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Harmonização: Atum com Erva Doce

26 de Março de 2012

Revendo algumas revistas da publicação francesa “Cuisine et Vins” da década de 90, vale a pena comentarmos a harmonização sugerida para o prato Thom à la Moutarde (Atum ao molho de Mostarda). Na verdade, o interessante é a marcante presença da erva doce fresca, encontrada com certa facilidade em nossas feiras.

Foram propostos vários tipos de vinhos para críticos especializados, entre eles Jean Lenoir, autor do famoso Le Nez du Vin, com muita diversidade de opiniões, mostrando a pluralidade que envolve as harmonizações entre vinhos e pratos. Os vinhos que mais se destacaram foram o tinto da foto abaixo (Bourgueil de Pierre-Jacques Druet, tinto do Loire com base na Cabernet Franc) e o pouco conhecido Hermitage branco Chante Alouette da maison Chapoutier.

 

Atum: peixe com textura diferenciada

A receita fala em postas frescas e espessas de atum, pimentão vermelho, erva doce fresca, azeite de oliva, creme de leite fresco (crème fleurette, especialidade normanda), mostarda em grãos, cebolinha, aniz estrelado e cogumelos (pode ser o de Paris ou Shitake, este último, mais saboroso). A erva doce é cozida em água com aniz estrelado e o pimentão em azeite. Os cogumelos são preparados com o creme de leite e a mostarda em grãos. Os filés de atum são grelhados e tudo então é misturado para a finalização com a cebolinha fresca finamente picada.

O tinto à base de Cabernet Franc mostra afinidade com o pimentão, a mostarda e os cogumelos, principalmente com alguns anos de garrafa. A erva doce enriquece a harmonização, mantendo um bom frescor final. A textura do atum e do próprio molho combinam com o corpo do vinho. Um Pinot Noir pode dar certo, desde que haja uma calibragem correta da textura do vinho. O problema são os toques herbáceos que não encontrarão eco neste tipo de uva.

Já o Hermitage branco com base nas uvas Marsanne e Roussanne, é uma grata surpresa. A erva doce amplifica os aromas do vinho, num casamento surpreendente. O corpo e textura do vinho adequam-se perfeitamente ao prato, tanto pela cremosidade do molho, como pela textura do atum. Com alguns anos de garrafa, até os cogumelos casam-se com o vinho.

Enfim, um prato exótico e uma experiência enogastronômica interessante com vinhos pouco comuns, tanto o tinto, como o branco. Como sugestão, o Bourgueil da Domaine Yannick Amirault (www.zahil.com.br) e uma das únicas opções de Hermitage branco do competente produtor Paul Jaboulet (www.mistral.com.br).

Harmonização: Steak Tartare

30 de Janeiro de 2012

Eis uma bela opção para o verão, principalmente para aqueles que não abrem mão de carne bovina. Embora o original seja semelhante à foto abaixo, existem inúmeras variações de ingredientes e temperos, inclusive sem a gema de ovo crua, a qual complica muito a harmonização. 

Outra observação importante é que tartare ou tartar (grafia muito comum hoje em dia) tornou-se um processo pelo qual, qualquer tipo de carne crua picada ou moída, agregada a molhos e outros ingredientes, recebe esta denominação. Mas atenção, a carne picada na ponta da faca apresenta sempre textura incomparável à mesma carne passada no moedor.

Atualmente, muitas variações do original

Voltando ao nosso Steak Tartare original, teremos alguns problemas de harmonização com vinhos tintos, apesar de estarmos falando em carne vermelha. Ingredientes que acompanham o prato como alcaparras, cebola crua, cornichons (pepino em conserva), azeite, tabasco e/ou molho inglês e a temida gema de ovo crua, desencorajam a maioria dos vinhos tintos com taninos presentes. De fato, a gema crua desossa qualquer vinho tânico, além da acidez do molho inglês e demais ingredientes que potencializam a sensação de amargor. Portanto, o vinho tinto ideal é o Beaujolais (uva Gamay), sobretudo um Villages, com mais concentração de sabor. Seu poder de fruta, sua acidez equilibrada e principalmente, sua baixa tanicidade, acomoda-se melhor às armadilhas do prato. Um borgonha simples, de preferência da Côte de Beaune, também apresenta características semelhantes.

Os brancos não devem ser descartados. Pelo contrário, podem ser belas alternativas. Um borgonha mais simples como um Saint-Véran (na prática, a versão branca do Beaujolais) ou um Macôn-Villages, apresentam textura e acidez adequadas ao prato com força aromática suficiente. Não desperdicem brancos ou tintos complexos com esta entrada. As sutilezas do vinho serão abafadas pela rusticidade dos ingredientes.

Quanto a brancos e tintos do Novo Mundo, a opção por Chardonnay sem madeira (unoaked) é sempre mais adequada, enquanto tintos de médio corpo com as uvas Tempranillo, Pinot Noir e alguns Malbecs, sempre sem madeira, também fazem sucesso.

Se a carne mudar para salmão ou atum, o branco costuma ser a primeira opção, embora a Pinot Noir com atum apresente uma empatia natural.

Em resumo, preste sempre atenção ao tipo de carne e a prevalência de algum ingrediente marcante. Esses itens vão definir com maior precisão o vinho mais conveniente. De resto, é curtir o momento.

Harmonização: Vitello Tonnato

26 de Janeiro de 2011

Mais uma boa opção no verão para aqueles que não dispensam carne, e fazem questão que não seja crua (carpaccio). É um prato típico do Piemonte, tradicionalmente servido como entrada e de fácil execução.

A harmonização com vinhos está muito mais ligada ao molho do que propriamente à carne, já que seu sabor é relativamente neutro, sobretudo se for de vitela. A carne (lagarto ou girello em italiano) é levemente marinada com algumas ervas, legumes e especiarias, e depois cozida lentamente em água com um pouco de vinho branco. Fica com o aspecto de nossa carne louca sem os temperos.

Entrada clássica do Piemonte

Já o molho é que vai dar sabor ao prato. Basicamente, é uma maionese incorporada com atum sólido, um pouco de alici e alcaparras. Com esses ingredientes e lembrando que a maionese tem como base ovos e óleo, os brancos são o caminho natural. A carne fria reforça ainda mais esta tese.

O vinho precisa ter certa textura, boa acidez sem exageros, e presença aromática de fruta, própria de brancos jovens. As escolhas locais ficam entre duas DOCG importantes de vinho branco, Roero Arneis (Arneis é uma uva autóctone) e Gavi (outra uva autóctone chamada Cortese). É evidente que um Chardonnay moderno e fresco, sem presença de madeira, pode harmonizar com sucesso. Entretanto, um leve toque de madeira, não chega a comprometer o conjunto. Um Sauvignon Blanc do Novo Mundo, de boa textura e com a força da juventude é outro opção segura.

Se você não abre mão de um vinho tinto, tente um  típico Dolcetto, com muita fruta e baixa tanicidade. Um Valpolicella ou um Chianti Colli Senesi são alternativas interessantes. O importante é a acidez do vinho estar presente, na qual os italianos são mestres.

Em resumo, tanto brancos como tintos, devem ser jovens, frescos e relativamente simples. Sempre temos que ter em mente, que trata-se de uma entrada. Os pratos de fundo sim, precisarão naturalmente de vinhos mais complexos e estruturados. Mesmo que não tenhamos outros pratos na sequência por ser verão, e optarmos por uma refeição mais leve, a lógica deve ser mantida. Afinal, todos esses vinhos sugeridos são a cara desta estação ensolarada.


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