Posts Tagged ‘homus’

Um almoço das Arábias: Parte II

23 de Março de 2016

Após a bela e agradável recepção, fomos convidados à antessala para a apresentação dos pratos e evidentemente, nos servimos à vontade em todos os sentidos.

mini charutinho

charutinhos divinos

Normalmente, a folha de uva traz uma certa tanicidade à textura, mas estes charutinhos estavam dos deuses. Nenhum resquício de tanino e um sabor muito bem equilibrado. O mesmo se pode dizer do prato abaixo, quibe de peixe, sabor suave e muito bem integrado ao trigo, na proporção correta.

quibe de peixe

quibe de peixe

Tanto o homus, como o babaganuche, perfeitos na execução. Muito equilibrados quanto ao sabor, texturas corretas, e sobretudo o babaganunhe, sem aquele defumado muitas vezes dominante e desagradável.

homus

homus

babaganuche

babaganuche

yquem 99 e 90

Yquem em duas safras

Aqui, foto acima, percebemos didaticamente a qualidade e potência das safras. Embora o 99 seja mais novo, percebemos que o mesmo está mais perto de seu ponto ideal de evolução, enquanto o 90 tem muito chão pela frente. Em boca, a potência e a persistência aromática é fator diferencial entre as duas safras. 1999, muito prazeroso no momento, mas 1990 é um Yquem quase perfeito. Equilibrado, expansivo e sedutor.

marjolaine

marjolaine (La Paillote)

ataif

Ataif: sobremesa clássica

bolo de nozes

bolo de nozes

A dupla de Yquems acompanhou as três sobremesas acima. Todas muito bem executadas com açúcar na medida certa. Marjolaine, um clássico do clássico La Paillote, combinou muito com a textura untuosa do vinho. O Ataif com calda de flor de laranjeira e rosas enfatizou o lado delicado do Yquem 99. Já o bolo de nozes com tâmaras combinou com toda a riqueza do estupendo Yquem 1990. Em resumo, um show de doçura e equilíbrio.

fonseca 1977

Fonseca 77: safra lendária

Já fora da mesa, após o café e o início dos Puros, um Vintage Fonseca 1977. Com quase quarenta anos, mostrou todo seu potencial que só as grandes Casas de Porto podem proporcionar. Poucas pessoas tem a oportunidade de desfrutar de um grande Vintage maduro. Íntegro, exuberante, no esplendor de seu apogeu, selou com chave de ouro o almoço, acompanhando bem o primeiro terço  de belas baforadas cubanas. E que cubanos!. Cohiba Behike ring 54, foto abaixo, esbanjou classe e potência. Além da bitola 54, temos Behike 52 e Behike 56. Toda a linha com excepcional mistura de folhas de Vuelta Abajo. Em meio a conversas amenas e despretensiosas, a tarde foi caindo …

behike 54

Behike: a Ferrari dos Puros

armagnac lafite

Armagnac com a grife Lafite

É claro que para um charuto portentoso como este, era necessário um destilado à altura. Que tal uma reserva especial de Armagnac selecionada por Lafite Rothschild!. Foi o tiro de misericórdia.  Um duelo de potências que se perpetuou até o fim. Nada mais faltava, senão os agradecimentos ao espetacular encontro. Vida longa ao aniversariante!

almoço raul

tamanho não é documento!

Um resumo da ópera. Vinhos bem escolhidos, sequência correta e quantidade suficiente, sem exageros. A propósito, Lafite Rothschild tem reservas também de Cognac, além de Armagnac, nas versões Réserve, Vieille Réserve e Tres Vieille Réserve. São eaux-de-vie com idades entre 20 e 60 anos, dependendo da categoria.

Harmonização: Culinária Árabe

28 de Julho de 2010

Líbano: culinária árabe mais delicada

Falar de culinária árabe num sentido mais amplo, englobaria vários países do Oriente Médio, com inúmeras peculiaridades e variações. Nosso foco está mais para o que conhecemos de cozinha árabe no Brasil, como esfihas, quibes, kafta, homus, tabule, entre outros pratos, com ênfase na culinária sírio-libanesa.

A cozinha de um modo geral é delicada, inclusive as especiarias, notadamente a pimenta síria. Ingredientes como iogurte, cebola e limão devem ser considerados, principalmente quando temos a autonomia de dosá-los em nossos pratos.

De um modo geral, brancos de boa acidez e relativamente frutados, sem passagem por madeira, são os ideais, principalmente com as saladas como o tabule, por exemplo. Evite vinhos extremamente frutados e encorpados. Eles podem ser um tanto dominadores. Chardonnays sem madeira, Sauvignons frescos e jovens do Chile e África do Sul, são mais aconselháveis.

Os pratos leves de carne, como quibes, esfihas e kaftas vão bem com tintos frescos e de boa fruta. É importante calibrar adequadamente o corpo do vinho para não sobrepujar os pratos. Tintos do Loire à base de Cabernet Franc são os mais indicados, sob as apelações Bourgueil e Chinon, já abordadas em posts passados. Pinot Noir também do Loire ou Beaujolais (uva Gamay) de boa procedência são as opções imediatas. Receio que vinhos do Novo Mundo, mesmo jovens e sem passagem por madeira, possam ser um pouco dominadores, tirando o brilho da harmonização.

Pratos quentes à base de frango e principalmente o carneiro, podem prescindir de tintos mais estruturados, sem estes jamais perderem a elegância e sutileza. Syrah do Rhône do Norte sob as apelações Crozes-Hermitage e Saint-Joseph parecem ter frescor, estrutura e elegância na medida certa. As opções do sul do Rhône, embora tenham ressonância aromática, muitas vezes carecem de frescor. O mesmo ocorre com os tintos da Provence, exceto os rosés, que podem surpreender favoravelmente, desde o início da refeição.

Do lado italiano, Dolcettos, Barberas e Chiantis, todos simples e frescos são benvindos. Tempranillos espanhóis no estilo joven (quase ou totalmente sem passagem por madeira) são opções a considerar.

Os tintos libaneses disponíveis no Brasil como Chateau Musar e Chateau Kefraya podem apresentar a crônica falta de frescor. Para pratos mais estruturados como o carneiro podem surpreender, sobretudo se calibrarmos bem a temperatura de serviço. 

Homus: uma entrada aparentemente inocente

O gosto apesar de não muito intenso, apresenta uma textura pastosa, com um final levemente adstringente e pouco habitual em outras pastas. Além disso, existem o limão e o gergelim presentes na receita. O famoso branco grego Retsina (que muitos torcem o nariz) e o Tokay na versão seca (Szamorodni quase sempre se enquadra nesta versão) são combinações perfeitas. Eles têm acidez, personalidade e afinidade de sabores para o prato. Um Sémillon australiano do Hunter Valley é uma saída original do Novo Mundo. Este mesmo Sémillon, com uns bons anos em garrafa, adquire um toque defumado que ficará perfeito com outra especialidade sírio-libanesa, o babaganuche (pasta de beringela assada).


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