau em cama de massa folhada. Seus toques balsâmicos, de jaca madura, especiarias como cardamomo, e frutas secas, são espetaculares. A boca é harmoniosa e com uma persistência sem fim.

Madeira Old School

Outro ponto alto do almoço, foi o cuscuz preparado por um dos confrades com assessoria de Bella Masano (restaurante Amadeus), úmido e saboroso. Foi devidamente escoltado pelo Montrachet 2005 do Domaine Jacques Prieur. O vinho estava no auge de sua evolução com muita fruta, madeira bem integrada, e o corpo dos grandes Montrachets. Para ter uma ideia da exclusividade dos Montrachets, este é de um vinhedo de 0,59 hectares, quase um jardim. O vinho é fermentado em barricas novas e passa cerca de 21 meses em carvalho, antes de ser engarrafado. Enfim, o modelo clássico do feliz casamento de  Chardonnay e barrica.

Montrachet em seu apogeu

Encerrando o almoço, não teria foto melhor do que esta abaixo. Esses dois monstros já são uma sobremesa. Começando pelo Yquem 1976, ano rasgado no rótulo, é um dos melhores para este Chateau lendário. O vinho nem precisa de um  crème brûlée. Ele em si é o próprio creme. Aromas com todos os tons de caramelo, frutas maduras, toques de café, damascos, entre outros. Boca untuosa, perfeitamente equilibrada, e uma persistência tectônica. Um dos melhores que já provei! e não foram poucos, graças a Deus!

1d032a72-83e0-43c3-bd4a-a1b6d6983258.jpga perfeição em branco e tinto

Agora o que dizer de um Taylor Vintage Port 1963, um ano antológico para Portos. Completamente desenvolvido em seus aromas terciários com uma profusão de chocolates, cacau, frutas escuras confitadas, toques balsâmicos, e uma incrível nota de tâmaras medjool (jumbo). Taninos totalmente polimerizados, sedosos, álcool perfeitamente integrado na massa vínica, e mais uma vez reluta em deixar a boca, numa persistência interminável.

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Além de tudo isso, teve ainda uma brincadeira com o Léoville Las Cases 1986. Esta história fica para o próximo artigo, em detalhes jamais revelados.

d84b533c-88ab-4541-8b00-aed2f11eefc5.jpgEsse é o cara!

Agradecimentos a todos os confrades, em especial ao anfitrião e sua linda família, pela recepção calorosa, sofisticada, e sincera. Que Bacco nos proporcione cenários e encontros como esse. Saúde a todos!

Syrah e Merlot: Sublimação de Terroirs

29 de Janeiro de 2017

As apelações francesas procuram espelhar a força de seus respectivos terroirs nos vários produtores que formam cada pequena região. E é exatamente a interpretação magnífica de determinados terroirs  que faz a distinção dos grandes produtores, verdadeiras referências, no sentido de procurarem a perfeição e a essência de uma pequena porção de terreno. Neste contexto, o produtor de Hermitage Paul Joboulet com sua cuvée La Chapelle e Le Pin, um ícone de Pomerol, sublimam as uvas Syrah e Merlot, respectivamente. Foi o que aconteceu numa bela degustação mostrando essas maravilhas.

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a imponente montanha de Hermitage

A paisagem lembra um pouco o Douro, terroir português para o inigualável Vinho do Porto. De fato, o subsolo também é granítico, um monolítico esculpido de forma magistral pela natureza. O esquema abaixo, setoriza as várias parcelas da montanha. Hermitage tem um conceito muito particular de terroir, onde a junção das várias parcelas é capaz de produzir um vinho mais complexo e longevo, ao contrário da noção comumente adotada de parcelas individualizadas, ou seja, os melhores Hermitages não são os de vinhedos, e sim os clássicos.

La Chapelle

O segredo deste grande ícone é o domaine Paul Jaboulet trabalhar com vinhas antigas (entre 40 e 60 anos), gerando mostos com rendimentos baixíssimos (entre 10 e 18 hectolitros por hectare). Além disso, o pulo do gato é a mescla judiciosa de seus vários terroirs, conferindo ao vinho uma complexidade ímpar. No caso, são quatro lieux-dits: Les Bessardes, Les Greffieux, Le Méal, e Les Roucoles.

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as várias parcelas da montanha

Les Bessards: confere estrutura e capacidade de envelhecimento com seu solo granítico

Le Méal: confere elegância e complexidade com solos de traços calcários, pedras e sílica

Les Greffieux: confere corpo e elegância com solos aluviais e argilosos

Les Roucoles: terroir mais para brancos com presença de argila e loess, conferindo graça e suavidade

O vinho repousa entre 15 e 18 meses em madeira para depois envelhecer em garrafas por décadas. Este é um dos poucos casos em que vale a  velha máxima: “quanto mais velho, melhor”.

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20 anos os separam, uma viagem no tempo

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esquerda (70) e direita (90)

Difícil descrever em palavras um La Chapelle maduro, com seus aromas terciários já desenvolvidos e seus massivos taninos devidamente domados. Degustados em taças Zalto, a diferença sutil de cor entre as safras acima mostra bem a lenta evolução deste vinho. A safra 1970 pode não ser perfeita, mas com seus 47 anos de evolução encontra-se deliciosa para ser provada e num platô amplo de estabilização. A cor, embora um pouco clara, menos preenchida no centro da taça, não denota sua idade. Os aromas são de uma elegância e refinamento ímpares, persistentes, sem ser impositivos. Vai das frutas escuras, couro, chocolate, especiarias delicadas e um toque defumado bem sutil. Em boca, aquela montanha de taninos domada, integrando-se perfeitamente ao corpo. O equilíbrio de álcool e acidez são notáveis, culminando numa persistência aromática expansiva. Acho que neste ano não há vinho que possa ofuscar-lhe. Perdão, lembrei agora do grande Vega-Sicília 70 …

Já o 1990 ainda é um “monstrinho”, tal a pujança em boca. Este vai chegar fácil aos 47 anos e com certeza, com mais vigor ainda. Os aromas demoraram um pouco a chegar, já que sabemos que a casta Syrah é extremamente redutiva, necessitando de decantação. O perfil aromático, seu DNA, é muito semelhante ao anterior, mas ainda tímido. Coisas que só o tempo resolve. Potente em boca, taninos em abundância e ultra finos. Enfim, pode-se degustar agora com paciência e decantação, mas ainda tem chão pela frente.

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um Pomerol de garagem

Acima, outro dupla de respeito. Como os grandes Bordeaux se impõem em qualquer situação!. Mesmo diante de um Hermitage do quilate do La Chapelle, mostrou corpo e profundidade para não se intimidar. Le Pin é um dos grandes concorrentes do todo poderoso Petrus, inclusive nos preços. Contudo, normalmente tem a vantagem de ser mais abordável, mesmo na juventude.

Sua história é recente, sendo a primeira safra em 1979. São apenas 2,7 hectares produzindo em torno de 500 caixas por colheita com uvas 100% Merlot. Assim como o Sassicaia foi o pioneiro para os Supertoscanos, Le Pin inaugurou o termo “Vin de Garage”, pequenas partidas de vinho feitas num espaço reduzido de microprodução.

O primeiro ponto que chama atenção nas duas safras provadas é o discreto nível de álcool de 12,5° graus, bem abaixo do que estamos acostumados para tintos de corpo. Aqui, vale mais as características de cada uma das safras, já que a diferença entre ambas é de apenas um ano. A safra 89 é bem pontuada e de características muito mais precoces, sendo acessível mesmo jovem. Fruta deliciosa, macio, taninos bem moldados com final longo e harmônico.

A safra 90 é mais estruturada, com alguns segredos ainda a revelar. Seus taninos são mais presentes e abundantes. Evoluiu muito e bem na taça com o passar do tempo. Além da fruta lembrando ameixas, as notas de chocolate, couro e toques balsâmicos completaram seu leque aromático. Em boca, percebe-se a potência e qualidade da safra. Taninos de fina textura, muito equilibrado, e um final longo e expansivo.


Antes dos tintos, dois brancos para aguçar o paladar. Uma novidade em Champagne de produção minúscula. Não há nada melhor para iniciar uma refeição, se não um cremoso Blanc de Blancs. Em seguida, um Corton-Charlemagne de rara beleza, o exclusivíssimo Coche-Dury.

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o refinamento de uma apelação

Falar de Coche-Dury é falar em refinamento, exclusividade, requinte. Um domaine irrepreensível com vinhos de sonhos. Seus destaques são os disputadíssimos Meursaults, sempre muito bem cotados. Entretanto, ele faz também uma produção minúscula de Grand Cru Corton-Charlemagne, apenas um terço de hectare (0,33 ha) com vinhas plantadas em 1960. Na safra 2012 (foto acima) foram produzidas apenas 1800 garrafas numeradas.

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bela combinação com sushi de papada de porco

O vinho ainda jovem, praticamente um infanticídio, tem um cor linda, brilhante e muito clara. Os aromas são bem minerais, madeira sutil, refinada, um toque floral, indo na linha de um Puligny-Montrachet. Em boca, os Cortons sempre lembram os grandes Chablis, estilo Les Clos, mais encorpados, embora sem a mesma textura da turma lá de baixo da família dos Montrachets. Equilíbrio fantástico. Nada sobra, nada falta. Final longo e muito agradável.

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delicadeza e elegância

O rótulo acima lembra Selosse, mas seu estilo é de um champagne fresco e vibrante. Michel Fallon é um discípulo de Selosse no sentido de engarrafar sua própria e minúscula produção, apenas 850 garrafas por ano. A cuvée Ozanne é uma referência a um antigo nome da comuna de Avize, uma das mais prestigiada da Côte des Blancs.

Trata-se de um Chardonnay fermentado em barricas como vinho-base. O contato sur lies após a segunda fermentação é de pelo menos três anos. Um champagne vívido, perlage abundante e muito fino. Os aromas cítricos predominam entrelaçados com ervas frescas, damasco e um toque de levedura. Jamais a madeira interfere. A mousse é sensacional com a delicadeza de um autêntico Blanc de Blancs.

Começamos bem 2017. Abraço aos amigos que compartilharam e proporcionaram esses momentos com vinhos espetaculares e de um didatismo único. Aos que faltaram, atenção! Condução coercitiva para o próximo encontro.

Bordeaux e outros grandes 85 – Parte I

22 de Dezembro de 2016

A ideia de reunir grandes tintos da safra 1985 surgiu em muitas comparações quando foram confrontados lado a lado alguns belos bordaleses safras 82 e 85 em degustações verticais memoráveis ao longo do ano. É claro que os míticos 1982 têm seu lugar cativo, pois trata-se de uma das maiores safras do século passado. Entretanto, embora os 85 não tendo a mesma potência dos gloriosos 82, guardam um equilíbrio fantástico, são sedutores, e continuam em grande forma.

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as joias da safra 1985

Nesta última degustação do ano, resolvemos perfila-los numa seleção do que há de melhor na elite dos Bordeaux. Mais que isso, foram pinçados outros grandes 85 de regiões diversas, pois esta safra brilhou em várias denominações de origem prestigiadas. Assim, participaram Bourgogne, Piemonte, Toscana e Douro.

Divididos em grupos, vamos a seguir lembra-los, já começando com um trio arrasador. Num flight sem comparativos entre si, valeu a individualidade e a tipicidade confirmada por cada um. Afinal, trata-se de grandes produtores, referências em suas respectivas denominações de origem.

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italianos abraçando um português

Difícil começar por um, mas vamos lá. Sassicaia 85 é algo diferente já entre os demais Sassicaias. O rei dos supertoscanos nesta safra tornou-se imortal. Encorpado, equilíbrio fantástico, aromas que vão do chocolate, tabaco, até uma profusão de ervas como tomilho e sálvia, marcando a tipicidade italiana. Seu concorrente piemontês, Aldo Conterno Granbussia, numa elegância impar. Um Barolo de grande refinamento, mostrando que a Nebbiolo pode moldar vinhos tão elegantes quanto os mais finos borgonhas. Delicadeza e equilíbrio fantásticos. Barca Velha, a obra-prima de Fernando Nicolau de Almeida, colocando o Douro no mapa-múndi dos grandes vinhos. Cheio de vida, taninos presentes e muito finos. Os toques balsâmicos, ervas, e frutas em compota, permearam seus aromas. Ainda com bons anos pela frente.

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Guigal iniciando os bordaleses

Como tínhamos somente dois tintos do Rhône, resolvemos juntá-los a um par de bordaleses que respeitassem sua elegância. Os La-La-La, como são conhecidas as joias do produtor Guigal, trata-se de um triunvirato do mais alto nível da apelação Côte-Rôtie, norte do Rhône. La Landonne, mostra toda a elegância da Syrah neste solo granítico e escarpado. Muito sedoso, aromas balsâmicos com toques de incenso. Extremamente longo e harmonioso. La Turque, o macho da dupla, é cheio de virilidade, taninos mais presentes, uma certa austeridade, mas igualmente delicioso. Difícil pontua-los e compara-los em preferencia. Com toda essa delicadeza, entra em cena o Borgonha de Pauillac, o majestoso Lafite. Notas balsâmicas, especiarias delicadas, ervas finas, e o toque de tabaco característico da comuna. Bela evolução, mas com muita vida pela frente. Finalizando, o exclusivíssimo Le Pin, Pomerol de alto coturno. Mais denso que os demais, porém mantendo a suavidade do flight. Os toques de ameixa escura, chocolate, e um certo terroso, marcam seus aromas. Persistente e em plena forma.

Em meio aos flights, vários pratos preparados pelo assador Renzo Garibaldi, especialista em carnes dry aged, longamente maturadas, como da foto abaixo. 

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maturação de um ano

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Clos de Tart ladeado por DRC

Chegando ao terceiro flight, temos um “intruso” no meio dos DRCs. Não é fácil colocar um vinho nesta situação, sem humilha-lo, pois a comparação é cruel. Contudo, Clos de Tart se portou altivo, respeitando sua vizinhança, mas impondo-se como um dos maiores entre os tintos da Côte de Nuits. De história tão antiga quanto o ilustre Romanée-Conti, Clos de Tart é o maior monopólio individual entre os Grands Crus da Borgonha. Extremamente longevo, nesta safra já se mostra acessível com seus lindos toques de cerejas escuras, violetas, especiarias e um mineral impressionante. O primeiro DRC, Romanée-St-Vivant, estava gracioso com seus toques florais, ervas, especiarias, muito macio e resolvido em boca. Safra prazerosa e num ótimo momento para ser apreciado. Por fim, a estrela do flight, o suntuoso La Tâche. Que imponência, que estrutura, que equilíbrio! O que é isso? Hugh Johnson já disse: “um dos maiores vinhedos sobre a Terra”.

Próximo artigo, os grandes Bordeaux, razão maior desta degustação, e outras preciosidades after dinner. Aguardem!

Vinhos da Arca de Noé: Parte II

9 de Março de 2016

Saindo da arca de nosso Noé, segue agora o desfile de tintos, e que tintos!. Evidentemente, começamos pelos borgonhas. Na mais, nada menos, que DRC (Domaine de La Romanée Conti) e Madame Leroy. Em seguida, um ilustre intruso do Rhône (Jean Louis Chave). Na parte bordalesa, dois pares de margem direita (Clinet, Le Pin e Petrus), e finalmente, dois pares da margem esquerda (Latour e Haut-Brion). Então, vamos a eles!

leroy clos de la rocheElegância: marca inconteste de madame Leroy

Clos de La Roche é um dos Grands Crus de Morey-St-Denis. Tinto de raça e certa austeridade, mas nas mãos de Madame Leroy tem uma graciosidade ímpar. O 2001 mais típico, taninos macios, aromas minerais e de rosas muito bem delineados. 2003 mais robusto, concentrado, típico da safra. Taninos mais presentes e muito persistente no final de boca. Bela interpretação das duas safras.

la tache e richebourg

Safra e vinhos esplendorosos

Quando estamos diante de um DRC da safra de 90, precisamos de um minuto de silêncio para cair a ficha. Alguém ja disse que La Tâche é um dos maiores vinhedos sobre a terra. E não há dúvida, o vinho é de uma complexidade e equilíbrio em boca quase indescritíveis. Contudo, ainda não está totalmente pronto. Há alguns mistérios a serem desvendados. Por isso, neste momento, o Richebourg torna-se mais prazeroso. Nariz com toda a complexidade da Pinot Noir e boca absolutamente macia, deliciosa. Momento importante da degustação.

chaves hermitage

O melhor Hermitage: com ou sem H

Dizem que o grande Hermitage vem de produtores que mesclam um maior número de vinhedos da apelação. Pois bem, Jean Louis Chave possui o maior número de “Climats” para fazer esta mescla. Embora o Cuvée Cathelin à esquerda da foto seja um cuvée de partidas mais concentradas escolhidas a dedo,  seu Hermitage clássico à direita me agrada mais. Talvez por estar mais pronto. Contudo, estamos diante de um par sensacional da irrepreensível safra de 90. Os aromas de frutas escuras, minerais e de especiarias invadem nosso palato.

le pin e clinet

Pomerol em alto nível

A safra de 89 moldou grandes tintos em Bordeaux. E no caso de Pomerol, não podia ser diferente. Talvez tenha sido o flight menos acirrado do painel de tintos. Embora Clinet seja um belo Château, sobretudo nesta safra, a comparação é um pouco cruel. Le Pin esbanja elegância sem precisar usar força. É bem verdade que está mais pronto que seu concorrente, mas é extremamente prazeroso. Clinet ainda pode surpreender com mais alguns anos. É esperar para ver.

petrus 64 e 67

Raridade: Petrus em sua maturidade

Petrus é diferente de tudo em Pomerol. Talvez por isso reine isolado e chega a ser atípico para a apelação. Eu o chamo de Latour da margem direita. Embora com seus 50 anos, este par ainda tem pernas para andar muito. Vinho denso, muito estruturado e de longa persistência. Briga muito acirrada, mas pessoalmente, acho o 64 uma cabeça à frente.

latour 45 e 64

Latour: quase imortal

Falando em Latour, olha ele aí!. Os dois seguem o perfil do flight anterior. Densos, profundos, quase indestrutíveis. Toda a essência de Pauillac está nestas garrafas. O cassis, o mineral, a caixa de charuto, entre outros aromas. Pessoalmente, achei o 64 mais estruturado. Entretanto, pode ser a diferença de idade, já que 45 é um ano lendário. Na dúvida, fique com os dois.

bochecha de boi

último prato: bochecha de boi e purê de grão de bico

haut-brion 59 e 61

Haut-Brion: elegância ao extremo

Este último par pode não ter a estrutura, a pujança, o poder, de um Petrus ou um Latour, mas certamente sobra elegância. 1959, minha safra, era puro deleite. Tudo no lugar, tudo resolvido, e o melhor, num platô amplo de estabilidade. Nenhum sinal de declínio. O 1961, também com muito prazer, mas trazia a marca da safra. Ainda uma certa austeridade, com taninos presentes. Flight sensacional.

Calma, ainda não acabou. Temos a sobremesa, os charutos, e claro, mais vinhos. Mais um tempinho, no próximo artigo. Até lá!

Mudança de Adega: Entre um gole e outro

3 de Maio de 2015

Um dos trabalhos do sommelier é também montar adegas novas ou transferi-las para um novo local. Este foi o caso de um grande amigo que mudou recentemente de endereço. Possuidor de um arsenal de mais de três mil garrafas cuidadosamente selecionadas ao longo dos anos. E que arsenal! Pode não ser das maiores do Brasil em quantidade, mas a qualidade e o garimpo de seus vinhos são irrepreensíveis. Apaixonado pelos bordaleses, os melhores chateaux e as melhores safras de ambas as margens estão lá. Outro fascínio, são os DRCs de Vosne-Romanée. Uma coleção completa destes borgonheses fantásticos com algumas safras memoráveis. A prateleira de recepção da adega é repleta de Imperiais (seis litros) destes mitos citados acima. Sem contar com a bela coleção de Vegas (espanhóis), Yquem, e Domaine Leflaive.

Painel Romanée-Conti

O painel acima está no centro, em destaque, da prateleira de DRCs. Mas antes desta montagem, muito trabalho. Com a chegada dos vinhos na nova residência foi preciso um trabalho árduo, de muita paciência, para separar e classificar os vários Chateaux, Domaines, separando por safra, vinhedos ou cuvées especiais, se for o caso, para poder planilha-los de forma cartesiana e lança-los no computador, ou seja, a adega virtual. A foto abaixo, nos dá uma ideia do tamanho do problema.

A bagunça sendo organizada

Evidentemente, nem tudo é trabalho. Em determinados momentos a generosidade do proprietário brindava-nos com alguns mimos, conforme a sequência abaixo:

Referência na apelação Volnay

Quando pensamos em alto nível na comuna de Volnay (Borgonha), imediatamente nos vêm Domaine Lafarge e Domaine Maquis d´Angerville. O primeiro já foi descrito em artigo neste mesmo blog. Este acima da safra 97 ainda é uma criança. Podemos dizer que foge até um pouco da tipicidade da apelação, pois Volnay elabora tintos elegantes, sedosos, acessíveis, mesmo na juventude. Este porém, tem caráter masculino, estrutura tânica portentosa. A cor mostra-se jovem, aromas um tanto fechados, sugerindo cerejas negras, alcaçuz, especiarias e uma nota tostada. A boca impressiona por sua estrutura. Taninos bem delineados, mas em quantidade suficientes para mais uma década, pelo menos. E olha que estamos falando de uma safra acessiivel (97). Realmente, é vinho de longa guarda.

Um Pomerol de livro

Já tive o privilégio de participar de uma extensa vertical de Le Pin, e este 85 é encantador. Com seus trintas anos, continua sedutor, macio, equilibrado e sem sinais de decadência. As ameixas em calda, as flores, o toque terroso e de especiarias, confirmam os descritores clássicos desta pequena apelação. Aliás, a safra 85 é encantadora para a maioria dos grandes bordaleses.

Um Lafleur parrudo

Este exemplar da safra de 1990 mostra um Lafleur quase indestrutível. Cor muito pouco evoluída, aromas não completamente desabrochados e uma estrutura tânica impressionante para um margem direita. Talvez a alta proporção de Cabernet Franc e a potência da safra expliquem esta estrutura. Os aromas de frutas escuras, tabaco, minerais e especiarias, foram se mostrando lentamente com algum tempo nas taças. Deve ser obrigatoriamente decantado por pelo menos duas horas. É páreo para um bom Confit de Pato.

Yquem 75 : para ficar na memória

Já tomei alguns Yquems de peso como as safras de 83, 86 e 2001, mas este 75 em formato Magnum, mesmo com o problema acima, foi memorável. Algo absolutamente  inédito nesta garrafa com a rolha soltando-se dentro do liquido e apenas a capsula, segurando todo o conteúdo, sem nenhum vazamento. O vinho com uma cor âmbar brilhante estava adequada para a idade (40 anos). Os aromas de caramelo escuro, notas de coco, marron-glacê, doces mineiros cristalizados, curry, entre outros, eram deslumbrantes. E a boca? Esplendorosa! Uma harmonia entre os componentes de álcool, acidez e açúcar, em perfeito equilíbrio. Tudo isso era transportado por uma viscosidade única, devido a altas taxas de glicerol que neste caso, é perfeitamente perceptível. Uma persistência interminável, expansiva, como se houvesse compassadamente lufadas deste liquido indescritível. O melhor Yquem tomado até hoje. Nunca se sabe o dia de amanhã…

Continuando a bagunça

Mais alguns dias de trabalho e algumas paradas sedentas. Numa delas dois exemplares dos injustiçados Bordeaux brancos. Dois Châteaux de peso na comuna de Pessac-Léognan, zona norte de Graves, bem próximo à cidade de Bordeaux. Vamos a eles!

Bela estrutura

Os tintos do chateau acima são encantadores. Este branco da safra 2009 é altamente pontuado pela crítica especializada. Uma bela cor, aromas ainda tímidos lembrando minerais e cogumelos. Em boca, um belo corpo, muito macio e com uma certa untuosidade. Consequência da boa proporção de Sémillon no corte e um longo período sur lies (contato com as leveduras) e bâtonnages frequentes. Deve evoluir com o tempo, tornando-se um branco bastante gastronômico.

Haut-Brion: O Ícone da região

Num estilo totalmente diferente do branco anterior, este exemplar prima por seu frescor, vivacidade e elegância. Sem dúvida, disputa a primazia dos brancos bordaleses com seu grande rival, Château Laville Haut-Brion, o grande branco do Château La Mission Haut-Brion. Curiosamente, a partir da safra 2009 passou a ser chamado Château La Mission Haut-Brion Blanc. Voltando ao Haut-Brion,  seus aromas cítricos, alimonados e até lembrando a carambola destacam-se com as notas de madeira elegante. Alta proporção de Sémillon também, mas a fermentação dá-se em barricas de carvalho parcialmente novas. Embora haja bâtonnages, a maciez é mais discreta, prevalecendo a vivacidade. Um clássico a ser provado entre os amantes de Bordeaux.

Felicidades ao amigo, e que seu novo lar proporcione momentos de paz, felicidade, alegria e muitos brindes, aliados a seu bom gosto e enorme generosidade. Santé pour tous!

Saint-Emilion: Terroir e Classificação

3 de Junho de 2013

Dentre as várias classificações na famosa região vinícola de Bordeaux, uma das mais polêmicas e porque não dizer das mais confusas, é a dos vinhos de Saint-Emilion, sub-região importante da chamada margem direita. Esta classificação criada em 1954, prometia ser revisada de dez em dez anos, acompanhando a evolução dos principais châteaux. Tudo corria relativamente bem até que em 2006, houve confusão generalizada, acabando nos tribunais da região. Somente em 2012, foi promulgada uma nova classificação, selecionando dezoito Premiers Grands Crus Classés e sessenta e quatro Grands Crus Classés, conforme tabela abaixo. É só clicar.

http://www.vins-saint-emilion.com/sites/default/files/vins-de-saint-emilion-classement-2012.pdf

É bom salientar que esta nomenclatura vale só para os vinhos de Saint-Emilion. A famosa classificação de 1855, referentes ao vinhos do Médoc, tem outro tipo de nomenclatura. Por isso, muitas vezes a confusão de vários termos. O pomposo termo Grand Cru Classe em Saint-Emilion na prática, não quer dizer muita coisa. Portanto, dentre esses sessenta e quatro châteaux descritos, talvez uma dúzia faça jus ao título. Por exemplo, château Berliquet, Pavie Decesse, Fonroque, Fombrauge, Clos de l´Oratoire, Couvent des Jacobins, La Dominique, Grand Mayne, La Serre e Clos des Jacobins.

Château Pavie: Polêmico, porém marcante

Já no grupo dos dezoito Premiers Grands Crus Classés, a confiabilidade é praticamente total. Vinhos de terroir, profundos, embora de estilos diversos. Evidentemente, Cheval Blanc e Ausone marcaram supremacia durante décadas com a designação A, diferenciando-se dos demais. Na classificação atual, ganharam a companhia dos châteaux Pavie (acima) e Angelus (abaixo) com a mesma designação. Se estão à altura, só o tempo dirá, mas os preços certamente subirão com o novo status.

Château Angélus: em ótima forma

 Angelus parece ser mais europeu, mais sóbrio, enquanto Pavie é mais direto, mais exuberante, mais invasivo. Talvez a grande proporção de Cabernet Franc no corte do Angelus, explique esta finesse, esta elegância, semelhante ao corte do grande Cheval Blanc. Do lado de Pavie, a grande proporção de Merlot, é responsável pela fruta exuberante, taninos dóceis, e textura macia, mesmo relativamente novo. Não nos esqueçamos que na famosa degustação às cegas, onde o plebeu Château Reignac balançou grandes nomes da margem direita e esquerda num artigo deste mesmo blog intulado: “Degustação às cegas: Existem Experts?”, o grande vencedor na média foi o Château Angelus, descrito como um vinho elegante e equilibrado. O equilíbrio entre argila, calcário e areia, nas várias partes da colina em seus vinhedos parece ser a chave do grande sucesso e ascensão.

Em tempo, a apelação rival de Pomerol continua sem classificação oficial. A única certeza é que Château Petrus segue seu reinado, seguido de perto pelo Château Le Pin, pelo menos em preços.

Os Grandes Vinhos: Corte ou Varietal

18 de Julho de 2010

A eterna busca pela explicação dos melhores vinhos do mundo passa pelo subjetivo conceito de terroir, envolvendo inúmeros aspectos naturais e humanos. Um desses aspectos diz respeito à composição de uvas na concepção de um grande vinho. Nesta briga estão duas grandes escolas francesas: Bordeaux e Bourgogne, ou seja, corte versus varietal.

A Borgonha para os tintos adotou somente a caprichosa Pinot Noir e paga caro por isso, levando às últimas consequências o conceito de terroir. Seus melhores vinhos é uma intrincada batalha envolvendo produtor comunal, safra e o terreno perfeito. E quando se busca a perfeição com uma só uva, a limitação do vinhedo é fundamental. Clones específicos, leveduras nativas, composição judiciosa do solo entre calcário e argila, altitude e inclinação do vinhedo bem calibradas e baixíssimos rendimentos por parreira são alguns dos segredos.

Neste contexto, é sempre óbvio falarmos do badalado Romanée-Conti, citado por muitos e provado por poucos. Dependendo da safra, seus preços são incontroláveis. Mas para quem gosta de exclusidade, o rótulo abaixo ainda é mais raro que o “the best”. O vinhedo é vizinho e o nome quase se confunde. Trata-se de um monopólio da famila Liger-Belair com área equivalente a 0,8452 hectares. Isso mesmo, menos de um hectare, metade da área do Romanée-Conti.

Um jardim na Borgonha: menos de um hectare

 

Do lado bordalês, a concepção é outra, principalmente por lidar com grandes extensões de vinhedos em relação aos padrões borgonheses. De fato, a idéia de corte de duas ou três uvas na maioria dos casos, além de aparar arestas, realçar sabores e enriquecer o conjunto, tem papel importantíssimo nas safras problemáticas, aumentando a proporção de determinadas uvas mais favorecidas ou menos prejudicadas. É assim nas famosas margens esquerda e direita, conforme série de posts passados (vide Bordeaux de I a V). Contudo, quando falamos de grandes bordeaux, principalmente em termos de preço e exclusividade, o rei Petrus é praticamente uma unanimidade. Com uma área pouco mais de dez hectares, em média dez vezes menor que os grandes châteaux do Médoc, voltamos ao tema varietal com forte conceito de terroir. Apesar de não estar expresso no rótulo, Château Petrus é tecnicamente um varietal de Merlot, com algo em torno de cinco porcento de Cabernet Franc.

Seguindo o foco extremo de exclusividade, o grande Petrus perde feio para o minúsculo Château Le Pin (vide foto abaixo), com pouco mais de dois hectares. Também com alta porcentagem de Merlot, é uma das grandes estrelas no seleto grupo de vinhos numa das menores apelações bordalesas, Pomerol.

 

Le Pin: Um dos precursores da microvinificação

 

 

Finalizando o raciocínio, quando lidamos com grife, exclusividade, artesanato, glamour, estamos falando em vinhedos minúsculos, portanto, de baixíssima produção. Nesta linha de pensamento, a idéia de uma só uva num espaço tão reduzido faz todo o sentido com o conceito extremo de terroir onde solo, clima, uva e homem são capazes de criar algo harmônico, beirando a perfeição.

Para não deixar Champagne fora do assunto, que fundamentamente é uma região de vinhos de corte, com maisons e cuvées fantásticas, quando lidamos com o extremo artesanato das melhores bolhas do mundo, nos deparamos com preciosidades como Salon e Krug Clos de Mesnil, ambas de vinhedos minúsculos e cem porcento Chardonnay. Portanto, dentro de uma certa ótica, os varietais parecem ser destinados a atingirem a perfeição na medida do possível.

 

 

 


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