Posts Tagged ‘delacroix’

O outro lado da RN 74

2 de Fevereiro de 2021

A Route Nationale 74, ou a D974, interliga alguns dos vinhedos mais míticos de pinot noir e chardonnay do planeta. O dólar alto e a disparada de preço na Bourgogne (um Bourgogne blanc sai da adega de Coche Dury por 40 euros e é vendido em NY por mais de US$ 200) têm deixado Chambolles, Vosnes, Volnays, Chassagnes e Pulignys cada vez mais caros no Brasil. Selecionar rótulos e produtores de regiões menos badaladas se tornou essencial para continuar a beber bem.

Maranges

Maranges fica ao sul de Beaune. Seus tintos são muito mais reputados que os brancos. Nas palavras de Clive Coates, produzem-se ali vinhos “honestos, robustos e rústicos, no melhor sentido”. Pablo e Vincent Chevrot são o principal nome desse terroir. Sur le Chêne é um dos vinhedos que têm ganho atenção da crítica francesa e inglesa. Por cerca de R$ 350 na Anima Vinum, esse é bom borgonha, com um toque animal, fruta bem moldada. Se os Chevrots seguirem nesse caminho, o primeiro pelotão da Bourgogne está logo ali. Quem disse não fui eu, mas William Kelley. Assino embaixo.

Auxey-Duresses

Auxey Duresses é mais conhecido por ter resultados estelares nas mãos de madame Lalou Bize Leroy. Há vida, muita aliás, fora de Auvenay. Esse rótulo branco é uma prova. Les Crais é um bom custo benefício de vinho branco da Bourgogne. Feito pelo Prunier-Bonheur, na @claretsbrasil, por cerca de R$ 350. Muita energia nesse 2017, ganhou muito depois de aberto. Boa opção para 2021. Não foi mal com a salada de salmão defumado.

Cote de Nuits-Villages

Côte_de_Nuits-Villages-Les_Chaillots

Os vinhos de Gachot Monot têm um avalista de peso: m. Aubert de Vilaine, que gerencia o Domaine Romanée Conti e é proprietário de ótimo domaine que produz excelentes vinhos na Côte Chalonaise. Foi Aubert quem chamou a atenção da importadora americana Kermit Lynch sobre Damien Gachot, que tem 12 hectares em Corgoloin, entre Nuits Saint Georges e Beaune. Esse Côte de Nuits ‘Les Chaillots’, que estava em promoção a R$ 315 na Govin, reforça a tese de que o estudo dos vinhos desse domaine deve ser aprofundado.

Bourgogne blanc 2015 Berlancourt

Se um dia visitar esse pequeno domaine em Meursault, que também hospeda, não se assuste se encontrar Jean Francois Coche degustando ali. O dono de um dos domaines míticos da Cote d’Or gosta bastante dos vinhos de Pierre e Adrien Berlancourt. Veio no fim do ano passado numa pequena quantidade pela @uvavinhos. Uma nova remessa deverá chegar em breve. Frutas brancas em profusão, leve toque de fruta seca, um vinho que tem tudo de Meursault e com um pouco mais de persistência e complexidade passaria por um bom premier cru da village.

Bourgogne Côte d´Or Cuvée Gravel 2018 – Claude et Catherine Maréchal

Ótima porta de entrada do domaine Catherine e Claude Marechal, criado em 1981 e cujo mentor foi a lenda Henri Jayer. Produz em 12 hectares.A cuvée Gravel é situada em Pommard et Bligny-les-Beaune. Por R$ 280 na Delacroix, um dos melhores bourgognes disponíveis no mercado brasileiro. Na Delacroix.

Bourgogne Roncevie

Quando se visita o domaine Arlaud (texto da visita no site pisandoemuvas.com) uma das primeiras histórias escutadas é a excelência desse terroir. Roncevie está Gevrey-Chambertin, mas do lado errado da RN 74, ou seja, distante dos grands crus. Até 1964 era considerado “Villages”, mas na disputa política ficou com parcelas fora da classificação. Pére Arlaud não se fez de rogado. Comprou bourgogne sabendo que tinha um Gevrey disfarçado. O domaine tem excelentes vinhos, a única pena é o preço, que tem subido muito nos últimos dois anos. Vêm pela Cellar. Por R$ 375.

Jacquesson, a arte dos irmãos Chiquet

30 de Janeiro de 2021

Quem acompanha o site e o instagram sabe que uma champagne sempre aparece aqui e ali em posts, harmonizações e recomendações. Fundada em 1798, em Châlons-sur-Marne, Jacquesson era uma das estrelas da Champagne no século XIX, mas em 1920, quando foi comprada por um negociante de vinhos que mudou a sede para Reims, passou décadas em declínio. A virada se deu em 1974, quando Laurent e Jean-Hervé Chiquet compraram a tradicional Maison e levaram sua sede para Dizy.

Laurent e Jean Hervé Chiquet

Os vinhedos estão todos em Grande Vallé e na Côte des Blancs com algumas compras adicionais nesses mesmos terroirs. Uma das marcas das champagnes feitas por aqui é que elas são vinificadas em grandes barris de madeira, o que rende complexidade e mais aromas. Uma das inovações da casa foi a criação da linha 700. Na Champagne, a tradição era que a casa safra as maisons buscassem imprimir mais seu estilo no que está sendo oferecido do que um espumante que retratasse o ano. Quem busca uma Bollinger NV sabe o que encontrará, ano sim, ano não. Os Chiquets foram por outro caminho. A pequena produção (cerca de 300 mil garrafas por ano) comparada às grandes marcas dificultava criar uma linha que imprimisse todos os anos o mesmo estilo. Havia ainda mais. “Nós começamos a perceber que estávamos fazendo um blend pior que poderíamos fazer. Não tinha sentido”, disse Jean-Hervé Chiquet a Peter Liem no excelente livro “Champagne”.

A DT, cujo dégorgement é bem tardio, tem um contato sur lies de quase dez anos, o dobro da 738 normal

Com a percepção de que o foco em ano resultava em vinhos inferiores ao que poderiam fazer sem essa amarra, os irmãos buscaram consistência. A partir da safra 2000, eles descartaram a cuvée Perfection e lançaram a 728. Por que o número? O ano de 2000 representou a safra 728 desde a fundação da Maison.

A linha, importada pela Delacroix, é consistente do início ao topo, com espumantes refinados, gastronômicos, intensos, complexos e que têm alto potencial de envelhecimento.

A linha 700, a mais recente disponível no Brasil é a 743, é originada de dois vinhedos Grands Crus e três vinhedos Premiers Crus. O vinho-base é elaborado em madeira, naturalmente inerte, para não passar aromas ao vinho. As uvas são: Chardonnay de Avize Grand Cru; Pinot Noir do Ay Grand Cru e Dizy Premier Cru; Pinot Meunier de Oiry Grand Cru e Hautvillers Premier Cru. A primeira fermentação é em grandes barricas de carvalho, envelhecendo sobre as borras por 36 meses, misturando com vinhos de reserva (33%) e a segunda fermentação em garrafa segundo o método Champenoise. A 743 talvez seja a melhor que eu bebi. Mais aberta que a 742. Para se achar no ano em que o rótulo é baseado, basta somar dois ao número da linha: 742 é de 2014, a 743 de 2015.

Manifesto dos Chiquets

A Jacquesson ainda produz uma DT, cujo dégorgement é bem tardio, prevendo um contato sur lies de quase dez anos, o dobro da 738 normal. Enseja um vinho complexo, profundo, com uma mineralidade digna de um champagne especial. Com muita vida pela frente.

Em linguagem bourguignone, o rosé é um Chambolle feito na Champagne. São menos de dez mil garrafas vindas de Dizy, um vinhedo Premier Cru situado no Vallée de la Marne, sendo Terres Rouges (lieu-dit) uma área de somente 1,35 hectares exclusivamente de Pinot Noir, plantada em alta densidade, 11500 pés por hectare. O solo é escuro e pedregoso misturando argila e calcário. O vinhedo fica junto à Montagne de Reims em seu setor sul. O vinho-base é vinificado em madeira inerte (foudres de chêne). Trata-se de um rosé de saignée e não de assemblage, este último, mais comum em Champagne. Na verdade, este saignée é muito delicado, quase um pressurage direct. O dégorgement leva normalmente cinco anos, mantendo um longo contato sur lies. Extremamente seco com apenas 3,5 gramas/litro de açúcar residual, dentro do padrão extra-brut. Apesar de 100% Pinot Noir, é um champagne delicado, elegante e muito vivaz tanto em fruta, como no próprio frescor. As notas de frutas vermelhas (groselhas, framboesas) e de alcaçuz estão bem presentes.

Na linha das especiais, há um rótulo absolutamente grandioso: Champ Caïn, cuja primeira safra se deu em 2002, com vinhedos plantados em 1962. A safra 2004 foi bebida em almoço no fim do ano passado. Colhida em 4 de outubro daquele ano, resultou em 9012 garrafas e 500 magnums. O degorgement foi feito em fevereiro de 2013 depois de oito anos sur lies. Chardonnay elegante, refinado, extremamente delicado, expansivo, medidativo, destacando o terroir excepcional de Avize.  Que champagne! Ou melhor, que champagnes!

Borbulhas não apenas para o fim do ano

3 de Dezembro de 2020

O consumo de espumantes ainda está muito ligado às festas de fim de ano, mas cabe aqui sempre repetir a máxima de Lilly Bollinger sobre Champagne. “Bebo-a quando estou feliz e quando estou triste. Algumas vezes, também quando estou só. Quando tenho companhia a considero obrigatória. Brinco com ela quando estou sem apetite e a bebo quando estou com fome. Fora isso, nunca a toco, a menos que esteja com sede”.

Versatilidade ímpar, da entrada às sobremesas, apenas mudando a dosagem de açúcar, os espumantes vão muito bem com as entradas, das mais simples às mais complexas, como salgadinhos, canapés de salmão defumado, vieiras grelhadas. Nos pratos principais, dependendo de safras e qual a uva é a principal no corte (pinot noir vai muito bem com aves; chardonnay faz maravilhas com boa parte dos frutos do mar), eles também escoltam excepcionalmente bem.

Ferrari Perle 2006

Dito isso, quais são as opções existentes no mercado brasileiro? (As champagnes ganharão post específico na próxima semana)

Brasil

Você quer um espumante brasileiro versátil, bem feito, com bom preço? A preferência recai sobre Adolfo Lona, cujos rótulos são coringas à mesa,sendo boa parte abaixo de R$ 80. Argentino, Lona veio para o Brasil na década de 1970 trabalhar com as multinacionais que começavam a investir no terroir gaúcho. Ficou por lá. Produz bons espumantes, talvez os melhores do Brasil. Diego representa os vinhos em SP: 11.95133.4000 diego_graciano@hormail.com

Espanha

Se você estiver procurando uma opção estrangeira de boa relação qualidade preço, a Clarets traz as melhores borbulhas espanholas: Juvé Camps, situada em Sant Sadurní d´Anoia, a melhor região de Cavas, controla todo o processo de elaboração, desde vinhedos próprios, até todas as fases de vinificação. A Cinta Purpura sai por cerca de 100 reais.

Portugal

Na Bairrada, terra do famoso leitão, Luis Pato elabora com a casta local Maria Gomes um dos bons espumantes da terrinha. Na Mistral, por cerca de R$ 170.

Itália

Em Trento, a italiana Ferrari faz excelentes espumantes, em todas as gamas de preços. Às cegas,é duro dizer que não se trata de Champagne. Gosto é subjetivo, mas não troco um Ferrari por uma básica Moet nem por uma Veuve Clicquot. Na Decanter.

França

Alsace

Quem tem terroir tem tudo. Não se vive apenas de Champagne na França. Olho nos crémants. Os mais famosos estão na Alsace, terroir mais conhecido pela produção dos melhores rieslings franceses. São elaborados com as uvas Pinot Blanc, Pinot Gris, Pinot Noir, Riesling, Auxerrois e Chardonnay. Existe a versão rosé, elaborada com Pinot Noir. O vinho permanece pelo menos nove meses sur lies antes do dégorgement (expulsão dos sedimentos e colocação da rolha definitiva). Na ótima importadora franco-carioca Taste Vin, o bom espumante de René Muré para entradas e para abrir os trabalhos: https://www.tastevin.com.br/produto/cremant-d-alsace-brut/

Languedoc

Blanquette Antech Réserve Brut, 2017 - Espumante - Rótulo de garrafa de vinho da França da região Languedoc

Elaborado na região do Languedoc, perto de Carcassonne. As uvas para o Crémant são: Chardonnay e Chenin Blanc, as principais, complementadas por Mauzac e Pinot Noir. Permanece pelo menos quinze meses sur lies. A importadora Delacroix traz o Blanquette Antech Réserve Brut, 2017, um corte de 90% Mauzac, 5% Chenin e 5% Chardonnay. https://www.delacroixvinhos.com.br/products/blanquette-antech-reserve-brut-2017-1295-940-espumante

Bourgogne

A terra do pinot noir e do chardonnay, berço de Romanées e Montrachets, tem opções de borbulhas. São os crémants de Bourgogne, apelação da Borgonha com as uvas Pinot Noir e Chardonnay, podendo ter eventualmente as uvas Gamay e Aligoté. Permanece pelo menos nove meses sur lies.Uma opção na Cellar é o crémant do domaine Edouard. https://www.cellarvinhos.com/cremant-de-bourgogne-nature.

Em tempo: As champagnes ganharão post específico na próxima semana

Garimpo: R$50 a R$ 160

19 de Agosto de 2020

Semana passada. Uma mensagem na caixa de emails. Má notícia. A alta do euro nas últimas semanas fará com que novos reajustes venham por aí, já que os preços estavam calculados com um euro a R$ 5,75 e a moeda agora está acima dos R$ 6,30. Algumas importadoras que ofereciam garrafas abaixo de R$ 80 já estão com gôndolas vazias nessa seleção. Garimpar garrafas de bom custo benefício tem virado um passatempo árduo, embora a seleção de bons rótulos esteja cada vez maior.

Feita a introdução, vamos a um passeio por algumas opções de brancos, tintos, espumantes e vinhos de sobremesa.

Galeria Empresa 4

Abaixo de R$ 70,00

Pizzato
A linha da vinícola gaúcha é tiro certeiro. São vinhos corretos, frutados e bons para o dia a dia, sejam brancos, tintos, rosés ou espumantes. Podem ser comprados em supermercados ou em sites. Vale procurar quem vende por preço mais baixo.

Adolfo Lona

A primeira vez que me deparei com um espumante de Adolfo foi no saudoso e mítico Locanda della Mimosa, do grande Danio Braga. Era oferecido nos brunchs e cafés da manhã de quem por lá se hospedava. Adolfo e Danio são amigos de longa data. Argentino, Lona veio para o Brasil na década de 1970 trabalhar com as multinacionais que começavam a investir no terroir gaúcho. Ficou por lá. Produz bons espumantes, talvez os melhores do Brasil. Diego representa os vinhos em SP: 11.95133.4000 diego_graciano@hormail.com


De R$ 71 a R$ 120

Bordeaux Château Cleyrac 2016 Por R$ 90, esse é um bordeaux de dia a dia. Um corte de 40% Merlot, 30% Cabernet Sauvignon, 30% Cabernet Franc. Na https://www.tastevin.com.br/
Vale a pena dar uma olhada na seleção de ótimos vinhos que a importadora traz: destaque também aos Macons do Domaine Eloy, abaixo de R$ 120.

Beaujolais rosé Les Griottes, 2017. Existe beaujolais tinto, branco e rosé. Quem vinifica é o Domaines Chermette, novo nome do de Domaine du Vissoux. Os franceses consideram esse um dos melhores produtores da região, tem duas estrelas no guia da revista de vinhos da França, que se desmancha nos elogios. (https://www.larvf.com/,domaine-du-vissoux,10448,400964.asp). Toda a gama é boa e o preço é um trunfo. Quando vejo um Beaujolais de R$ 400, miro num Bourgogne.
Na https://www.wines4u.com.br


Anjou Blanc 2019 (Domaine de Mihoudy) – Esse chenin blanc de videiras de 25 anos vem de uma das regiões mais famosas do Loire. Fácil de beber. O rosé também é uma boa pedida. Na uvavinhos.com.br . Por R$ 99,00.

Ventoux Château Pesquié Édition 1912M 2017 – Uma das maiores propriedades do Ventoux, Château Pesquié faz vinhos acessíveis e gostosos. Bons para churrascos descompromissados. Aqui vai um corte de Grenache 70%, Syrah 30%, por R$ 105 na Nova Fazendinha. https://www.novavinhos.com/

Domaine du Bouscat Caduce – Robert Parker é um fã desse chateau que produz um ótimo bordeaux de dia a dia, ótimo para pratos de carne, como um escalope ao molho de shitake. Por R$ 118 a safra 2017 na https://www.delacroixvinhos.com.br/

Muros antigos 2018, Anselmo Mendes – Um dos melhores produtores de vinhos brancos de Portugal. Seu vinho de entrada é uma delícia. Não erra.
https://www.decanter.com.br/

De R$ 121 a R$ 160

Marjosse – Vira e mexe, a World Wine faz promoção do Château Marjosse em branco e tinto. Na última, a garrafa saía a R$ 139. Assinatura de Pierre Lurton em um vinho de comprar de caixa. Sou fã de carteirinha, principalmente, do branco, excelente para aperitivar ou para início de uma bela refeição. Um dos meus favoritos abaixo dos R$ 250.

Unilitro Costa Toscana IGT, 2018 – O nome chama a atenção ao fato de que aqui você está com uma garrafa de tamanho inusitado: 1 litro. Um corte de alicante nero, alicante bouschet e carignano. Fácil de beber, gastronômico, bom parceiro de molhos vermelhos. Por R$ 155 na https://www.wines4u.com.br/produtores/ampeleia/unlitro-costa-toscana-igt-2018-ampeleia-100-cl.html

2014 Gutswein Knyphausen – Esse kit, de R$ 299 reais, vem com 3 garrafas do mesmo vinho. A vinícola Baron Knyphausen foi criada originalmente em 1141 por frades do monastério Eberbach. Rieslings alemães com a águia no rótulo e esse preço não podem passar em branco. Na https://www.vindame.com.br/kit-03-gf-2014-gutswein-knyphausen.html

Blanquette Antech Réserve Brut, 2017 – O Domaine Antech se dedica há seis gerações à produção de vinhos espumantes em Limoux, um dos mais privilegiados terroirs franceses para espumantes fora da Champagne. Na http://www.delacroixvinhos.com.br

Vinhos do Jura: Parte III

15 de Abril de 2015

Neste último artigo, vamos nos fixar nas seis apelações da região, conforme mapa abaixo. Fora as quatro mencionadas no mapa, Crémant du Jura e Macvin são apelações  inseridas nas apelações Côtes du Jura, L´Etoile e Arbois.

Chateau-Chalon: AOC famosa

Côtes du Jura

É a apelação mais genérica, englobando as cinco cepas autorizadas, toda a área de vinhedos, e vários tipos de vinho: brancos, tintos, rosés, Vin Jaune (similar ao Chateau-Chalon), Crémant du Jura e Vin de Paille. Com toda essa generalização, climas e solos são muito variados, a importância do produtor é fundamental como balizamento e separação entre o joio e o trigo. São 640 hectares de vinhas em 105 comunas. O destaque vai para a produção de brancos e os espumantes Crémant du Jura.

Bom resumo dos vinhos

Arbois

Trata-se da apelação mais setentrional, portanto de relevos mais acidentados. É uma apelação de 843 hectares com predominância de vinhos tintos (70%) e (30%) de brancos. São elaborados também vinhos rosés, Vin Jaune e Vin de Paille.

L´Etoile

O nome L´Etoile está relacionado com a posição geográfica da apelação, ou seja, o village fica num vale rodeado por cinco colinas, lembrando as pontas de uma estrela. É um terroir fundamentalmente de brancos com predominância da Chardonnay, e em menor escala, a Savagnin. São vinhos delicados e elegantes. A uva tinta Poulsard é utilizada eventualmente para elaboração do Vin de Paille. Também é elaborado o Vin Jaune exclusivamente com a a uva Savagnin.

O véu de leveduras protege a oxidação

Château-Chalon

Aqui está a grande diferença do Vin Jaune, elaborado genericamente nas demais apelações e o Vin Jaune da apelação Chateau-Chalon. Por seu terroir diferenciado, Chateau-Chalon elabora exclusivamente Vin Jaune com a uva local Savagnin. Há um artigo exclusivo neste mesmo blog sobre a elaboração deste vinho. Em linhas gerais, após a vinificação, o vinho é colocado em tonéis de carvalho não totalmente preenchido, para que uma levedura semelhante aos vinhos de Jerez atue na superfície vínica, protegendo-a da oxidação. O vinho deve permanecer seis anos antes do engarrafamento com um mínimo de cinco anos nos tonéis. Neste tempo todo, a evaporação reduz o volume inicial numa proporção de um litro para 620 ml. Daí, o simbolismo da garrafa Clavelin de 62 cl ou 620 ml.

Macvin: graduação alcoólica de um fortificado

Macvin du Jura

Macvin não é propriamente um vinho, mas sim uma Mistela, ou seja, uma mistura de mosto de uvas não fermentado com uma aguardente, gerando uma bebida entre 16 e 22° de álcool. Na França é chamada de Vin de Liqueur ou Ratafia. As Ratafias de Champagne e da Borgonha são as mais reputadas. Pineau des Charentes em Cognac também tem sua fama. Voltando ao Macvin, é elaborado em várias apelações do Jura. É constituído de mosto de uvas não fermentado com o Marc da região respectiva, lembrando que Marc é uma aguardente obtida do bagaço das uvas. Seu amadurecimento dá-se por no mínimo doze meses em tonéis de carvalho. As cinco cepas oficiais podem fazer parte da sua elaboração, não necessariamente todas juntas. Por isso, podemos ter Macvin branco, tinto ou rosé. Os rosés e tintos com uvas tintas, e os brancos naturalmente com uvas brancas. Sua produção é diminuta, chegando somente a três por cento do total de vinhos jurassianos. O Marc utilizado em sua elaboração deve conter pelo menos 52° de álcool e deve amadurecer em tonéis de carvalho por no mínimo catorze meses.

Crémant du Jura

A apelação Crémant du Jura perfaz um total de 210 hectares do vinhedo jurassiano. É elaborado em praticamente todo o território de vinhas, sendo o Crémant Blanc amplamente dominante, cerca de 90% da produção. Para este tipo de vinho, a participação da Chardonnay é de no mínimo 50%, sendo o restante Savagnin. No caso do Crémant Rosé, a participação da Pinot Noir e Poulsard não deve ser menor que 50%, sendo o restante eventualmente de Trousseau. Curiosamente entre as uvas tintas, pode haver participação da Pinot Gris. Em sua elaboração, o contato sur lies (sobre as leveduras) não pode ser inferior a nove meses.

Comté: o grande queijo do Jura

Gastronomia

Os brancos de uma maneira geral dividem-se em Floral e Tradition, já comentados em artigo anterior. O estilo Floral, mais fresco e delicado, vai bem com peixes, carnes brancas e aperitivos. Já o Tradition, pode ir bem com peixes e carnes brancas com molho de cogumelos, pratos levemente defumados e queijos com certo tempo de afinamento.

Para os tintos, os elaborados com Pinot Noir ou Poulsard pedem pratos mais leves como quiches, aves, charcuterie (embutidos) e atum. Aqueles elaborados com a uva Trousseau podem escoltar carnes, queijos mais curados, e grelhados.

Os Crémants restringem-se aos aperitivos, por ser espumantes relativamente leves. Chateau-Chalon ou Vin Jaune mais genericamente, vão bem com o típico queijo Comtè, preferencialmente curado, frutas secas, e aves com molho de cogumelos e curry. Bacalhau em natas pode ser divino.

Macvin e Vin de Paille são os vinhos doces da região. Ambos com queijos curados e sobremesas são parceiros naturais. Os Vin de Paille, preferencialmente com sobremesas de frutas secas e também com as sobremesas de textura mais cremosa. Os Macvins tintos podem ir bem com chocolates e sobremesas com frutas vermelhas.

Finalizando os vinhos do Jura, atualmente encontramos boas ofertas em algumas importadoras, tais como: Delacroix, Decanter, Enoteca Saint-Vin-Saint e Franco Suissa.

http://www.delacroixvinhos.com.br

http://www.decanter.com.br

http://www.francosuissa.com.br

http://www.saintvinsaint.com.br

Produtores Notáveis

Domaine Baud Père et Fils, Domaine Rolet, Jacques Tissot, Domaine Berthet-Bondet e Jean Macle.

Assim finalizamos os vinhos do Jura, um dos tesouros franceses ainda por serem descobertos.

Harmonização: Moscatel e Aspargos

3 de Abril de 2014

Vinhos elaborados com a uva Moscatel sofrem certo preconceito dos chamados “entendidos em vinho”, sobretudo os mais delicados. Dizem que são vinhos frágeis, doces, sem grandes atrativos. Os únicos incólumes neste julgamento são os grandes Moscatéis de colheita tardia ou o respeitado fortificado Moscatel de Setúbal. Contudo, existem alguns poucos Moscatéis quase secos, delicados e muito bem equilibrados. Um clássico é o Muscat d´Alsace (foto abaixo) que compõe as quatro castas nobres alsacianas (Riesling, Gewürztraminer e Pinot Gris são as outras).

Muscat e aspargoDomaine Weinbach: Vinhos Elegantes

De fato, os melhores produtores desta região franco-germânica conseguem imprimir aos seus Muscats, equilíbrio, delicadeza e elegância, atributos raros para esta casta popular. Ocorre que no Brasil, a oferta deste tipo de vinho é escassa. Dos poucos vinhos alsacianos por aqui, os desta casta praticamente inexistem. Como sugestão, temos um exemplar na criteriosa importadora Delacroix (www.delacroixvinhos.com.br) do Domaine Bott-Geyl, produtor biodinâmico.

Devido à falta de oferta destes Muscats, uma boa alternativa são os originais vinhos da casta Torrontés da região argentina de altitude de Salta. Há uma boa variedade de produtores, além de preços acessíveis. O estilo de vinho, aromas e sabores, aproximam-se bem dos Muscats. 

Voltando aos aspargos, esses vinhos complementam muito bem os sabores vegetais incisivos destes brotos. Normalmente servidos como entradas, os Muscats cumprem bem o papel por serem vinhos mais delicados. Mesmo nos risotos de aspargos como primeiro prato, ou como guarnição de uma carne delicada, esses vinhos continuam sendo uma bela opção. 

Além dos aspargos, cozinhas asiáticas onde as especiarias, ervas e todo o perfume envolvido que permeiam esses pratos, podem ser escoltadas por este tipo de vinho, sobretudo se houver algum componente agridoce. Eles mantêm a delicadeza e o frescor do prato, sempre tomando cuidado para não abusar das pimentas. 

A inspiração deste texto veio do belo livro de Philippe Bourguignon, destacado sommelier francês, intitulado l´Accord Parfait, inclusive a foto acima.

Lembrete: Vinho Sem Segredo na Radio Bandeirantes (FM 90,9) às terças e quintas-feiras pela manhã (programa Manhã Bandeirantes) e à tarde no programa Jornal em Três Tempos.


%d bloggers gostam disto: