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Álcool no Vinho

3 de Fevereiro de 2020

Por definição, vinho é uma bebida ácida e alcoólica. Seu pH gira em torno de 3,5 e a fermentação do mosto transforma os acçucares em álcool e gás carbônico. Depois da água, o álcool é o componente mais expressivo em termos de volume. A porcentagem indicada na garrafa se refere ao volume de álcool em relação à bebida, ou seja, uma garrafa de 750 ml com 13,5% de álcool significa que há cerca de 100 ml de álcool na bebida. Portanto, tanto acidez como álcool são componentes sempre presentes no vinho.

f9ad0fb5-ace8-45bc-901d-274479a2c434a incrível acidez deste vinho equilibra todo o açúcar!

De 1 a 3% de álcool

Esse é o caso típico do Tokaji Eszencia, de produção ínfima comparada a outros tipos de Tokaji. Seu mosto tem normalmente 600 g/l de açúcar, podendo chegar a 800 g/l em alguns casos. Nessas condições a fermentação fica muito difícil e lenta. Daí a dificuldade em produzir a fermentação e consequentemente o álcool.

Em torno de 5% de álcool

Caso típico do Moscato d´Asti e suas réplicas. Um frizante com grande teor de açúcar no mosto, onde a tomada de espuma dá-se de uma vez só, resultando num vinho espumante e doce, ou seja, com açúcar residual natural do mosto. O Asti Spumante fica um pouco mais de tempo na autoclave perdendo açúcar, ganhando álcool, e pressão maior. Tem por volta de 7 graus de álcool.

de 5 a 10% de álcool

Essa é a faixa que a maioria dos Tokaji Aszu e os vinhos doces alemãos transitam. Nesses casos, há uma enorme dificuldade em transformar os açucares em álcool, gerando vinhos com açúcar residual e muito equilibrados, devido à destacada acidez de ambos.

de 10 a 14% de álcool

A grande maioria dos vinhos de mesa, seja brancos ou tintos, transitam nesta faixa de álcool. Aqui a fermentação ocorre de maneira natural, transformando todos os açucares em álcool. É o que chamamos de vinhos secos. Começa com os vinhos verdes do Minho, geralmente com baixa graduação alcoólica e vai sobretudo a exemplares do Novo Mundo com álcool até acima dos 14 graus, algumas vezes.

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um vinho perfeitamente equilibrado

Os sagrados 12% de álcool

Esse é um numero mágico para os grandes espumantes e sobretudo os champagnes. O vinho-base fica em torno de 10,5% de álcool e a tomada de espuma acrescenta por volta de 1,5% de álcool, além da pressão de 5 a 6 atmosferas. O perlage e a mousse ficam perfeitos, além do equilíbrio na medida certa.

3246bcae-a2b1-4987-9fe4-90c8fedf8122um tinto californiano perfeitamente equilibrado com seus 15,5º de álcool

de 15 a 16% de álcool

Este é o caso clássico dos Amarones, grande vinho do Veneto. As uvas são colhidas maduras e em seguida passificadas por alguns meses, tendo grande concentração de açucares. A fermentação segue com dificuldade, tendo ajuda muitas vezes da Saccharomyces Bayanus, levedura resistente a altos teores de álcool. 

446234d7-0f73-4737-96af-b39e7fb48b03um vinho agradavelmente quente!

de 16 a 20% de álcool

Aqui estamos na faixa dos fortificados, vinhos com adição de aguardente vínica. É o caso do Porto, Madeira, Jerez, moscatel de Setúbal, entre outros. A fortificação pode dar-se no ínicio, durante, ou no final do processo. Para os Jerezes Finos, o álcool fica na faixa mais baixa, entre 16 d 17 graus. Portos e alguns Madeiras podem chegar aos 20 graus ou um pouco mais. Nos bons fortiticados sentimos a presença do álcool de forma equilibrada. 

Acima de 25 graus entramos no campo dos licores e outras bebidas que podem incluir, vinhos, destilados, ervas, e açúcares, antes de chegar nos destilados propriamente ditos. 

Sensações do álcool

No aspecto visual, temos as chamadas lágrimas do vinho que tem relação direta com o álcool, sobretudo se o vinho for seco. Quanto mais numerosas, mais finas, e mais lentas forem as mesmas, maior teor de álcool terá o vinho.

No campo olfativo, o álcool em excesso tem efeito agressivo, principalmente sobre sua ação cáustica. É muito comum em animais, o mais comum é o cachorro de olfato extremamente apurado, cheirar uma bebida alcoólica e se afastar rapidamente. Quando em equilíbrio, o álcool tem o importante papel de transmitir os aromas do vinho, semelhante ao efeito do mesmo nos perfumes. 

No aspecto gustativo, o álcool dá a sensação de peso no vinho, ou seja, quanto mais alcoólico, mais encorpado é o vinho. É uma sensação meio contraditória pois o peso específico do álcool é menor que a água, semelhante ao azeite, por volta de 20% menor que a água. Mas a explicação é mais tátil, pois a viscosidade com o álcool é maior. Por fim, o álcool tende a ter um sabor adocicado, tornando agradável  a bebida, além de uma sensação de pseudocalor. 

Gastronomia

Vinhos mais alcoólicos tendem a ser mais encorpados, de sabores mais pronunciados. São vinhos que pedem comidas mais fortes, mais condimentadas, queijos curados, sobretudo os brancos. Evitem pratos apimentados, pois o álcool potencializa esses sabores. 

Para os tintos, é o caso dos Shiraz australianos e os Amarones (grande tinto do Veneto). Pedem guisados longamente preparados e molhos de sabores intensos. 

Para os brancos, é o caso típico dos Chardonnay mais pesados, sobretudo o velho estilo americano que além de tudo tinha uma madeira acentuada. Esse tipo de vinho encara com tranquilidade boas receitas de bacalhau de sabores intensos. Comida nordestina com carne seca, carne de sol, e temperos mais fortes, vai muito bem com este tipo de vinho.

O outro branco de grande alcoolicidade é o Chateau-Chalon, conhecido como Vin Jaune. Um branco famoso do Jura que passa por um processo peculiar de elaboração. Entre pratos mais robustos, é famoso pela combinação clássica de um velho Comté, queijo curado, típico da região. 

O álcool assim como outros componentes do vinho é essencial para seu equilíbrio, pois é um fator de maciez na balança gustativa onde acidez e eventualmente taninos entram como contraponto. 

Curnonsky e seus brancos

19 de Junho de 2018

Falando um pouco de menus clássicos e históricos, não podemos deixar de mencionar Maurice Edmond Sailland, prince des gastronomes, escritor célebre do final do século XIX e metade do século XX (1872 a 1956), conhecido mais como Curnonsky, precursor do guia Michelin. Autor de 65 livros com inúmeros exemplares sobre gastronomia.

No que diz respeito a vinhos, decretou os cinco maiores brancos da França, mencionando Chateau d´Yquem, Montrachet, Chateau-Chalon, Chateau-Grillet, e Coulée de Serrant. Nada mau!

Baseado nesses memoráveis vinhos, o restaurante Taillevent elaborou um menu impecável acompanhando essas maravilhas a 1200 euros por pessoa, intitulado “Les cinq de Curnonsky”. Para esta seleção, começou com Lagosta gratinada com trufas para um Chateau-Grillet 2005, seguido por Saint-Pierre com molho de vinho branco e algas, acompanhado por Coulée de Serrant 2004. Continuando, uma Poularde de Bresse desossada com trufas acompanhando Montrachet Marquis de Laguiche 2002. Para finalizar, um Vieux Comté com Chateau-Chalon 2005, e uma Omelete de frutas exóticas flambada com Chateau d´Yquem 2003.

Falando um pouco dos vinhos, seguem fotos abaixo com detalhes de cada um e suas peculiaridades. A despeito dos critérios seleção, são vinhos absolutamente distintos, fiéis a seus respectivos terroirs, e verdadeiros patrimônios franceses.

fb7be498-2c0e-4395-ac48-cd35d0e55adb1um clássico acompanhamento para as trufas

Uma das menores apelações francesas com apenas 3,5 hectares de vinhas antigas, Chateau-Grillet é uma apelação própria dentro do território de Condrieu com uvas 100% Viogner. O vinho amadurece cerca de 18 meses em barricas francesas, sendo 20% novas conforme a safra.

O vinho costuma envelhecer muito bem desabrochando notas florais, de pêssegos, damascos, e um fundo amendoado. Textura macio em boca, acompanhando muito bem pratos com trufas, sobretudo quando devidamente envelhecido.

img_4513o epítome da Chardonnay

Montrachet dispensa comentários, sendo a perfeição nos territórios de Chassagne e Puligny-Montrachet. Vinificação clássica com fermentação em barricas novas com sucessivas bâtonnages. O vinho se funde com perfeição em contato com a madeira, envelhecendo maravilhosamente.

52064f24-4c80-4976-9255-f9e1312a3d37a perfeição do Vin Jaune

Na terra de Louis Pasteur, a uva Savagnin amadurece  com perfeição. O chamado Vin Jaune é considerado o Jerez francês, embora não haja fortificação. O vinho amadurece em barricas de carvalho por cerca de seis anos, desenvolvendo uma levedura na superfície semelhante aos melhores Jerezes. Após esse período é engarrafado, adquirindo notas oxidativas, lembrando nozes e especiarias exóticas. Além do queijo Comté, seu acompanhamente clássico, aves com molho à base de curry são harmonizações sublimes.

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a sublimação da Botrytis

Assim como o Montrachet, Chateau d´Yquem é unanimidade na nobre região de Sauternes. A ação da Botrytis Cinerea é perfeita no vinhedo, além de uma colheita seletiva e paciente, procurando somente as uvas perfeitamente infectadas. A vinificação é precisa, extraindo todos os componentes fundamentais para um vinho equilibrado e profundamente estruturado. A passagem longa em barricas novas francesas só enriquece o conjunto, permitindo um envelhecimento em garrafas por décadas. Lembrando sempre que as uvas são Sémillon majoritariamente, e Sauvignon Blanc.

Serrant decantacaoChenin Blanc em pureza

Atualmente com vinhos biodinâmicos tão em voga, o exemplar acima sintetiza a perfeição nesta filosofia viticultural. Nicolas Joly, proprietário e mentor do estupendo Coulée de Serrant, eleva a casta Chenin Blanc ás alturas, tendo apelação própria dentro da apelação Savennières, o mais célebre terroir para Chenin Blanc no estilo absolutamente seco.

Sua vinificação extremamente natural, trabalha com leveduras nativas. O uso das barricas de dimensões de acordo com a filosofia biodinâmica, visa imprimir uma micro-oxigenação precisa, expressando de forma autêntica aromas e sabores únicos. O vinho tem uma extraordinária capacidade de envelhecimento, sendo obrigatória um ampla decantação de horas, antes do consumo.

Além da harmonização citada no menu acima, truta ao forno com molho de vinho branco, ervas e amêndoas tostadas é pedida certa para um casamento perfeito.


Menu alternativo

Tartar de atum com gergelim 

Coulée de Serrant decantado por horas

Omelete de queijo gruyère e ervas com trufas laminadas

Chateau-Grillet com uma dezena de anos

Camarões grelhados ao molho de ervas e limão com risoto de açafrão

Montrachet Ramonet 2014

Queijo do Serro curado com nozes e damascos

Chateau-Chalon ou Vin Jaune

Malabi com calda de damascos

Chateau d´Yquem jovem (menos de 10 anos)


img_4781Serro bem curado

Neste menu alternativo, eu começaria pelo Coulée de Serrant aproveitando toda sua acidez e frescor com tartar de atum. Um prato de personalidade com o gergelim dando um toque a mais de integração com o vinho. É importante decantar este branco com horas de antecedência.

Em seguida, os sabores e textura da omelete deixam o Chateau-Grillet reinar elegante. O toque de trufa para um branco como este envelhecido é fundamental.

A vibração de um Ramonet jovem é sensacional com seus toques cítricos precisos. Toda a força de um Montrachet entremeando a sutileza de um risoto de açafrão. Uma harmonização para levantar sabores.

Antes da sobremesa, uma taça de Chateau-Chalon ou um bom Vin Jaune. O Club Tastevin traz um bom exemplar (www.tastevin.com.br). Homenageando os queijos brasileiros, um velho queijo do serro com aromas mais potentes, complementado por nozes e damascos, finalizam a refeição sem pressa.

A força de um Yquem jovem, menos de dez anos, complementam bem o delicado manjar árabe onde o damasco e a flor de laranjeira fazem eco ao vinho. A textura untuosa do vinho cai como um manto após uma colherada da sobremesa.

Enfim, mais um exercício de enogastronomia com uma pequena amostra do arsenal francês. Para quem não resiste a um belo champagne, não seria nada mau começar ou terminar o menu com ele. Os brancos da Alsace são outra bela lembrança.

 

Concurso Mundial de Sommeliers

17 de Março de 2016

Está se aproximando mais um concurso mundial de sommeliers. É uma espécie de copa do mundo para a sommellerie. Será em Mendoza no mês de abril com vários candidatos de peso, entre eles, a argentina Paz Levinson, última campeã das Américas. Além de sua competência, jogará em casa, e é atualmente, sommellière de um grande três estrelas em Paris, restaurante Epicure do Hotel Le Bristol.

Quanto ao nosso candidato, Diego Arrebola, estamos na expectativa de um bom desempenho. Recentemente, ele ganhou o concurso brasileiro com certa folga sobre os demais concorrentes. Um dos motivos, é a experiência em concursos passados, inclusive internacionais, além de uma boa base teórica. Aliás, falando no concurso brasileiro do qual participei da preparação, vamos a alguns detalhes do mesmo.

taça negra

taça negra

Como sempre, há uma série de três vinhos para serem degustados às cegas e devidamente comentados em detalhes. Logo após, mais uma série de líquidos totalmente às cegas para serem identificados. Podem ser águas, licores, destilados, chás, coquetéis, e tudo que a imaginação permitir. Nesta parte, causou estranheza ninguém ter acertado a eau-de-vie chamada Poire, um destilado de pera. De fato, hoje em dia meio fora de moda, mas mesmo assim, os apurados olfatos deveriam ter detectado o nítido aroma da fruta. A proposito, na degustação de líquidos, a taça utilizada é negra (foto acima), para não haver pistas no exame visual.

chá verde

chá verde premium

O chá acima foi preparado por uma especialista para a correta apreciação dos sommeliers na prova de líquidos. Quantidade de chá, de água, tempo de infusão e temperatura, checados rigorosamente para cada candidato.

jura savagnin

a exótica cepa Savagnin

Um dos vinhos degustados às cegas (foto acima) era um branco do Jura com a uva Savagnin. A semelhança com vinhos de Jerez foi recorrente entre os candidatos. O mais famoso vinho neste estilo da região chama-se Vin Jaune do Château Chalon. Sua garrafa bastante exótica contém 620 ml, quantidade diferente dos habituais 750 ml.

No trabalho à mesa, diante de oito convivas, classicamente houve a abertura de um espumante, e a decantação de um vinho envelhecido. No caso, hipoteticamente, um Latour 1966. Como as garrafas estavam deitadas sobre a mesa, a utilização do cesto de vinhos para a abertura era obrigatória. No pedido dos convivas, uma suposta confraria, a opção foi por um menu-degustação onde nas várias etapas, quatro pessoas escolhiam pratos diferentes das outras quatro. Portanto, para entrada, primeiro prato, segundo prato, e sobremesa, metade do grupo optava por pratos diferentes.

acessórios

acessórios: cesto, taças, decanter

Um dos erros graves, foi a proposta de vinhos em taça. Claramente, o comandante da mesa esclarecia ao sommelier que não havia restrições de preços e que as sugestões de vinhos seriam bem acolhidas. Neste caso, descarta-se a opção por taças. Tratando-se de um grupo de entusiastas do vinho, a indicação de garrafas é logicamente obrigatória, mesmo porque, normalmente as opções de vinho em taça são relativamente simples quanto á qualidade e complexidade da bebida.

Em uma mesa de oito homens, cabe a sugestão de pelo menos quatro garrafas. Se bem escolhidas, podem casar com sucesso com as opções de pratos sugeridos. É nesta escolha, que entra a criatividade e o bom senso do sommelier.

O grande desafio do Brasil é conseguir ineditamente um lugar na prova final de serviço. Para isso, obrigatoriamente o sommelier deve estar entre os primeiros na prova escrita, prova esta, de extrema dificuldade.

Outra dificuldade do Brasil é motivar grandes sommeliers no serviço de salão. Remuneração e flexibilidade nos horários são os maiores empecilhos. Quando esta equação é resolvida temos casos isolados como de Manoel Beato no Fasano. Uma parceria de sucesso que a longo prazo dá resultado. Outro exemplo é de Guilherme Correa, sommelier e consultor da importadora Decanter. Com conhecimento apurado e grande carisma, salões de grandes restaurantes perdem a oportunidade de tê-lo como um atrativo de peso. Enfim, sorte ao nosso representante Diego Arrebola em Mendoza!

Vinhos do Jura: Parte III

15 de Abril de 2015

Neste último artigo, vamos nos fixar nas seis apelações da região, conforme mapa abaixo. Fora as quatro mencionadas no mapa, Crémant du Jura e Macvin são apelações  inseridas nas apelações Côtes du Jura, L´Etoile e Arbois.

Chateau-Chalon: AOC famosa

Côtes du Jura

É a apelação mais genérica, englobando as cinco cepas autorizadas, toda a área de vinhedos, e vários tipos de vinho: brancos, tintos, rosés, Vin Jaune (similar ao Chateau-Chalon), Crémant du Jura e Vin de Paille. Com toda essa generalização, climas e solos são muito variados, a importância do produtor é fundamental como balizamento e separação entre o joio e o trigo. São 640 hectares de vinhas em 105 comunas. O destaque vai para a produção de brancos e os espumantes Crémant du Jura.

Bom resumo dos vinhos

Arbois

Trata-se da apelação mais setentrional, portanto de relevos mais acidentados. É uma apelação de 843 hectares com predominância de vinhos tintos (70%) e (30%) de brancos. São elaborados também vinhos rosés, Vin Jaune e Vin de Paille.

L´Etoile

O nome L´Etoile está relacionado com a posição geográfica da apelação, ou seja, o village fica num vale rodeado por cinco colinas, lembrando as pontas de uma estrela. É um terroir fundamentalmente de brancos com predominância da Chardonnay, e em menor escala, a Savagnin. São vinhos delicados e elegantes. A uva tinta Poulsard é utilizada eventualmente para elaboração do Vin de Paille. Também é elaborado o Vin Jaune exclusivamente com a a uva Savagnin.

O véu de leveduras protege a oxidação

Château-Chalon

Aqui está a grande diferença do Vin Jaune, elaborado genericamente nas demais apelações e o Vin Jaune da apelação Chateau-Chalon. Por seu terroir diferenciado, Chateau-Chalon elabora exclusivamente Vin Jaune com a uva local Savagnin. Há um artigo exclusivo neste mesmo blog sobre a elaboração deste vinho. Em linhas gerais, após a vinificação, o vinho é colocado em tonéis de carvalho não totalmente preenchido, para que uma levedura semelhante aos vinhos de Jerez atue na superfície vínica, protegendo-a da oxidação. O vinho deve permanecer seis anos antes do engarrafamento com um mínimo de cinco anos nos tonéis. Neste tempo todo, a evaporação reduz o volume inicial numa proporção de um litro para 620 ml. Daí, o simbolismo da garrafa Clavelin de 62 cl ou 620 ml.

Macvin: graduação alcoólica de um fortificado

Macvin du Jura

Macvin não é propriamente um vinho, mas sim uma Mistela, ou seja, uma mistura de mosto de uvas não fermentado com uma aguardente, gerando uma bebida entre 16 e 22° de álcool. Na França é chamada de Vin de Liqueur ou Ratafia. As Ratafias de Champagne e da Borgonha são as mais reputadas. Pineau des Charentes em Cognac também tem sua fama. Voltando ao Macvin, é elaborado em várias apelações do Jura. É constituído de mosto de uvas não fermentado com o Marc da região respectiva, lembrando que Marc é uma aguardente obtida do bagaço das uvas. Seu amadurecimento dá-se por no mínimo doze meses em tonéis de carvalho. As cinco cepas oficiais podem fazer parte da sua elaboração, não necessariamente todas juntas. Por isso, podemos ter Macvin branco, tinto ou rosé. Os rosés e tintos com uvas tintas, e os brancos naturalmente com uvas brancas. Sua produção é diminuta, chegando somente a três por cento do total de vinhos jurassianos. O Marc utilizado em sua elaboração deve conter pelo menos 52° de álcool e deve amadurecer em tonéis de carvalho por no mínimo catorze meses.

Crémant du Jura

A apelação Crémant du Jura perfaz um total de 210 hectares do vinhedo jurassiano. É elaborado em praticamente todo o território de vinhas, sendo o Crémant Blanc amplamente dominante, cerca de 90% da produção. Para este tipo de vinho, a participação da Chardonnay é de no mínimo 50%, sendo o restante Savagnin. No caso do Crémant Rosé, a participação da Pinot Noir e Poulsard não deve ser menor que 50%, sendo o restante eventualmente de Trousseau. Curiosamente entre as uvas tintas, pode haver participação da Pinot Gris. Em sua elaboração, o contato sur lies (sobre as leveduras) não pode ser inferior a nove meses.

Comté: o grande queijo do Jura

Gastronomia

Os brancos de uma maneira geral dividem-se em Floral e Tradition, já comentados em artigo anterior. O estilo Floral, mais fresco e delicado, vai bem com peixes, carnes brancas e aperitivos. Já o Tradition, pode ir bem com peixes e carnes brancas com molho de cogumelos, pratos levemente defumados e queijos com certo tempo de afinamento.

Para os tintos, os elaborados com Pinot Noir ou Poulsard pedem pratos mais leves como quiches, aves, charcuterie (embutidos) e atum. Aqueles elaborados com a uva Trousseau podem escoltar carnes, queijos mais curados, e grelhados.

Os Crémants restringem-se aos aperitivos, por ser espumantes relativamente leves. Chateau-Chalon ou Vin Jaune mais genericamente, vão bem com o típico queijo Comtè, preferencialmente curado, frutas secas, e aves com molho de cogumelos e curry. Bacalhau em natas pode ser divino.

Macvin e Vin de Paille são os vinhos doces da região. Ambos com queijos curados e sobremesas são parceiros naturais. Os Vin de Paille, preferencialmente com sobremesas de frutas secas e também com as sobremesas de textura mais cremosa. Os Macvins tintos podem ir bem com chocolates e sobremesas com frutas vermelhas.

Finalizando os vinhos do Jura, atualmente encontramos boas ofertas em algumas importadoras, tais como: Delacroix, Decanter, Enoteca Saint-Vin-Saint e Franco Suissa.

http://www.delacroixvinhos.com.br

http://www.decanter.com.br

http://www.francosuissa.com.br

http://www.saintvinsaint.com.br

Produtores Notáveis

Domaine Baud Père et Fils, Domaine Rolet, Jacques Tissot, Domaine Berthet-Bondet e Jean Macle.

Assim finalizamos os vinhos do Jura, um dos tesouros franceses ainda por serem descobertos.

Vinhos do Jura: Parte II

13 de Abril de 2015

Dando prosseguimento ao vinhos do Jura, vamos falar um pouco de seu terroir, cepas e apelações de origem. As áreas cultivadas atualmente no Jura estão demonstradas no esquema abaixo, perfazendo um total de pouco mais de dois mil hectares. Esta área no final do século dezenove era dez vezes maior. Com a filoxera e duas guerras mundiais a queda foi inevitável. Como a Chardonnay é muito versátil em termos de clima e solos, seu plantio destacado é uma consequência deste fato.

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Ampla vantagem da Chardonnay

Os solos e declividades no Jura são muito variados. Os esquemas abaixo tentam elucidar este emaranhado de calcário, vários tipos de argila e xisto. Em linhas gerais, podemos dividir o relevo da região em duas partes distintas: o platô jurássico (jurassien) de maior alitude (entre 350 e 450 metros), e a planície de Bresse (entre 250 e 350 metros) de menor declive.

Jura perfil geologicoOs esquemas acima (solos e cepas)

A versatilidade da Chardonnay é notável no esquema acima, indo bem em solos calcários, em diversos tipos de marga (mistura de argila e calcário) com presença de xisto e pedras calcárias. A Savagnin tem claramente preferência pelos solos de marga cinzas. No campo das tintas, o que vale para a Trousseau, vale para a Pinot Noir. Solos calcários e solos de marga com predominância de calcário são os preferidos. Por fim, a Poulsard, acompanhando as preferências de solo da Savagnin.

 

Esquema do relevo enfatizando a declividade

Falando sobre as apelações na região, Côtes du Jura é uma apelação genérica englobando praticamente toda a área cultivada. Já Arbois é a apelação mais setentrional, em áreas bem acidentadas. Chateau-Chalon fica mais a sul, quase no meio do caminho no relevo acima. L´Etoile situa-se a sudoeste de Chateau-Chalon, em distância relativamente curta (aproximadamente cinco quilômetros).

Macvin du Jura e Crémant du Jura cobrem toda a área cultivada. São caracterizadas mais pelo estilo de vinho do que por delimitações específicas de área. Macvin é definido mais por uma mistela e não propriamente um vinho fortificado. Já o Crémant por definição, trata-se de um espumante com tomada de espuma na própria garrafa (método tradicional ou método clássico). Falaremos de todas estas apelações no próximo artigo.

Vin de Paille

Trata-se do grande vinho doce do Jura, a partir de uvas desidratadas, processo conhecido na Itália como Appassimento. Este tipo de vinho pode ser elaborado dentro das apelações Côtes du Jura, Arbois e L´Etoile. As demais apelações são específicas para seus respectivos vinhos, não cabendo o tipo de vinho em questão. Os rendimentos para o Vin de Paille não ultrapassam 20 hectolitros por hectare. Daí, sua baixa produção em relação aos demais vinhos. Para se ter uma ideia desta raridade, são necessários 100 kg de uva para obter de 15 a 18 litros de mosto a fermentar. Trata-se de uma fermentação lenta devido ao alto grau sacário, podendo chegar entre 14,5 e 17° graus de álcool, sobrando naturalmente uma considerável taxa de açúcar residual. As uvas utilizadas naturalmente são as brancas Chardonnay e Savagnin, mas as tintas Trousseau e Poulsard são também permitidas. Os aromas e sabores remetem a frutas confitadas como marmelo, damasco, ameixas, figos, laranjas, além de caramelo e mel.

Vin de Paille: Uvas secadas literalmente em palha

Na gastronomia, acompanha muito bem uma torta de nozes ou outras com frutas secas como damasco, por exemplo, além de queijos azuis e o típico queijo regional Comté. Entretanto, precisa ser um Comté Vieux, ou seja, mais afinado e com aromas potentes.

Para finalizar, existem outros Vin de Paille franceses, tanto no Rhône, como na Córsega. As denominações são respectivamente: Vin de Paille Tain L´Hermitage (norte do Rhône), Vin Paillet Beaumont-du-Ventoux (sul do Rhône) e Vin Paillé du Cap Corse.

Vinhos do Jura: Parte I

8 de Abril de 2015

Voltando aos temas regionais sobre vinhos, vamos abordar a partir deste artigo os vinhos franceses do Jura. Terra de Louis Pasteur, do famoso Vin Jaune (vinho amarelo), onde o Château Chalon conquistou fama e glamour como um dos melhores vinhos franceses de toda a história. Aliás, Château Chalon já comentado neste blog, é o único tema mencionado sobre a região. Contudo, por sugestão de um amigo e percebendo uma maior oferta destes vinhos em nosso mercado, vale a pena uma análise mais profunda sobre o assunto.

Jura: Leste francês próximo à Suíça

Só para nos situarmos, Jura é uma região montanhosa localizada a leste da Borgonha, vizinha à região de Savóia e à Suíça. De clima continental, seu inverno é rigoroso e seus verões secos. As informações e comentários estão baseados no site oficial da região: http://www.jura-vins.com

Principais Uvas

Para começar, vamos às principais uvas da região. Começando pelas tintas, temos as seguintes uvas: Le Poulsard, Le Trousseau e a nossa conhecida Pinot Noir. A Poulsard gera vinhos de pouca pigmentação, tendendo ao rosé. Porém, apresenta taninos destacados, aromas de frutas vermelhas e escuras e uma tendência ao sous-bois, sobretudo no envelhecimento. Já a Trousseau, tem uma intensidade de cor destacada, aromas de frutas e especiarias. Em boca, costuma ser mais macia que sua concorrente acima. Por último, um Pinot Noir de clima frio. Em comparação com a Borgonha, costuma ter menos corpo, menor estrutura, lembrando de certo modo um bom Hautes Côtes de Nuits.

No campo das brancas, temos a familiar Chardonnay e a grande uva local Savagnin,  a qual dá origem ao típico Vin Jaune. A primeira adapta-se bem ao clima frio, a vários tipos de solo e sua maturação é precoce. Pode dar origem a vinhos varietais ou mesclados com a Savagnin, os quais são denominados “Tradition”, inclusive no rótulo das garrafas. Quanto à Savagnin, trata-se de uma cepa mais exigente, sobretudo aos solos, preferencialmente o marga (mistura de argila e calcário) cinzento. Outro complicador é sua maturação tardia, sujeita às condições de cada safra.

Aspectos Gerais

Apesar de pouco conhecida e pouco glamorosa, Jura é uma região antiquíssima e conhecida pelos seus vinhos desde o início da era cristã. Sua estrutura vinícola está formatada entre pequenos produtores (37% da produção), negociantes (39%) e cooperativas (24%). São dois mil hectares de qualidade superior divididos em seis apelações: Arbois, Côte du Jura, L´Étoile, Crémant du Jura, Macvin e o famoso Château-Chalon. Essas apelações veremos em detalhes nos artigos seguintes.

Em termos de solo, há uma diversidade imensa com presença de calcário e vários tipos de marga, conforme a origem e o período geológico de formação das argilas multicoloridas. Há terrenos de grande declividade e outros menos íngremes.

Abaixo, uma pequena ideia de produção dos vinhos do Jura, tanto em termos de tipo, como em termos de apelação. Os brancos e tintos de secos dominam a produção, seguidos  pelo Crémant (espumante elaborado pelo método tradicional, ou seja, espumatização em garrafa). O grande vinho do Jura, Château Chalon, não chega a três por cento da produção. Acompanhando o raciocínio, as apelações Arbois e Côtes du Jura dominam a cena na elaboração de brancos e tintos secos.vins jura

 A área cultivada não chega a dois mil hectares

No quesito exportação, dos oito mil hectolitros exportados, mais da metade refere-se ao Crémant. Os brancos e tintos secos sob as apelações Arbois e Côte du Jura chegam próximos ao Crémant, enquanto os Vin de Paille, Macvin, Château Chalon têm exportações ínfimas, devido sobretudo à baixa produção. As repartições quanto ao tipo de vinho acompanham o mesmo raciocínio.

Exportação JuraCrémant du Jura é o grande vinho de exportação

Como última curiosidade, os brancos secos do Jura podem ter a menção no rótulo com as expressões “Blanc Floral” e “Blanc Tradition”. O primeiro refere-se a vinhos jovens, delicados e com boa vivacidade. O segundo termo refere-se a brancos com certo grau de oxidação, de envelhecimento, apresentando um dourado intenso, ou mesmo um âmbar em sua cor. São mais macios, mais estruturados e mais gastronômicos.

Harmonizações Exóticas

12 de Maio de 2014

O conhecimento do sommelier atualmente deve ser ampliado, haja vista os concursos mundo afora exigindo sistematicamente provas com as mais diversas bebidas, tanto teóricas como práticas. Se já não bastasse o conhecimento profundo dos mais diversos tipos e estilos de vinhos, é preciso também entender sobre cervejas, destilados, cafés, chás, águas, cocktails, charutos, entre outros. Pessoalmente, acho um tanto pretensiosas estas exigências, já que existem especialistas nas mais diversas áreas. Contudo, pelo menos uma boa noção sobre estes temas se faz necessária. Neste sentido, vamos fazer um exercício neste artigo sobre algumas harmonizações inusitadas, fugindo um pouco dos vinhos em si, ou seja, no menu abaixo proporemos algumas ousadias. Para entender esta proposta é preciso mente aberta e moderação nas bebidas, pois a guerra é longa e são muitas batalhas. Portanto, vamos à luta.

Salmão Defumado

Harmonização: Single Malt Scotch Whisky Islay

Numa harmonização clássica, poderíamos pensar em um Riesling de estilo seco como o da Maison Trimbach (Alsácia) ou um Pouilly-Fumé (Vale do Loire) bem típico. A proposta escocesa pelos maltes de Islay (ilha com terroir específico) é o alto teor de turfa neste tipo de whisky. Os sabores impactantes do salmão encontram eco no caráter medicinal da bebida com teores elevados de turfa. Sem dúvida, uma entrada surpreendente. Não para um escocês, evidentemente.

Encontrado no Brasil

Foie Gras Grelhado com Maçãs Caramelizadas

Harmonização: Port Tawny 20 Years Ago

O óbvio seria o casamento com o clássico vinho de Sauternes (região francesa de Bordeaux). Entretanto, pessoalmente, prefiro trocar o excesso de açúcar pelo álcool, pois trata-se de um vinho fortificado. O déglacé com aguardente na frigideira onde o foie gras foi grelhado juntamente com o açúcar para caramelizar as maçãs formam uma bela sintonia com os aromas deste estilo de Porto de caráter oxidativo com açúcar suficiente para o prato.

Cocktail: Negroni

Neste momento, seria de bom tom servirmos um sorbet (sorvete à base de frutas com uma aguardente neutra) para limpar o paladar após um prato de sabor persistente e geralmente com alguma doçura. O clássico Negroni pode fazer este papel com a mistura em partes iguais de Gin, Vermute tinto e Campari, on the rocks.

Bacalhau Empanado ao Molho Curry

Harmonização: Château-Chalon (Vin Jaune)

Finalmente chegamos ao vinho, e que vinho! Pouco conhecido, é uma espécie de Jerez francês. O vinho depois de elaborado passa longos anos em barricas protegido por uma camada espessa de leveduras denominada flor (a mesma encontrada nos vinhos espanhóis de Jerez, notadamente o tipo Fino). Com um pouco de sorte, é possível encontrar este vinho da região francesa do Jura no Brasil. A personalidade do bacalhau vai de encontro aos sabores marcantes do vinho, enquanto o molho cremoso com toques de curry casa perfeitamente com os aromas do vin jaune.

Chimay Bleue: gastronômica

Costeletas de Porco com Molho Agridoce

Harmonização: Cerveja Belga Chimay Bleue

O molho muitas vezes pode incluir cerveja e o agridoce pode advir de uma fruta cítrica ou vermelha. De todo o modo, podemos optar pela Chimay Bleue, de bom corpo e toques caramelados. As cervejas belgas são muito gastronômicas, principalmente as trapistas (elaboradas por monges desta ordem monástica). 

Queijo: Manchego Viejo

Harmonização: Brandy de Jerez Solera Reserva

Novamente aqui, trocamos o vinho por uma aguardente. O vinho clássico seria um bom Jerez Oloroso, mas os famosos brandies da mesma região são belas opções. O da foto abaixo é importado pela Casa Flora (www.casaflora.com.br).

Um dos melhores da região

Sobremesa: Tiramisù

Harmonização: Irish Whiskey

Começamos com Whisky e por que não terminarmos com ele? Evidentemente, estamos falando de um outro tipo, um autêntico irlandês. Aqui lembramos do clássico Irish Coffee, cocktail de inverno misturando a bebida com café. Se lembrarmos que tiramisù tem esse sabor marcante, nada mais natural nesta harmonização.

Podemos à essa altura dispensarmos o café e para aqueles que apreciam, que tal continuarmos o irlandês com um belo puro? Neste caso, a suavidade deste Whiskey triplamente destilado pede um Hoyo de Monterrey com seus aromas florais e de especiarias.

Encontrado no Brasil

Depois de todas essas batalhas, limpando e revigorando o paladar, um aromático chá Early Grey com notas de bergamota. Pode não ser a melhor das harmonizações, mas este menu vai ficar na memória.

Lembrete: Vinho Sem Segredo na Radio Bandeirantes FM 90,9 às terças e quintas-feiras. Pela manhã no programa Manhã Bandeirantes e à tarde no Jornal em Três Tempos.

Espumantes para as festas II

26 de Dezembro de 2011

Dando prosseguimento às opções de espumantes para o final do ano, mais três indicações francesas saindo das alternativas mais óbvias. Todos eles elaborados pelo método tradicional (segunda fermentação em garrafa), sendo dois da apelação Crémant já comentada em artigo específico neste blog (Crémants de France).

 

Opções francesas a bom preço

Da esquerda para direita, temos um raro Crémant disponível no Brasil da fria região do Jura (região montanhosa limítrofe da Suiça). Na verdade, é um Blanc de Blancs (100% Chardonnay) que permanece pelo menos doze meses sur lies. Delicado, elegante e muito apropriado para recepções, entradas e pratos leves. Importado por Le Tire Bouchon (www.letirebouchon.com.br). O produtor Baud Pére et Fils elabora também grandes brancos como Château-Chalon, a melhor apelação para o famoso Vin Jaune, matéria de artigo neste blog (Chateau-Chalon: O Xérès da França).

A segunda opção é um Vouvray Brut do ótimo produtor Didier Champalou elaborado com a uva Chenin Blanc. Os aromas de mel e um fundo de marmelo são marcas registradas neste espumante. Acompanha bem pratos onde estão presentes damascos e/ou frutas secas. Importado pelo Club Tastevin (www.tastevin.com.br).

A última opção, também do Club Tastevin, é um Crémant d´Alsace do belo produtor René Muré. O vinho-base é um assemblage de várias uvas brancas e tintas como Pinot Blanc, Pinot Auxerrois, Riesling, Pinot Gris e Pinot Noir, todas vinificadas em branco. O contato sur lies é de pelo menos doze meses, conferindo boa cremosidade ao produtor final.

Feliz Ano Novo a todos!

Chateau-Chalon: O Xérès da França

14 de Março de 2011

O chamado Vin Jaune (vinho amarelo) na França é uma especialidade de Jura (região fria e montanhosa a leste da Borgonha e vizinha da Suiça). A apelação mais famosa deste curioso vinho é Chateau-Chalon e a uva protagonista é a autóctone Savagnin.

O método de produção é extremamente peculiar, desenvolvendo no vinho aromas semelhantes ao Jerez (famoso fortificado do sul da Espanha). As semelhanças param por aí, já que neste vinho não há fortificação, nem o famoso sistema solera, que dinamiza entradas e sáidas dos lotes de vinho. Neste caso, trata-se de um sistema estático.

Boa parceria para queijos de personalidade: Comté

Após uma colheita tardia com as uvas Savagnin, o mosto é fermentado tradicionalmente como os brancos da região. Terminada esta etapa, o vinho é colocado em barricas de carvalho já utilizadas em outras colheitas ou barricas usadas em vinhos brancos na Borgonha. As barricas não são preenchidas totalmente, deixando um espaço para que haja desenvolvimento de leveduras do tipo Saccharomyces Bayanus na superfície do vinho, por sinal, as mais resistentes ao elevado teor alcoólico. O vinho então é deixado nas barricas por pouco mais de seis anos, sem nenhuma reposição. Naturalmente, haverá evaporação, diminuindo consideravelmente o volume do produto final.

O vinho é colocado em garrafas tipicas de tamanho especial denominadas “clavelin”, com 620 ml (mililitros). A explicação vem do fato de que se deixarmos proporcionalmente um litro de vinho durante seis anos neste processo, restarão no final a medida acima citada.

O resultado é um vinho extraordinário, com aromas peculiares e extremamente longevo (pode durar mais de um século). O véu de leveduras formado ao longo dos anos, protege o vinho de uma oxidação excessiva, criando aromas de frutas secas, cogumelos, mel, empireumáticos (torrefação e caramelo) e especiarias. Neste sentido, vem a lembrança dos vinhos de Jerez.

A combinação com queijos curados como Comté, Reblochon e Epoisses é espetacular. Carnes de sabor acentuado (pato, marreco, e caças de pena) com molhos de certa acidez são surpreendentes. Cogumelos, trufas e especiarias, são ingredientes também com muita afinidade. A receita abaixo pode harmonizar muito bem, principalmente se for um coelho de caça.

Coelho ao molho de Mostarda e Cogumelos

No Brasil, uma boa pedida é o produtor Alain Baud da importadora Club du Tastevin (www.tastevin.com.br). Outro bem tradicional é do produtor Jean-Marie Courbet, importado pela Mistral e atualmente em falta (www.mistral.com.br).

 


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