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Comidinhas e Charuto

28 de Janeiro de 2019

Comer e fumar ao mesmo tempo definitivamente não é uma prática saudável. Mesmo os fumantes inveterados, dão uma pausa quando se trata das refeições. Contudo, há situações no dia a dia que devem ser encaradas, além de procurarmos soluções através delas.

Adepto ao charuto gourmet, pessoalmente, é muito bom complementar uma bela refeição com vinhos, acendendo um Puro no final como digestivo e combustível para boas conversas. Entretanto, existem pessoas que gostam de fazer um happy-hour com charutos justamente quando estão de estômago vazio e bate aquela fome nesta hora. Elas não estão a fim de refeições fartas e sim comer alguma coisa jogando conversa fora.

De todo modo, é difícil colocar um alimento na boca e em seguida ingerir fumaça. Definitivamente, o estado sólido com o gasoso não conversam diretamente. É preciso um elemento liquido para tentar fazer esta união. Daí, surgem os vários tipos de bebidas. Procurando concilia-las com os alimentos, pode surgir uma nova combinação interessante e um elo de harmonia entre os três estados da matéria.

Sabemos que os melhores parceiros para os charutos são bebidas de grande força e personalidade como os destilados, por exemplo. Evidentemente, há alternativas com vinhos, cervejas, e toda a sorte de coquetéis, mas a presença de um destilado é soberana. Seguindo esta linha, vamos a exemplos práticos.

Nesta linha de happy-hour e descontração, nada como finger foods para facilitar o serviço e deixa-lo mais casual. Que tal um canapé de salmão defumado!

salmao defumado e whisky

Excelente pretexto para um Single Malt de Islay, um dos terroirs escoceses mais distintos desta nobre bebida. O alto teor de turfa deste tipo de whisky com toques medicinais complementa perfeitamente os distintos sabores do salmão defumado. Com isso, o whisky ingerido após um bocado, prepara o palato para os sabores do charuto que neste caso, podem até ser grande fortaleza. Sugestão: Lagavulin Islay Single Malt 16 years.

jamon-sherry

bela foto do site acima

Jamón Ibérico, Pata Negra, e Jerez. Fatias finas de um dos melhores presuntos do planeta, acompanhado por Jerez Amontillado. Sendo um vinho fortificado, constitui outra ponte interessante para charutos. Embora bastante seco, seus sabores e aromas conversam bem com toques esfumaçados.

patês e terrines com armagnac

A foto acima remete a patês e terrines tendo torradas como berço. Partindo do princípio que várias receitas de patês, sobretudo de caça, levam aguardente como cognac ou armagnac, fica fácil imaginar esta perfeita combinação. Dependendo da carne utilizada no patê e seus acentuados temperos, a força de uma aguardente casa muito bem com esses sabores. Daí a combinação com charutos fica uma covardia. Quase nada se compara à perfeita harmonia de Puros com Cognacs ou Armagnacs. Embora de regiões e métodos de elaboração diferentes, suas sutis diferenças só são realmente detectadas por especialistas, partindo evidentemente de bebidas de mesma categoria de envelhecimento. O cognac parece ter mais finesse, enquanto seu concorrente da Gasconha tem mais punch, mais pegada. Enfim, os dois são maravilhosos.

bolinho de carne-seca com abóbora

Para pratos mais brasileiros, o bolinho acima, além do caldinho de feijão, acarajés, queijo coalho, entre outros, todos vão bem com uma autêntica caipirinha, aquela com cachaça boa. Sobretudo nos dias quentes de verão, é uma bebida refrescante. De certo parentesco com mojito, bebida caribenha, é outra combinação ideal com Puros, sobretudo os mais leves e elegantes como Hoyo de Monterrey.

bruschetta de funghi porcini

Voltando aos vinhos, nada como um bom Madeira com funghi porcini. Os Jerezes Olorosos também dão certo, mas são muito secos. Prefira versões menos doces dos Madeiras como Sercial ou Verdelho. São nomes de uvas mencionadas nos rótulos e têm a ver com a doçura da bebida. Sercial mais seco, e Verdelho menos seco. Além da combinação ser perfeita, os aromas de torrefação, frutas secas e notas balsâmicas do Madeira, vão de encontro às essenciais notas dos charutos que impregnam o palato.

rum e chocolate

Fechando o assunto, um final com chocolate é sempre reconfortante. Seja ele puro com alto teor de cacau, tortas, pavês, ou um ótimo tiramisu como da foto acima. Nesta hora, um bom expresso também da conta do recado. No entanto, uma bebida aromática, potente, e com um toque adocicado como os grandes rums da América Central e Caribe, são parceiros ideais para este casamento. Como Sugestão, o conceituado rum guatemalteco Zacapa, tanto na versão reserva, como na versão X.O. (Extra-Old).

Enfim, com uma boa turma de amigos, várias opções de bebidas, e uma seleção bem pensada de canapés, as baforadas estão garantidas. Aquele charuto que parecia isolado da enogastronomia, de repente pode agregar novas e surpreendentes experiências.

Em tempo, vou falar sobre harmonizações num curso de charutos na Casa Murdock em Moema, fevereiro próximo. Maiores informações: http://www.casamurdock.com

Turfando em Islay

13 de Julho de 2017

Muita calma nesta hora, entre uma taça e outra neste turbilhão de fumaça. Estamos falando de Islay, pronuncia-se “aila”, do longínquo gaélico de terras escocesas. Este é o Single Malt mais impactante de toda a Escócia, uma espécie de Jerez no mundo dos vinhos. Aqui não tem meio termo: ame-o ou deixe-o!. Não há concessões.

Este impacto olfativo cheio de personalidade vem de uma substância incorporada ao processo de elaboração do scotch whisky chamada turfa ou “peat” para os escoceses. Não confundir com trufa, iguaria requintada. A turfa é formada ao longo de eras geológicas pela decomposição de material orgânico, acumulando gases em camadas mais profundas. Por ser um material combustível, é empregado na secagem do malte transmitindo assim, seu aroma marcante de caráter medicinal. Tanto é verdade, que no período da “Lei Seca” nos Estados Unidos, esses Malts de aromas iodados eram receitados por médicos em determinadas situações.

Aliás, voltando ao Jerez ou Sherry, os maltes de Islay por ficarem armazenados em depósitos à beira mar no período de amadurecimento em madeira, acabam absorvendo certa salinidade, mineralidade, comum também ao fortificado espanhol, principalmente as Manzanillas.

turfa Peat_Lewis

 turfa: solo escuro e úmido

Traduzindo em números, os Malts de Islay  são defumados lentamente na proporção de 5 a 6 toneladas de turfa para 48 toneladas de cevada maltada. Já em outras regiões escocesas, a proporção é de 2 a 3 toneladas de turfa para 300 toneladas de cevada. Portanto, não há como passar despercebido.

Apenas para posicionarmos o Malt  Scotch Whisky, sua elaboração pressupõe somente cevada maltada, isto é, o ponto ideal de germinação do grão com adição de água para transformação do amido em açúcar. Neste momento, a germinação é interrompida com a secagem, que no caso de Islay, emprega o combustível turfoso para aquecimento, transmitindo assim, seu rico aroma.

Nesta degustação, confrontamos lado a lado, diversos maltes de Islay, cada qual com sua característica, além de teores de turfa variados. Começando com o menos impactante, o clássico Lagavulin aged 16 years, juntamente com o Laphroaig aged 10 years.

fernando lagavulin laphroaig

grandes clássicos

Difícil cravar um palpite certeiro sobre o embate acima. Laphroaig, o preferido do príncipe Charles, é muito mais impactante no quesito turfa, muito mais medicinal. Já o delicioso Lagavulin tem outras facetas como um lado mais caramelado e de mel, sem perder a identidade da ilha. Para um iniciante em Islay, Lagavulin pode ser delicioso, enquanto Laphroaig, assustador.

fernando ardbeg e octomore

aqui se separa os homens dos meninos

No trio acima, a turfa comanda o espetáculo. Começando com Ardbeg 10 years old, e já o comparando com seu eterno rival Laphroaig de mesma idade, temos muito mais complexidade em jogo no primeiro Malt. Laphroaig é muito vertical, muito incisivo, enquanto Ardbeg além de impactar pela turfa, tem outros trunfos na manga. Tem um lado de mel, de tostado, de ervas, ampliando o aspecto olfativo. Jim Murray, especialista britânico em Whisky, diz em seu livro: “se eu tivesse um cheque em branco para comprar uma destilaria, passaria algumas poucas pela mente somente por alguns instantes, mas Ardberg seria a única escolha”. De fato, Ardbeg é uma espécie de Montrachet de Islay, unindo a força de um Batard-Montrachet (no caso, Laphroaig) com a elegância de um Chevalier-Montrachet (Lagavulin).

Ardbeg Distillery and new on site accommodation on Islay in the Inner Hebrides.

a influência marítima de Islay

Subindo agora na escala, vamos ao Ardbeg Corryvreckan que além de maturar em barris de whisky americano (Bourbon) e de Sherry (Jerez), uma parcela é envelhecida em carvalho novo francês, aumentando a complexidade do conjunto. Em relação ao Ardbeg 10 anos, sua força e complexidade são amplificadas. Embora para todos os Malts até agora citados, seja importante um acréscimo de água mineral na degustação, para este Corryvreckan passa a ser imperativo, pois além da diluição do álcool, há uma amplificação dos aromas multifacetados. Aqui já estamos falando em 46% de álccol para o 10 anos, e 57% para o Corryvreckan.

É bom destacar outro ponto importante nos Ardbegs, preservando sabores e características autênticas de terroir. Seus Malts são elaborados por um processo extremamente natural chamado “non chill-filtered”, ou seja, não são submetidos à filtração de friagem, onde baixas temperaturas acabam removendo certos sólidos  e óleos importantes, descaracterizando o produto, a despeito de uma cor mais clara e cristalina. Esta menção está em seus rótulos. Ardbeg é importado no Brasil com exclusividade pela LVMH.

Por fim, esta espécie de bomba atômica na extrema direita da foto, trata-se do Octomore 07.1_208. Traduzindo, a linha Octomore é a mais turfosa da destilaria Bruichladdich, denominada “super heavily peated whisky”, ou seja, extremamente turfosa. Tanto é verdade, que este exemplar apresenta 208 ppm (nível de fenóis em parte por milhão). Se você não tem noção deste número, basta lembrar que os Ardbegs citados giram em torno de 50 ppm em termos de fenóis.

fernando behike islay

fumaça extra providencial

Para completar este vulcão, seu nível de álcool chega a 59,5%. Isto somado a apenas cinco anos de maturação em carvalho americano, torna esse Octomore um Malt super impactante, e de alta persistência aromática. Os níveis de turfa e defumação deste whisky são capazes facilmente de encarar um arenque defumado com a maior tranquilidade. Para harmonizar com charutos,  pense nos Puros mais potentes, sobretudo em seu terço final. Behikes, Partagas Lusitanias, e outros deste perfil, são os mais indicados.

fernando laphroaig e caol ila

para amenizar tempestades

Após esse trio arrasador, um momento de suavidade. Os dois exemplares acima amenizam o alto impacto da turfa. O duplo envelhecimento em madeira do Laphroaig QA Cask, primeiramente em ex-Bourbon, seguido de carvalho americano novo, ameniza os aromas medicinais, ganhando um defumado advindo da madeira. Bem mais acessível que o tradicional, porem descaracterizando de certa forma a virilidade de um autêntico Laphroaig clássico.

Já o originalíssimo Caol Ila Distillers Edition, maturado em casco de antigos Moscateis (imagino que seja Moscatel de Setúbal), mostra o lado feminino dos impetuosos maltes de Islay. Lembra de certa forma um Lagavulin, porem com mais elegância e exotismo. Voltando às aulas de gaélico, Caol Ila significa “profundo braço de mar de Islay”, braço este que separa Islay de Jura, outra ilha vizinha.

Concluindo, Islay pode não ser o melhor whisky do mundo, mas sem dúvida nenhuma, o mais marcante. De todo modo, faz parte deste vasto mundo chamado Whisky, onde a Escócia reina absoluta no mais complexo destilado mundial.

Scotch Whisky ou Malt Whisky?

25 de Janeiro de 2016

O uísque escocês é a bebida mais poderosa e vendida no mundo, liderada pelo conhecidíssimo Johnnie Walker. Evidentemente, não só a Escócia produz uísque. O Bourbon americano também tem seu destaque, por exemplo. Voltando ao tema, o que normalmente chamamos de Scotch Whisky é um blend de dezenas de whiskies produzidos em toda a Escócia e proveniente de vários grãos, e não só a cevada. Nesta mistura entretanto, o que dá efetivamente personalidade à mesma é o Malt Whisky agregado àquela marca. Sem ele, além da bebida ficar “diluída”, perderia muito em caráter.

Neste contexto, essas informações não são claramente divulgadas. Quais os malts que participam da mistura, em que proporção eles são adicionados, a idade dos mesmos, e assim por diante. Podemos dizer que mais de 90% da produção escocesa é de Blended Scotch Whisky. A proporção de Malt Whisky na mistura varia entre 20 e 40%, dependendo da marca. Seguem alguns exemplos de blends famosos e seu respectivo malt whisky.

Single Malt Cardhu é o coração da famosa marca Johnnie Walker. É um Malt da região de Speyside, macio, aromático, e com notas de mel.

Cragganmore e Glendullan são dois malts de Speyside que compõem o Blended Whisky Old Parr. Um Scotch elegante, macio e com boa presença em boca. Mais uma vez, percebemos a suavidade de Speyside.

knockando

fato rara: safra declarada

Knockando, outro malt de Speyside. Whisky delicado, bem estruturado, e serve de base para os famosos blends J&B. No rótulo acima podemos perceber a safra (1977) e o tempo de envelhecimento em barril (14 anos). Foi engarrafado em 1991. Normalmente os Malts são misturas de safras e partidas com declaração de idade nos rótulos. Um whisky 10 anos por exemplo, quer dizer que o lote mais jovem do blend tem esta idade.

buchanan´s

elegante e consistente

Na foto acima, o blend Buchanan´s tem como malt principal o exótico Dalwhinnie. É um Scotch elegante, com notas de ervas e característico mel.

white horse

o tradicional Cavalo Branco

O famoso Scotch acima tem como grande parte de sua estrutura o exótico Lagavulin da ilha de Islay, um dos mais poderosos turfados Single Malt. Um Scotch diferente, não muito óbvio e que tem um publico fiel.

Outro belo Scotch Whisky Logan apresenta em sua composição três malts de grande tradição e complexidade. São eles: Lagavulin (um belo turfado de Islay), Glen Elgin (Speyside, dando suavidade ao conjunto) e Craigellachie (outro Speyside de grande complexidade). Jim Murray, especialista britânico, compara este ultimo Malt ao suntuoso Macallan, single malt de preços estratosféricos.

todas as possibilidades do Scotch

Acima, podemos ver todas as variações da bebida. No quadro abaixo, o que importa comercialmente são as duas categorias principais: Blended Scotch Whisky e Single Malt. As outras possibilidades praticamente não chegam ao Brasil. Valem mais pela curiosidade.

Segundo estatísticas do órgão Scotch Whisky Association de 2014, a produção de Malt Whisky tem se mantido por volta de 40% do total, enquanto a produção de Grain Whisky (milho ou trigo) é de 60% do total. Já nas vendas dentro do Reino Unido, temos cerca de 13% de Malt Whisky engarrafado e o restante do engarrafamento de Blended Whisky.

No setor de exportações, nem só de vinho vive a França. O país é o maior importador mundial da bebida com destaque para os Blends Whiskies, ultrapassando por exemplo, os Estados Unidos.

whisky estatisticas 2014

sing malt x blended whisky

No gráfico acima percebemos a supremacia do blended whisky tanto no volume exportado, como nos valores. Por outro lado, a exportação de Single Malt tem um valor agregado significativo. Apenas para se ter uma ideia do poder de “fogo” (grana) que esta bebida tem, em 2014 as exportações de Scotch Whisky alcançarão praticamente quatro bilhões de libras esterlinas!

Quanto à preferência entre Malt e Blended Whisky trata-se de uma questão pessoal. Alguns acham os Malts muito potentes, difíceis de serem tomados em quantidades mais generosas, sobretudo para aqueles que consomem a bebida diariamente. No entanto, dentro de certos momentos, a força, o caráter e o sabor envolvente de um grande Malt é notável. De qualquer modo, a importância de ambos é fator decisivo na hegemonia mundial deste grande destilado.

Para os amantes do vinho e da boa gastronomia, após a refeição, é a hora apropriada para um bom Whisky, por exemplo. Uma boa conversa, uma boa música e alguns Puros, completam a cena.

Clássicos de Cuba

15 de Setembro de 2015

Apesar de ser um apreciador dos Puros, não sou especialista na área. Tenho para mim que o mundo dos charutos divide-se em dois: Os Puros e os demais. Para ter certeza que você está fumando um Puro, você tem três chances de confirma-lo. No primeiro terço, você diz: pode ser um Puro. No segundo terço, você diz: acho que é um Puro. No último terço, você decreta: tenho certeza que é um Puro. Em suma, no início do charuto, você pode até ter dúvidas, mas no decorrer da fumaça, os Puros são imbatíveis.

Esse artigo vai para meu amigo Thomas Ziemer, grande apreciador de Puros. Vou comentar sobre cinco clássicos que pessoalmente gosto muito e que para a maioria da crítica especializada não há conflitos. Evidentemente, o gosto pessoal está implícito, mas a gama é variada e altamente consistente ao longo do tempo. A ordem não obedece uma classificação de qualidade e sim de estilo e bitola dos charutos.

Partagás D4 Série RR

Partagás D4

Um Robusto de grande personalidade. A fábrica Partagás tem por estilo moldar charutos de grande fortaleza, charutos para fumadores experientes. Meu conselho é fumá-los após as refeições como um belo digestivo. Os primeiros terços vão bem com vinhos fortificados como Porto e Madeira, mas o terço final pede destilados de alto calibre como runs, cognacs e Malt Whisky. Fácil de encontrar e muito consistente em qualidade.

Aromas inebriantes

Montecristo n°2

Não sou um grande fã da marca, mas este número 2 é espetacular. Um figurado fascinante. Seu fluxo é intenso e avassalador. Suas notas terrosas, de chocolate e especiarias, são harmoniosas e marcantes. Deve ser apreciado após pratos consistentes e não necessariamente gourmets. Por exemplo, uma bela feijoada. Seguindo nesta pedida, caipirinha com o prato e rum añejo para o Puro. Se não houver limites, o último terço com um Malt de Islay turfado é a glória. Que tal um Lagavulin 16 anos!

Imbatível neste formato

Hoyo de Monterrey Double Corona

Este é o Borgonha dos charutos. Não é fácil encontra-lo apesar de seu preço um tanto salgado, mas vale cada centavo. Uma elegância impar. Suas notas delicadas de primeiro terço te leva às nuvens. Deguste-o sem pressa. Afinal, são pelo menos duas horas de puro deleite. Aqui um Madeira Malmsey ou Boal cai como uma luva. Um prato de peixe ou ave acompanhado por um Borgonha é o prefacio ideal.

Bolivar diferenciado

Bolivar Belicosos

Outro figurado de rara beleza. O preferido de Istvan Wessel, grande gourmet. Apesar da marca ser conhecida pelos puros de grande fortaleza, este exemplar esbanja elegância e uma certa sutileza, sobretudo no primeiro terço. Com o tempo, ele vai ganhando força, mas sempre acompanhado de suavidade. Escolha um Cognac devidamente envelhecido. Um X.O. seria perfeito. A sutileza desses Cognacs sublima a harmonização.

Elegância e Potência em sintonia

Cohiba Trinidad

Apesar de toda a fama e glamour da marca não está entre meus preferidos. Entretanto, a exceção é seu Trinidad. Puro de alta complexidade e elegância. Vai um pouco na linha do Belicosos acima. Suas notas de mel, couro e especiarias são bem dosadas, sempre com um final bem acabado e marcante. Um Porto Colheita para a harmonização seria uma boa pedida. Niepoort e Noval são belas escolhas.

Ardbeg: Single Malt para mudar conceitos

11 de Novembro de 2013

Ardbeg: a destilaria dos sonhos

A ilha de Islay é famosa por fornecer um single malt rico em aromas turfosos (a turfa é abundante na região e serve como combustível de defumação no aquecimento da cevada maltada). Entre suas preciosidades, podemos destacar facilmente o fabuloso Lagavulin e o imponente Laphroaig (talvez o single malt preferido do príncipe Charles). Entretanto, existe um single malt na ilha, não tão conhecido como os dois acima citados, que para muitos especialistas, é o whisky a ser degustado na sonhada ilha deserta, como último desejo. Eis o estonteante Ardbeg Islay Single Malt Scotch Whisky. Jim Murray, o grande especialistas britânico, diz em seu livro: “Se eu tivesse um cheque em branco para comprar uma destilaria, poderia pensar em duas ou três por alguns segundos, mas a escolha certeira teria que ser Ardbeg”.

Não é exportado para o Brasil

O vídeo abaixo é de outro especialista, Ralfy Mitchell, com suas degustações sempre muito didáticas (www.ralfy.com), falando um pouco da emoção de provar um Ardbeg Ten Years Old. Jim Murray corrobora com esta mesma ideia que The Ardbeg quando provado, provoca sensações diversas e mutantes a cada novo gole. Marmelo, maresia, evidentemente a turfa, caramelo, manteiga, sherry, mineral (pedra calcária), entre outros aromas, são os descritores mais recorrentes.

http://youtu.be/Zk5jqKR2H6k

O processo de elaboração deste whisky passa por várias etapas, como veremos a seguir. O teor de turfa no malte é de 50 ppm (partes por milhão), enquanto a maioria de outros maltes de Islay contem de 20 a 30 ppm. Os moinhos para triturar a cevada são extremamente raros e tradicionais, datam de 1921. A água pura e cristalina utilizada no processo vem de uma fonte situada a três milhas da destilaria por um veio subterrâneo abaixo do lago Larnan. A etapa de embeber a cevada maltada para extrair o açúcar contido é feita em três tempos. Primeiramente, é adicionada água em temperatura de 68ºC para melhor extrair o açúcar inicial. Na segunda partida de água, a temperatura sobe para 80ºC, pois a extração de açúcar fica mais difícil. E na última partida, a água está em 85ºC. Em cada uma destas partidas, a água é drenada para os fermentadores que veremos em seguida. Os fermentadores foram construídos com pinus do Oregon (região noroeste dos Estados Unidos). O líquido sai depois de uma longa fermentação a 7,5 graus de álcool. Na sequência a destilação é feita em duas etapas em equipamentos de cobre onde o grau alcoólico sobe para 62,5º livre de impurezas. Na etapa de maturação, a madeira vem de várias fontes. São utilizados barris de Bourbon (whisky americano) de primeiro e segundo uso, além de barris de Sherry (Jerez). Há também a utilização de barris novos de carvalho francês. A proporção de cada tipo de barril é ditada pelas características e potência do lote de whisky em questão. Como a maturação ocorre junto ao mar, os aromas de maresia e iodo acabam influenciando na bebida.

No engarrafamento, este single malt não é fitrado (veja os dizeres no rótulo: non chill-filtered). Como nos vinhos artesanais, Ardberg não abre mão de óleos essenciais presente no whisky que trarão complexidade e textura ao mesmo.

Outra preciosidade desta destilaria é o potente Ardbeg Uigeadail, uma seleção das melhores partidas de vários whiskies nas últimas décadas, amadurecidos nos melhores barris de Sherry. Suntuoso e complexo. Jim Murray classifica-o com 97,5 pontos, quase perfeito.

Na sua próxima parada em algum Duty-free, lembre-se desta destilaria, mesmo que você não seja fã de destilados. Vale a pena correr o risco.

Single Malt Scotch Whisky: Parte V

19 de Setembro de 2011

Nesta última visita ao nosso mapa abaixo, falaremos dos grandes Maltes das Ilhas, notadamente a de Islay (pronuncia-se ai-la com entonação na primeira sílaba), os mais impactantes e dramáticos de toda a Escócia. Os aromas de turfa são realmente intensos, com forte caráter medicinal, lembrando de certo modo, os grandes Finos de Jerez. Não há meio termo: ame-o ou odei-o.

 

Das várias Ilhas como Orkney, Mull e Jura, falaremos apenas de Islay. Antes porém uma exceção, a Ilha de Skye, com seu estonteante Talisker. Com a devida licença, um desafio: se você é realmente macho, prove então o Talisker, um Single Malt de tirar o fôlego.

Talisker: Não desperdice nenhuma bebida depois dele

Deixei para o epílogo os grande Maltes de Islay, extremamente turfosos. Além do solo de turfa (famoso na região), as nascentes de água utilizadas nessas destilarias, correm muitos vezes por este tipo de solo. Portanto, a influência da mesma nestes Single Malts vem não só do combustível de secagem da cevada, como também, da água utilizada nas várias etapas de elaboração da bebida.

Solo de Turfa: decomposição de matéria vegetal combustível

Falar de Islay é falar de pelo menos três Maltes excepcionais e encontrados no Brasil, exceto Ardbeg (Pronuncia-se arbegui. Para muitos experts, o melhor Whisky do mundo). Laphroiag (pronuncia-se lafróigui, enfatizando o r e a última sílaba quase muda) e Lagavulin (pronuncia-se Lagavúlen enfatizando a terceira sílaba) são extremamente fiéis ao seu terroir. Altamente turfoso, medicinal, iodado e de sabor persistente. Para pratos com alto impacto de defumação como arenque por exemplo, encara com competência a harmonização. O próprio salmão escocês defumado é um casamento local. Normalmente, o envelhecimento em barris de Jerez (Sherry), além da influência da maresia nos galpões de estocagem, reforçam as características acima e uma certa salinidade bem peculiar.

Lagavulin 16 Years Old: A perfeição da turfa

Finalizando, podemos citar o Single Malt de Campbeltown chamado Springbank, com seu equilíbrio entre malte e turfa, além da influência marítima.

Para os raros Single Malt das Lowlands (Terras Baixas), não perca tempo. Prove Rosebank, se encontrá-lo. Há experts que dizem: se este Single Malt estiver numa degustação às cegas com outros  das Highlands, melhor não arriscar um palpite precipitado. É macio, sedutor, mas definitivamente profundo.


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