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Chandon à mesa

15 de Agosto de 2019

Não é de hoje que falamos neste blog sobre a versatilidade dos espumantes à mesa. Além de festas e comemorações, os espumantes são perfeitos para iniciar um jantar, aperitivar em qualquer momento, e são altamente gastronômicos. A razão é simples, acidez e borbulhas que aguçam o paladar, o álcool é sempre comedido, e não há presença de taninos. Condições mais que suficientes para acompanhar uma série de pratos.

Em degustação didática, seguida por um belo almoço no restaurante Evvai, a equipe da Chandon de São Paulo, liderada por François Hautekeur, nos mostrou detalhes da produção de toda a linha Chandon, além de harmonizações interessantes à mesa.

É bom sempre enfatizar que os espumantes Chandon são elaborados exclusivamente pelo Método Charmat, nunca pelo Método Tradicional. E não há nenhum demérito nisso, pois seu processo Charmat é longo e muito bem executado, procurando sempre a espumatização perfeita. O que pouca gente sabe é que os espumantes Chandon passam longo tempo sur lies, além de um período considerável em garrafa, antes da comercialização. Isso adiciona complexidade, maciez e estabilização ao conjunto, buscando sempre um espumante harmonioso. 

a sutileza dos aromas

Foram degustados os quatro espumantes básicos da linha, enfatizando sobretudo os aromas principais de cada tipo. O carro chefe da Casa é o Brut Réserve com algo em torno de dois milhões de garrafas por ano, utilizando 35% dos vinhos de reserva para garantir perfeita uniformidade e qualidade, safra após safra. Este patrimônio valioso que são os estoques de vinhos de safras passadas é um dos pontos chaves para o sucesso, seguindo os preceitos das grandes Casas de Champagne como a Moët & Chandon, sua matriz.

O assemblage desta linha básica prevê três uvas principais, assim como em Champagne. As duas mais importantes como Pinot Noir e Chardonnay com a terceira uva como Riesling Itálico, fazendo a vez da Pinot Meunier em Champagne. Isso dá um toque de brasilidade e personalidade ao blend.

Brut Réserve

35% Pinot Noir, 35% Riesling Itálico, 30% Chardonnay

Seus aromas principais são: maça verde, flor de laranjeira, e pão tostado. Fica perfeito com sushis, assim como pratos da cozinha chinesa.

Na harmonização acima, fregula com manteiga levemente defumada, polvo grelhado, e vieiras cruas, a textura delicada do prato casou perfeitamente com a mousse agradável do vinho. Os sabores do prato e das vieiras realçaram o vinho, resultando num conjunto harmonioso.

Brut Rosé

45% Pinot Noir (sendo 10% vinificado em tinto), 30% Riesling Itálico, 25% Chardonnay

Seus aromas principais são: morango, framboesa, flor de Ibiscus. Acompanha muito bem atum e salmão, além de pratos com cogumelos.

Na harmonização acima, atum fresco, creme de tomates, muçarela de búfala, e azeite com manjericão. A textura do atum e sabor dos tomates ficaram perfeitos com o vinho. A muçarela, o azeite, e um toque salino, foram abraçados pelo frescor do espumante. 

chandon passionPassion: ótimo também com drinks

Chandon Passion

Malvasia Cândia e Moscato Canelli em partes iguais com 5% de Pinot Noir em tinto, conferindo a cor rosada. 

Seus aromas principais são: lichia, rosas, e pêssegos. Vai muito bem com sobremesas delicadas e pratos agridoces. Fica ótimo também com drinks, utilizando frutas cítricas e ingredientes picantes.

Chandon Riche

70% Riesling Itálico, 15% Pinot Noir, 15% Chardonnay

Seus aromas principais são: baunilha, abacaxi, e manga. O termo Riche é o equivalente ao demi-sec, ou seja, um espumante doce. A doçura é muito bem equilibrada pela acidez, acompanhando com competência torta de maça com sorvete ou crêpe suzette, por exemplo.

Na harmonização acima, rosquinhas fritas levemente açucaradas, mergulhadas em mousse de avelãs. O açúcar comedido da sobremesa realçou a acidez do espumante sem perder sua doçura delicada e bem balanceada. A delicadeza da mousse foi fundamental para a textura do vinho. Um grande final de refeição!

img_6524Excellence em duas versões

A estrela da Casa, Chandon Excellence Brut

Como todo o produto de excelência, para o Chandon Excellence são utilizadas as melhores uvas Pinot Noir e Chardonnay, sem a participação da Riesling Itálico. Outro diferencial é o longo trabalho sur lies que eles chamam de bâtonnage. Consiste em revolver as leveduras mortas após a fermentação em tanques modernos com pressurização por mais de doze meses. Isso confere ao produto final grande complexidade aromática e maciez extra. Por esse motivo, não há necessidade da utilização do Método Tradicional, pois o trabalho e resultado são idênticos, ou seja, é um Charmat longo e detalhado com a melhor tecnologia possível. 

O blend propõe geralmente 65% Pinot Noir e 35% Chardonnay com 20% vinhos de reserva. É um espumante gastronômico, para ser levado à mesa, pois a Pinot Noir em maior porporção, confere corpo e estrutura ao conjunto.

Existe a versão Rosé, lançada em 2010 com maior proporção da Pinot Noir (74% sendo 24% vinificado em tinto, conferindo a cor salmonada). Ainda com mais corpo e estrutura, é extremamente versátil à mesa.

Enfim, agradecimentos a toda equipe Chandon, desde a degustação didática, até à bela acolhida no restaurante Evvai com menu muito bem montado e executado. Parabéns por toda linha apresentada, sempre com produtos de excelência, buscando ao longo de sua rica história na Serra Gaúcha, o aperfeiçoamento na elaboração de espumantes de alta qualidade e consistência. 

 

Roteiro para Espumantes

14 de Dezembro de 2017

Nesta época do ano é comum e bastante expressiva a compra de espumantes. Para aqueles que acham que esses vinhos não passam de um adereço de festas, qualquer espumante vale. Basta adequar o preço, ou ir na onda de alguma marca de ocasião. No entanto, sabemos que este tipo de vinho se mostra com vários estilos, tipos de uva, níveis de doçura, e uma nomenclatura bem específica.

Vamos então a algumas dicas objetivas no sentido de sinalizar um espumante dentro da expectativa de cada um. Evidentemente, estamos falando de vinhos com uvas viníferas e métodos de espumatização bem elaborados, e não produtos populares como os filtrados, por exemplo. Neste sentido, preços e reputação de cada produtor contam muito.

Doçura

Você precisa estar seguro da sensação de açúcar residual que espera do produto. Os espumantes tem uma nomenclatura própria e bastante confusa. Preste atenção no rótulo!

  • Brut Nature, ou pas dosé, ou dosage zero

É um champagne extremamente seco. Quando mal elaborado, chega a ser desagradável. Normalmente, são para paladares bem específicos.

  • Extra Brut

Ainda assim, bem seco, mas menos austero que a dosagem anterior. Para aqueles que se incomodam com qualquer insinuação de doçura, este pode ser o ponto ideal.

  • Brut

Este é a dosagem típica para um espumante agradavelmente seco, sem aquela austeridade. Alguns podem até insinuar uma leve doçura de maneira muito sútil. Tem larga produção no mercado.

  • Extra dry, ou Extra Sec

Termo confuso querendo dizer que já existe um off-dry, ou seja, uma ponta da doçura. Pode ser interessante para alguns pratos agridoces e leves.

  • Sec ou Dry

Novamente a confusão. Aqui, claramente percebemos uma ponta de doçura que para alguns pode começar a incomodar. É uma questão de gosto e de compatibilidade com certos pratos.

  • Demi-Sec

Agora completou a confusão. Temos um espumante claramente doce. Nem vou enfatizar o último termo da nomenclatura chamado Doux, pois este é extremamente doce e quase em desuso. Neste nível de doçura, vale mais a pena partir para um bom Asti Spumante, ou nosso Moscatéis doces, geralmente muito bem elaborados.

Tipos de espumantes

  • Blanc de Blancs

Quando você está procurando um espumante leve, para bebericar, para recepcionar pessoas, para abrir um jantar, nada como um bom Blanc de Blancs, ou seja, um espumante elaborado só com uvas brancas, normalmente Chardonnay. O Cava por exemplo, espumante espanhol, em sua grande maioria, é elaborado somente com uvas brancas locais.

a menção champagne no rótulo, as expressões blanc de blancs e blanc de noirs, e a dosagem brut, bem comum nos champagnes

  • Blanc de Noirs

Tipo totalmente oposto ao citado acima. É elaborado somente com uvas tintas no vinho-base, normalmente uvas Pinot Noir. É um espumante de corpo, gastronômico, ou seja, um espumante para ser levado à mesa. É um tanto pesado, beberica-lo sem comida.

  • Rosés

Evidentemente, a cor já diz tudo. Entretanto no estilo, podem variar bastante. Conforme a elaboração desses vinhos, alguns pendem mais para um tipo Blanc de Blancs em termos de leveza, enquanto outros para um estilo Blanc de Noirs com mais corpo. É importante, pesquisar o produtor, as uvas em questão, e sua filosofia de trabalho. Normalmente, é um meio termo.

  • Cuvée Básica e/ou Especial

A imensa maioria dos espumantes, sobretudo em Champagne, são elaborados a partir de uma cuvée básica (mistura de uvas, safras, vinhos de reserva). Isso garante a manutenção do sistema e imprime um estilo próprio da casa. Uma pequena parte desta cuvée pode ser destinada a uvas e vinhos de reserva especiais que resultarão numa mistura diferenciada destinada a um mercado específico mais sofisticado. No caso de Champagne, são as cuvées de luxo, geralmente safradas.

Método de Espumatização

  • Charmat   

Neste método, a espumatização é feita em grandes tanques de aço inox hermeticamente fechados, para total contenção do gás produzido na fermentação do espumante. Tecnicamente, a qualidade da espuma é excelente, não devendo nada ao método seguinte descrito. Normalmente, são espumantes leves para serem tomados jovens. O Prosecco, famosa denominação do Veneto, é um exemplo clássico deste procedimento. Quando não há menção no rótulo, normalmente está subentendido este método.

Ferrari Perle 2006

espumante com safra e declaração do método de elaboração

  • Método Clássico ou Tradicional

É o obrigatório na região de Champagne conhecido como método champenoise. A pressão de cada espumante é concebida na própria garrafa, ou seja, a fermentação é feita com a garrafa tampada. É um método muito mais artesanal e trabalhoso. Normalmente, é mencionado no rótulo. A  grande exceção são os Cavas, pois sua elaboração é obrigatoriamente por este método. Pode gerar espumantes complexos e de preços elevados. É o que há de mais sofisticado para os espumantes.  

Contato com as leveduras

Aqui já estamos falando para aqueles apreciadores de espumantes mais sofisticados. Estamos fugindo da imensa maioria de espumantes mais simples, para o dia a dia, sem grande complexidade. Neste contexto, os grandes champagnes dominam amplamente este mercado. Evidentemente, estamos falando de método tradicional, longo trabalho em adega, e preços nada módicos. 

O cerne da questão é o longo trabalho sur lies (sobre as leveduras). Após a segunda fermentação, as leveduras morrem no interior da garrafa e podem ficar um longo tempo em contato com o vinho se decompondo. Este procedimento tem como objetivo, gerar complexidade aromática, textura mais cremosa, e poder de longevidade para o espumante. Quanto maior este contato, maior qualidade é exigido do vinho-base, pois o ambiente é altamente redutivo. Um vinho-base sem predicados seria um desastre nessas condições, aniquilando o produto final. 

carlos cristal 2005

cuvée de luxo da Maison Louis Roederer sempre safrada

Portanto, estamos falando de vinhos muito especiais que passarão vários anos em adega neste contato prolongado. Normalmente, de 5 a 10 anos. Em champagnes especiais podemos ter de 20 a 30 anos, num produto altamente sofisticado e caro. Este cenário é o que chamamos de cuvées de luxo, onde se utiliza o que há de melhor no arsenal de cada produtor.

Nos espumantes comuns feitos pelo método tradicional, este contato costuma ser breve, entre 12 e 24 meses. Como resultado, os efeitos sur lies são bem modestos, fugindo muito do que foi dito acima.

Espumantes com safra

De um modo geral, a safra mencionada é uma garantia da idade do espumante, já que a maioria deles é elaborada com uma mistura de safras. Portanto, nada de longa guarda para esses casos.

No caso específico do champagne, um safrado ou millésime é encarado de maneira diferente. Trata-se de um grande ano em champagne com condições especiais de elaboração. Portanto, um champagne complexo e de guarda. Voltando às cuvées de luxo, a maioria são safradas. O tempo sur lies é de pelo menos três anos, mas as grandes casas vão muito além do exigido.    

Do exposto acima, vamos a um exemplo prático. Você gosta de um espumante agradavelmente seco, de sabor frutado, para bebericar ou acompanhar pratos leves, e de preços camaradas. Segundo nosso roteiro, você deve procurar por um espumante Brut com predominância de Chardonnay, elaborado pelo método Charmat. Os nacionais costumam ter bons preços, completando a equação. Neste caso, se houver safra, a mais recente possível.  Boas compras!   

 

Champagne: Como escolher?

14 de Novembro de 2013

Vai se aproximando o final do ano e as dúvidas sobre champagnes e espumantes voltam à tona. Vamos falar especificamente de Champagne, mas muita coisa vale para os demais espumantes.

As borbulhas mágicas

A observação no rótulo é fundamental para escolhermos o champagne correto para a ocasião e/ou nosso gosto pessoal. Primeiramente, vamos escolher o grau de açúcar residual que desejamos num determinado champagne, conforme tabela abaixo:

  • Brut Nature, Pas Dosé ou Dosage Zéro (de 0 a 3 g/l de açúcar residual)

É um tipo para muitas pessoas difícil de assimilar. É extremamente seco, e muitas vezes com certa adstringência, sobretudo quanda a acidez é elevada, e geralmente é mesmo. Vai muito bem com peixes e frutos do mar in natura, onde o caráter iodado é bastante evidente. Belo acompanhamento para o caviar.

  • Extra-Brut (de 0 a 6 g/l de açúcar residual)

Não chega a ser tão seco como o anterior, mas ainda conserva uma austeridade marcante. É uma boa experiência para certificar-se se é de seu gosto pessoal tentar um Brut Nature. Tem um público fiel para este tipo de champagne.

  • Brut (máximo de 12 g/l de açúcar residual)

Este é o tipo amplamente consumido mundo a fora. Apesar de seco, costuma agradar a maioria das pessoas. Como a faixa de açúcar residual é mais extensa, podemos perceber as diferenças com mais clareza, dependendo da Maison escolhida.

  • Extra-Dry (de 12 a 17 g/l de açúcar residual)

Para aqueles que precisam sentir uma pontinha de açúcar  no sabor, este é o champagne ideal. Vai bem com comidas levemente agridoces ou com uma textura delicadamente macia.

  • Sec ou Dry (de 17 a 32 g/l de açúcar residual)

Aqui o açúcar é bem mais perceptível, sem chegar a ser totalmente doce. É muito indicado para comidas agridoces e algumas sobremesas que não abusem do açúcar. Comida chinesa costuma harmonizar bem com este tipo de champagne.

  • Demi-sec (de 32 a 50 g/l de açúcar residual)

Este atualmente é considerado o champagne doce, já que o termo Doux (acima de 50 g/l de açúcar residual) está em desuso. Contudo, nem por isso devemos harmonizá-lo com qualquer sobremesa. É bom prestar atenção no açúcar do prato, pois deve ser moderadamente doce. Uma torta de frutas frescas (morango, framboesa, kiwi ou pêssegos) é o ideal. O próprio bolo de casamento é o parceiro mais indicado com este tipo de champagne.

Brut, blanc de Noirs e safra: expressos no rótulo

Segundo passo, o estilo de champagne que mais nos agrada, principalmente levando em conta as porcentagens das três grandes uvas da região (Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay) na cuvée. Quando não há menção no rótulo de alguns dos termos abaixo, supõem-se que a cuvée tem duas ou mais uvas proporcionadas de acordo com o estilo da Maison.

  • Blanc de Blancs (100% Chardonnay)

O mais delicado dos champagnes, pois a Chardonnay dá elegância e graciosidade ao conjunto. Ideal para abrir um jantar, pratos leves á base de peixes, frutos do mar, e canapés dos mais variados. Alguns especiais, normalmente com indicação de safra, podem envelhecer maravilhosamente.

  • Blanc de Noirs (somente uvas tintas, geralmente 100% Pinot Noir)

Ao contrário do anterior, costuma ter corpo e estrutura, características intrínsecas à Pinot Noir. Apesar de tintas, as uvas são vinificadas sem a casta, mantendo a cor palha, porém sempre com tendência ao dourado, enquanto no caso acima (Blanc de Blancs) temos um palha com reflexos verdeais. 

champagne expedition 2012Dê um zoom e veja a supremacia do tipo non millésimé

Terceiro passo, non millésimé ou millésimé, ou seja, champagne com safra ou sem safra. Os champagnes de safra costumam ser mais caros, de melhor qualidade e de boa longevidade (capacidade de guarda). Os motivos principais são: anos especiais, onde o amadurecimento das uvas é ideal, os vinhedos são mais categorizados (geralmente os Grands Crus) e portanto vinhos-base muito bem  selecionados e de produção reduzida. Os non millésimés, sem safra, são a maciça maioria dos champagnes, geralmente na versão Brut.

No quadro acima, vemos um panorama mundial, europeu e do restante do mundo. Não há diferenças significativas entre os quadros. O que realmente é patente, é a supremacia do tipo brut non millésimé, é o carro-chefe das grandes maisons de champagne. Vejam que mesmo os rosés, têm produção bem reduzida, diminuindo ainda mais na produção das cuvées de luxo e os millésimés. O tipo demi-sec também está quase sumindo. A concorrência com o Asti Spumante é cruel, sobretudo em termos de preço.

Uma das melhores cuvées de luxo no gênero

Por fim, as cuvées de luxo, spéciale, de prestige, que podem ser millésimés ou não. Geralmente o são, embora uma das grandes exceções é o champagne Krug Grande Cuvée, espetacular e altamente confiável. Essas menções não constam nos rótulos, pois dispensam apresentações. Alguns nomes de grande prestígio, e sonho do consumo para os produtos de luxo: Dom Pérignon, Cristal, La Grande Dame,  Celebris, Salon, Bollinger RD (James Bond), entre outras. Aqui é para quem não se preocupa com preços, champagnes sutis, complexos, raros e que podem envelhecer por anos a fio. Aliás, o alto preço é uma das maiores dicas dessas maravilhas.

Harmonização: Mil-folhas

5 de Abril de 2012

Quem nunca cedeu à tentação de abocanhar um mil-folhas? Pode ser desde um singelo doce de padaria até sofisticadas sobremesas dos melhores restaurantes franceses. O fato é que as camadas de massa folhada são intercaladas com creme de confeiteiro geralmente aromatizado com favas de baunilha. As frutas vermelhas podem estar intercaladas, ou serem dispostas para compor o prato, conforme segunda foto abaixo. A cobertura pode ser açúcar de confeiteiro peneirado ou um crème fondant (preparação à base de açúcar e água).

Proporção maior de massa folhada

As fotos acima e abaixo mostram proporções de creme e massa folhada bastante diversas. Se as camadas de massa folhada forem proporcionalmente mais relevantes do que as camadas de creme, temos mais crocância e menos untuosidade. Neste caso, espumantes demi-sec (na verdade são doces. vide artigo intitulado Champagnes e Espumantes: grau de doçura) mostram textura mais adequada, com a mousse  harmonizando bem o lado crocante. É só uma questão de calibrar o açúcar do prato com a doçura do vinho. Se houver presença de frutas frescas, Asti Spumante pode ser uma bela opção.

Proporção maior de crème pâtissière

Se por outro lado, a proporção de creme for significativa conforme foto acima, a untuosidade prevalece, pedindo vinhos doces de maior textura. Aqui precisamos de vinhos com mais densidade, mas sem exageros. Brancos do Loire como Quarts de Chaume ou Bonnezeaux baseado na casta Chenin Blanc podem ser ideais. Vendange Tardive da Alsácia baseado na Riesling ou Pinot Gris são alternativas eficientes. Muscat de Rivesaltes é uma opção original do sul da França. Sauternes ou outros Botrytizados muito untuosos são exagerados para o prato. A presença de frutas vermelhas frescas no prato pede mais frescor nos vinhos, sem a necessidade de tanta doçura. Mais uma vez, a calibragem entre o açúcar do prato e a doçura do vinho deve ser observada.

Bela opção para encerrar o almoço de Páscoa neste domingo. Bom feriado a todos!

Harmonização: Champagnes – Parte I

5 de Janeiro de 2011

Iniciaremos agora uma série de posts sobre harmonização de champagnes. Com a época propícia a casamentos, nada melhor do que começar pelo clássico bolo dos noivos. Este é um dos erros mais recorrentes de harmonização, onde o pessoal costuma servir um champagne ou espumante brut. Resultado: o champagne que já é seco, torna-se mais seco ainda, deixando na boca uma acidez desagradável. Além disso, não há uma sintonia de textura entre vinho e comida. Portanto, esta é a hora certa para servir um autêntico demi-sec (termo que indica doçura, conforme post recente). A doçura deste champagne encontra eco imediato na leve doçura do bolo. Por conta do açúcar residual, este champagne apresenta textura mais cremosa, bem de acordo com a suave cobertura do bolo.

O tradicional Bolo de Casamento

Outros níveis de doçura permitem ao champagne incrível versatilidade. Comidas com molhos agridoces podem ser harmonizadas com champagne sec ou demi-sec, conforme a sensação de doçura de cada receita. Pratos da culinária chinesa e também indiana podem se acomodar perfeitamente nestes exemplos. Peixes, frutos do mar e carnes brancas (peito de frango e lombo de porco, por exemplo), são as bases mais emblemáticas de harmonização para as cozinhas acima citadas. Algumas massas utilizadas para frituras na cozinha chinesa acompanhadas de molhos agridoces, ficam muito bem com esses champagnes (os típicos rolinhos primavera). As especiarias e leve picância da culinária indiana são componentes importantes na harmonização, proporcionando sintonia aromática e contraponto de frescor com os champagnes, respectivamente.

É sempre bom lembrar três fatores básicos para harmonizar estes champagnes: comida elegante, delicada, sem aquela conotação rústica. Açúcar comedido nos pratos, pois mesmo os champagnes demi-secs não são tão doces. E por último, nada de molhos muito untuosos ou espessos, sob pena da mousse e textura dos champagnes serem destruídas.

Champagnes e espumantes Brut

19 de Dezembro de 2010

Sabemos bem a confusão dos termos mencioanados para designar o açúcar residual de champagnes e espumantes. Ao contrário do significado literal, o grau de doçura crescente passa pelos termos brut, sec e demi-sec. Portanto, Brut é o espumante seco, Sec é meio seco, e Demi-sec é doce.

Seguem abaixo as especificações, segundo o indispensável site www.champagne.fr:

  • Brut: inferior a 12 gramas por litro de açúcar residual
  • Extra-dry: 12 a 17 gramas por litro
  • Sec ou Dry: 17 a 32 gramas por litro
  • Demi-sec: 32 a 50 gramas por litro
  • Doux: acima de 50 gramas por litro (pouco elaborado)

Dentro da especificação Brut, podemos encontrar ainda uma subdivisão em Extra-brut e Dosage zéro. O Extra-brut pode ser usado quando o açúcar residual não ultrapassar seis gramas por litro. Já o Dosage zéro, o açúcar deve ser inferior a três gramas por litro. Este última termo tem como sinônimos as expressões Pas dosé ou Brut nature. Neste caso, não há licor de expedição após o dégorgement (operação para retirada das leveduras e colocação da rolha definitiva).

 

Os rótulos acima ilustram as explicações. No entanto, a utilização dos termos relativos aos espumantes secos não têm uma precisão matemática. Teoricamente, o produtor pode colocar o termo Brut para quaisquer das subdivisões se o champagne contiver menos de doze gramas de açúcar residual por litro.

Por fim, a percepção de secura do champagne está intimamente ligada à sua respectiva acidez. Muitas vezes, uma acidez mais branda pode causar uma sensação de maciez ou doçura, mesmo com um açúcar residual relativamente baixo.

Este post foi desenvolvido por sugestão do leitor Josivaldo Gonçalves. Sugira também você um tema em nossa página neste blog.

 

Champagnes e Espumantes: grau de doçura

27 de Outubro de 2010

Muito cuidado na hora de pedir seu champagne seco!

Pouca gente sabe o grau de doçura dos espumantes de um modo geral, respeitando as normas internacionais. Para complicar mais ainda, os termos em francês ou inglês designados, não expressam de forma objetiva, o verdadeiro sentido dos mesmos.

De acordo com o site oficial de champagne (www.champagne.fr), um dos mais completos sites de vinhos, segue abaixo o verdadeiro sentido e significado dos termos, em ordem crescente de açúcar residual:

  • Brut Nature: inferior a 3 gramas por litro. Conhecido também por  Pas dosé ou Dosage zéro, é o mais seco dos espumantes. Embora seja delicioso e o mais indicado para o Caviar, a sugestão deste tipo deve ser feita com reservas, respeitando o gosto pessoal de cada um.
  • Extra-Brut: até 6 gramas/litro. Pode haver um conflito entre este termo e o anterior, ficando a critério do produtor a indicação no rótulo.
  • Brut: inferior a 12 gramas/litro. Outro termo conflitante com os anteriores. Este é o termo correto para pedirmos um espumante seco. Apesar dos valores nominais de açúcar residual parecerem altos, a acidez natural dos espumantes mascaram a sensação de doçura, proporcionando uma percepção fresca e agradável dos mesmos.
  • Extra-dry: 12 a 17 gramas/litro. Apesar da contradição do termo, é possível perceber um leve açúcar residual na sensação final do espumante.
  • Sec ou Dry: 17 a 32 gramas/litro. Termo confuso onde claramente, percebemos uma sensação relativamente nítida de açúcar residual. Esses espumantes vão muito bem com comida chinesa, onde o toque agridoce e a textura levemente oleosa, proporcionam um contraponto interessante.
  • Demi-sec ou Rich: 32 a 50 gramas/litro. Por incrível que pareça, este é o espumante realmente doce. Aliás, este é o ideal para o clássico bolo de casamento, onde a taça deveria ser aquele modelo mais antigo (borda bem larga e bojo bastante achatado). Neste modelo de taça, potencializamos a percepção da acidez, equilibrando a sensação de extrema doçura.
  • Doux: superior a 50 gramas/litro. Termo praticamente em desuso, para espumantes extremamente doces. Este grau de doçura é encontrado na maioria dos espumantes moscatéis elaborados no Brasil, similares ao Asti Spumante.

Outro demi-sec famoso

 

 


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