Essa é uma boa parceria, Varanda Grill e Cult wines americanos. Num ótimo almoço com uma das melhores carnes de São Paulo, o desfile de vários notas 100 da elite americana fez uma parceria de primeira em termos de harmonização. Carnes extremamente suculentas, grelhadas com maestria, foram agraciadas com os mais potentes e finos taninos dos grandes tintos de Napa Valley. Para iniciar e selar o almoço, um branco e um tinto da vinícola butique Sine Qua Non foram a cereja do bolo com vinhos arrebatadores.
o time completo
Antes de partir para os tintos de Napa, vamos falar desta dupla Sine Qua Non com vinhos mágicos e cheios de personalidade. Trata-se de uma pequena vinícola ao norte de Los Angeles com inspiração nos vinhos do Rhône. Portanto, uvas como Syrah, Grenache, Viognier, Roussanne e Marsanne, são interpretadas de maneira magnífica com vinhos impactantes. Os vinhedos estão localizados em Santa Barbara, Santa Rita Hills e Santa Maria com rendimentos muito baixos.
vinhos de corpo e alma
O vinho da esquerda, The Petition 2005, é um corte inusitado com as uvas Chardonnay, Viognier e Roussanne com 15,8% de álcool. Um branco denso, encorpado, quase um Sauternes sem açúcar. Os aromas são de frutas exóticas, especiarias, notas de incenso, e algo floral. Tem o perfil dos grandes Hermitages brancos de topo de gama. Enfrenta bem pratos com bacalhau, carnes defumadas, e cozidos bem condimentados. Tem 95 pontos Parker. Um branco impactante.
Já o tinto à direita, The Inaugural 2003, vem do vinhedo Eleven Confessions em Santa Rita Hills. O vinho é à base de Grenache com 10% de Syrah. Passa 38 meses em barricas francesas. Uma explosão de aromas de frutas em geleia, especiarias, ervas, notas defumadas e um fundo mineral. Encorpado, denso, e muito longo em boca. Lembra os grandes Grenaches espanhóis e até algo dos grandes Prioratos. Tem 100 pontos Parker e muita vida pela frente, embora já delicioso.
Cabernets e suculência das carnes
O vinho da esquerda, Dalla Valle Maya 1992, um Maya histórico de 100 pontos. Pena que o vinho estivesse um pouco cansado, mas seus taninos são de veludo numa mistura de 55% Cabernet Sauvignon e 45% Cabernet Franc. Aromas elegantes com toques de cacau, defumado, e fruta escura lembrando ameixas. Exemplar difícil de ser encontrado que está no auge para ser bebido.
À direita, o único 100% Cabernet Sauvignon do painel da AVA Rutherford, Scarecrow 2006. Decantado por duas horas, é um vinho poderoso com vinhas de mais de 60 anos. Embora tenha passado por barricas novas francesas, o vinho tem fruta extraordinária com belos toques de alcaçuz. Seus taninos são bem moldados e casou perfeitamente com a suculência das carnes acima.
o filé-mignon de Napa
As AVAs acima, American Vitucultural Area, de Rutherford e Oakville, são os melhores terroirs para Cabernet Sauvginon americano. Do lado oeste, perto Mayacamas Mountains, o solo é aluvial e pedregoso, enquanto do lado leste, Vaca Mountains o solo tende a ser mais vulcânico. Vinícolas como Harlan Estate, Screaming Eagle, Dalla Valle, Opus One, Inglenook, Heitz Cellars, estão todas neste pedaço. Os Cabernets de Rutherford tendem a ser mais austeros, duros, enquanto os de Oakville são mais opulentos.
filé-mignon (tenderloin) perfeitamente grelhado
Este foi o vinho mais pronto, mais evoluído, e de estilo mais francês do painel. Um típico corte de margem esquerda com 93% Cabernet Sauvignon, 6% Cabernet Franc, e 1% Merlot, e 15 meses de barricas francesas novas. Delicioso com notas de tabaco, estrebaria, frutas escuras, ervas finas, café, além de taninos totalmente polimerizados. Não é muito longo em boca, mas superequilibrado. Casou perfeitamente com o corte acima divinamente grelhado ao ponto.
200 pontos na mesa
O duelo final tinha que ser com 200 pontos na mesa em estilos completamente diferentes. Os dois partem de cortes bordaleses com Cabernet Sauvignon de maneira majoritária. O Madrona Ranch 2002 da vinícola Abreu localizada na AVA Santa Helena parece mais pronto e mais exuberante. É um vinho mais direto com perfil americano dos grandes tintos. Muito sedutor e extremamente aromático. Já o Harlan 2001 é mais um da extensa coleção de 100 pontos. É extremamente elegante, diferenciado e de estilo europeu. Aromas de muita classe e um equilíbrio em boca fantástico. É dificil um cult wine bater este vinho, sobretudo quando ele atinge a perfeição. Os dois vinhos merecem longa decantação no momento e tem poder de guarda em adega. É claro que o Harlan vai mais longe com apogeu previsto para 2040. O Abreu Madrona Ranch tem mais uns dez anos de evolução. De todo modo, um duelo de gigantes!
Agradecimentos a todos os confrades, especialmente ao nosso Presidente com vinhos surpreendentes e muito bem adegados. Foi um show de harmonização, boa conversa, e uma experiência sensorial incrível. Os Estados Unidos mais uma vez mostraram sua força e enorme competência em elaborar grandes vinhos. Que Bacco nos conduza sempre pelos melhores caminhos!