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Vinhos Fortificados

22 de Janeiro de 2020

Se há um vinho que a França não tem excelência, este é o vinho fortificado. Embora haja o famoso Banylus, vinho que teoricamente combina perfeitamente com chocolate, sem esquecer outros do sul da França, além dos fortificados do Rhône, notadamente o Muscat de Beaumes de Venise, esta especialidade é da Península Ibérica. Espanha e Portugal esbanjam talento quando se trata deste tipo de vinho. Um vinho em que algum momento de sua elaboração é acrescentada aguardente vínica, o que lhe confere características específicas.

vinho do porto tipos

Vinho do Porto

O fortificado mais famoso do mundo nasce talvez na mais bela região vinícola, a região do Douro, no interior de Portugal, caminhando da foz do Douro para o continente até a fronteira espanhola. Um vinho que nasce do acaso, onde os ingleses no afã de transportar o vinho para suas terras, esbarrou no difícil trajeto onde o produto passava por várias dificuldades, culminando na arruinamento do mesmo. Trajeto difícil, demorado, com muita variação de temperatura. O jeito foi colocar um pouco de aguardente no vinho para sobreviver às penosas viagens. Com o tempo, eles perceberam benefícios e aceitação popular do mesmo. Contudo, a transição não foi fácil até chegarem na maneira ideal de fortificação. Isso deveu-se à famosa colheita de 1820, onde as uvas atingiram um tal grau de maturação em que o vinho depois de pronto, teve um açúcar residual considerável, além de alto teor alcoólico. Esta colheita serviu de inspiração, sugerindo um fortificação relativamente no inicio da fermentação. Passado este período de transição, os vinhos do final do século dezenove começaram em grande escala a serem elaborados assim como os conhecemos atualmente. Um vinho de alta graduação alcóolica, por volta dos vinte graus, e com açúcar residual considerável, em torno de pouco mais de cem gramas por litro. 

No esquema acima, temos o LBV e o Vintage como Portos que devem envelhecer em garrafa, tendo pouco contato com madeira em seu amadurecimento. Já os Portos com indicação de idade (10, 20, 30, 40 anos) e o Porto Colheita têm grande contato com madeira, chegando prontos para o consumo, embora possam ser guardados sem problemas.

vinho madeira uvas nobres

as quatro uvas nobres da Ilha da Madeira

Vinho Madeira

Outro belo fortificado português onde a fortificação dá-se em períodos variados ao longo da fermentação. De acordo com as castas nobres, Sercial, Verdelho, Boal e Malmsey (Malvasia), os teores de açúcar são crescentes, respeitando o momento da fortificação do mosto. No caso do Sercial, um excelente aperitivo, muito apropriado a patês de caça, a fortificação dá-se praticamente no final da fermentação, onde os açucares praticamente foram todos fermentados. Portanto, é o que chamamos de Madeira seco. Neste raciocínio, as uvas citadas de maneira crescente são cada vez fortificadas mais cedo, sobrando mais açúcar residual no final do processo. O ápice é o Madeira Malmsey, um vinho com nítida doçura, mas com um frescor deslumbrante, equilibrando a doçura do vinho. Tortas de banana, damasco, e de frutas secas em geral, combinam muito bem com os tipos Boal e Malmsey. Um vinho muito menos difundido mundo afora que o Vinho do Porto, embora sua qualidade e tradição não devam nada a seu rival duriense. 

JMF-Moscatel de Setubal e Roxo

José Maria da Fonseca: referência na denominação

Moscatel de Setúbal

Outro grande fortificado português, é elaborado com as uvas Moscatel de Setúbal, também conhecida como Moscatel de Alexandria, além da Moscatel Roxo, bem mais rara. Sua fortificação ocorre relativamente no inicio da fermentação, deixando considerável açúcar residual. Uma particularidade em sua elaboração é o contato por alguns meses do vinho com as cascas da uvas, fornecendo personalidade e características únicas em termos de aromas e sabores. Os melhores Moscateis podem envelhecer anos a fio, sobretudo aqueles que passam longos períodos de maturação em toneis de carvalho. Os doces portugueses harmonizam muito bem com este tipo de fortificado de uma maneira geral. 

carcavelos

importado pela Adega Alentejana

Carcavelos

Um fortificado quase extinto e esquecido dos arredores de Lisboa. Muito apreciado e divulgado pelo Marques de Pombal, as principais uvas que o compõe são Ratinho, Galego Dourado e Arinto, além das tintas Castelão e Preto Martinho. Um vinho de cor topázio com aromas amendoados, de certa semelhança com o Vinho Madeira. Parece que está havendo um certo renascimento do vinho ainda de forma tímida, reativando vinhas abandonadas, além de novos plantios. De todo modo, um patrimônio português para este tipo de vinho que deve ser preservado tanto quanto possível. 

Há outros fortificados portugueses locais, próprios de cada região, mas os quatro acima descritos são os principais pilares da vitivinicultura portuguesa para vinhos generosos.

jerez oloroso

Bodegas Tradicion: os melhores Jerezes

Espanha

Não há dúvida que o grande fortificado espanhol é o Jerez ou Sherry como prefere os ingleses. Um vinho milenar que passou por várias culturas até os dias de hoje sem perder suas origens. A uva é a Palomino e os grandes Jerezes são secos. Portanto, a fortificação ocorre após o termino da fermentação. A peculiaridade deste vinho é na sua elaboração com a presença ou não de um véu de leveduras chamada de flor que se forma naturalmente quando o vinho estagia em pipas ou Botas, um termo local. Se a formação de flor é intensa e vigorosa dá-se origem ao chamado Jerez Fino, um vinho extremamente seco, estimulante, e um excelente aperitivo para petiscos variados, localmente chamados de Tapas. Se a localidade deste Jerez Fino for a região de Sanlúcar de Barrameda, o Fino toma o nome de Manzanilla. Se a flor não for tão vigorosa e tender a morrer no processo, estamos diante de um Jerez Amontillado, um vinho mais encorpado e complexo. Por fim, pode não haver a formação de flor. Então, o vinho é fortificado e sofre em envelhecimento oxidativo, sem a proteção da flor. Estamos diante de um Jerez Oloroso, mais encorpado ainda e de aromas intensos.

Existem Jerezes doces com os termos Pale Cream, Medium, e Cream, em ordem crescente de doçura. Partem de Jerezes secos onde são acrescentados vinhos doces naturais da região com as uvas Pedro Ximenez ou Moscatel. Não têm o mesmo prestigio que os Jerezes secos acima comentados. 

Por fim, o outro extremo de Jerez, um vinho intensamente doce e untuoso chamado Pedro Ximenez, elaborado com a uva homônima. Essas uvas além de ser colhidas bem maduras, são soleadas em esteiras até virarem passas, aumentando muito a concentração de açucares. A fermentação do mosto é muito lenta e logo há a fortificação. Os vinhos são envelhecidos certo tempo em botas (pipas de madeira). Fazem um contraponto muito interessante com sorvetes de creme, baunilha, ameixas, ou banana, casando bem os sabores e principalmente, tendo um contraste de texturas  e temperaturas bem interessantes. O vinho untuoso cai como uma calda sobre o sorvete.

Andalucia wine map

Andaluzia: no sul da Espanha, terra de Fortificados

Outras denominações

No sul da Espanha, além de Jerez, região mais famosa, temos as denominações Condado de Huelva, Málaga, e Montilla-Moriles, na produção de vinhos fortificados. Condado de Huelva é a menos importante, apenas de interesse local. Já Málaga é famosa por seus Moscatéis e Montilla- Moriles é uma espécie de rival para os vinhos de Jerez. É uma região mais continental e de maior altitude quando comparada à região de Jerez. Aqui a principal uva é a Pedro Ximenez e não a Palomino. Os tipos e estilos são parecido com os vinhos de Jerez com um lado mais frutado e menos oxidativo. No que diz respeito ao Pedro Ximenez vinificado em doce e de forma semelhante ao PX de Jerez, Montilla-Moriles dispõe de melhores exemplares, mais elegantes e equilibrados por uma questão de terroir no que diz respeito ao cultivo da Pedro Zimenez.

marsala vergine

O esquecido Marsala

Do lado italiano, temos o clássico Marsala que já teve seus momentos de glória. Criado no século dezoito na Sicília, o vinho está praticamente esquecido nos dias atuais. Tecnicamente o melhor Marsala é chamado de Vergine, sendo bem seco. O termo Vergine está relacionado no processo de elaboração onde a fortificação dá-se no final sem a maculação do vinho, ou seja, sem adição de mosto cotto e nem mistela. O primeiro termo é o mosto de uvas cozido que fornece várias cores ao vinho dada a proporção do mesmo no vinho. A mistela é um preparado de mosto fresco com aguardente vínica, responsável pelo nível de doçura do vinho. Voltando ao Vergine, este vinho pode ser longamente envelhecido em madeira, ganhando boa complexidade. Lembra em certo ponto o Jerez, porém não tão seco. Existem várias uvas locais brancas e tintas que participam de sua elaboração. Algumas delas são Grillo, Catarratto, Inzolia, Nero d´Avola e Nerello Mascalese. Este fortificado pode ser um bom acompanhamento para a famosa sobremesa Tiramisu, e até mesmo participar da receita.

Os fortificados são vinhos de alta graduação alcoólica, por volta de 20 graus. São vinhos muito interessantes com patês, queijos curados, e pratos de difícil abordagem para os chamados vinhos de mesa. Tente pelo uma menos uma vez  combinar um Porto Tawny de certo envelhecimento ou um Madeira do tipo Boal ou Malmsey com foie gras. É lógico que esta é uma combinação clássica com Sauternes, mas vai ser a enésima vez que você faz isto. Experimente trocar um pouco de açúcar residual por um pouco mais de álcool. Você vai se surpreender!

Comidinhas e Charuto

28 de Janeiro de 2019

Comer e fumar ao mesmo tempo definitivamente não é uma prática saudável. Mesmo os fumantes inveterados, dão uma pausa quando se trata das refeições. Contudo, há situações no dia a dia que devem ser encaradas, além de procurarmos soluções através delas.

Adepto ao charuto gourmet, pessoalmente, é muito bom complementar uma bela refeição com vinhos, acendendo um Puro no final como digestivo e combustível para boas conversas. Entretanto, existem pessoas que gostam de fazer um happy-hour com charutos justamente quando estão de estômago vazio e bate aquela fome nesta hora. Elas não estão a fim de refeições fartas e sim comer alguma coisa jogando conversa fora.

De todo modo, é difícil colocar um alimento na boca e em seguida ingerir fumaça. Definitivamente, o estado sólido com o gasoso não conversam diretamente. É preciso um elemento liquido para tentar fazer esta união. Daí, surgem os vários tipos de bebidas. Procurando concilia-las com os alimentos, pode surgir uma nova combinação interessante e um elo de harmonia entre os três estados da matéria.

Sabemos que os melhores parceiros para os charutos são bebidas de grande força e personalidade como os destilados, por exemplo. Evidentemente, há alternativas com vinhos, cervejas, e toda a sorte de coquetéis, mas a presença de um destilado é soberana. Seguindo esta linha, vamos a exemplos práticos.

Nesta linha de happy-hour e descontração, nada como finger foods para facilitar o serviço e deixa-lo mais casual. Que tal um canapé de salmão defumado!

salmao defumado e whisky

Excelente pretexto para um Single Malt de Islay, um dos terroirs escoceses mais distintos desta nobre bebida. O alto teor de turfa deste tipo de whisky com toques medicinais complementa perfeitamente os distintos sabores do salmão defumado. Com isso, o whisky ingerido após um bocado, prepara o palato para os sabores do charuto que neste caso, podem até ser grande fortaleza. Sugestão: Lagavulin Islay Single Malt 16 years.

jamon-sherry

bela foto do site acima

Jamón Ibérico, Pata Negra, e Jerez. Fatias finas de um dos melhores presuntos do planeta, acompanhado por Jerez Amontillado. Sendo um vinho fortificado, constitui outra ponte interessante para charutos. Embora bastante seco, seus sabores e aromas conversam bem com toques esfumaçados.

patês e terrines com armagnac

A foto acima remete a patês e terrines tendo torradas como berço. Partindo do princípio que várias receitas de patês, sobretudo de caça, levam aguardente como cognac ou armagnac, fica fácil imaginar esta perfeita combinação. Dependendo da carne utilizada no patê e seus acentuados temperos, a força de uma aguardente casa muito bem com esses sabores. Daí a combinação com charutos fica uma covardia. Quase nada se compara à perfeita harmonia de Puros com Cognacs ou Armagnacs. Embora de regiões e métodos de elaboração diferentes, suas sutis diferenças só são realmente detectadas por especialistas, partindo evidentemente de bebidas de mesma categoria de envelhecimento. O cognac parece ter mais finesse, enquanto seu concorrente da Gasconha tem mais punch, mais pegada. Enfim, os dois são maravilhosos.

bolinho de carne-seca com abóbora

Para pratos mais brasileiros, o bolinho acima, além do caldinho de feijão, acarajés, queijo coalho, entre outros, todos vão bem com uma autêntica caipirinha, aquela com cachaça boa. Sobretudo nos dias quentes de verão, é uma bebida refrescante. De certo parentesco com mojito, bebida caribenha, é outra combinação ideal com Puros, sobretudo os mais leves e elegantes como Hoyo de Monterrey.

bruschetta de funghi porcini

Voltando aos vinhos, nada como um bom Madeira com funghi porcini. Os Jerezes Olorosos também dão certo, mas são muito secos. Prefira versões menos doces dos Madeiras como Sercial ou Verdelho. São nomes de uvas mencionadas nos rótulos e têm a ver com a doçura da bebida. Sercial mais seco, e Verdelho menos seco. Além da combinação ser perfeita, os aromas de torrefação, frutas secas e notas balsâmicas do Madeira, vão de encontro às essenciais notas dos charutos que impregnam o palato.

rum e chocolate

Fechando o assunto, um final com chocolate é sempre reconfortante. Seja ele puro com alto teor de cacau, tortas, pavês, ou um ótimo tiramisu como da foto acima. Nesta hora, um bom expresso também da conta do recado. No entanto, uma bebida aromática, potente, e com um toque adocicado como os grandes rums da América Central e Caribe, são parceiros ideais para este casamento. Como Sugestão, o conceituado rum guatemalteco Zacapa, tanto na versão reserva, como na versão X.O. (Extra-Old).

Enfim, com uma boa turma de amigos, várias opções de bebidas, e uma seleção bem pensada de canapés, as baforadas estão garantidas. Aquele charuto que parecia isolado da enogastronomia, de repente pode agregar novas e surpreendentes experiências.

Em tempo, vou falar sobre harmonizações num curso de charutos na Casa Murdock em Moema, fevereiro próximo. Maiores informações: http://www.casamurdock.com

Jerez e seus Tesouros

11 de Outubro de 2018

Quando falamos de Jerez no mundo do vinho, falamos quase de um fóssil, algo em extinção, sobretudo no Brasil. De fato, em dados recentes, a Andaluzia região que inclui o Jerez, é a oitava região espanhola em produção com algo em torno de 1.200.000 hectolitros anuais, ou seja, 120 milhões de litros. Destes, 32 milhões são de Jerez (consumo interno e exportação), 12 milhões na Espanha e 20 milhões exportados para diversos países. Reino Unido, Holanda, Alemanha, e Estados Unidos, são os principais países importadores da bebida. O Brasil nem aparece na lista como país importador. Uma pena, pois os Jerezes, sobretudo o Fino e a Manzanilla são um dos melhores aperitivos do mundo.

Fino e Manzanilla

Essa foi uma das questões numa prova de certificação realizada recentemente na ABS-SP, qual da diferença entre os dois. Numa comparação simplória, é mais ou menos a diferença do chopp para cerveja. O primeiro é mais leve, mais frágil, pois não é pasteurizado. Já o segundo, não tem o mesmo frescor, mas aguenta bem mais a estocagem. Exatamente por isso, a Manzanilla é quase toda consumida na própria Espanha com as tradicionais tapas. Menos de 10% da produção é exportada.

Para o Fino, a situação se inverte. Quase o dobro do que é consumido na Espanha é exportado. Na verdade, Fino e Manzanilla se desenvolvem sob a flor, uma camada de leveduras que protegem o vinho da ação do oxigênio. Por uma questão de terroir, Manzanilla é elaborada na região litorânea de Sanlúcar de Barrameda, tendo um aspecto salino em seu sabor.

Jerez estatisticas 2017todos os tipos de Jerez

(favor ampliar a visualização)

Nos chamados Jerezes secos, pouco manipulados, a exportação é mais tímida. Em compensação, os Jerezes adocicados no processo como Pale Cream, Medium, e Cream, têm alta aceitação nos mercados externos, sobretudo e inglês. Já os Jerezes naturalmente doces como Moscatel e Pedro Ximenez, suas exportações são equilibradas com o mercado interno espanhol.

jerez VORS e VOS

números em litros (2017)

V.O.R.S e V.O.S

Da produção total de Amontillados, Olorosos, e Pedro Ximenez, uma parcela ínfima dessas categorias são destinadas aos Jerezes especiais com as denominações VOS e VORS com grande tempo de solera.

No caso do VOS (Vino Optimo Seleccionado) ou (Very Old Sherry) são soleras com mais de 20 anos (idade média dos vinhos) onde o caráter evidentemente oxidativo se faz presente. São partidas de vinhos especiais, altamente selecionados, que irão sempre revigorar a solera, mediante sacas criteriosamente programadas. Para cada  litro de solera sacada, deve haver 20 litros de vinho reposto nas criadeiras.

No caso do VORS (Vinum Optimum Rare Signatum) ou (Very Old Rare Sherry) são soleras com mais de 30 anos (idade média dos vinhos) com os mesmos critérios de qualidade do VOS. Apenas aumenta em 10 anos o tempo de solera. Para cada litro sacado da solera, 30 litros de vinho deve ser reposto nas criadeiras, garantindo assim a continuidade do sistema.

Para se ter uma ideia da exclusividade destas categorias, sua produção somadas (VOS + VORS) não chega a meio por cento da produção total das categorias envolvidas (Amontillado, Oloroso, Pedro Ximenez, Palo Cortado, Medium, e Cream). Esta ínfima porcentagem ainda cai pela metade se considerarmos a produção total de Jerez por ano. Vide quadro acima.

Numa degustação exclusiva, degustamos alguns exemplares raros destas categorias de uma das mais reputadas bodegas jerezanas, Bodegas Tradicion. Vamos a eles.

Fino Tradicion (solera  de 10 a 12 anos – acidez 4,01 g/l)

Um Fino totalmente fora da curva com Solera extremamente prolongada de 10 a 12 anos. Uma cor suavemente mais carregada em relação a um Fino padrão. Seus aromas são de grande complexidade denotando frutas exóticas como carambola e notas de maracujá, cogumelos, toques medicinais e de amêndoas. Com a evolução na taça, apareceram notas florais (jasmim) e de maças cozidas. Em boca, apresentou corpo médio, bem seco, embora macio, e com incrível frescor. Muito equilibrado em relação ao álcool e de uma persistência aromática bastante expansiva. Lembra bem o estilo Manzanilla Pasada, um clássico de Sanlúcar de Barrameda. Bela harmonização com um prato de massa com botarga. 

Amontillado Tradicion VORS 30 Años ( solera de 45 anos – acidez 7,93 g/l)

Um âmbar claro luminoso com alguns sedimentos já surpreende neste Amontillado com 45 anos de Solera, bem acima dos rígidos padrões para a categoria VORS. Novamente, alta complexidade aromática com notas de fino caramelo, torrefação, frutas secas, toques medicinais e evolução aromática para patisserie. Aqui encontramos resquícios de uma crianza biológica, seguida de longo estágio oxidativo. Em boca, é mais encorpado que o vinho anterior, mais untuoso e macio, embora com belo frescor. Novamente, o equilíbrio se faz presente com agradável calor do álcool e uma discreta nota salgada. Muito persistente em boca, prolongando todas as sensações descritas por via retronasal. Difícil descreve-lo por completo. Convidado de honra para a Festa de Babette.

Olorosos Tradicion VORS 30 Años (solera de 45 anos – acidez 8,17 g/l)

Vejam que a cor acima é levemente mais acentuada em relação ao Amontillado. Para um Oloroso de longa Solera oxidativa por 45 anos, sua cor é surpreendentemente nova e muito pouco evoluída. Os aromas de caramelo, torrefação e frutas secas, se intensificam ainda mais em relação ao Amontillado, acrescidos com notas de fumo e tâmaras. O mais encorpado do painel, notável untuosidade, mas com belo frescor. Agradavelmente quente e com persistência aromática sem fim. Um Oloroso de rara elegância, lembrando em muito um Palo Cortado, um dos Jerezes mais distintos e raros nos vários tipos deste fortificado milenar. Grande pedida para patês de caça ou terrine de campagne.

Pedro Ximenez Tradicion VOS 20 Años (solera de 22 anos – acidez 4,57 g/l)

Outro vinho de extrema distinção para os padrões comuns de Pedro Ximenez. A cor é densa parecendo um óleo velho de motor. Os aromas são intensos recordando compota de figo, bananada, rapadura, alcaçuz e mel de engenho. Em boca, muito encorpado, xaroposo, e extremamente persistente. Seu ponto alto é o incrível frescor, dada sua alcoolicidade e notável quantidade de açúcar residual. Grande pedida para harmonizar com chocolate amargo e sorvetes cremosos como baunilha e de ameixas. Queijos cremosos e curados também dão um belo contraste.

Enfim, todos vinhos de exceção, fugindo dos padrões normais para seus respectivos tipos e estilos. Reservados a momentos especiais onde as pessoas e pratos devem ser escolhidos a dedo. Todos os vinhos são importados com exclusividade pela importadora Vinissimo (www.vinissimostore.com.br). 

Sopas de Inverno

26 de Junho de 2018

Um dos temas mais consultado ultimamente em Vinho Sem Segredo são sopas. De fato, com noites mais frias e a chegada do inverno, torna-se irresistível um prato quentinho e reconfortante. Sem entrar em receitas complicadas, vamos abordar algumas sopas clássicas do cotidiano paulista, preparada em casa de maneira descontraída. Lógico que a brincadeira é acompanha-las com vinho, o que não é tão simples assim.

A dificuldade da harmonização de vinhos e sopas está relacionada com temperatura do prato, textura incompatível, e pela própria natureza do prato de característica líquida. Em linhas gerais, muitas sopas de sabor substancioso apresentam um caldo relativamente ralo, criando um problema de textura. Quanto à temperatura, a indicação clássica dos vinhos fortificados de Jerez, é que são vinhos mais quentes devido ao teor alcoólico, mais compatíveis com a temperatura da sopa. Além disso, a personalidade desses vinhos criam uma sinergia com caldos mais substanciosos. Inesquecível em Festa de Babette, o Jerez Amontillado acompanhando a exótica sopa de tartaruga. Vide Menu Harmonizado: A Festa de Babette

Voltando ao dia a dia, vamos a três exemplos de sopas de caráter mais frugal, bem presentes nas mesas familiares.

sopa de legumes

Sopa de Carnes e Legumes

Uma espécie de Minestrone adaptado, este tipo de sopa nasce de cortes de carne baratos como músculo, acém, coxão duro, entre outros, que depois de devidamente temperados e refogados, junta-se água e legumes para um não muito longo cozimento em pressão. Acrescenta-se o macarrão na fase final e está pronta para ir à mesa quentinha com queijo parmesão ralado como opção. Receita barata e farta.

Por uma questão de tipologia, não cabe pelo prato e ocasião absolutamente despretensiosas, pensar em vinhos caros e sofisticados. O macarrão, a carne, e os legumes, dão uma certa consistência e textura ao prato. O sabor não costuma ser muito intenso, embora bastante reconfortante. Pelas questões de temperatura e período invernal, o vinho tinto é mais procurado, embora um Chardonnay com leve passagem por barrica possa ser uma opção para brancos. De todo modo, vamos na direção de vinhos tintos jovens, frutados, sem passagem por barrica, e de certa maciez em boca. Malbecs mais simples de boa procedência, Merlots da Serra Gaúcha, Valpolicellas, e alguns Riojas Joven, são opções em conta e extremamente adequadas.

sopa de feijão

Sopa de Feijão

Outra sopa do dia a dia e muitas vezes aproveitando um feijão já feito. Normalmente, o caldo é mais encorpado, criando uma textura mais cremosa. Normalmente, acrescenta-se macarrão no cozimento. Além do próprio sabor do feijão, carnes de porco como linguiça ou bacon, dão mais intensidade ainda ao prato.

Aqui o vinho precisa ser tinto e de maior riqueza aromática. Os tintos alentejanos com relativa passagem por madeira são belas opções. Tintos do sul da Itália e do sul da França também costumam dar certo. Na Espanha, os Tempranillos com passagem por barrica são bem-vindos e especialmente os tintos de Toro com certa rusticidade, bem de acordo com o prato.

sopa de mandioquinha

Sopa-Creme de Mandioquinha

Aqui uma homenagem a Sergio Arno do saudoso La Vecchia Cucina. Uma sopa que pode ser servida fria, mas que pode muito bem ser um prato quente nos dias de inverno. A receita além da mandioquinha, leva a parte branca do alho-poró, caldo de carne, e creme de leite. Na hora de servir, pode ser finalizada com cebolinha francesa e um fio de azeite extra-virgem. Na versão fria do restaurante, havia ovas de salmão na finalização também. Segue link da receita: https://vejasp.abril.com.br/cidades/receita-de-sopa-de-mandioquinha-do-la-vecchia-cucina/

Neste caso, a delicadeza da sopa e dos ingredientes nos direcionam a um vinho branco. O toque adocicado da mandioquinha sugere um branco frutado, eventualmente com um toque off-dry. Voltando aos vinhos fortificados, um Madeira Sercial ou Verdelho pode ser um belo acompanhamento para quem vai ficar apenas numa taça. Para os brancos tranquilos, Chardonnays frutados e sem madeira, Viognier modernos, ou alemães do tipo Spätlese com certa doçura, são belas pedidas. Brancos do Alentejo e alguns Vermentinos bem frutados podem dar certo. O importante é  o lado frutado do vinho com uma textura mais ou menos rica.

IMG_4622.jpgestilo de Madeira seco nada frugal

Enfim, sopas em dias frios são quase irresistíveis. O vinho mais adequado tem a ver com a intensidade de sabor e textura do prato. Na dúvida, os vinhos fortificados como Jerez e Madeira são portos seguros, sobretudo se ficarmos somente numa taça. Essa opção fica reforçada quando este prato é apenas uma entrada de um extenso menu. Bom apetite! 

 

Massandra: Shangri-La do Vinho

10 de Setembro de 2017

Massandra, Масандра em ucraniano, ou Массандра em russo, é uma comunidade na cidade de Yalta, República da Criméia, território autônomo incorporado à Rússia, uma espécie de Vaticano na Itália.

Situada no Mar Negro, é uma importante estação balneária, gozando de clima, solo e latitude, propícios ao cultivo das vinhas. Afinal, esta região outrora ocupada pelos gregos faz parte da própria origem da vinha, na região do Cáucaso. O mapa abaixo, elucida o fato.

massandra mapa

Yalta: encontro histórico de generais no pós-guerra

O encontro histórico entre Churchill, Stalin e Roosevelt em 1945 na cidade de Yalta, selaram os rumos do mundo após a segunda guerra mundial. Voltando ao assunto, a história dos vinhos de Massandra começa com o príncipe Leo Golitzin que mandou construir uma grande adega subterrânea com sete tuneis de 150 metros de extensão cada um, onde repousam cerca de um milhão de garrafas. A intenção era construir uma coleção de garrafas com todos os tipos de vinhos, incluindo vinhos de mesa, brancos e tintos, além de vinhos de sobremesa e fortificados. Essas duas últimas categorias é que ficaram consagradas na história, sobretudo garrafas antigas do século dezenove.        

massandra wineryentrada da vinícola 

A adega do ponto de vista técnico é perfeita, principalmente em termos de umidade e temperatura. Prova disso, são essas antiguidades preservadas e absolutamente íntegras em sua grande maioria ao longo de várias décadas. Seus Muscats, Sherries, e Portos, são famosos, longevos, e complexos. Além disso, a coleção é vasta com mais de 800 referências. A cada vinte anos, as garrafas antigas são rearrolhadas.

massandra cellars

 os grandes Muscats de Massandra

Em 1922 com Stalin no comando russo, ordenou que todos os vinhos encontrados nos palácios dos csares retornassem à Massandra. Em 1944, com a iminente invasão alemã, foi montada uma grande operação de transporte hercúlea para a retirada de todos os vinhos de Massandra. Logos após o fim da guerra em 1945, todos os vinhos já estavam de volta, devidamente acondicionados.       

massandra sete tuneis

os sete túneis de Massandra Winery

O mundo não conhece Massandra, mas Esta conhece o mundo. A vinícola cultiva cerca de cinco mil variedades de uvas, podendo reproduzir todos os vinhos do mundo. É um acervo fascinante sobre todos os pontos de vista vitivinícolas. Talvez o maior colecionador de vinhos antigos do mundo com uma adega de mais de 40 mil garrafas na França, Michel Chasseuil, nos conta o verdadeiro laboratório que é Massandra. Eles têm 100 pés da cada videira do mundo, podendo reproduzir todos os vinhos. São oito fazendas com cinco mil hectares de vinhas cada uma.

Voltando aos vinhos doces, especialmente os Muscats, e também vinhos fortificados, seguem alguns exemplos de sua vasta coleção. Massandra Sherry, Madère, Port, Malaga, Lacrima Christi, Tokay, Cahors.

massandra cahors 1933

Cahors à moda antiga

Neste Massandra, a uva é Saperavi com vinhas de setenta anos, uma uva tinta nativa de grande prestígio. Trata-se de um vinho fortificado com 180 gramas de açúcar residual e destacada tanicidade lembrando Cahors, tinto do sudoeste francês. Na Idade Média, parte do vinho de Cahors era vinificado para missa, aquecendo o mosto a 60° de temperatura. Esta versão de Massandra reproduz com brilhantismo este cenário histórico.

massandra lacrima christi

versão fiel à sua origem

As vinhas deste Lacrima Christi já não existem mais. O vinho tem 9,5° de álcool e 280 gramas de açúcar residual perfeitamente balanceados por sua incrível acidez. É comparado em termos de persistência aromática aos melhores Sauternes.  Itália e Espanha (Málaga) disputam sua paternidade. A versão original italiana na região do Vesúvio, fala de um vinho tinto e doce, bem diferente das versões atuais, branco e seco. Mais uma vez, Massandra preserva a história.

massandra red port

Porto com Cabernet Sauvignon

Massandra faz Portos de todos os estilos, inclusive complexos Portos brancos. As uvas Cabernet Sauvignon e Mourvèdre são as mais utilizadas. Curiosamente, as versões brancas são elaboradas com Cabernet Sauvignon sem o contato das casas. Ambas as versões podem envelhecer magnificamente por décadas. O da foto acima, trata-se de um exemplar com a uva Mourvèdre com vinhas de 80 anos. Livadia indica um terroir diferenciado em Massandra, antiga residência de verão dos Czares. Degustado por um especialista da Sotheby´s, mostrou-se totalmente integro, podendo ser adegado por longo tempo ainda. Portanto, imortal.

massandra madeira 1837

existem apenas cinco garrafas

Uma das mais antigas garrafas de Massandra, pertencente à adega de Michel Chasseuil, um dos maiores colecionadores da atualidade. Este velho Madeira com vinhas de 80 anos, reproduz fielmente o exemplar de origem, tanto em complexidade, como longevidade. Seguramente, a melhor réplica do original. Alguns ousam dizer que o discípulo superou o mestre.

massandra muscat 1945o ano da Vitória

Por fim, vamos à especialidade de Massandra, seus ricos, ecléticos e longevos Muscats. Três grandes categorias balizam esses vinhos: White Muscat, Rose Muscat, e Black Muscat. Este último de variedade tinta, é o mais intenso e untuoso com notas de chocolate e ameixas. De fato, a insolação e o clima da região favorece sobremaneira a grande maturação de vários tipos de Moscatéis. Normalmente, eles são fortificados e permanecem por um bom tempo em contato com as cascas em sua elaboração. De toda a forma, existem os mais intensos e os mais delicados e aromáticos. O importante é sempre ter um bom suporte de acidez. O envelhecimento confere ao vinho toques resinosos e de damascos. Os Muscats de Frontignan e de Lunel são bastante famosos em Massandra, ambos originários do sul da França.

Os vinhos atuais de Massandra podem ser comercializados na Europa e na própria vinícola. Já os da coleção de raros vinhos antigos, de quando em quando são disponibilizados pequenos lotes para os melhores leilões internacionais.

massandra trifel aux quetsches

Trifel aux Quetsches

A clássica sobremesa inglesa acima, é uma das sugestões de harmonização para um Muscat de Massandra, segundo Philippe Faure-Brac, melhor sommelier do mundo em 1992 no Brasil. Quetsches são ameixas escuras com tonalidade violácea, não muito doces e de ótima acidez. A sobreposição de camadas envolvendo geleia de quetsches, uma mistura de merengue com chantilly, e pedacinhos de biscoitos (pode ser macarrons), criam uma textura macia e ao mesmo tempo crocante compatíveis com o vinho. A doçura e acidez do prato são bem balanceadas com o Muscat, além da convergência de sabores, misturando a baunilha da sobremesa no preparo do creme com os toques de torrefação, caramelo e de frutas cítricas cristalizadas do vinho. Do livro Vins et Mets du Monde.   

Enfim, vinhos raros, exóticos, longe do convencional. Na fronteira da Europa e Ásia, Massandra guarda um pedaço da história com réplicas memoráveis de alguns dos maiores vinhos do mundo do outros tempos. Para nossa sorte, continua fazendo história com viticultura e vinificação impecáveis. Afinal, pertinho dali, tudo começou um dia …

Turfando em Islay

13 de Julho de 2017

Muita calma nesta hora, entre uma taça e outra neste turbilhão de fumaça. Estamos falando de Islay, pronuncia-se “aila”, do longínquo gaélico de terras escocesas. Este é o Single Malt mais impactante de toda a Escócia, uma espécie de Jerez no mundo dos vinhos. Aqui não tem meio termo: ame-o ou deixe-o!. Não há concessões.

Este impacto olfativo cheio de personalidade vem de uma substância incorporada ao processo de elaboração do scotch whisky chamada turfa ou “peat” para os escoceses. Não confundir com trufa, iguaria requintada. A turfa é formada ao longo de eras geológicas pela decomposição de material orgânico, acumulando gases em camadas mais profundas. Por ser um material combustível, é empregado na secagem do malte transmitindo assim, seu aroma marcante de caráter medicinal. Tanto é verdade, que no período da “Lei Seca” nos Estados Unidos, esses Malts de aromas iodados eram receitados por médicos em determinadas situações.

Aliás, voltando ao Jerez ou Sherry, os maltes de Islay por ficarem armazenados em depósitos à beira mar no período de amadurecimento em madeira, acabam absorvendo certa salinidade, mineralidade, comum também ao fortificado espanhol, principalmente as Manzanillas.

turfa Peat_Lewis

 turfa: solo escuro e úmido

Traduzindo em números, os Malts de Islay  são defumados lentamente na proporção de 5 a 6 toneladas de turfa para 48 toneladas de cevada maltada. Já em outras regiões escocesas, a proporção é de 2 a 3 toneladas de turfa para 300 toneladas de cevada. Portanto, não há como passar despercebido.

Apenas para posicionarmos o Malt  Scotch Whisky, sua elaboração pressupõe somente cevada maltada, isto é, o ponto ideal de germinação do grão com adição de água para transformação do amido em açúcar. Neste momento, a germinação é interrompida com a secagem, que no caso de Islay, emprega o combustível turfoso para aquecimento, transmitindo assim, seu rico aroma.

Nesta degustação, confrontamos lado a lado, diversos maltes de Islay, cada qual com sua característica, além de teores de turfa variados. Começando com o menos impactante, o clássico Lagavulin aged 16 years, juntamente com o Laphroaig aged 10 years.

fernando lagavulin laphroaig

grandes clássicos

Difícil cravar um palpite certeiro sobre o embate acima. Laphroaig, o preferido do príncipe Charles, é muito mais impactante no quesito turfa, muito mais medicinal. Já o delicioso Lagavulin tem outras facetas como um lado mais caramelado e de mel, sem perder a identidade da ilha. Para um iniciante em Islay, Lagavulin pode ser delicioso, enquanto Laphroaig, assustador.

fernando ardbeg e octomore

aqui se separa os homens dos meninos

No trio acima, a turfa comanda o espetáculo. Começando com Ardbeg 10 years old, e já o comparando com seu eterno rival Laphroaig de mesma idade, temos muito mais complexidade em jogo no primeiro Malt. Laphroaig é muito vertical, muito incisivo, enquanto Ardbeg além de impactar pela turfa, tem outros trunfos na manga. Tem um lado de mel, de tostado, de ervas, ampliando o aspecto olfativo. Jim Murray, especialista britânico em Whisky, diz em seu livro: “se eu tivesse um cheque em branco para comprar uma destilaria, passaria algumas poucas pela mente somente por alguns instantes, mas Ardberg seria a única escolha”. De fato, Ardbeg é uma espécie de Montrachet de Islay, unindo a força de um Batard-Montrachet (no caso, Laphroaig) com a elegância de um Chevalier-Montrachet (Lagavulin).

Ardbeg Distillery and new on site accommodation on Islay in the Inner Hebrides.

a influência marítima de Islay

Subindo agora na escala, vamos ao Ardbeg Corryvreckan que além de maturar em barris de whisky americano (Bourbon) e de Sherry (Jerez), uma parcela é envelhecida em carvalho novo francês, aumentando a complexidade do conjunto. Em relação ao Ardbeg 10 anos, sua força e complexidade são amplificadas. Embora para todos os Malts até agora citados, seja importante um acréscimo de água mineral na degustação, para este Corryvreckan passa a ser imperativo, pois além da diluição do álcool, há uma amplificação dos aromas multifacetados. Aqui já estamos falando em 46% de álccol para o 10 anos, e 57% para o Corryvreckan.

É bom destacar outro ponto importante nos Ardbegs, preservando sabores e características autênticas de terroir. Seus Malts são elaborados por um processo extremamente natural chamado “non chill-filtered”, ou seja, não são submetidos à filtração de friagem, onde baixas temperaturas acabam removendo certos sólidos  e óleos importantes, descaracterizando o produto, a despeito de uma cor mais clara e cristalina. Esta menção está em seus rótulos. Ardbeg é importado no Brasil com exclusividade pela LVMH.

Por fim, esta espécie de bomba atômica na extrema direita da foto, trata-se do Octomore 07.1_208. Traduzindo, a linha Octomore é a mais turfosa da destilaria Bruichladdich, denominada “super heavily peated whisky”, ou seja, extremamente turfosa. Tanto é verdade, que este exemplar apresenta 208 ppm (nível de fenóis em parte por milhão). Se você não tem noção deste número, basta lembrar que os Ardbegs citados giram em torno de 50 ppm em termos de fenóis.

fernando behike islay

fumaça extra providencial

Para completar este vulcão, seu nível de álcool chega a 59,5%. Isto somado a apenas cinco anos de maturação em carvalho americano, torna esse Octomore um Malt super impactante, e de alta persistência aromática. Os níveis de turfa e defumação deste whisky são capazes facilmente de encarar um arenque defumado com a maior tranquilidade. Para harmonizar com charutos,  pense nos Puros mais potentes, sobretudo em seu terço final. Behikes, Partagas Lusitanias, e outros deste perfil, são os mais indicados.

fernando laphroaig e caol ila

para amenizar tempestades

Após esse trio arrasador, um momento de suavidade. Os dois exemplares acima amenizam o alto impacto da turfa. O duplo envelhecimento em madeira do Laphroaig QA Cask, primeiramente em ex-Bourbon, seguido de carvalho americano novo, ameniza os aromas medicinais, ganhando um defumado advindo da madeira. Bem mais acessível que o tradicional, porem descaracterizando de certa forma a virilidade de um autêntico Laphroaig clássico.

Já o originalíssimo Caol Ila Distillers Edition, maturado em casco de antigos Moscateis (imagino que seja Moscatel de Setúbal), mostra o lado feminino dos impetuosos maltes de Islay. Lembra de certa forma um Lagavulin, porem com mais elegância e exotismo. Voltando às aulas de gaélico, Caol Ila significa “profundo braço de mar de Islay”, braço este que separa Islay de Jura, outra ilha vizinha.

Concluindo, Islay pode não ser o melhor whisky do mundo, mas sem dúvida nenhuma, o mais marcante. De todo modo, faz parte deste vasto mundo chamado Whisky, onde a Escócia reina absoluta no mais complexo destilado mundial.

Harmonização: Intensidade, Sabores e Texturas

1 de Novembro de 2016

Uma das regras básicas da harmonização entre pratos e vinhos é que os mesmos devem ter estrutura e corpo semelhantes, de modo que um não sobrepuja o outro. Vez por outra, essa regra pode ser conscientemente quebrada a fim de valorizar um grande vinho, um vinho especial, para que o mesmo se destaque na parceria e não corra o risco de ser incomodado com algum inconveniente do prato. Foi o que aconteceu no caso abaixo, onde um excepcional Palo Cortado acompanhou a entrada de um jantar.

palo-cortado-tradicion

rótulo à altura do vinho

Palo Cortado é uma categoria de Jerez ou Sherry que por si só, já é especial. Mesmo para os mais experientes bodegueiros, definir e educar um Palo Cortado exige muita sensibilidade e cuidado. Normalmente, ele começa numa criação biológica, sob a proteção da flor, mas já nesta fase apresenta tendências bem sutis a pender para o lado oxidativo. De fato, após breve crianza biológica, é encabezado (fortificado) e segue sua jornada em crianza oxidativa como se fosse um Oloroso. Em resumo, o nariz pende para um Amontillado, mas a boca lembra um Oloroso, em meio a características especificas.

No caso do rótulo acima, diga-se de passagem, belíssimo, este Palo Cortado é o suprassumo na categoria. Além de pertencer a Bodegas Tradicion, extremamente artesanal, está enquadrado na legislação mais sofisticada chamada VORS (Very Old Rare Sherry), onde a média de idade da solera supera os 30 anos. Vinho multifacetado e de grande complexidade.

creme-de-amendoas-e-quenelle-de-cogumelos

sabores variados e sutis

A entrada acima procurou sobretudo não ofuscar e nem perturbar o vinho. Apresentou vários sabores muito sutis como creme de amêndoas e curry, quenelles de cogumelos e batata-doce, julienne de alho-poró em fritura e azeitonas negras. Esta variedade de sabores delicados, procurou despertar  e realçar as nuances de sabores múltiplos do vinho sempre com o intuito destes últimos, prevalecerem nas sensações finais da harmonização. As frutas secas, as notas terrosas, salinas, empireumáticas e cítricas do vinho, eram alternadamente realçadas na harmonização, conforme a combinação dos ingredientes do prato a cada colherada. Em termos de textura, também houve harmonia. A cremosidade do prato sintonizava com a densidade do vinho, já que o teor de glicerina do mesmo assemelhava-se a um Oloroso.

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harmonização de respeito e cordialidade

Outro ponto alto foi ao final do jantar, onde  este Palo Cortado volta à cena de mãos dadas com um Bolívar Belicosos, Puro de grande classe e sutileza. O primeiro terço é quase indescritível, tal a gentileza de ambas as partes em valorizar seu par, sem esconder sua própria elegância. As notas de especiarias, defumadas, e terrosas, se entrelaçavam numa combinação harmoniosa, delicada, e ao mesmo tempo, marcante. Uma experiência absolutamente inesquecível.

Porém, nem tudo são flores. A harmonização sempre nos prega surpresas, muitas vezes, não tão agradáveis. Embora, prato e vinho separados estivessem divinos, não houve a sinergia esperada do encontro na sequência do jantar.

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longo cozimento

galinha-dangola

galinha d´angola caipira

Esta galinha d´angola caçada em Minas Gerais deu o que falar. Promessa antiga de um bom mineiro, finalmente chegou. Deixamos ele faze-la à sua moda, e lá se foram mais de quatro horas na panela num belo guisado. Sem grandes novidades no tempero, a carne tinha sabor marcante e textura bastante firme. Na foto acima, coxa e sobrecoxa com polenta cremosa e vagem.

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um monumento a Pommard

Para acompanhar o prato, foi escolhido um Borgonha, combinação clássica para muitas aves. Mesmo sendo um Pommard, talvez o mais viril da Terra Santa, o vinho quase não aguentou o prato. A intensidade de sabor da carne, aliada à sua textura compacta, pedia um tinto de maior suculência e peso. Um belo Syrah, seria certamente uma escolha mais adequada. Merlot ou Primitivo com bastante suculência, também se sairiam bem.

Voltando ao Pommard, Comte Armand juntamente com Domaine Courcel são referências da apelação. Este Clos des Epeneuax é um monopólio de pouco mais de cinco hectares de vinhas antigas. Tinto de grande estrutura, taninos presentes, um verdadeiro Barolo na Borgonha. A safra 2007 traz uma certa precocidade, deixando-o mais acessível. Mesmo assim, é vinho para mais uma década de evolução.

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canastra e bananada: rima boa

Finalizando a noitada mineira, nada melhor que a combinação perfeita: queijo e doce de tacho. Na foto acima, um queijo canastra de textura macia e sal na medida certa elaborado com leite cru, ladeado por uma bananada lentamente elaborada com todos os segredinhos a que tem direito. Só faltou o cigarro de palha, mas os Puros …

Os Tesouros de Jerez: Almacenistas

30 de Outubro de 2015

Infelizmente, os vinhos de Jerez são pouco conhecidos, pouco divulgados e por consequência, pouco consumidos. No entanto, termos como Fino, Amontillado e Oloroso, são familiares mesmo para os iniciados no assunto. Agora, existe uma categoria dificilmente encontrada no Brasil, chamada Almacenista, vinhos raros, muito bem lapidados, e apreciados só por conhecedores.

JOSÉ LUIS GONZÁLEZ OBREGÓN

Almacenista: José Luis González Obrégon

Normalmente, Almacenista é um bodegueiro famoso, de larga experiência na criação de Jerezes, que cria e supervisiona lotes especiais deste vinho para um envelhecimento lento, de características muito especificas, e que são lançados no mercado numa partida limitada de garrafas. São considerados vinhos de meditação, podendo ser harmonizados com pratos singulares, muitas vezes de difícil casamento. Aliás, almacenar em espanhol significa guardar, armazenar. Abaixo, daremos alguns exemplos destas maravilhas, elucidando melhor o assunto.

manzanilla pasada

Manzanilla Pasada. Almacenista: Manuel Cuevas Jurado

Sabemos que a categoria Manzanilla trata-se do mais fino e delicado Jerez. Tendo a particularidade de ser criado em Sanlúcar de Barrameda, próximo ao mar, além do frescor de um autentico Fino, há um toque inconfundível de salinidade muito particular. Este tipo de vinho criado com a proteção da chamada Flor (camada de leveduras específicas na região) deve ser consumido jovem, sendo um excelente aperitivo de entrada.

Até aqui, nenhuma novidade. É neste momento que entra o talento de um Almacenista. Existem partidas especiais de Jerez conforme a safra, ou um vinhedo especial, ou desenvolvimento particular do vinho sob as leveduras (flor), que são percebidas por estes especialistas. Estes lotes então, são criados de uma maneira especial, dando a personalidade de seu criador numa bebida distinta, fugindo às características de sua categoria inicial. É o caso deste Manzanilla Pasada. Uma Solera de 80 botas (pipas) que envelhece lentamente com a perda gradativa da flor, adquirindo toques oxidativos. Num Manzanilla padrão, este tipo de envelhecimento destruiria o vinho, perdendo suas características de frescor que devem ser preservadas a qualquer custo. Contudo, nestes lotes especiais, há uma interação entre o toque oxidativo e a reminiscência do frescor desta categoria, surgindo aromas e sabores incríveis. Como harmonização por exemplo, salmão defumado ou aspargos podem ser belos acompanhamentos.

amontillado sanlucar de barrameda

Amontillado de Sanlúcar de Barrameda. Almacenista: Manuel Cuevas Jurado

A categoria Amontillado apresenta uma flor não muito espessa que ao longo de um tempo relativamente curto morrerá, deixando a oxidação dominar o envelhecimento. Contudo, sempre haverá um toque de frescor e salinidade permeando os aspectos oxidativos da crianza. Neste lote, o almacenista selecionou 21 botas para formar a solera. Os Amontillados de Sanlúcar tem uma elegância muito particular. Especialmente este, é ideal para acompanhar sopas, foie gras, e embutidos.

oloroso del puerto

Oloroso del Puerto. Almacenista: José Luis González Obregón

Na categoria Oloroso, o estilo oxidativo sem a formação de flor é marcante. Neste caso, mais uma vez, o almacenista perceber lotes especiais e neste vinho trata-se de uma solera de 110 botas (pipas) que envelhece lentamente. São vinhos de corpo, muito aromáticos e de forte presença gustativa. É ideal para acompanhar frutas secas e queijos curados de difícil casamento. Um Manchego Viejo é um exemplo clássico.

É importante ressaltar que nesta gama Almacenistas, a bodega Lustau faz questão de mencionar no rótulo o nome do bodegueiro, verdadeiros mestres na arte de selecionar e criar jerezes especiais.

Como não há esses vinhos no Brasil, podemos nos contentar com os ótimos Jerezes da bodega Lustau dos três exemplos acima. Atualmente, a importadora Ravin (www.ravin.com.br) é responsável por esta marca no Brasil. Há várias opções de Jerez com preços bem convidativos.

Ardbeg: Single Malt para mudar conceitos

11 de Novembro de 2013

Ardbeg: a destilaria dos sonhos

A ilha de Islay é famosa por fornecer um single malt rico em aromas turfosos (a turfa é abundante na região e serve como combustível de defumação no aquecimento da cevada maltada). Entre suas preciosidades, podemos destacar facilmente o fabuloso Lagavulin e o imponente Laphroaig (talvez o single malt preferido do príncipe Charles). Entretanto, existe um single malt na ilha, não tão conhecido como os dois acima citados, que para muitos especialistas, é o whisky a ser degustado na sonhada ilha deserta, como último desejo. Eis o estonteante Ardbeg Islay Single Malt Scotch Whisky. Jim Murray, o grande especialistas britânico, diz em seu livro: “Se eu tivesse um cheque em branco para comprar uma destilaria, poderia pensar em duas ou três por alguns segundos, mas a escolha certeira teria que ser Ardbeg”.

Não é exportado para o Brasil

O vídeo abaixo é de outro especialista, Ralfy Mitchell, com suas degustações sempre muito didáticas (www.ralfy.com), falando um pouco da emoção de provar um Ardbeg Ten Years Old. Jim Murray corrobora com esta mesma ideia que The Ardbeg quando provado, provoca sensações diversas e mutantes a cada novo gole. Marmelo, maresia, evidentemente a turfa, caramelo, manteiga, sherry, mineral (pedra calcária), entre outros aromas, são os descritores mais recorrentes.

http://youtu.be/Zk5jqKR2H6k

O processo de elaboração deste whisky passa por várias etapas, como veremos a seguir. O teor de turfa no malte é de 50 ppm (partes por milhão), enquanto a maioria de outros maltes de Islay contem de 20 a 30 ppm. Os moinhos para triturar a cevada são extremamente raros e tradicionais, datam de 1921. A água pura e cristalina utilizada no processo vem de uma fonte situada a três milhas da destilaria por um veio subterrâneo abaixo do lago Larnan. A etapa de embeber a cevada maltada para extrair o açúcar contido é feita em três tempos. Primeiramente, é adicionada água em temperatura de 68ºC para melhor extrair o açúcar inicial. Na segunda partida de água, a temperatura sobe para 80ºC, pois a extração de açúcar fica mais difícil. E na última partida, a água está em 85ºC. Em cada uma destas partidas, a água é drenada para os fermentadores que veremos em seguida. Os fermentadores foram construídos com pinus do Oregon (região noroeste dos Estados Unidos). O líquido sai depois de uma longa fermentação a 7,5 graus de álcool. Na sequência a destilação é feita em duas etapas em equipamentos de cobre onde o grau alcoólico sobe para 62,5º livre de impurezas. Na etapa de maturação, a madeira vem de várias fontes. São utilizados barris de Bourbon (whisky americano) de primeiro e segundo uso, além de barris de Sherry (Jerez). Há também a utilização de barris novos de carvalho francês. A proporção de cada tipo de barril é ditada pelas características e potência do lote de whisky em questão. Como a maturação ocorre junto ao mar, os aromas de maresia e iodo acabam influenciando na bebida.

No engarrafamento, este single malt não é fitrado (veja os dizeres no rótulo: non chill-filtered). Como nos vinhos artesanais, Ardberg não abre mão de óleos essenciais presente no whisky que trarão complexidade e textura ao mesmo.

Outra preciosidade desta destilaria é o potente Ardbeg Uigeadail, uma seleção das melhores partidas de vários whiskies nas últimas décadas, amadurecidos nos melhores barris de Sherry. Suntuoso e complexo. Jim Murray classifica-o com 97,5 pontos, quase perfeito.

Na sua próxima parada em algum Duty-free, lembre-se desta destilaria, mesmo que você não seja fã de destilados. Vale a pena correr o risco.

The Balvenie: Speyside Single Malt Whisky

4 de Novembro de 2013

Segundo Jim Murray, uma das maiores autoridades britânicas em Single Malt Scotch Whisky, The Balvenie é considerada por muitos como a melhor destilaria em Speyside (um dos grandes terroirs das famosas Highlands). Artigos específicos em seis partes sobre whisky, procurar neste mesmo blog.

Instalações nas imediações de Dufftown

As edições abaixo ilustradas (foto) apresentam a peculiaridade da bebida amadurecer em três diferentes tipos de madeira (carvalho). Sabemos que a grande maioria do whisky escocês é maturado em barris de bourbon (whiskey americano) usados. Essa madeira é proveniente do carvalho americano (carvalho branco). É um carvalho de aromas mais intensos (baunilha, caramelo). Já uma parte dos melhores Single Malt Scotch Whisky é maturada em barris usados de vinhos como Porto, Madeira e principalmente Jerez ou Sherry. Esse tipo de amadurecimento fornece elegância e aromas sutis à bebida.

Triple Cask 12 e 16 anos: disponíveis no Brasil

Um dos mais famosos Single Malt desta destilaria é The Balvenie DoubleWood, maturado em dois tipos de carvalho (bourbon e sherry). A linha que está sendo lançada no Brasil é dnominada Triple Cask, ou seja, amadurecimento em três tipos de madeira. A ideia é mesclar as três distintas intensidades de madeira numa mesma partida de whisky, resultando num conjunto final harmônico. Esclarecendo melhor, uma parte do Whisky é maturado em barris de bourbon de primeiro uso em whisky (embora ele já tenha sido usado para amadurecer bourbon em território americano), outra parte em barris de bourbon usados em outras partidas de whisky, e uma terceira parte é maturada em barris de sherry. Nesta ordem descrita, a influência da madeira no whisky vai ficando cada vez mais sutil ( o barril de sherry fornece os aromas mais delicados). Quando mesclamos as três partes maturadas separadamente, deixamos o blend final por seis meses em cascos inertes (sem transmissão de aromas da madeira) para haver um perfeita integração dos três tipos de amadurecimento. Veja abaixo o vídeo sobre as várias etapas de elaboração do whisky na destilaria:

O whisky Triple Cask aged 12 years é mais potente e intenso, prevalecendo notas de frutas secas e baunilha. Já o Triple Cask aged 16 years é mais sutil com notas levemente abaunilhadas, caramelo e delicada madeira.

Outras peculiaridades desta destilaria é o cultivo de campos para sua própria cevada, além de tanoaria exclusiva para preparar e reparar os grandes lotes de barris que serão utilizados na amadurecimento do whisky.

Maiores informações sobre a comercialização destas bebidas falar com Gabriela Galvêz (fone: 11-3079-1677).


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