Muito se fala da reclassificação dos Chateaux em Bordeaux. Afinal, muita coisa mudou do fim do século XIX para cá. Um dos chateaux mais reivindicados para ocupar a posição de Premier Grand Cru Classé é o Chateau La Mission Haut Brion. Embora seja um chateau de Graves, mais especificamente de Pessac-Léognan, fica difícil manter só o Haut Brion, seu rival vizinho, como exceção na lista dos grandes do Médoc.
Nesta degustação que iremos comentar a seguir, fica mais uma vez provado, sua extrema qualidade, tradição, e consistência, safra após safra. As semelhanças de solos e da própria composição do corte bordalês, o deixa em pé de igualdade com o grande Haut Brion, embora a diferença de estilo entre os dois seja marcante. Segundo a crítica especializada, inclusive Parker, La Mission Haut Brion tem um estilo mais potente que seu arquirrival Haut Brion com maior estrutura tânica, sobretudo.
parte do La Mission colada em Haut Brion
Esclarecendo o mapa acima, Chateau La Tour Haut Brion era um chateau independente ligado ao La Mission. E assim, até 2005, sua última safra, foi considerado tradicionalmente como segundo vinho do La Mission. A partir de 2006, deixa de existir La Tour Haut Brion para ser nomeado o Chateau La Chapelle La Mission Haut Brion como segundo vinho do La Mission.
Chateau La Mission Haut Brion
Área de vinhas tintas: 25,44 ha (48% Cabernet Sauvignon, 41% Merlot e 11% Cabernet Franc). 5000 a 5600 caixa por ano. 100% carvalho novo com 22 meses de maturação.
Área de vinhas brancas: 3,74 ha (63% Sémillon e 37% Sauvignon Blanc). 550 a 650 caixas por ano. 100% carvalho novo de 13 a 16 meses de maturação. Vale lembrar que a partir de 2009 passamos a ter o La Mission Haut Brion Blanc, até então conhecido como Laville Haut Brion.
Feitas as devidas considerações, vamos aos flights degustados, mostrando características de safra e sua evolução em garrafa, principalmente em anos mais antigos. De modo geral, os vinhos surpreenderam muito em termos de conservação e longevidade. A década de 70 por exemplo, apresentou vários anos abaixo da média com notas desanimadores para a maioria dos chateaux. Com exceção da safra 69 com problemas de rolha afundada e entrada de ar na garrafa, além da oxidação do grande 75, os demais apresentaram um desempenho bastante satisfatório.
Flight 1
La Mission 68, plenamente evoluído, mas sem sinais de oxidação. As safras 72 e 80 apresentaram um pouco mais de extrato e meio de boca, embora também já plenamente evoluídas. O 69 apresentou problemas nesta garrafa, conforme descrito acima. Começo animador!
flight 2
Um flight que poderia ser catastrófico, mostrou-se com muita consistência, embora com vinhos plenamente evoluídos. O La Mission 73 abaixo da média, mas o 74 surpreendeu pela elegância. O 77 e 84 se portaram muito bem, de acordo com as expectativas das safras. O 74 não aparece na foto.
Flight 3
No flight acima, muito equilíbrio. Embora sem nenhum grande vinho, eles estavam corretos e plenamente evoluídos. 67 e 70, um pouco abaixo em termos de concentração. O 76 surpreendeu positivamente numa safra crítica. Por fim, o 81 um pouco acima dos outros, mais estruturado e vigoroso.
Flight 4
É lógico que neste flight, a superioridade da dupla 78 e 85 foi marcante. La Mission 66 ainda com aromas deliciosos, embora bastante frágil nesta altura da vida. La Mission 78 tem uma estrutura impressionante. Parece não sentir o peso da idade com taninos poderosos. Já o 85, mais prazeroso, com menos arestas e aromas de grande finesse com toques terrosos e de estrabaria. Um salto considerável na degustação.
Flight 5
Este flight só não se equiparou com o anterior porque o La Mission 75 estava oxidado, uma pena. A safra 79 bastante agradável, mas a dupla 82 e 83 se destacaram para encerrar a degustação. O La Mission 82 foi o mais próximo do monstruoso 78 com muita estrutura e vigor. Seus taninos são de uma textura incrível. O La Mission 83 embora delicioso e muito bem equilibrado, foi eclipsado pelo 82 bem a seu lado. De todo modo, um belo vinho.
o rival chegou para o almoço
Para enfrentar 20 safras de La Mission, o rival Haut Brion precisou apresentar-se no formato Imperial com a safra inquestionável de 1998. Apesar de mais jovem do que a média degustada dos La Mission, o vinho estava esplendoroso com 99 pontos Parker. No momento, tem muita fruta, muitos taninos finíssimos, e todo o perfil aromático dos grandes Haut Brion. Mesmo com 20 anos de idade, tem vigor de sobra para mais 20 anos em adega. Sem dúvida, será um dos grandes Haut Brion da história deste belíssimo Chateau.
recordando Babette …
No preâmbulo do almoço, foi servido um autêntico Caviar Beluga, impecavelmente fresco, fazendo par e à altura do champagne Cristal 2009, nota 95+ Parker. Aromas e texturas se fundiram perfeitamente, num final limpo e de grande frescor. Não sei o caviar, mas o champagne melhorou muito em relação ao filme …
La Mission Ato 1
Acima e abaixo, fotos da turma. Muito interessante esta experiência de uma vertical longa, passando pelas décadas de 60 ,70, e 85. Os vinhos foram decantados perto do momento da degustação, exceto safras como 75, 78, 82 e 85, abertas com mais antecedência, devido ao vigor das mesmas.
La Mission Ato 2
Fechamos o ano em alto estilo, confirmando o viés francófilo desta turma. Safras garimpadas com muita dedicação e conhecimento, procurando garrafas de ótimo estado e procedência segura. O nível de vinho nas garrafas surpreendeu positivamente e não tivemos nenhum bouchonné.
um fantasma apareceu!
No apagar das luzes, eis que surge um Madeira 1880. Que elegância, que equilíbrio, que profundidade. Um Terrantez, uva praticamente extinta na ilha, provando que esses vinhos são realmente imortais. Eu não acredito em bruxas, mas elas existem …
Agradecimentos sinceros pela presença e generosidade de todos ao longo do ano, e em especial ao anfitrião, que nos recebeu com muito carinho, cuidando de todos os detalhes. Que venha 2019 com muita força, capaz de superar um ano tão intenso como 2018. Boas Festas a todos!