O mais respeitado guia de vinhos da América do Sul, envolvendo países como Chile, Argentina, Brasil e Uruguai. A infinidade de vinhos premiados é imensa com muitas notas em torno de 95 pontos ou mais. Nota é sempre algo subjetivo, mas penso que alguns vinhos têm pontuação exagerada. De todo modo, é um painel bem amplo do que acontece no Continente em termos de tradição, novidades, e grandes promessas.
O Brasil, enfatizado pelos conhecidos e bons espumantes, mostra diversidade de estilos, trabalhando bem tanto no método tradicional, como no Charmat. Destaque especial para Cave Geisse, sediada num terroir privilegiado, além do talento de sua equipe técnica. Pessoalmente, o melhor espumante do Brasil.
O Chile, sempre crescendo em qualidade e diversidade, além de uma das potências em exportações de vinho no Mundo. Cada vez mais, explorando bem a versatilidade de seus inúmeros vales de norte a sul, temperados pelo frio Oceano Pacífico e a imponente Cordilheira dos Andes.
A Argentina, explorando bem o terroir mendocino, especialmente o frio Valle de Uco, com micros terroirs diversificados, dando a cada vinho personalidade própria. Salta, no extremo norte, e Patagônia, no extremo sul, são regiões com certeza ainda de muitas surpresas num futuro próximo.
O Uruguai, um pouco mais modesto, mostra sua força num território comparativamente minúsculo. Contudo, o clima temperado pelas águas mais frias nesta latitude, mostra tintos equilibrados, além de brancos vibrantes e originais.
O evento ocorreu no Espaço Traffô, um tanto tumultuado tal a quantidade de pessoas circulando. Neste caso, mereceria pelo menos mais um dia dividindo este público para um roteiro de vinhos mais tranquilo.
Cave Geisse: orgulho brasileiro
Aqui temos as melhores uvas Pinot Noir da safra na elaboração deste Blanc de Noir. No pescoço da garrafa vem indicado a safra e a data de dégorgement, normalmente com três anos sur lies. Cremosidade e corpo consistentes com muito frescor e equilíbrio. Os demais espumantes da casa seguem sempre um padrão de alta qualidade.
belos vinhos em estilos diferentes
Aqui, duas belas novidades em termos de uvas e terroirs. Muito bem pontuados, o branco da esquerda, Granito Sémillon mostra grande estrutura, corpo, textura e mineralidade. Um vinho denso e super equilibrado. Elaborado pela vinícola chilena J. Bouchon no vale do Maule em solo granítico. Já o branco da direita, uma agradável surpresa uruguaia com a casta Albariño na mais nova região vinícola deste país, perto de Punta del Leste, a chamada região Sudeste. Muito frescor, elegância e mineralidade. Uma pequena parte do lote passado em barricas francesas não mascara a fruta, resultando num conjunto harmônico.
argentinos diferenciados
O vinho da esquerda é um Torrontés de Salta, região norte da Argentina de grande altitude. Estamos falando em torno de dois mil metros acima do nível do mar. Este antigo vinhedo plantado nos anos de 1945 em latada (condução de vinha chamada também de parral), faz toda a diferença neste branco fresco, muito equilibrado, sem aqueles aromas invasivos e muitas vezes enjoativos da aromática Torrontés. Talvez o melhor Torrontés que já tenha provado. No vinho da direita, mineralidade à toda prova com evidente gosto salino. Este Sauvignon Blanc vem de Valle de Uco, mais especificamente, Gualtallary a 1450 metros de altitude. Mesmo com certo contato sur lies, o vinho é quase elétrico em boca com muito fresco e pureza de fruta. Conceitos biodinâmicos em todos os vinhos desta vinícola, Zorzal.
uva rustica bem trabalhada
A uva País (Chile) ou Criolla (Argentina) foi trazida na época da colonização espanhola nativa das Ilhas Canárias. Normalmente, gera vinhos rústicos, sem muitos atrativos. No entanto, bem trabalhada, pode ter resultados curiosos e surpreendentes. É o caso dos dois exemplares acima, um argentino, outro chileno.
O vinho da esquerda, são parreiras de 1958 com uvas perfeitamente adaptadas ao seu terroir. A vinificação inicial começa como um tinto propriamente dito. Em seguida, são retiradas as cascas, prosseguindo uma vinificação aos moldes de um branco. O vinho depois de estabilizado é engarrafado sem filtração. Delicado e profundo ao mesmo tempo. Já o da direita, parreiras totalmente selvagens como o próprio nome diz. São vinhedos na região chilena do Maule secano (região costeira do Maule), onde as vinhas foram plantadas em meio a vegetação nativa, trepando pela árvores sem condução. Isso dificulta a colheita, a qual é feita por meio de escadas, nos moldes dos vinhedos antigos na região dos Vinhos Verdes em Portugal. 50% das uvas são fermentadas com maceração carbônica, enriquecendo os aromas de frutas, e a outra metade numa fermentação normal em cubas. O resultado é um vinho delicado, original e totalmente natural. Nos dois vinhos, extraem-se delicadeza, suavidade, sem aquela rusticidade habitual.
mais vinhas antigas
O tesouro das vinhas antigas é um patrimônio que deve ser preservado a qualquer custo. São vinhos de personalidade, de equilíbrio raro, marcantes sem serem pesados. Enfim, uma maravilha. No caso da esquerda, são parreiras de 60 anos das famosas vinhas de Carignan do Maule. Com a vinificação primorosa da família Morandé, este tinto mostra toda sua autenticidade e frescor incríveis. Já o Cabernet Sauvignon da direita, voltamos à vinícola El Esteco de Salta para mais uma vinha antiga de 54 anos, plantada a 1700 metros de altitude. Partindo de baixos rendimentos, o vinho estagia em barricas francesas por 15 meses. Um Cabernet de raça com um balanço incrível entre força e elegância. Dois tintos de grande personalidade.
O versátil Valle de Colchagua
Aqui, uma homenagem à Casa Silva, uma das referências em vinícolas no terroir de Colchagua. Ampla gama de vinhos sempre bem elaborados. Neste caso, dois tintos bem específicos. O da esquerda, um Petit Verdot de duas parcelas exclusivas da propriedade. Vinho robusto, cheio de taninos, próprio para carnes suculentas e fibrosas como bife de Chorizo. Bem educado em barricas francesas por 12 meses. Já o vinho da direita, um Carmenère também de parcelas exclusivas, bem trabalhado em barrica francesa, tanto na vinificação, como amadurecimento por 12 meses. Fora de Peumo, o terroir ideal para esta tardia casta, um dos melhores Carmenères do Chile.