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Latour: O Senhor do Médoc

4 de Agosto de 2019

Se você pudesse perguntar a um grão de Cabernet Sauvignon o que ele queria ser quando crescer, a resposta só poderia ser esta: um Chateau Latour. Não há local no mundo onde a Cabernet Sauvignon se sinta mais à vontade do que os vinhedos de Latour. Especialmente sua maior parcela denominada L´Enclos com 47 hectares de vinhas, grande parte antigas, tem uma pedregosidade e uma capacidade de drenagem singulares. Estudos de solos no Médoc ligados à viticultura apontam esta parcela como a melhor da região, onde o desenvolvimento da Cabernet Sauvignon é pleno, gerando vinhos de grande estrutura e longevidade. Um Latour de boa safra é capaz de vencer décadas na adega, numa evolução lenta e espetacular. 

Outro fator de destaque neste Chateau é sua incrível regularidade safra após safra. Mesmo naquelas consideradas mais problemáticas como 2002, por exemplo, Latour se mantem sóbrio, bem equilibrado, justificando seu posto de um verdadeiro Premier Grand Cru Classé. 

Outro fator que corrobora para esta consistência é seu segundo vinho denominado Les Forts de Latour, criado em 1966, o mais valorizado e respeitado dentre todos os segundos vinhos do Médoc, podendo envelhecer magnificamente. Para se ter uma ideia do fato, a safra 2010 ainda em evolução tem 97 pontos Parker. 

 

Chardonnay em duas versões

Para iniciar os trabalhos, um par de brancos Chardonnay de estilos e propostas completamente diferentes. O americano Peter Michael Belle Côte 2012 com 99 pontos é intenso em aromas e persistente em boca. Feito a la Bourgonge, fermenta e estagia em barricas francesas com periódicos bâtonnage (revolvimento das borras). O vinho estava um pouco evoluído para sua idade, mas sem sinais de oxidação. O pessoal não gostou muito do vinho e com razão. Ele é muito invasivo, quase doce, faltando finesse. Muitas vezes, a intensidade, potência, extração excessiva, atrapalham a harmonia do conjunto. Muito longe da elegância dos grandes brancos da Borgonha.

Por outro lado, o Chablis básico do Drouhin também não encantou. Embora muito equilibrado e fresco em boca, não tinha aquela tensão e mineralidade dos grandes Chablis. Questão de um terroir mais privilegiado e rendimentos mais baixos no vinhedo. Muito longe dos mestres Dauvissat e Raveneau.

img_6447notem o álcool destes vinhos (12,5%)

Neste embate acima, duas grandes safras de Latour dos anos 90. Os dois vinhos tem corpo e estrutura dos grandes Bordeaux sem álcool excessivo. Notem a graduação de 12,5% de álcool, fator raro nos tintos da atualidade, provando que outros componentes como extrato e taninos, têm sua devida importância.

O Latour 96 tem a fruta exuberante e a graciosidade desta safra. Embora em tenra idade, é bastante agradável de beber, mesmo para padrões normalmente austeros de Latour. O vinho tem um belo equilíbrio, aromas ainda primários, e muito longo em boca. Safra que vai evoluir bem em adega. Já o Latour 90, mais evoluído, com seus toques terciários de couro fino e caixa de charuto. Não é tão longo  e estruturado como o 96, mas é muito prazeroso, embora possa ser adegado com tranquilidade. Essas duas safras convém decanta-las com pelo menos duas horas antes de servir. 

 

pratos consistentes e ricos em sabor

Para acompanhar essa maravilhas, um ossobuco com risoto zafferano, ficando muito bem com o Latour 90, mais macio. Já o contrafilé Angus, uma carne mais consistente e suculenta, aderiu melhor à trama tânica mais evidente do Latour 96. O almoço deu-se no restaurante Nino Cucina, sempre lotado, com atenção especial do experiente sommelier Ivan, patrimônio da Casa.

img_6448como é bom um Latour 82 !

A grande estrela do Chateau, Latour 82 nota 100, ficou para brilhar sozinha, sem comparações. Um dos melhores Latour de toda história, já muito prazeroso de ser tomado. Contudo, ainda está em evolução e terá certamente um platô amplo de estabilização por décadas. A fruta é deliciosa e muito presente com seus quase 40 anos de idade. Os taninos são abundantes e muito finos. O álcool e a acidez são perfeitamente balanceados ao conjunto, num final longo e muito bem acabado. Sempre um grande prazer em revê-lo!

 

Porto e Tiramisú, bela dupla!

Nada melhor para encerrar uma refeição com Latour que um Porto Vintage de uma grande Casa e uma grande safra. Eis que surge um Graham´s Vintage Port 1963. Ele está cotado entre os três melhores Portos desta safra, junto com o Noval Nacional e o Fonseca. E olha que não é pouco, pois 63 é uma safra mítica. É seguramente um dos cinco melhores Vintages do século XX.

Tomar um Vintage antigo é sempre uma experiência única. Este com seus quase 60 anos, já tem seus taninos todos polimerizados, o álcool perfeitamente integrando ao conjunto, e os aromas lindamente desenvolvidos. Um licor de frutas escuras intenso, marcante. Os aromas de ervas, especiarias, além de notas empireumáticas de café e chocolate, permeavam a taça. Um final longo e expansivo nos convidava para mais uma taça. Ficou divino com o Tiramisú da Casa, um dos melhores da cidade, sobretudo pela harmonia de texturas e sabores. Um belo final de tarde!

Agradecimentos intensos aos confrades pela companhia e generosidade, sobretudo ao nosso Presidente com garrafas sempre impecáveis. Nota de destaque ao Doutor Ricardo pelo Porto histórico, clamando por participações mais frequentes no grupo. Que Bacco sempre nos proteja!

Bordeaux em Segundos

25 de Fevereiro de 2018

Os Chateaux bordaleses na chamada margem esquerda além de aristocráticos, são de dimensões muito maiores que as propriedades de margem direita, notamente Pomerol e Saint-Emilion. Estamos falando de uma relação de um para dez em termos de áreas, onde a noção de micro parcelas fica pulverizada. É neste contexto, que surge a ideia do chamado segundo vinho do Chateau, e em alguns casos, até o terceiro.

Recordando o processo, no Chateau Margaux por exemplo, temos quase 100 hectares de vinhas plantadas com Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot. Para cada um destes varietais, temos várias micro parcelas espalhadas na propriedade. Esses parcelas são colhidas e vinificadas separadamente. Em seguida vem o estágio crucial para a montagem do Grand Vin. A equipe enológica do Chateau se reúne exaustivamente compondo o blend das várias parcelas de cada um dos varietais. Isso era comandado com maestria até  pouco tempo atrás pelo saudoso Paul Pontallier, que nos deixou recentemente. Desta seleção rigorosa, nasce o Grand Vin. As amostras que foram rejeitadas para este fim, comporá o chamado segundo vinho. No caso de Margaux, existe agora um terceiro vinho.

Este foi exatamente o propósito da degustação que será descrita abaixo, num agradável almoço no restaurante Gero. Já de pronto, devo dizer que as conclusões tiradas neste evento não devem ser generalizadas para todos os Chateaux bordaleses, pois os quatro vinhos provados nesta ocasião eram de grandes safras e de Chateaux excepcionais. Afinal, quase 400 pontos estavam na mesa!

6eba4821-dd75-427c-bced-711188e508da.jpgtexturas compatíveis

Antes porém, uma pausa para abertura dos trabalhos. Talvez o branco mais austero de toda a Alsácia, Clos Sainte-Hune da Maison Trimbach, um Riesling seco de extrema mineralidade. Este provado da safra 2004, estava surpreendentemente pronto, já que trata-se de um branco de grande guarda. Seus aromas cítricos e destacadamente defumados foram muito bem com um atum marinado. As texturas de ambos (prato e vinho) casaram-se perfeitamente. O vinho apresentou ótimo equilíbrio e um final de boca extremamente persistente.

b4597437-e2c9-46ab-b950-588b4e4ea5ff.jpgdistância considerável neste embate

Único embate de margem direita, Cheval Blanc tem uma propriedade considerável em termos de área, 41 hectares, para padrões em Saint-Emilion. Nesta safra, apenas 55% do vinho elaborado passou pelo crivo de Grand Vin. O rigor deste julgamento se traduz na taça com ampla superioridade deste Cheval com 99 pontos. Gostaria de uma explicação de Mr. Parker pela não perfeição do vinho. Embora com décadas pela frente, este Cheval mostra uma elegância impar, própria dos grandes vinhos. Seus taninos, seu equilíbrio, e sua expansiva persistência, faz dele um dos grandes Chevais da história. Já o Petit Cheval, mostrou-se muito prazeroso para o momento, uma das vantagens dos chamados segundos vinhos. Nota-se sutis aromas de pirazinas (pimentão), advindo sobretudo dos Cabernets, fruto de uma maturação imperfeita de alguns setores das vinhas. Isso claro, numa sintonia fina, comparado a seu astro maior. De todo modo, um belo vinho para ser apreciado sem comparações. Nota 87 de Parker, um pouco rigorosa.

gero latour 2000

Latour: vinhos consistentes

Aqui uma disputa acirrada, pois Les Forts de Latour é o melhor segundo vinho de todo o Médoc, opinião quase unânime da crítica. De fato, é uma maravilha. Bem mais acessível que o todo poderoso Latour, seus aromas de cassis, couro e notas minerais permeiam a taça. Pode ainda evoluir por bons anos em adega. Voltando à maxima onde a comparação é cruel, o Latour 2000 é uma muralha de taninos em multicamadas de extrema finesse. Seus aromas de pelica, frutas escuras, e grafite, são marcas registradas do senhor do Médoc. Seu platô de evolução está estimado para 2060. Um monumento!

risoto e cordeiro para os Bordeaux

Acima, alguns dos pratos que valorizaram o desfile de belos Bordeaux. O risoto de funghi porcini casou muito bem com a textura delicada e os aromas terciários do Margaux 90, por exemplo. Já o carré de cordeiro tinha a fibrosidade e suculência exatas para um La Mission 2000 ou o Latour de mesmo ano com seus taninos presentes.

gero margaux e pavillon 90

padrão elevado de segundo vinho

Neste embate, mais um vinho perfeito, Margaux 1990 com 100 pontos consistentes. Aí é difícil peitar. Mesmo para este Pavillon Rouge 90, vindo diretamente do Chateau de uma coleção privada, faltou fôlego para chegar ao Grand Vin. O Margaux 90 é deslumbrante com seus aromas de couro e sous-bois, fruta delicada, e rico em toques balsâmicos. Em elegância se equipara ao Cheval Blanc 2000 acima descrito. O Pavillon Rouge até que tentou, mas se deparou com um dos grandes Margaux da história. Novamente, tomado sozinho, sem comparações, é um belíssimo vinho cheio de elegância e muito prazeroso aromaticamente.

gero la mission 2000

disputa muito acirrada

Neste último flight, mais um vinho de 100 pontos, o fabuloso La Mission Haut-Brion 2000. Em termos de estilo, potência, bem semelhante ao Latour 2000, mostrando toda a sua força. Um verdadeiro infanticídio, já que seu platô está estimado para 2050. Um vinho musculoso, cheio de frutas negras, toques minerais terrosos e defumados. Uma montanha de taninos a ser domada pelo tempo. Amplo em boca com um equilíbrio notável. Seu par La Chapelle 2000, segue o mesmo estilo, um pouco menos imponente. Foi a disputa mais acirrada entre as duplas, na distância entre o Grand Vin e seu respectivo segundo vinho.

Enfim, belos vinhos de grandes safras e de Chateaux irrepreensíveis. Fica a lição que os chamados Grand Vin são realmente espetaculares, mas que tem no preço e na paciência em espera-los na adega, seus maiores empecilhos. Por outro lado, os segundos vinhos são bem prazerosos para abate-los mais jovens, apesar de seu bom potencial de guarda.

96 pontos com louvor!

Passando a régua, um Chateau d´Yquem 1976, uma das grandes safras desta maravilha. Com seus 42 anos de idade, entra numa fase de bouquet sublime com notas de café, marron-glacê, e toques de cítricos confitados. Um equilíbrio e uma expansão notáveis, acompanhando de forma impecável um creme de mascarpone e chocolate. Lembrando que 1976 é grande ano na Alemanha para vinhos botrytisados.

gero tokaji szamorodni

estilo meio seco

O vinho acima vale a pena um comentário. Trata-se de um Tokaji Szamorodni que não faz parte da família Aszú, onde o índice de uvas botrytisadas é relativamente alta em vários níveis (3, 4, 5, 6 Puttonyos). Neste caso, Szamorodni significa uvas colhidas naturalmente com algum índice de botrytisação, ou seja, menor porcentagem de uvas botrytisadas vai para um estilo mais seco, dry, ou Száraz em húngaro. Portanto, tem um sabor meio seco semelhante a um Jerez Amontillado. Muito bom para patês de caça, aperitivos e queijos de personalidade. Um vinho que apesar da idade, mais de 20 anos, tem estrutura e vigor para bons anos em adega.

gero behike 52

 o melhor Robusto da atualidade

Finalizando a tarde, alguns Behike 52 para esfumaçar as conversas em meio a Cognacs e Grappas. Behike é a linha super luxo da Cohiba elaborada em três bitolas. Esse 52, ring do charuto, é considerado o melhor Robusto atualmente, já tendo ganhado como melhor Puro do ano em 2010 pela Cigar Aficionado.

Agradecimentos aos amigos e confrades em mais uma experiência fantástica com caldos bordaleses. Vida longa aos companheiros de copo e mesa num ano que promete fortes emoções. Aos ausentes o alerta, o campeonato é de pontos corridos. No final do ano vai fazer falta. Abraço a todos!

Terroir: Bourgogne x Bordeaux

26 de Março de 2015

Tentar comparar as clássicas regiões francesas de Bordeaux e Bourgogne pode parecer loucura. A ideia aqui é discorrer sobre a diferença intrínseca no conceito de terroir das mesmas. Sabemos que em Bordeaux as propriedades a grosso modo são pelo menos dez vezes maiores em superfície de vinhedos. Além disso, os vinhos bordaleses baseiam-se no famoso corte, talvez o corte mais emblemático no mundo do vinho. Basicamente, estamos falando de três cepas: Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc. E é exatamente esse “assemblage” que torna os vinhos bordaleses únicos, com estilo próprio. No esquema abaixo, mostraremos um exemplo típico de um Grand Cru Classé de margem esquerda, na famosa região do Médoc.

Encepamento do Château Lagrange

O esquema acima refere-se ao Château Lagrange, um típico Grand Cru Classé da comuna de Saint-Julien. Este esquema pode ser generalizado para os principais châteaux do Médoc. As porções em verde mais esmaecido são várias parcelas de Cabernet Sauvignon. As porções em vermelho esmaecido são de Merlot, e as duas parcelas em tonalidade diferente são de Petit Verdot, uva pouco cultivada em Bordeaux. Pois bem, no raciocínio bordalês cada parcela de cada uma das uvas são vinificadas separadamente e tratadas a princípio como um vinho individual. Num certo momento, esses vinhos são analisados individualmente e julgados para fazer parte do chamado “Grand Vin”, ou seja, o vinho principal do château. Esse trabalho é extremamente importante e requer uma sensibilidade, uma projeção futura, uma análise do potencial da safra em questão, e finalmente, muita experiência. Uma frase marcante do grande mentor do Château Margaux, Paul Pontallier, enólogo da casa desde 1983, diz o seguinte: “eu só fui entender de fato o que é um Château Margaux, depois de minha décima safra”. Isso mostra a complexidade e a responsabilidade de uma equipe nesta fase de elaboração. Muitas cubas serão rejeitadas para o vinho principal e só depois desta fase, é que se chegará ao blend final com as devidas proporções de cada tipo de uva. É por isso que pessoalmente de uma forma até maldosa, digo que os segundos vinhos de Bordeaux, mais especificamente do Médoc, são o refugo do vinho principal. Exceções como Les Forts de Latour ou Clos du Marquis, segundos vinhos do Château Latour e Château Léoville-Las-Cases, respectivamente, são raros exemplos de regularidade.

No raciocínio borgonhês, neste mesmo château, cada parcela ou mesmo, um pequeno grupo de parcelas, seria um vinho individual até o final do processo. Por exemplo, poderíamos ter dois ou três Cabernets individualizados com etiquetas próprias. Da mesma forma, para as parcelas de Merlot. No caso da Petit Verdot, apenas com duas parcelas, teríamos um vinho varietal, engarrafado individualmente. É interessante notar a importância que o homem tem nos aspectos de terroir, dependendo do raciocínio e filosofia adotados. Ocorre que no pensamento bordalês, o conjunto de parcelas harmonicamente agrupadas produz um vinho mais completo, mais amplo e mais complexo. Tudo é um questão de ponto de vista. É claro que neste pensamento há uma compensação muito maior quanto às irregularidades de cada safra , e os problemas específicos que cada cepa enfrenta em todo o ciclo anual.

Parcelas na Idade Média

Agora partindo para a Borgonha, Clos de Vougeot, propriedade de cinquenta hectares na Côte ded Nuits, é um exemplo bem razoável para uma comparação bordalesa em termos de área plantada, pois as propriedades neste pedaço de terra são de pouquíssimos hectares, muitas com menos de cinco hectares. Além disso, Clos de Vougeot é uma propriedade das mais antigas, de origem monástica. Só após a Revolução Francesa, deu-se toda sua fragmentação, conforme mapa abaixo. Voltando à Idade Média, os monges engarrafavam Clos de Vougeot como vinho único, mesclando com parcimônia todas as parcelas acima delimitadas. Como trata-se de uma colina, as parcelas mais acima no mapa são de maior altitude, que por sua vez, vai diminuindo até às parcelas mais ao sul do mapa. Com isso, em anos mais áridos e secos, as parcelas de menor altitude compensavam os efeitos do déficit hídrico das parcelas mais altas. Por outro lado, em anos mais chuvosos, com excesso de água no solo, a compensação era inversa. Sem dúvida, tratava-se de um pensamento bordalês onde o conjunto das parcelas originando um vinho único, mantinham uma boa regularidade. Provavelmente, o Clos de Vougeot 1845 servido no inesquecível filme Festa de Babette, tenha sido elaborado nos moldes bordaleses, pois o processo pós-revolução ainda estava engatinhando.

Divisão atual com inúmeros produtores

Já no esquema atual, conforme mapa acima, regularidade é o que efetivamente não há numa garrafa de Clos de Vougeot. Com mais de oitenta proprietários nestas terras muradas, a importância do produtor e a localização do vinhedo são pontos cruciais para o sucesso do vinho. Em linhas gerais, os produtores localizados no centro do terreno para cima, ou seja, em altitudes mais acentuadas, levam vantagem em termos de localização. Isso tem a ver com uma melhor insolação, melhor drenagem do terreno e uma composição de solos mais harmônica. Méo-Camuzet, Gros, Hudelot-Noëllat, são produtores confiáveis.

Enfim, aquela velha discussão, vinho varietal ou vinho de corte? micro-terroir como no modelo borgonhês, onde as peculiaridades e sutilezas são levadas a limites extremos, ou macro-terroir como no modelo bordalês, onde o conjunto de parcelas em prol de um único vinho gera resultados mais harmônicos e complexos? Sempre uma questão de ponto de vista!

Os famosos segundos vinhos em Bordeaux

8 de Julho de 2010

O fascínio pelos vinhos bordaleses é explorado pelo mercado muitas vezes de forma indevida. Seja pela falta de conhecimento da grande maioria do pessoal de vendas nas importadoras, seja pela pressão em cumprir suas respectivas metas, o fato é que este tema é muito pouco esclarecido para o consumidor.

A idéia da maioria dos grandes châteaux em Bordeaux possuírem um segundo vinho decorre da própria sistemática de elaboração do vinho principal ou “Grand Vin”, como eles costumam chamar.

Com vinhedos relativamente extensos, é quase impossível e inaceitável termos uvas de padrão elevadíssimo em toda a área para a elaboração do grande vinho. O vinhedo é dividido em setores para o plantio de diversas castas (Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e eventualmente, Petit Verdot e Malbec), que por sua vez é dividida em idade de vinhas. Não nos esqueçamos que há um escalonamento muito bem planejado na renovação do vinhedo, preservando ao máximo as preciosas vinhas velhas (vieilles vignes). Portanto, cada setor do vinhedo é colhido e vinificado separadamente, proporcionando vários lotes de cada uma das variedades de uva.

O mais consistente na categoria

Aí vem o pulo do gato! A equipe de enólogos muito bem treinada e chefiada por alguém de larga experiência no respectivo château, vai analisar amostra por amostra e definir o blend final para o grande vinho. As amostras que não tiveram categoria suficiente, provavelmente todas ou quase todas, farão parte do chamado segundo vinho do Château. Para falar um português claro, o segundo vinho costuma ser o refugo do vinho principal. Salvo raras exceções, como o rótulo acima, costumam decepcionar. Os problemas óbvios são idade jovem das vinhas, parcelas de vinhas não tão bem posicionadas, maturação de uvas inadequadas e problemas na vinificação.

Outra pedida segura do maior dos Léovilles (Las Cases)

Portanto, veja com muitas ressalvas, as indicações e ofertas dos chamados segundos de Bordeaux para não levar gato por lebre. Nestes casos, para minimizar os problemas crônicos acima citados, procure os mesmos pelas grandes safras. O risco será certamente menor. Na dúvida, escolha o vinho principal de um château talvez não tão prestigiado, mas de preço equivalente.

Um último conselho: não envelheça segundos vinhos da maioria dos châteaux. Eles não foram projetados para longa guarda. Na melhor das hipóteses, dez anos.

 


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