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Tempranillo: Solos e Climas

19 de Fevereiro de 2020

A mesma uva Tempranillo que assume vários nomes na península ibérica molda vinhos diferentes, dependendo da região onde é cultivada. Vamos neste artigo nos concentrar em dois grandes vinhos que beiram o Douro com solos e climas distintos, Ribera del Duero e Douro, ou seja, Espanha e Portugal, respectivamente.

ribera del duero map

Ribera del Duero

São pouco mais de 20 mil hectares de vinhas onde em 1999 só chegava a 10 mil hectares. A Tempranillo é amplamente plantada com mais de 95% das vinhas, sobrando muito pouco para uvas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Garnacha, Malbec, e a branca Albillo.

Em termos das quatro províncias, Burgos domina amplamente o plantio com 17 mil hectares, seguido por Valladolid com quase 5 mil hectares de vinhas. Segóvia e Soria são plantios bem abaixo. As plantações mais expressivas de vinhas ficam entre os anos 90 até 2010.

ribera del duero zonas importantes

zonas nobres da região

Os maiores inconvenientes na região são excesso de madureza das uvas e abuso da madeira. Neste sentido, vamos falar de algumas áreas nobres da vasta região, começando por Burgos. Nesta zona em rosa, temos uma expressão de fruta notável, acompanhada por certo frescor nos vinhos. Como exemplo, temos a viña Pedrosa.

img_7282Destaques na região pela importadora Clarets

Aalto é uma das mais destacadas bodegas de Ribera del Duero, trabalhando entre Burgos e Valladolid, alinhando potência e elegância como poucos. O projeto tem à frente Mariano Garcia, enólogo responsável  por 30 anos pelo mítico Vega-Sicilia. Os vinhedos PS (Pagos Selecionados) ainda são mais exclusivos. Preços bem competitivos.

Na zona em azul da província de Soria, temos vinhos mais elegantes com vinhas de mil metros de altitude, além de idade avançada. São vinhos complexos e de muito frescor. Dominio de Atauta é seu grande destaque. Nos vinhedos de Segovia, zona pintada em verde, a exploração é recente e ainda muito tímida. Segue aproximadamente o padrão de Soria com vinhos elegantes. Um destaque seria a bodega Severino Sanz.

Por fim, a zona mais nobre de Ribera del Duero, pintada em laranja no mapa, conhecida também como a milla d´oro, pertencente a Valladolid, um trecho de aproximadamente 15 quilômetros que vai de Quintanilla de Onésimo até Peñafiel. A altitude gira em torno de 800 metros e o solo argilo-calcário tem destacada predominância de solo pedregoso mais branco. Os vinhos aliam potência e elegância com muita propriedade. Bodegas como Vega-Sicilia, Domínio de Pingus, Alion, e Abadia Retuerta, um pouco fora do limite da milla de oro, estão lá. 

douro região mapa

Douro – Vinhas

Em termos de sub-região, o Baixo corgo é menos prestigiada, pois há chuvas em excesso e os solos não são tão nobres. O maior destaque da região é a famosa Quinta do Côtto.

A sub- região do Douro Superior é a menos explorada, a mais seca e quente de todas elas. Perto do chamada Cima Corgo, esta sub-região tem sua área mais nobre. Na fronteira com a Espanha, o clima tende a ser muito quente.

Por fim, a nobre sub-região do Cima Corgo onde os fatores de terroir são mais precisos. Vinhas antigas, localização mais eficiente quanto às altitudes e exposição dos vinhedos no que tange a insolação e ventos. As áreas de xisto, solo pedregoso, são mais nobres. Aqui estão localizadas as melhores quintas do Douro.

Em termos de solo, aqui falamos de granito, xisto, e altitudes de 400 a 500 metros. No verão o clima é bem quente, podendo chegar perto de 50 graus centígrados. 

quinta do crasto tinta roriz

exemplar confiável da Qualimpor

Não é feito todos os anos, dependendo das condições climáticas. Segue os mesmos padrões do varietal Touriga Nacional. Respeita três terroir de exposição distintas à mesma altitude (300 metros) e condições de solo com reserva hídrica.

Tempranillo – Tinta Roriz

Conhecida como Tinta Roriz no Douro e Aragonês no Alentejo, é a casta mais plantada em Portugal. Muito cultivada na região do Douro, ela inspira cuidados para seu plantio. O sítio ideal para seu cultivo é o Cima-Corgo, sub-região não muito fria como o Baixo-Corgo, nem muito quente como Douro Superior. Sob baixos rendimentos e maturação adequada, costuma gerar vinhos equilibrados, elegantes, e com bom potencial de taninos. Conserva muito bem a cor e participa de lotes, dando alta contribuição, sobretudo no envelhecimento. Seu casamento com a madeira  é notável e de muita harmonia.

Alguns produtores como Quinta do Crasto e Casa Eufêmia fazem varietais deste tinto, respeitando as condições de terroir, sobretudo em termos de altitude e exposição dos vinhedos.

alentejo sub-regiões

Alentejo

Falando um pouco do Alentejo, região sul de Portugal onde  a dupla Trincadeira e Aragonês molda os principais tintos da região, vamos comentar de solos e suas adaptações.

Solos de textura franco-argilosa e de cor avermelhada é encontrado em Reguengos e Granja Amarejeda. Solos pardos de textura franco-arenosa com quartzo é encontrado em Redondo, Reguengos, Vidigueira, e Évora.

cortes-de-cima-aragonez-2012

outra grafia da Aragonês

Um vinho muito confiável, feito no terroir alentejano, sempre com o aporte de madeira que a Tempranillo tanto gosta. É preciso um clima mais ameno no Alentejo para que as condições de cultivo e o bom afluxo de polifenóis tenham êxito na colheita. Importado pela Adega Alentejana.

Nas regiões de Portalegre, Évora, Redondo e Reguengos, podemos encontrar um solo arenoso com fragmentos de xisto.

Um solo vermelho ou amarelo de fragmentos de xisto é encontrado praticamente em toda a região. Em Moura, Borba ou Vidigueira, pode-se encontrar algum calcário.

Quanto às castas, as internacionais Cabernet Sauvignon e Syrah estão presentes e se adaptam bemem clima quente, principalmente a Syrah, enquanto a Alicante Bouschet é mais importante em Portalegre, notadamente o Mouchão. As castas Castelão e Alfroucheiro não são das mais nobres, preferindo entrar no eventuais cortes. Já a estrela Touriga Nacional tem seu prestigio em baixos rendimentos. Costuma entrar em cortes com pequenas porcentagens para conferir equilíbrio e elegância. 

A Trincadeira, também conhecida como Tinta Amarela no Douro, é uma casta vigorosa que se adaptou bem aos solos e clima alentejanos. Participa dos cortes com bom volume. 

Por fim, a Aragonês, conhecida como Tinta Roriz no Douro. Em solos e climas alentejanas só trabalha bem com baixos redimentos devido ao calor excessivo. É uma boa uva de corte, conferindo elegância e poder de longevidade aos vinhos. Alguns exemplares varietais como da vinícola Cortes de Cima.

Em resumo, em solos argilo-calcários e em altitudes convenientes, a Tempranillo pode se expressar melhor como varietal, tornando os vinhos potentes e bem equilibrados. Já em solos arenosos e de xisto, seu cuidado deve ser redobrado quanto aos rendimentos e adequação de altitude e exposição do terreno. Ela se presta muito mais ao corte, dando elegância e equilíbrio ao conjunto, além de poder de longevidade aos vinhos.

O vinho reduzido a números!

15 de Março de 2017

Fala a verdade! É chato você reduzir um vinho a uma nota, um número. Entretanto, a vida muitas vezes não tem esse lado romântico. É preciso quantificar, avaliar, dar notas e aí, a polêmica está naturalmente sacramentada. Para complicar um pouco mais, as escalas de notas, os critérios, são os mais variados e subjetivos. Por mais que você queira ser cartesiano, como quantificar complexidade por exemplo?

A mais famosa das escalas é a pontuação de 0 a 100 pontos. Melhor dizendo, 50 a 100 pontos. Melhor ainda, 80 a 100 pontos. Experimente pontuar um vinho abaixo de 80 e mostra-lo numa prateleira de vinhos. Ele jamais será vendido. Engraçado! quando eu tirava notas escolares em torno de 80, era uma maravilha. Para o vinho, os critérios são bem mais rigorosos.

De fato, com os atuais conhecimentos enológicos, conhecimentos de campo (viticultura), é praticamente obrigação de uma vinícola séria elaborar vinhos com pelo menos 80 pontos. Tanto é verdade, que mais de 80% dos vinhos avaliados apresentam notas entre 80 e 90 pontos.

rating winesAs várias escalas de pontuação

Esta escala centesimal é mais fácil de ser compreendida pelo público, embora para notas maiores que 90, e principalmente 95, o acréscimo de um ponto a mais na nota tem um efeito mais exponencial do que linear. Essa sensação complica mais ainda, quando lidamos com a escala de 0 a 20 pontos, cada vez mais popular. Por exemplo, Jancins Robinson, Revista de Vinhos, Revue du Vins de France, entre outras publicações.

quinta crasto touriga ncional 2011

Wine Spectator 95 pontos

Revista de Vinhos 17,5 pontos

Para exemplicar, vamos ao rótulo acima do excelente tinto português Quinta do Crasto Touriga Nacional 2011. Esse vinho foi avaliado com 95 pontos pela Wine Spectator e 17,5 pontos pela Revista de Vinhos de Portugal. Será que essas notas se equivalem? vejamos …

Pontuação 12 a 20

Exame Visual: até 3 pontos

Exame Olfativo: até 7 pontos

Exame Gustativo: até 10 pontos

Para tentar explicar a pontuação de 0 a 20, vamos imaginar dois pensamentos extremos de avaliação, analisando as principais notas mostradas na maioria das publicações.

Nota 13

Num pensamento simplista, para comparar esta nota com a escala de 0 a 100, basta multiplicar por cinco a nota em questão. Portanto, nota 65. Claramente, uma nota baixíssima e absurda. Por outro lado, vamos imaginar que o critério de 0 a 20  seja dar notas a partir de 80 pontos, já que praticamente não existem vinhos comerciais abaixo deste valor. Portanto, adicionamos 13 pontos aos básicos 80, resultando em 93 pontos. Outra nota absurda, reservada somente a grandes vinhos.

Fazendo uma média aritmética entre 65 e 93, chegamos a 79 pontos, algo bem mais razoável para a escala em questão. Aplicando este raciocínio para as demais notas sucessivas (14, 15, 16, …), vamos acrescendo três pontos a cada degrau.Portanto, 14 equivale a 82, 15 a 85, 16 a 88, 17 a 91, 18 a 94, e 19 a 97.

Voltando ao nosso exemplo, os 17,5 pontos da Revista de Vinhos chega próximo a 94 pontos, fazendo algum sentido na comparação. Talvez pelos portugueses não serem tão comerciais como os americanos, mesmo sendo um vinho da Terrinha, o critério é mais rigoroso. Mais uma lição, a fonte de pontuação é fundamental para termos credibilidade com esses números.

Para uma correta avaliação é preciso certificar-se que o vinho não apresenta defeitos, esteja na temperatura correta, e seja degustado em taças ISO de degustação. Conhecer a região, a denominação de origem do vinho em questão, reforça a credibilidade da nota.

Pratos, Vinhos, Harmonizações

28 de Maio de 2016

Num apanhado dos últimos eventos, vinhos e pratos surpreendentes merecem destaques. Os pratos do artigo são de um jantar oferecido pelo amigo Patrick Delfosse, grande conhecedor de Puros, música (especialmente Jazz) e obras de arte como quadros, esculturas, peças de decoração.

Muito dos vinhos são de um belo evento da Qualimpor com a divulgação competente de Gabriela Galvêz, onde além dos vinhos tivemos uma série de azeites portugueses e queijos nacionais diferenciados.

creme brulee salgado

entrada super original

A entrada acima surpreendeu a todos, criação da amável Emilie no jantar do amigo Patrick. Um crème brûlée salgado à base de salmão defumado, ou seja, a textura do creme lembrava o doce original, mas com o sabor salgado e um defumado bem elegante. A fina camada de açúcar tostado fez um contraponto muito interessante. Para este prato, sugiro um Vouvray Sec Tendre (com leve açúcar residual) ou um Riesling alemão do Mosel categoria Spätlese. Bela combinação, sem marcar muito o paladar. O copo trata-se de um creme de ervilha suave que não interfere na harmonização.

aperitivo suze

cocktail: fond de culotte

O coquetel acima chamado de fond de culotte é mistura de Suze, água com gás e creme de cassis. A proporção dos ingredientes gera bebidas diferentes. Um pouco mais de água com gás deixa o drink refrescante, enquanto um pitada apenas de cassis não o deixa muito doce. A propósito, Suze é um bitter de origem francesa criado em 1889. Agradavelmente amargo.

cubo de salmão

cubo de salmão em crosta de gergelim

O salmão fresco grelhado é um bom parceiro para vinhos com a uva Pinot Noir, sobretudo Sancerre tinto ou Borgonha. Apesar de peixe, sua carne escura, sanguínea e de textura firme, pede mais um tinto, desde que seja delicado em taninos e não muito invasivo. Este cubo de salmão estava crocante por fora e extremamente úmido em seu interior. Comme il faut!

williams selyem

Russian River: Côte d´Or de Sonoma

Que tal este Pinot para o prato de atum? William Selyem faz dessa uva uma cópia quase fiel à original. Muito bem balanceado, com elegância, e uma madeira criteriosamente dosada. Estilo fora da curva das inúmeras tentativas do Novo Mundo. Acesso e preços quase proibitivos.

tabua de queijos

queijos variados em todos os sentidos

A foto acima é um clássico num final de jantar francês. Os queijos têm como função finalizar o último vinho, além de dar sequência ao provável vinho de sobremesa ou outros que se seguiram. Um dos bons parceiros nesta hora é o vinho do Porto, principalmente quando a potência e a textura de certos queijos se fazem presentes.

taylor´s 30 anos

Taylor´s 30 anos: grande pedida nos tawnies da casa

Neste estágio, um 30 anos exige muito equilíbrio e complexidade. Se estes requisitos forem atingidos, então percebemos que a mão do homem foi sábia. Assim é dito: “Vintages estão nas mãos de Deus, Tawnies nas mãos do homem”. Portanto, é esta precisão do blend tanto em proporções, como na escolha dos vinhos de reserva certos, que foram bem envelhecidos e que por sua vez, tinham extrato e concentração para tal. É uma tarefa de perfumista. Importado pela Qualimpor (www.qualimpor.com.br).

taylor´s colheita 1966taylor´s 1994

Taylor´s: Colheita 66 e Vintage 94 – lado a lado

Continuando em Porto, continuando em Taylor´s, a foto acima mostra claramente como as categorias Tawny e Ruby podem sublimarem-se em Colheita e Vintage, respectivamente. O Vintage 94, já comentado várias vezes neste mesmo blog, vai maturando lentamente em garrafa, provado felizmente em vários momentos e estágios de evolução. Já este Colheita estagiado em cascos por 50 anos, mostra toda a complexidade e maciez que um Porto pode atingir. Lançamento da Taylor´s num bonito estojo pela Qualimpor, foto abaixo.  

taylor´s colheita 1966 (2)Colheita de altissimo nível

Para encerrar o assunto Taylor´s, temos este monumental Vintage safra 2011. Infelizmente, não estarei mais aqui para ver seu esplendor, provavelmente no final deste século. Escuro, denso, multifacetado em várias camadas de aromas. Precisa ser decantado por horas nos prováveis infanticídios que virão. Bom presente para seu neto que está nascendo agora, ou para aqueles em que o ano 2011 foi significativo e marcante.

taylor´s vintage 2011

Vintage: safra e engarrafamento obrigatórios no rótulo

ameal solo loureirogrande mineralidade

Quinta do Ameal é uma propriedade portuguesa na região dos vinhos verdes mais especificamente, na sub-região do Lima, cultivando a casta Loureiro. Pessoalmente, a melhor casta da região depois da gloriosa Alvarinho. Esta cuvée chamada Solo, expressa um vinho de grande mineralidade, equilíbrio e persistência. Vale apena ser provado. Importado pela Qualimpor.

quinta do crasto vinhas velhas

Um clássico nos tintos durienses

Finalizando o artigo, o tinto acima requer paciência e decantação na hora do serviço. Partindo de vinhas antigas (diversas castas, algumas centenárias), este tinto exibe alta concentração, tipicidade, e profundidade. Seus taninos são abundantes e finos. Requer muita paciência para seu lento desenvolvimento em adega. Deve ser obrigatoriamente decantado. Páreo duro em qualquer painel de alto nível do Douro.

Terroir: Vinhas do Douro

20 de Julho de 2015

Muito se fala sobre o Vinho do Porto; seus estilos, categorias, as grandes marcas, métodos de vinificação e amadurecimento, entre outros tópicos. Contudo, um fato de relevante importância é pouco mencionado nas publicações, as melhores vinhas. São delas que resultaram as melhores uvas que darão origem a todo o processo de elaboração. Como dizem: os grandes vinhos nascem no vinhedo. É neste contexto que alicerçamos nosso artigo com base no IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto – http://www.ivdp.pt). Abaixo, mapa das sub-regiões do Douro.

Cima Corgo: Terroir de destaque

Sabemos que fatores naturais de terroir como clima e solo além do fator humano, podem ser individualizados conforme a região de estudo. No caso do Douro, os parâmetros de avaliação dividem-se em edafoclimáticos (solo e clima) e culturais. Portanto, fatores como localização da vinha, altitude, declive, rocha-mãe (subsolo), elementos grosseiros (antrossolos: solos removidos pelo homem na fragmentação do xisto), exposição (solar), e abrigo (ventos), são criteriosamente avaliados e pontuados. Some-se a essa pontuação os fatores culturais como rendimento da vinha (hectolitros/hectare), encepamento (conjunto de uvas), densidade de plantio (pés/hectare), sistema de condução (terraços, vinhas ao alto) e idade das vinhas. Baseado em todos esses dados planilhados, chega-se a determinadas faixas de pontuação e posteriormente, à chamada classificação por letras de A até F, conforme tabela abaixo.

Classe
Pontuação
A
>1200
B
entre 1001 e 1200 pontos
C
entre 801 e 1000 pontos
D
entre 601 e 800 pontos
E
entre 401 e 600 pontos
F
entre 201 e 400 pontos

Evidentemente, não vamos entrar no mérito dos valores numéricos desta avaliação. Basta sabermos que as vinhas mais prestigiadas são as de classificação A e B, algumas vezes mencionadas em fichas técnicas e sites de determinadas Casas do Porto. Só para lembrarmos do último artigo deste blog (Porto Cinco Estrelas), as Casas mencionadas no mesmo enquadram-se nesta seleta classificação.

melhores vinhas: junto ao rio

No mapa acima, percebemos que a faixa laranja limita a grosso modo as vinhas de classificação A e B, normalmente junto ao rio. Essas delimitações exclusivas são encontradas somente no Cima Corgo e Douro Superior. À medida que nos afastamos da área laranja, os fatores de terroir acima citados vão perdendo pontuação.

Quinta de La Rosa: Classificação A

A sub-região do Cima Corgo com vinhas mais próximas ao rio torna-se o terroir adequado para uvas de grande qualidade. O declive perfeito, o fator moderador do rio, a insolação adequada, o perfeito abrigo de ventos mais agressivos, a idade média avançada das vinhas e densidades altas de plantio, são alguns fatores primordiais para os melhores vinhedos. É dessas condições que saem as uvas para os melhores Vintages, grandes Colheitas e os belos Portos com declaração de idade.

Os critérios na elaboração dos Vintages são uvas de maturação plena em anos excepcionais, ricas em polifenóis, sobretudo taninos, fator fundamental para longa guarda em garrafa. Já para os Colheitas, o item mais relevante é  acidez, pois  os taninos serão praticamente todos polimerizados na longa guarda em pipas, tornando os vinhos límpidos, normalmente sem nenhum depósito.

Em suma, são estes fatores que fazem a diferença entre um Porto alcoólico, sem frescor, e com o chamado meio de boca vazio; de um Porto equilibrado, aromático, e com a persistência dos grandes vinhos.

Porto diferenciando com vinhas de mais de 60 anos cultivadas em socalcos (terraços). São mais de trinta variedades de uvas plantadas todas juntas. O vinho amadurece em tonéis de nove mil litros, evitando uma micro-oxigenação excessiva entre dois e quatro anos, dependendo do lote.

E para um bom serviço, os Portos são melhores apreciados em temperaturas ao redor dos 14°C, onde o álcool fica mais contido e os sabores mais frescos. Como exceção, temos os Vintages, ricos em taninos, sobretudo os mais jovens, e aromas mais densos. Esses vão melhores em temperaturas entre 18 e 20°C com decantação obrigatória.

Quinta dos Murças: Uma joia do Douro

4 de Novembro de 2014

Não é de hoje que os tintos durienses vêm ganhando destaque no cenário internacional num terroir que tradicionalmente foi e ainda é, do Vinho do Porto, um dos mais importantes fortificados do mundo, se não for o mais expressivo entre todos. As tradicionais quintas que até pouco tempo preocupavam-se exclusivamente com seu Vinho do Porto, hoje elaboram naturalmente tintos de grande expressão e que também são aptos a longa guarda. É o caso do vinho abaixo, Quinta dos Murças Reserva 2009.

Propriedade tradicional com vinhas antigas

Situada no Cima Corgo, região nobre do Douro, Quinta dos Murças encontra-se em terrenos íngremes, de declive acentuado, em solos xistosos e de baixa produtividade. Um patrimônio valioso de vinhas antigas plantadas todas juntas com castas típicas da região como Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela (Trincadeira no Alentejo), Tinta Barroca, Touriga Francesa ou Franca, e Sousão. Vale a pena ressaltar, a destacada amplitude térmica neste trecho do Douro (Cima Corgo), onde estão situadas as melhores e mais tradicionais Quintas de toda a região. Isso faz com que os níveis de maturação das uvas sejam ideais sem perder o fresco e portanto, proporcionar um notável equilíbrio. A vinificação é feita com pisa a pé, como nos mais tradicionais lagares para a elaboração dos melhores Portos. Em seguida, o amadurecimento do vinho dá-se em barricas de carvalho francês e americano durante aproximadamente doze meses.

Tinto de bom corpo, aromas agradáveis, mesclando bem a madeira com a fruta. Taninos sedosos, macios e com persistência aromática expansiva. Bom parceiro com a enogastronomia , desde  carnes grelhadas até carnes com molhos intensos. Apesar de sua prontidão, vislumbra bons anos de guarda. Importado atualmente pela Qualimpor (www.qualimpor.com.br). Além deste tinto, a importadora traz belos vinhos da Quinta do Crasto e o excepcional Porto Taylor´s.

Lembrete: Vinho Sem Segredo na Radio Bandeirantes (FM 90,9) às terças e quintas-feiras. Pela manhã, no programa Manhã Bandeirantes e à tarde, no Jornal em Três Tempos.

Wine Spectator: Top Ten

21 de Novembro de 2013

Dando prosseguimento à lista dos cem melhores vinhos de 2013, segundo a revista americana Wine Spectator, farei um Top Ten pessoal. A ordem dos vinhos apresentada abaixo não obedece nenhum critério, apenas visa sugerir alguns vinhos interessantes para serem provados e evidentemente, encontrados nas grandes importadoras do Brasil.

Analisando a lista, percebemos que um terço dos vinhos são norte-americanos, naturalmente enaltecendo exemplares de seu país. A despeito de ser justa ou não a inclusão dos mesmos, é inegável que os Estados Unidos ainda lidera com folga uma grande diversidade e qualidade dentre os países do chamado Novo Mundo. Pena que chegam poucos exemplares ao Brasil a preços praticamente proibitivos. Sem mais delongas, vamos à lista sugerida: 

  1. Croft Vintage Port 2011 – WS 97 pontos
  2. Hamilton Russell Chardonnay 2012 – WS 93 pontos
  3. Rioja Alta Viña Ardanza Reserva 2004 – WS 94 pontos
  4. Château Doisy Daëne Barsac 2010 – WS 94 pontos
  5. Achaval Ferrer Finca Mirador Malbec 2011 – WS 96 pontos
  6. Quinta do Crasto Reserva Old Vines 2010 – WS 93 pontos
  7. Wynns Cabernet Sauvignon Coonawarra Black Label 2010 – WS 91 pontos
  8. Champagne Louis Roederer Brut Vintage 2006 – WS 94 pontos
  9. Mastroberardino Taurasi Radici DOCG 2006 – WS 94 pontos
  10. Seghesio Zinfandel Dry Creek Valley Cortina 2010 – WS 94 pontos

Croft Vintage Port 2011

Além da Croft, as duas casas de vinho do Porto na foto acima, dispensam apresentações. A safra 2011 promete vida longa como uma das melhores deste novo século. Evidentemente, degustá-lo agora trata-se de um infanticídio completo. Quem tiver paciência, estará com um tesouro em mãos. Importadora World Wine (www.worldwine.com.br). 

Pioneiro na África do Sul

Hamilton Russell, apaixonado pelos vinhos da Borgonha, sonhou em ter um pedacinho dela na fria região de Walker Bay, África do Sul. Em parte conseguiu, com vinhos bem elaborados, cheios de personalidade, sendo sempre lembrados nas principais publicações. Vale a pena prová-lo. Importadora Mistral (www.mistral.com.br). 

Rioja Alta: Ícone da região

Sou suspeito em falar desta bodega, já comentada em artigos especiais neste mesmo blog. Seus vinhos são considerados os “borgonhas” da região. Elegantes, profundos e perfumados. Bela relação qualidade/preço em seu seleto portfólio. Importadora Zahil (www.zahilvinhos.com.br).

Doisy Daëne ao lado de grandes Sauternes

Para quem gosta de Sauternes delicados e elegantes, Barsac é a comuna a ser procurada. O rei é o Château Climens, com preços de realeza. Château Doisy Daëne, do grande enólogo Denis Dubourdieu, nos mostra toda a essência deste grande terroir. Importadora Casa Flora (www.casaflora.com.br). 

Achaval Ferrer: Artesanato em vinho

Outra bodega irrepreensível. Atuando em Valle de Uco na região de Mendoza (Argentina), procura sempre em seus vinhos, concentração, profundidade e definição de terroir. Finca Mirador forma a trilogia de seus grandes ícones (os outros são Altamira e Bella Vista). São necessários frutos de três parreiras para a elaboração de uma garrafa (rendimento de Romanée-Conti). Importadora Inovini (www.inovini.com.br). 

Um dos melhores exemplares do Douro

Partindo de vinhas com mais de setenta anos, plantadas conjuntamente entre 25 e 30 variedades, o vinho surge com uma complexidade e concentração singulares. Tinto de longa guarda que exige decantação para melhor expressar-se. Importadora Qualimpor (www.qualimpor.com.br).

Coonawarra: região diferenciada

Esta região australiana (Coonawarra) e em especial esta vinícola (Wynns) já foram devidamente comentadas em artigo específico neste mesmo blog. Região relativamente fria para os padrões australianos, Coonawarra costuma gerar tintos concentrados e com uma acidez vibrante. Os aromas de frutas em compota e um toque refrescante de menta são atrativos mais que suficientes para provar este tinto surpreendente. Importadora Mistral (www.mistral.com.br). 

Louis Roederer: Magia e Excelência

Sua cuvée de luxo Cristal faz o sonho desde os tempos dos Czares. Entretanto, toda sua linha é elaborada nos mínimos detalhes. Num degrau acima do Brut Premier, estão os millésimes de alta qualidade. Neste caso, o blend é composto de 70% Pinot Noir e 30% Chardonnay. O vinho-base é parcialmente elaborado em madeira e após a espumatização, o vinho passa quatro anos sur lies (em contato com as leveduras). Importadora Franco-Suissa (www.francosuissa.com.br). 

Mastroberardino: Referência na denominação Taurasi

Este belo tinto da Campania, sul da Itália, envelhece maravilhosamente bem. Elaborado com a estruturada uva Aglianico, o vinho passa por longa maceração e afinamento em barricas de carvalho. Potente, intenso e de grande personalidade. Importadora Mistral (www.mistral.com.br). 

Dry Creek Valley: grandes Zinfandéis

Este típico tinto californiano é elaborado com a uva Zinfandel proveniente do vinhedo Cortina em Dry Creek Valley, plantado em 1942.  Passa cerca de quatorze meses em barricas de carvalho, predominantemente francesas. Vinho de muito fruta, concentração e longa persistência. Uva de grande identidade americana. Importadora Mistral (www.mistral.com.br).

Evidentemente, o tinto do ano, CVNE Imperial Gran Reserva 2004, merece ser provado e foi objeto de artigo exclusivo na postagem anterior. Fica assim, algumas dicas para as festas de final de ano.

Vinhos do Douro: Porto e Tintos de Mesa

26 de Agosto de 2013

A região do Douro sempre foi emblematizada pelo grande Vinho do Porto durante várias décadas com forte influência inglesa. Entretanto, nos últimos anos houve um notável interesse sobre a possibilidade de elaborar belos tintos de mesa, sobretudo com o movimento recente dos chamados “Douro Boys”, uma nova geração de enólogos, viticultores, muitos deles com nomes de tradição da região duriense.

Partindo do pioneiro Barca Velha na década de cinquenta do século passado, a produção de tintos de mesa sempre foi bastante tímida. Apenas alguns nomes como Quinta do Côtto com seu irretocável Grande Escolha, além de Duas Quintas com produção no Alto Douro ou Douro Superior pelo competente enólogo João Nicolau de Almeida, podem ser lembrados com grande destaque. Mais recentemente, temos belos tintos de mesa como Vale do Meão (deixando de fornecer uvas para a produção do Barca Velha e engarrafando seu próprio vinho), Quinta do Crasto, Quinta Vale Dona Maria, entre outros.

Neste cenário, a proporção de vinhos de mesa em relação ao todo poderoso Porto tem oscilado substancialmente, conforme alguns dados abaixo:

produção douro e porto (clique outra vez na tela seguinte)

A produção de vinho do Porto tem oscilado menos em relação ao total de vinho produzido no Douro do que a produção de tintos de mesa com denominação de origem. A produção de Porto na média é de aproximadamente metada (50%) do que se produz em todo o Douro. Já a produção de tintos de mesa com denominação de origem oscila bastante conforme o ano. Contudo, verifica-se uma certa tendência de alta nesta proporção para os próximos anos.

Um dos grandes tintos do Douro

A proporção na produção dos tintos de mesa em relação ao vinho do Porto varia bastante. Normalmente girava em torno de 35 a 40%, e atualmente, este número tende a ser acima de 50%. Conforme tabela acima, no período 2011/2012 este número chegou a ser de 71%, ou seja, fora da curva.

Outro dado interessante na tabela é que os vinhos de mesa comuns, mais simples, tendem a diminuir claramente sua produção. Já os espumantes que podem ser muito bons, apresentam expressivo crescimento nos últimos anos. 

O Douro Superior, a última das três grandes sub-regiões na produção de vinhos, está revelando grandes tintos de mesa e com certeza, nos revelará muitas surpresas num breve tempo. Numa comparação francesa, se o Alentejo é o Rhône de Portugal e o Dão é a Borgonha, O Douro está nos mostrando os Bordeaux de Portugal. Não é à toa que o respeitável Château Lynch-Bages associou-se à Quinta do Crasto para elaborar um tinto elegante chamado Xisto (referência ao grande solo do Douro).


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