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Harmonização: Cordeiro

13 de Junho de 2013

Tenho ouvido falar em harmonizar carne de cordeiro com Pinot Noir. Nada contra com experiências, novas tentativas, e até acho que não há litígio neste encontro. Contudo, estamos fugindo das harmonizações clássicas, e cordeiro com vinhos de Bordeaux é uma delas. Quem vai contestar uma bela perna de cordeiro com um clássico Pauillac ou Saint-Julien, tintos à base de Cabernet Sauvignon da margem esquerda, conforme foto abaixo?

Cordeiro e o inseparável alecrim

Além da trama da carne de cordeiro ser mais fechada, as ervas são temperos praticamente insubstituíveis em sua preparação, sobretudo o alecrim. E tudo isso tem haver com a família dos Cabernets, rico em pirazinas, substâncias que reverberam os temperos do prato. A textura e suculência de um cordeiro bem preparado vai de encontro com a boa estrutura tânica de um tinto bordalês. Estas características estão longe demais com vinhos calcados na delicada Pinot Noir.

Já costeletas de cordeiro (foto abaixo), que são cortes grelhados e não assados, possuem mais gordura e devem ser consumidos mal passados ou no máximo, ao ponto, preservando toda a suculência da carne.

Gordura em volta da carne

Aqui, um bom Chinon, Bourgueil ou Saumur-Champigny, com concentração e boa estrutura tânica vai muito bem. Produtores como Domaine Breton e Thierry Germain, comentados em artigos anteriores, são exemplos clássicos. Esses Cabernets Franc do Loire, além de possuírem corpo adequado ao prato, apresentam um frescor e acidez na medida certa para combater a deliciosa gordura deste corte. É lógico que as ervas como tempero, novamente vão de mãos dadas com o vinho. Se houver um molho para as costeletas mais frutado, muitos vezes incluindo um redução de vinho do Porto, os Bordeaux de margem direita, calcados na casta Merlot, são companheiros ideais, pois sempre têm uma parcela de Cabernet Franc imbutida no corte. Portanto, Pomerol ou Saint-Emilion são pedidas certas. Saindo da França, um corte bordalês de Bolgheri com a habitual acidez italiana, pode surpreender.

Por último, a chanfana de carneiro, famosa na região da Bairrada em Portugal, conforme foto abaixo. É um prato típico, feito em panela de barro, cozido lentamente no vinho tinto e muito temperos. Os tintos bairradinos, calcados na uva baga, ricos em acidez e taninos potentes, são os parceiros ideais.

Prato rico em sabores

Outras alternativas fora do contexto local seriam vinhos potentes de certa rusticidade como o provençal Bandol, baseado na casta Mourvèdre, Brunello di Montalcino de estilo clássico, ou um Tempranillo de Toro, denominação vizinha a Ribera del Duero.

Quanto à Pinot Noir, aves de um modo geral, vão muito bem, sobretudo os borgonhas em receitas mais refinadas. Se quiserem insistir com cordeiro, as comunas de Pommard e Nuits-Saint-Georges apresentam exemplares mais tânicos e potentes.

Cordeiro com Risoto de Queijo de Cabra

21 de Março de 2013

Já falamos neste blog sobre cordeiro, risoto e queijo de cabra, mas não todos num mesma receita. É o que propõe o chef Christian Burjakian do restaurante Limonn (www.limonn.com.br) no Itaim-Bibi, conforme receita abaixo.

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Guarnição perigosa na harmonização

O lombo de cordeiro em crosta de pistache não apresenta maiores problemas na escolha do vinho. Contudo, tendo como guarnição o saboroso risoto de queijo de cabra, há de se tomar alguns cuidados. Analisando separadamente os dois pratos, cada um pede um vinho diferente. Tinto para a carne, e branco para o risoto. O problema é que ambos serão degustados conjuntamente e portanto, teremos um só vinho.

A princípio, poderíamos pensar num bordeaux. Neste caso, um bordeaux de margem direita focado na casta Cabernet Franc. Além de não ter os taninos poderosos da Cabernet Sauvignon, apresenta um frescor interessante para o risoto de queijo de cabra. Normalmente, estes vinhos são combinados com a Merlot que apresenta taninos dóceis sob a apelação St Emilion. Quanto maior a proporção de Cabernet Franc no corte, mais agradável a harmonização.

Podemos também pensar num tinto do Loire 100% Cabernet Franc. Pode ser um Chinon, Saumur-Champigny ou Bourgueil de boa estrutura. Evite os vinhos de estilo mais leve destas apelações que por sinal, são os mais produzidos. Procure algo com produtores como Thierry Germain ou Domaine Breton, já comentados neste mesmo blog. O primeiro é importado por Cave Jado (www.cavejado.com.br) e o segundo pela World Wine (www.worldwine.com.br). 

Outra opção interessante é um Syrah do vale do Rhône, com boa acidez e corpo mais comedido. Evite os australianos, os quais provavelmente passaram por cima do prato. Um bom calibre para esta harmonização é um Crozes-Hermitage, com corpo e estrutura adequados para este embate. O produtor Alain Graillot, também já comentado neste blog, é uma bela referência. O vinho é trazido pela importadora Mistral (www.mistral.com.br)

Nestas duas uvas citadas, os aromas de especiarias da Syrah (notadamente, pimenta) e os aromas herbáceos da Cabernet Franc complementam bem a crosta de pistache envolvendo o cordeiro.

Enfim, algumas ciladas podem estar presentes em certas harmonizações. No caso de nosso prato, o risoto dá uma levantada no sabor do conjunto, já que o cordeiro tem um sabor importante, mas horizontal. Apesar dele ainda comandar a harmonização, os efeitos do risoto devem ser considerados. Vale a pena conferir.

Vale do Loire: Parte III

18 de Janeiro de 2012

Ainda em nosso segundo Climat, Anjou-Saumur, vamos falar dos tintos da região baseados em Cabernet Franc. Em Saumur, o solo é predominantemente calcário com presença de pedras porosas denominadas tuffeau. Muitas adegas na região são escavadas nesta rocha, armazenando sobretudo o bom espumante da região sob a denominação Saumur Brut, elaborado pelo método tradicional. Uvas como Chenin Blanc, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Cabernent Franc, Cabernet Sauvignon, entre outras, participam do vinho-base. Sob a apelação Saumur, temos vinhos brancos baseados na uva Chenin Blanc (pelo menos 80% do corte) e vinhos tintos baseados na casta Cabernet Franc.

Todos eles, espumantes, brancos e tintos, são vinhos delicados, com muto frescor e ótimos para o verão, mesmo os tintos por serem pouco tânicos. Há uma apelação específica para tintos chamada Saumur-Champigny, onde seus vinhos baseados em Cabernet Franc são mais estruturados, porém longe de serem pesados ou muito encorpados.

Prosseguindo para o climat seguinte, temos a sub-região de Touraine, um pouco mais continental, mas ainda com influência atlântica. O clima aqui é mais seco que sua vizinhança em Anjou-Saumur. Isto favorece tanto o amadurecimento tardio da Chenin Blanc, como a principal tinta da região Cabernet Franc (localmente chamada de Breton), moldando vinhos de boa estrutura, mas sempre com frescor e equilíbrio.

Os tintos mais famosos estão sob as apelações Chinon, Bourgueil e Saint-Nicolas-de-Bourgueil. Os Chinons de solos mais pedregosos costumam ser mais leves, enquanto os de solos argilo-calcários mais estruturados e intensos. O mesmo ocorre com Bourgueil e Saint-Nicolas-de-Bourgueil, mas no geral são mais encorpados que os de Chinon.

Um dos mais autênticos Cabernets do Loire

O vinho acima já foi destaque neste blog (Produtor de destaque: Thierry Germain). É atualmente importado por Cave Jado (www.cavejado.com.br). Thierry Germain, proprietário da vinícola, cultiva seus vinhedos biodinamicamente e elabora vinhos de rara pureza.

Passando aos brancos, Touraine destaca-se por uma das mais belas expressões da uva Chenin Blanc através da apelação Vouvray. Podem ser espumantes elaborados pelo método tradicional, e brancos com vários graus de doçura, culminando com belos doces provenientes de uvas botrytisadas. O solo calcário aliado ao clima mais seco e ensolarado propicia o perfeito amadurecimento da tardia Chenin. As manhãs brumosas com alternância de sol é o cenário perfeito para o bom desenvolvimento da Botrytis.

Didier Champalou: assinatura de um belo Vouvray

O produtor acima é trazido pela importadora Club Tastevin (www.tastevin.com.br) a preços muito atraentes.

A apelação Montloius, vizinha a Vouvray, faz vinhos similares, mas sem o mesmo brilho. A genérica apelação Touraine faz vinhos espumantes, brancos, rosés e tintos, para o consumo cotidiano. Os brancos baseiam-se na Chenin Blanc, enquanto tintos e rosés nas uvas Gamay e Cabernet Franc.

Harmonização: Carré de cordeiro

3 de Outubro de 2011

Num primeiro momento, Cordeiro e Bordeaux parece ser uma combinação perfeita e quase insubstituível. Entretanto, estamos falando de forma muito genérica sobre dois mundos com várias facetas. Bordeaux como já vimos em artigos anteriores em cinco partes, possui várias apelações desdobradas em inúmeros produtores, os quais elaboram vinhos de estrutura e corpo diferenciados. Já o cordeiro, dependendo do corte e dos vários tipos de preparo, apresenta as mesmas diferenciações no produto final.

Nosso assunto hoje é o carré de cordeiro, apresentado magnificamente pelo mestre István Wessel no vídeo abaixo:

Simplicidade: chave das melhores receitas

No vídeo acima, percebemos que os bons pratos são simples, sem muitos rebuscamentos e ingredientes desnecessários. Os temperos básicos são o sal (apenas para realçar sabor), alho, pimenta e alecrim, além do vinho e azeite. A carne é relativamente macia, sem muita fibrosidade e com certo teor de gordura em volta. O sabor é de personalidade, mas elegante. Portanto, se pensarmos em bordeaux, o vinho não precisa ser tão tânico, mas deve ter boa acidez por conta da gordura presente no conjunto. O alecrim realça o sabor dos Cabernets, reverberando seu natural toque herbáceo. Um bordeaux de corpo médio, boa acidez e tanicidade moderada é dado pelo corte com boa proporção de Cabernet Franc. Daí a escolha por vinhos da margem direita com boa proporção desta uva, como o Chateau Figeac, por exemplo, um dos mais destacados da comuna de Saint-Emilion. O toque da pimenta também vai de encontro  às características desta uva. Uma bela alternativa são alguns Cabernet Franc uruguaios de parreiras antigas. Apresentam corpo adequado, elegância e tipicidade. Bodegas Castillo Viejo da importadora World Wine (www.worldwine.com.br). Não é  à toa que o cordeiro uruguaio é um dos melhores do mundo.

Pensando em outras possibilidades, um Chinon, Saumur-Champigny ou Bourgueil do Vale do Loire, pode ser uma bela escolha, contanto que sejam vinhos estruturados como o Domaine des Roches Neuves de Thierry Germain, importado por Cave Jado (www.cavejado.com.br). Todas essas apelações baseiam-se na casta Cabernet Franc.

O abuso de alguns dos ingredientes pode ser determinante para a escolha do vinho. Por exemplo, aqueles que gostam de bastante alho, convém escolher Cabernets italianos, que além de terem boa acidez, conservam uma certa rusticidade no bom sentido da palavra. Franceses da Provença também podem dar certo.

Se o abuso for para o lado da pimenta, procure por vinhos mais jovens e frescos. Caso a opção for por bordeaux relativamente envelhecidos, não abuse da pimenta e nem do alho. Guarnecido por um arroz com amendôas laminadas e tostadas, a harmonização ganhará um toque especial.

Enfim, mesmo as harmonizações clássicas têm suas nuances, conforme o grau de precisão que nos propomos a dar às mesmas. Por isso, adicionar ou inventar molhos e ingredientes, podem ser grandes armadilhas na combinação vinho e comida.

Produtor de destaque: Thierry Germain

26 de Maio de 2011

Os vinhos do Loire fascinam por sua autenticidade, sobretudo quando estamos diante de um produtor diferenciado como Thierry Germain. Biodinâmico, perfeccionista e talentoso. Esses atributos juntos geram vinhos especiais, artesanais. Neste caso, não se trata de um daqueles vinhos franceses de sonhos, mas um vinho muito bem elaborado, acabado e prazeroso. Importado pela simpática Dorothée da  Cave Jado (www.cavejado.com.br) ao custo de R$ 114,00. Vale cada centavo.

 Cabernet Franc: Expressão autêntica

Saumur-Champigny juntamente com Chinon e Bourgueil são as grandes apelações para Cabernet Franc no Vale do Loire. Não são vinhos potentes, de grande corpo, mas são elegantes, gastronômicos, capazes de nos fazerem beber com prazer boas taças durante a refeição, sem jamais serem dominadores, permitindo que os sabores do prato compartilhem de sua companhia.

A safra de 2009 é a cereja do bolo para nosso vinho, conforme foto acima. Uma cor rubi de grande profundidade e brilho. Os aromas de frutas vermelhas e escuras são de grande pureza. Os belos toques minerais, entremeados com ervas e especiarias completam o conjunto. Muito equilibrado, a acidez convive em harmonia com seus jovens taninos, provocando uma suculência sempre revigorante. O álcool contribui apenas para fornecer maciez e corpo, sem jamais ofuscar seu belo frescor.

Um escalope de filé mignon num molho de mostarda de grãos guarnecido por um fricassé de champignons c´est parfait. Bon appétit!


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