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Os Espíritos estão no ar

6 de Setembro de 2017

No penúltimo artigo deste blog, vide Quando o céu é o limite!, prometi escrever algo sobre o prolongamento do almoço, após aquela sucessão de embates maravilhosos dos melhores Montrachets, Hermitages, Bourgognes, Bordeaux, e mais algumas preciosidades.

Já fora da mesa, a festa continuou com cafés, chás, e sobretudo, os Puros e os Espíritos. Aqueles destilados deslumbrantes que aquecem a alma, selando comme il faut, um almoço memorável.

cenário irresistível

Quando eu falo em Espíritos, observem acima um guardião atrás das bebidas. À esquerda, uma seleção de Puros em caixas de laca impecáveis das melhores procedências, algo como Gérard Père et Fils da Suíça. Ao lado, a mesa de bebidas com o que há de mais exclusivo em destilados, principalmente Grappas, uma das paixões do anfitrião.

marcos dona beja

Dona Beja sabia das coisas …

Parece estranho falarmos de cachaça numa hora dessas, mas esta da foto acima, é de impressionar não só qualquer gringo, como o mais exigente dos cachaceiros profissionais. Não tanto pelo sabor, mas sobretudo pela suavidade. É impressionante como mesmo provada em temperatura ambiente, não se sente o álcool. Um perigo aos desavisados!    

Para quem não conhece, Dona Beja é uma cachaça do tempo do Império. Com toda esta história, o atual proprietário Mario Moraes Marques, rebatizou a cachaça como Dona Beja a partir de 1992, até então chamada cachaça Rainha. Esta provada da safra de 1972 é a joia da coroa. Foram produzidos apenas cinco mil litros desta pérola que passaram dezoito anos em toneis de carvalho, perdendo álcool naturalmente, sem diluição com água. Se você tem algum preconceito com a bebida, dê um traguinho nesta!

marcos timeless

embate de gigantes

Agora falando em Cognac, temos duas preciosidades acima. Louis XIII, cognac topo de gama da Maison Remy-Martin, um blend com partidas centenárias, acompanhado por várias gerações em adega até estar pronto para comercialização. Normalmente, seu grande rival é o Richard, topo de gama da grupo LVMH, outro cognac com enormes predicados e à altura de uma disputa de gigantes. Maiores detalhes, vide artigo Cognac: Richard ou Louis XIII?

Mas não vamos falar de Richard, e sim de Timeless. Criado em 1999 também pela Hennessy (grupo LVMH), Timeless consegue ainda ser mais exclusivo. São apenas duas mil garrafas numeradas contendo um blend envelhecido das onze melhores safras de Cognac do século XX. São elas: 1900, 1918, 1929, 1939, 1947, 1953, 1959, 1961, 1970, 1983 e 1990.

Neste duelo não houve vencedores e sim, preferências. Afinal de contas, são dois excepcionais Cognacs com inúmeros predicados e virtudes. Pessoalmente, preferi o Louis XIII. Numa sintonia fina, me pareceu mais marcante e refinado. Já o Timeless, parece ser um produto muito mais de exclusividade, de poder experimenta-lo, embora seja divino. Essa tese fica reforçada na comparação de preço, onde a diferença pode chegar a seis vezes.

marcos louis XIII 1900

Cognac Louis XIII de 1900

Para os colecionadores, a garrafa acima trata-se de um exemplar autêntico da virada do século XX. Um dos pontos a serem verificados são os 25 dentes em volta da garrafa de crista de Baccarat, ou seja, 12 saliências de um lado e 13 saliências do outro. Notem também, que naquela época a tampa da garrafa era dentada e de formato oco. Diferente da atual, lisa e no formato flor-de-lis.   

marcos poli sassicaia

vinhos de pedigree

Agora vamos para uma excepcional seleção de Grappas ou Grappe (italiano). Sabemos que toda a grappa nasce do bagaço das uvas no processo de vinificação. Entretanto, há bagaços especiais como das uvas destinadas ao mais nobre tinto de Bolgheri, o grande Sassicaia, foto da esquerda. Já a grappa da direita, é fruto do outro extraordinário vinho italiano, Torcolato, um néctar doce do Veneto, obtido com a uva branca Vespaiolo.

Pela própria natureza dos vinhos, a Grappa Sassicaia é mais encorpada, mais viril, e tem uma passagem maior por madeira. Já a Grappa Torcolato é toda feminina, delicada, com aromas florais. Em resumo, grappas excepcionais, cada qual em seu estilo. Digamos que Sassicaia está mais para um Bolivar, enquanto Torcolato está mais para um Hoyo de Monterrey.

marcos poli rum e porto

requintados barris

Nesta seleção de grappas, vemos a força e caráter decisivos dos barris. O da esquerda, de rum extra-vecchio da Martinica da casa Clement, uma das mais reputadas marcas do Caribe. Um rum delicado, onde esses barris acabam aromatizando de forma sublime o destilado recém-elaborado. Já o da direta, uma barrica de Porto Colheita safra 1991. Um Porto Niepoort, uma das casas mais reputadas pelos seus esplendorosos Colheitas. Transmite notas muito elegantes ao destilado. Realmente, mais exclusivo, impossível. Novamente, a preferência é muito pessoal.

 marcos grappa costa russi

Gaja: isso sim é requinte!

Quem diria! uma grappa de Angelo Gaja, mas não de qualquer Barbaresco. No rótulo, um dos Crus que perfazem a santíssima Trindade (Costa Russi, Sori Tildin, e Sori San Lorenzo). A vinaccia ou bagaço das uvas na elaboração do Costa Russi dá origem à destilação que posteriormente terá um envelhecimento em madeira. Grappa de muita personalidade com toques de cogumelos e chocolate amargo (cacau).

 marcos h. upmann RR

H. Upmann Piramide Reserva

Provavelmente da Cosecha 2010, este Puro amadurece três anos antes de sair ao mercado. Casa de grande reputação, H. Upmann tem um estilo elegante, mas de muita personalidade. Este Piramide apresentou ótimo fluxo, notas de especiarias e amadeiradas. Acompanhou muito bem a seleção de grappas, além dos majestosos Cognacs.  

Agora sim, cumprida a promessa neste verdadeiro deleite entre Puros e Espíritos, mesmo para o mais cético ateu. Que assim seja!  

Bordeaux 1982

16 de Agosto de 2016

Logo de cara, um painel com oito Bordeaux 82 parece ser um paraíso, além de um porto seguro. Não foi exatamente o que ocorreu, embora como experiência, sempre prazerosa. Para começar, logo dois tintos bouchonée, um Léoville-las-Cases e um Lafleur. Uma pena, pois são dois belos 82. Outra decepção foi o Mouton 82, um pouco oxidado, cansado, longe do esplendor de uma boa garrafa.

bordeaux 1982

Bordeaux 82: rótulos de respeito

Felizmente, nem tudo é problema. Chega um Cheval Blanc divino, roubando a cena do almoço. Um margem direita delicado, elegante, soberbo, com todas as notas terciarias de um grande Bordeaux. Equilíbrio, taninos ultra finos, numa sinfonia de ervas finas, tabaco, couro, e incenso. Delicioso e talvez no seu melhor momento.

cheval 82

a nobreza de um grande Cheval

Outro que fez bonito foi o altivo Haut-Brion. Sempre elegante, agradavelmente evoluído, mesclando frutas, ervas, especiarias, notas terrosas e o característico toque animal. Bem próximo do grande Cheval. É um grande parceiro para pratos com trufas.

haut brion 82

sempre espetacular

Fechando o trio do almoço, o consistente, o aristocrático, o imponente, Chateau Latour. Personifica com maestria toda a essência de um Pauillac. O cassis impressionante, as notas de couro e tabaco, e uma estrutura de taninos portentosa. E sempre com a marca Latour, quase atingindo seu apogeu. Extremamente prazeroso de ser tomado, mas com uma guarda ainda de pelo menos mais dez anos. Um monumental margem esquerda.

latour 82 (2)

o imponente Latour

Um destaque dentre os pratos do Maní é esta leitoa com abóbora num sabor bem brasileiro. Um prato saboroso pelo assado e os toques adocicados do molho, cebolas e abóbora cambotcham. Ficou muito bem com o grande Cheval, o qual tinha acidez para combater a gordura e não necessitava de taninos na harmonização, e sim delicadeza, o que tinha de sobra.

mani leitoa

Maní: leitoa com abóbora

Para encerrar o almoço, nada menos que um Climens 1990, com seus 27 anos de plena juventude. Que equilíbrio! que delicadeza!. É o grande nome de Barsac, moldando um estilo elegante e menos opulento que os demais Sauternes. O poder de fruta, os toques de botrytis e o ponto certo entre açúcar, acidez e álcool. Agradavelmente macio, intenso, e longo, num final lindo com notas de marron-glacê.

climens 90

a delicadeza em forma de Botrytis

A sobremesa abaixo do restaurante Maní é uma releitura do quindim. Proporcionou um contraste de texturas muito interessante com o Sauternes, além da sintonia de sabores. O vinho com sua delicada untuosidade caiu como uma calda para a sobremesa, valorizando a sensação de ambos, prato e vinho.

mani quindim

Maní: a releitura do quindim

Falando um pouco das decepções, Petrus 82 novamente uma surpresa. É bem verdade, que 82 não foi um grande ano para este enigmático chateau. Normalmente, o rei de Pomerol está sempre aquém de seu apogeu e muitas vezes, irritantemente fechado, não quer conversa. Neste caso não, estava sem graça. Agradável para beber, mas sem a complexidade esperada. Em algum momento, ainde pego ele de jeito.

Quanto aos dois Pichons, um supostamente falso, nenhum agradou em cheio. E olha que Pichon 82 para muitos, é o melhor 82 de todos, o que não é pouca coisa. O mais interessante é que o supostamente falso, estava melhor que o sem grandes predicados verdadeiro. De certo modo tem lógica. Ninguém vai fazer uma falsificação barata com este tipo de vinho. Não tem dúvida que o falsário é um grande degustador.

coche 2013

a grande surpresa do almoço

Terminando pelo início, o vinho acima da Niepoort, notável casa do Douro, reputada pelos seus magníficos Colheitas, mostrou que agora existe o grande branco de Portugal. Ele foi servido às cegas ao lado de um Meursault-Perrières Leroy 1998. Deu um banho de elegância e sutileza, mostrando que as castas brancas do Douro quando bem trabalhadas, são capazes de fazer maravilhas. Fermentado em barricas francesas, essas vinhas entre 60 e 100 anos, geram vinhos profundos e sutis. Esse Dirk Niepoort sabe fazer vinho! E o nome Coche é de uma irreverência ímpar. Parabéns!

Agradecendo a companhia de todos presentes e lamentando a ausência de alguns, espero ve-los em breve para novos desafios e o bom papo de sempre. Abraço a todos!

Clássicos de Cuba

15 de Setembro de 2015

Apesar de ser um apreciador dos Puros, não sou especialista na área. Tenho para mim que o mundo dos charutos divide-se em dois: Os Puros e os demais. Para ter certeza que você está fumando um Puro, você tem três chances de confirma-lo. No primeiro terço, você diz: pode ser um Puro. No segundo terço, você diz: acho que é um Puro. No último terço, você decreta: tenho certeza que é um Puro. Em suma, no início do charuto, você pode até ter dúvidas, mas no decorrer da fumaça, os Puros são imbatíveis.

Esse artigo vai para meu amigo Thomas Ziemer, grande apreciador de Puros. Vou comentar sobre cinco clássicos que pessoalmente gosto muito e que para a maioria da crítica especializada não há conflitos. Evidentemente, o gosto pessoal está implícito, mas a gama é variada e altamente consistente ao longo do tempo. A ordem não obedece uma classificação de qualidade e sim de estilo e bitola dos charutos.

Partagás D4 Série RR

Partagás D4

Um Robusto de grande personalidade. A fábrica Partagás tem por estilo moldar charutos de grande fortaleza, charutos para fumadores experientes. Meu conselho é fumá-los após as refeições como um belo digestivo. Os primeiros terços vão bem com vinhos fortificados como Porto e Madeira, mas o terço final pede destilados de alto calibre como runs, cognacs e Malt Whisky. Fácil de encontrar e muito consistente em qualidade.

Aromas inebriantes

Montecristo n°2

Não sou um grande fã da marca, mas este número 2 é espetacular. Um figurado fascinante. Seu fluxo é intenso e avassalador. Suas notas terrosas, de chocolate e especiarias, são harmoniosas e marcantes. Deve ser apreciado após pratos consistentes e não necessariamente gourmets. Por exemplo, uma bela feijoada. Seguindo nesta pedida, caipirinha com o prato e rum añejo para o Puro. Se não houver limites, o último terço com um Malt de Islay turfado é a glória. Que tal um Lagavulin 16 anos!

Imbatível neste formato

Hoyo de Monterrey Double Corona

Este é o Borgonha dos charutos. Não é fácil encontra-lo apesar de seu preço um tanto salgado, mas vale cada centavo. Uma elegância impar. Suas notas delicadas de primeiro terço te leva às nuvens. Deguste-o sem pressa. Afinal, são pelo menos duas horas de puro deleite. Aqui um Madeira Malmsey ou Boal cai como uma luva. Um prato de peixe ou ave acompanhado por um Borgonha é o prefacio ideal.

Bolivar diferenciado

Bolivar Belicosos

Outro figurado de rara beleza. O preferido de Istvan Wessel, grande gourmet. Apesar da marca ser conhecida pelos puros de grande fortaleza, este exemplar esbanja elegância e uma certa sutileza, sobretudo no primeiro terço. Com o tempo, ele vai ganhando força, mas sempre acompanhado de suavidade. Escolha um Cognac devidamente envelhecido. Um X.O. seria perfeito. A sutileza desses Cognacs sublima a harmonização.

Elegância e Potência em sintonia

Cohiba Trinidad

Apesar de toda a fama e glamour da marca não está entre meus preferidos. Entretanto, a exceção é seu Trinidad. Puro de alta complexidade e elegância. Vai um pouco na linha do Belicosos acima. Suas notas de mel, couro e especiarias são bem dosadas, sempre com um final bem acabado e marcante. Um Porto Colheita para a harmonização seria uma boa pedida. Niepoort e Noval são belas escolhas.

Porto Cinco Estrelas

14 de Julho de 2015

Com a chegada do inverno, o Porto (o mais famoso fortificado do mundo) ganha naturalmente seu lugar de destaque. Seja como vinho de meditação, para acompanhar sobremesas mais calorosas, queijos de sabores mais pronunciados e até mesmo, para escoltar Puros numa boa conversa. Evidentemente, as opções de marcas são inúmeras, além de faixas de preços bem variadas. Some-se a isso as várias categorias de Porto, e a equação torna-se complexa. Infelizmente, não há milagres. Os bons produtos sempre serão reconhecidos e valorizados ao longo do tempo. Neste sentido, segue uma lista pessoal de cinco estrelas do Porto, sobretudo nos critérios de qualidade, tradição e consistência.

Safra soberba e pouco lembrada

Taylor´s Fladgate & Yeatman

Aqui o assunto são Vintages. Embora sua seleção de Portos com declaração de idade seja de grande qualidade, seus Vintages são quase imbatíveis, sem falar na excepcional Quinta de Vargellas, componente indispensável na elaboração dos Vintages Clássicos. Safras 1963, 1970, 1977 e 1994, são altamente recomendáveis. Como curiosidade, a safra 1992 com 100 pontos, tem o brasão da Casa impresso no garrafa em comemoração aos 300 anos desta instituição (1692).

Uma das exclusividades desta tradicional Casa, é o “Porto Vintage Quinta de Vargellas Vinha Velha”. Localizada no chamado Douro Superior, Vargellas por si só, já é uma exclusividade. Seus frutos geram vinhos diferenciados que vão marcar definitivamente seus grandes Vintages Clássicos. Dentro desta exclusividade, há pequenas parcelas de vinhas muitos antigas (entre 80 e 120 anos) que representam apenas 2% da produção total desta Quinta. Em anos especiais, esses vinhos são vinificados separadamente, dando origem a um Porto Vintage de exceção. Até hoje, foram lançadas no mercado apenas seis safras desta maravilha.

1963: safra mítica do século XX

Porto Fonseca

Esta Casa fundada em  1815 tem forte ligação com a Taylor´s, quando foi incorporada ao grupo nos anos pós-guerra (segunda guerra mundial). Seus Vintages são excepcionais, em nível idêntico de qualidade aos da Taylor´s. Além dos Vintages, seu LBV Infiltered é de grande reputação, dando uma boa ideia do que pode ser um Vintage. Seu produto mais famoso e popular é o Porto Bin 27, um Finest Reserve de grande consistência. Concentrado, frutado, é uma ótima opção para um Porto diferenciado nesta categoria relativamente simples.

A história da Fonseca começa com as famílias Monteiro, Fonseca e Guimaraens. O primeiro grande Vintage da Casa data de 1840, quando este estilo de vinho começou a firmar-se como tal. Sua mais famosa Quinta, Panascal, produz um Porto exclusivo, além de seu Vintage Clássico.

Joia da Coroa

Quinta do Noval

Esta Casa é uma verdadeira instituição no Vinho do Porto. Deixando o Quinta do Noval Vintage Nacional de lado, pois trata-se de uma peça de exceção deste fortificado duriense, seus demais Vintages e Colheitas são de grande categoria. Destaque para seu incrível LBV Infiltered. Quando lançado em anos não declarados para Vintage, comporta-se como tal, de maneira camuflada pelas rígidas regras. A titulo de informação, a categoria LBV foi inspirada na Quinta do Noval com a safra de 1954. Lançado em 1958, fez história e lançou um novo estilo de Porto.

Para aqueles que não querem surpresas num Porto 40 Years Old, evolução máxima em Portos com declaração de idade, Quinta do Noval é um “porto seguro”. Seu blend e os cuidados no envelhecimento em pipas, fazem deste Porto uma compra diferenciada. Poucas Casas se arriscam neste Porto de exceção.

Fundada em 1715, esta Casa foi incorporada em 1993 ao grupo francês AXA, com propriedades famosas na região bordalesa (Châteaux: Pichon-Longueville, Suduiraut e Petit-Village). Prestígio e garantia de sucesso na longa história desta Quinta.

Niepoort

De  origem holandesa, esta Casa prima por seus diferenciados Colheitas, bem como os Portos com declaração de idade. Com longo envelhecimento em pipas, esses vinhos ganham grande complexidade ao longo dos anos, chegando ao mercado prontos para serem apreciados.

Como curiosidade, Niepoort mantem uma linha de Porto exclusiva chamada de “Garrafeira”. São garrafões de oito a onze litros de capacidade denominados “demijohns”. A safra 1977 após passar cinco anos em madeira, foi transferida para estes recipientes e conservada nos mesmos durante 28 anos. Em 2007, houve o engarrafamento definitivo para comercialização. As vinhas correspondentes à esta safra são exclusivamente do Cima Corgo (região nobre do relevo duriense) com idades entre 80 e 100  anos. De certo modo, o termo “Garrafeira” tenta reproduzir os grandes “Madeiras”  em sua categoria de excelência.

Compra sempre certeira

Graham´s Port

Pertencente ao grupo inglês Symington desde 1970, sua linha de Vintages e Colheitas merece respeito. Sua grande Quinta Malvedos elabora um dos Portos mais exclusivos. De linha relativamente básica, temos o clássico Six Grapes, um Porto Reserve comparável em qualidade ao Fonseca Bin 27, já mencionado acima.

Como toda boa tradição inglesa, Graham´s conserva ainda uma categoria de Porto praticamente extinta, o chamado “Crusted Port”. Trata-se de uma espécie de Vintage de algumas safras (normalmente duas ou três). Este blend é amadurecido em tonéis por alguns anos, e posteriormente engarrafado (datado no rótulo) para o devido envelhecimento. Comporta-se em seu processo evolutivo como um Vintage, inclusive criando os famosos sedimentos. Daí o nome, Crusted.

Enfim, Porto Cinco Estrelas ou, as Cinco Estrelas do Porto, tem o mesmo significado. São Casas da mais alta reputação, superlativas, quaisquer que sejam os critérios de julgamento. Comparado aos Bordeaux, outra paixão inglesa, esses são os verdadeiros Premiers Grands Crus Classés do belíssimo Vale do Douro.

Graham´s e Niepoort – http://www.mistral.com.br

Fonseca – http://www.vinci.com.br

Quinta do Noval – http://www.alentejana.com.br

Taylor´s – http://www.qualimpor.com.br

Vinho do Porto: Vintage ou Colheita

20 de Maio de 2010

Niepoort: uma das maiores referências na categoria

Embora num primeiro momento os termos pareçam ser semelhantes, na verdade são duas grandes categorias de Vinho do Porto com propostas antagônicas.

O chamado Porto Colheita é elaborado com uvas de somente uma safra, a qual é obrigatoriamente declarada no rótulo. Seu processo de elaboração prevê um amadurecimeto de pelo menos sete anos em madeira, antes do engarrafamento e comercialização. Evidentemente, os grandes Colheitas ficam muito mais tempo. De qualquer modo, é obrigatório também, a data do engarrafamento, mencionando que o vinho passou em madeira todo este período, conforme exemplo ilustrativo acima.

As características principais desta categoria são calcadas em sua elaboração de caráter oxidativo, ou seja, neste período longo em contato com a madeira, o vinho adquire notas interessantes de frutas secas, baunilha e toda a família de empireumáticos (caramelo, café e chocolate, por exemplo). É importante ressaltar que a madeira em questão não é nova. Geralmente são pipas de carvalho já utilizadas para não marcar o vinho de maneira agressiva. As uvas selecionadas para esta categoria apresentam certas peculiaridades, sobretudo quanto ao ótimo nível de acidez e rendimentos baixos para uma boa concentração de sabores.

Em termos de gastronomia, este tipo combina muito bem com doces de frutas secas, boa parte dos doces portugueses à base de ovos (é a categoria de Porto mais próximas dos Moscatéis Fortificados) e até alguns pratos com foie gras. Faz grande parceira com os charutos, notamente os “puros”. Para safras especiais e antigas, pode ser apreciado como vinho de meditação.

Fonseca Guimaraens: grande reputação em safra excepcional

A despeito da categoria Vintage gozar de glamour e prestígio irrefutáveis, não faz o menor sentido compará-la aos Colheitas, os quais apresentam conceitos de elaboração diferenciados, descritos acima.

O Vintage também é elaborado com uvas de somente uma safra, obrigatorimente declarada no rótulo. Pela legislação, deve passar de dois a três anos em madeira (normalmente em balseiros de grande capacidade para evitar ao máximo a oxidação), com posterior engarrafamento, também com obrigatoriedade da respectiva data. Seu envelhecimento deve ser feito em garrafa por muitos anos (no mínimo 10 anos para os mais anciosos). Dependendo da safra, pode evoluir por décadas. Deve ser obrigatoriamente decantado algumas horas antes de ser servido, pelos motivos de sedimentação (borras) e aeração.

Os Vintages quando relativamente jovens, apresentam uma concentração de geléia de frutas escuras excepcional. Os taninos são presentes e abundantes, e a persistência sempre muito longa. Com o envelhecimento, além da fruta, começam a desenvolver notas minerais, toques de chocolate, balsâmicos, ervas, especiarias, entre outros. As uvas para este tipo de vinho devem apresentar maturação extraordinária, grande concentração e destacada estrutura tânica. Daí, sua longa evolução em garrafa, em ambiente redutivo (ausência de oxigênio), proporcionando uma polimerização de taninos lenta e gradual.

Na mesa, combina muito bem com sobremesas à base de chocolates que envolvam frutas secas, caldas de frutas vermelhas, além de queijos azuis (o clássico inglês Stilton) e charutos potentes com notas achocolatadas. No caso dos queijos, é necessário que o Vintage tenha certa evolução com a devida polimerização de taninos, evitando arestas com o sal mais evidente.

Portanto, duas categorias nobres e incomparáveis. Para os especialistas, os Colheitas são obras do homem. Jà os Vintages, são obras de Deus.

Polemizando um pouquinho mais, a combinação ideal do famoso queijo Serra da Estrela divide opiniões fervorosas. Faça você mesmo a prova, colocando estes dois grandes vinhos lado a lado. Provavelmente você  não chegará a um veredito, mas que vai faltar queijo ou vinho, isso vai.

Niepoort – importadora Mistral (www.mistral.com.br)

Fonseca – importadora Vinci (www.vinci.com.br)


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