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Amadeus regendo Montrachet

11 de Novembro de 2018

Foi de fato uma verdadeira sinfonia, a degustação de Montrachets ocorrida num belo almoço no clássico restaurante Amadeus. Comtes Lafon nos metais, Ramonet nos violinos, e DRC ao piano, deram o tom do espetáculo.

Segundo o escritor inglês Hugh Johnson: “Montrachet  not as giant among pygmies, but as a colossus among giants”. Agrega a elegância dos Chevaliers com a densidade dos Bâtards.

montrachet vignoble

http://lefrancbuveur.com/chronique-livre/chronique-livre-mes-incontournables-5-de-5/attachment/dscn2439/

Das propriedades acima, percebemos que Marquis de Laguiche (Joseph Drouhin) e Baron Thénard são verdadeiros latifúndios se comparados aos demais produtores. Ramonet e Lafon com propriedades minúsculas, sem falar em Domaine Leflaive com quase nada em termos de área.

Montrachet Map

http://www.tenzingws.com/blog/2016/1/12/interactive-map-of-le-montrachet-vineyard

Nos dois mapas acima, é bom clicar nos seus respectivos links para uma melhor visualização dos mesmos. A apelação Montrachet tem somente oito hectares de vinhas e está localizada no centro gravitacional dos melhores brancos da Borgonha. Cercada pelos Grands Crus Chevalier-Montrachet, Bâtard-Montrachet, Bienvenues-Bâtard-Montrachet e Criots-Bâtard-Montrachet, suas vinhas são as mais valorizadas, chegando a absurdos 23 milhões de euros o hectare. Este valor pago pelo bilionário François Pinault, proprietário entre outros vinhedos do Chateau Latour em Bordeaux, refere-se à compra de uma parcela em Montrachet de 0,042 ha por um milhão de euros. É só fazer as contas.

Nos mapas acima, percebemos uma linha clara de divisão no meio do vinhedo, dividindo em partes iguais uma parcela para a comuna de Chassagne-Montrachet, chamada também de Le Montrachet, e outra para a comuna de Puligny-Montrachet, chamada simplesmente Montrachet.

Em termos de terroir, essa divisão vai além de uma distinção comunal. Sobretudo pela orientação das vinhas (vide curvas de nível no primeiro mapa) devido às diferentes inclinações do terreno nas respectivas comunas, as vinhas em Chassagne-Montrachet tendem a fornecer uvas mais maduras, proporcionando vinhos mais cheios como os DRCs (Domaine de La Romanée-Conti). Já as vinhas em Puligny-Montrachet, geram uvas com maior acidez, proporcionando vinhos mais elegantes e de maior tensão. É o caso clássico do Montrachet Ramonet.

Como terceira alternativa de terroir, as vinhas no extremo norte da comuna de Chassagne-Montrachet apresentam um terreno mais pedregoso, semelhante a Chevalier-Montrachet na comuna oposta. Isso proporciona vinhos de maior elegância, fugindo um pouco da característica de sua comuna. É o caso dos Montrachet dos produtores Marc Colin e Guy Amiot, de produções diminutas.

img_5280diversas cores em taças Zalto

img_5283esse foi o trio de largada

Sem mais delongas, vamos ao que interessa. Já de inicio, pisando fundo no acelerador. Três Montrachets da bela safra 96, todos altamente pontuados. Reparando direito, tem um intruso no ninho. Contudo, trata-se de Madame Leflaive onde tudo é perdoado. Bienvenues Bâtard Montrachet é um dos Grands Crus mais exclusivos, situado à direita do Grand Cru Bâtard-Montrachet. Este em particular da Madame, deu um banho de elegância nos outros dois. Delicadeza total e um aroma fino de mel de flor de laranjeira. Equilíbrio em boca, fantástico. Já o Montrachet Louis Latour tinha mais densidade em boca com lindos toques de caramelo. Etienne Sauzet, outro grande produtor com 96 pontos nesta safra, estava com a garrafa prejudicada. O pouco que ele apresentou foi nos primeiros instantes na taça, e logo a oxidação deu cabo final a ele. Uma pena!

img_5285vinhos de negociantes?

Neste segundo flight, um parêntese aos produtores acima. Sabemos que tanto Drouhin como Louis Latour são ótimos e tradicionais negociantes na Borgonha, ou seja, muito de suas marcas são vinhos cujas as uvas são compradas de parceiros de confiança ou vinhos que eles compram novos e educam (élevage) em suas adegas próprias. Nada de errado, são bons vinhos a preços competitivos. A origem dos Leroys também foi essa, vinhos de negociantes com o saudoso Henry Leroy, pai de Madame Leroy.

Além dos vinhos de negociante dessas Maisons, elas também possuem alguns vinhos de vinhedos próprios, onde eles têm total autonomia no plantio e vinificação. No caso de Laguiche, é admirável o nível de seu vinho, sobretudo pela quantidade elaborada. Afinal, é o maior vinhedo disparado na apelação Montrachet. O mesmo podemos dizer de Louis Latour com vinhos admiráveis. É bem verdade que não fazem parte do primeiro escalão, mas a qualidade de seus vinhos é incontestável.

Voltando ao flight, pegamos o Laguiche 2003 em plena forma, exuberante, esbanjando fruta e um equilíbrio em boca fantástico. Levando-se em conta o preço, relativamente em conta para a apelação em questão, ganhou de braçada a degustação. Já o Laguiche 89, outra bela safra, estava um pouquinho cansado, embora muito prazeroso ainda. Fica a dúvida, se foi um problema de garrafa, ou se o apogeu deste vinho ocorre ao redor de 15 anos, no caso 2003.

Por fim, o Montrachet Louis Latour 2005 confirma que em vinhos antigos e sobretudo brancos, não existem grandes safras e sim, grandes garrafas. O 1996 citado a pouco, estava muito mais gracioso que este 2005. São duas grandes safras de padrões equivalentes, mas esta garrafa 2005 não estava em grande forma.

contribuição da confraria

Além dos pratos da Casa (restaurante Amadeus), dois dos confrades forneceram algumas iguarias para o almoço. Um lindo tartufo de Alba para os ovos caipiras de entrada, e preciosas sardinhas trazidas na mala para compor o tradicional cuscuz da casa. Abrilhantaram em muito nosso almoço.

img_5293dupla de elite

Não podemos falar em tropa de elite, pois Montrachet é muito exclusivo e não combina com quantidade, mas estes dois rótulos acima, sobretudo nesta safra perfeita de 2010, mostraram que o futuro pode ser brilhante. Em estilos completamente oposto, cada qual mostrou seu requinte com vinhos lindamente definidos. O Montrachet Lafon talvez seja o único representante da apelação a peitar o Montrachet DRC em termos de opulência. Um vinho denso com corpo de tinto em boca. Macio, equilibrado, e de longa persistência aromática. Já o Montrachet Ramonet, um primor de elegância com uma acidez tensa, vibrante, e de grande delicadeza em boca. Como estilo, se aproxima muito de Madame Leflaive, um dos Montrachets mais exclusivos, de produção diminuta.

img_5295um infanticídio delicioso

Neste último flight, vinhos extremamente jovens, mas de grande exuberância. Mostra toda a força deste grande vinhedo, onde temos a expressão máxima da Chardonnay na Borgonha. Não devemos nos esquecer que esses vinhos são fermentados e amadurecidos em barricas novas de carvalho. Entretanto, o casamento deles com a madeira é perfeito, onde os toques da barrica estão sobejamente integrados à fruta.

Começando pelos Louis Jadot e Drouhin, vinhos de grande potencial e muito bem equilibrados. Jadot com um pouco mais de densidade em boca, e Laguiche mantendo a elegância dos Drouhin. O gran finale ficou mesmo reservado ao todo poderoso DRC, o Montrachet mais caro da apelação. Suntuosidade é o que define este grande branco. Nosso Maestro, matou de cara todos deste último flight, apostando mais uma vez sua preciosa adega no Montrachet DRC. Trazido por ele mesmo, nos brindou mais uma vez com sua imensa generosidade.

Aproveitando o ensejo, meus agradecimentos a todos os confrades pela companhia, pelo papo sempre agradável, e pelo companheirismo de mesa e copo. Que Bacco sempre nos proteja! Saúde a todos!

Três amigos e quatro brancos

3 de Fevereiro de 2018

O título acima resume três grandes amigos compartilhando brancos de exceção e produção limitadíssima. Tudo aconteceu num agradável almoço no restaurante Amadeus com atendimento quase exclusivo da chef Bella Masano. Entre vários mimos, mini pasteizinhos de camarão, mini lulas chapeadas com cogumelos, ostras frescas of course, e dois pratos para comer de joelhos: mexilhões ao vapor e cuscuz de camarão e sardinha.

Vinotheque: o primeiro da história

Para começar a brincadeira, degustamos o primeiro Vinotheque Cristal 1995, recentemente lançado no mercado. A filosofia é parecida com as plenitudes do champagne Dom Pérignon. Neste caso, pequenos lotes do Cristal 1995 foram deixados em contato sur lies por dez anos. Normalmente, o Cristal Vintage passa de cinco a seis anos sur lies. Após esta dezena de anos e o dégorgement, este Vinotheque descansa mais dez anos em adega, antes de ser lançado no mercado. A ideia é proporcionar ao cliente a experiência de provar um champagne maduro e de alta complexidade. De fato, é uma maravilha. O que mais me encanta neste champagne é sua feminilidade e delicadeza. A mousse é abundante sem ser agressiva, estando perfeitamente integrada na massa vínica. A dosagem final do licor de expedição fica entre 8 e 10 gramas por litro de açúcar, conferindo uma maciez extra ao champagne. A textura é cremosa e os aromas de pralina são marcas registradas com toque de pâtisserie. Um champagne de gourmandise como dizem os franceses. Com os mini pasteis de camarão, sabores e texturas se entrelaçaram.

Neste lançamento, foram elaboradas 60 garrafas em branco e 30 garrafas em rosé, ambas da safra 1995 com preços a partir de 900 euros o exemplar.

Premier Cru Les Gouttes: menos de mil garrafas

Seguindo em frente, passamos aos brancos de Madame Leroy de sua reserva particular, Domaine d´Auvenay. Degustar um Auvenay já é um privilegio imenso, mas poder comparar duas safras distintas lado a lado, é ser “chic no úrtimo”. O vinho em questão era o Meursault Premier Cru Les Gouttes, safras 2009 e 2007. A concentração e finesse desses vinhos são admiráveis. Estamos falando de lotes com menos de mil garrafas por safra. A comparação foi bem didática, mostrando com clareza a característica das safras. No caso de 2009, é uma safra gorda para os brancos. Eles são untuosos, densos, macios, e ricos em sabor. Muito agradáveis para beber já. Falando de 2007, trata-se de safra clássica e também muito prazerosa. Contudo, percebe-se claramente uma textura mais delgada e uma acidez mais altiva, mais cortante, puxando mais para elegância do que potência.

sabores incríveis

Aqui um dos pontos altos do almoço, mexilhões cozidos em seu próprio caldo com vinho branco, ervas e temperos provençais, o clássico Moules à la Vapeur. O frescor, o ponto de cozimento e a delicadeza do tempero, estavam perfeitos. Mexilhões de textura macia, quase doces na boca, uma maravilha. Com os Meursaults, ficou divino. O clássico camarão gigante da casa perfeitamente empanado, servido em ninho de batatas fritas com os três molhos (abacaxi, tamarindo, e vinagrete), foi outra harmonização certeira. A gordura e a crocância do camarão foram contrastadas pela acidez e mineralidade do vinho.

IMG_4223.jpg

 o frescor dos ingredientes saltam aos olhos

Finalmente, o prato de resistência, esse maravilhoso cuscuz de camarão, palmito, ervilhas frescas, e sardinhas. Um prato de verão que tem sustância e uma umidade refrescante para esta estação do ano. Aqui, champagne e os brancos do almoço se refastelaram sem cerimônias.

os reverenciados Goldkapsel

Para fechar o trio de exclusividades, partimos para um Auslese alemão do produtor Markus Molitor, um Gold Capsule safra 2014. Na classificação de doçura nos vinhos alemães de predicado (QmP), o termo Auslese apresenta as versões Trocken, halbtrocken e Sweet. Em se tratando de cápsula dourada, a versão é sempre doce, balanceada por uma alta acidez num equilíbrio divino. Outro detalhe do rótulo alemão são as estrelas gravadas no rótulo. No caso, são três depois da palavra Auslese, indicando o mais alto nível de maturação das uvas. Bockstein é um dos vinhedos mais famosos da região do Saar, uma das mais frias da Alemanha, onde a exposição e declividade do terreno são cruciais para um perfeito amadurecimento dos frutos. Markus Molitor é uma das estrelas do Mosel, local dos Rieslings mais elegantes do mundo. Seus terrenos de ardósia possuem inclinação acentuada de 80% de declividade, maximizando a exposição solar.

IMG_4226.jpgSfraciatelli, abacaxi, e coco em versões

Decifrado o rótulo, o vinho tinha uma elegância ímpar, sustentado por uma acidez marcante, sem ser agressiva. O açúcar residual perfeitamente balanceado e um teor de álcool discretíssimo de 7,5° graus. As sobremesas de coco da foto acima, bem como o sfraciatelli (doce siciliano de frutas secas e castanhas), ficaram muito bem acompanhadas pelo vinho com açúcar na medida certa.

hora da fumaça azul

Agora já fora da mesa, o merecido descanso após o sacrifício, jogando conversa fora. A postos, Behike 52 e Hoyo de Monterrey Serie Le Hoyo. O primeiro,  um Petit Robusto topo de gama da linha Cohiba, ring 52. O segundo, um Robusto Extra de ring 54 e ótimo fluxo. É como comparar Bordeaux e Bourgogne. A Casa Hoyo de Monterrey prima pela elegância, delicadeza, aromas etéreos ricos em especiarias. Já o Behike, toda a potência de um cubano com toques terrosos e de couro. Os dois maravilhosos, cada qual em seu estilo.

desce macio e reanima

Nos mesmos moldes dos Puros, os destilados se contrastaram, sendo grandes em seus respectivos estilos. O rum guatemalteco Zacapa é um show de maciez e corpulência com um final quase doce, rico em baunilha. Foi muito bem com o Behike 52, sobretudo no terço final, num final avassalador. Já a elegância, aromas etéreos, deste Armagnac Darroze safrado de 1972, permanecido em pipas de carvalho por 40 anos (engarrafado em 2012), deram as mãos ao Puro Serie Le Hoyo, um respeitando as sutilezas do outro. Vale dizer, que este Armagnac não precisou ser retificado com água para baixar seu teor alcoólico, visto que o longo período de envelhecimento em cascos, cumpriu a missão naturalmente. Os Armagnacs ainda contam com este privilégio de safras antigas, fato muito mais raro  em seu concorrente direto, o nobre Cognac. Vale ressaltar que Bas-Armagnac mencionado no rótulo é o melhor terroir desta apelação. Equivale à melhor porção em Cognac, chamada de Grande Champagne.

Resta apenas agradecer a companhia e generosidade dos amigos em longas horas de puro prazer sensorial no sentido epicurista. O ano 2018 promete!

Le Montrachet

8 de Abril de 2017

Num dos livros de Hugh Johnson, ele diz: “No dia em que cair a última gota de chuva e for removido o último estrato geológico, ainda não se saberá por que a França é a indiscutível mestra dos vinhos”.

Esta frase resume bem os mistérios que fazem do Le Montrachet um dos brancos mais fascinantes do mundo, mesmo entre seus concorrentes diretos e vizinhos. Os fatores de terroir são muito sutis, em tentativas quase que românticas em explicar a nobreza de um dos mais espetaculares vinhedos sobre a terra.

Aproveitando o argumento, vamos a mais algumas tentativas …

le montrachet

No esquema acima percebemos gradientes diferentes na subida da encosta. Montrachet tem um aclive um pouco mais acentuado que Bâtard-Montrachet e bem menos que o vinhedo imediatamente acima, Chevalier-Montrachet. A proporção de argila no calcário também é intermediária, tornando o vinho mais encorpado, o suficiente para não ser tão pesado como Bâtard, e nem tão leve como Chevalier (solo pedregoso). Esses detalhes tentam explicar a maturação de uvas perfeitas num terreno de oito hectares de insolação suficiente e prolongada no verão, bem como drenagem correta do terreno com reservas de água no subsolo para enfrentar anos mais secos.

Teorias à parte, vamos ao desfile de Montrachets, separados criteriosamente por várias duplas sucessivamente.

amadeus leroy montrachet

os velhinhos do almoço

Como todo velhinho, já foram bons um dia. Aqui é uma viagem num tempo onde ainda não havia esse glamour e essa valorização excessiva dos vinhos, onde os mesmos tornaram-se verdadeiras commodities no mercado financeiro. Notem que o vinho da direita nem se dá ao trabalho de mencionar o termo Grand Cru no rótulo. Esses vinhos eram de Négociants, método muito utilizado na época e relativamente confiável, já que Maison Leroy (o velho Henry) tinha critérios bem definidos com seus parceiros, seja de uvas ou do vinho recém elaborado.

De todo modo, a safra 1978 confirmou seu potencial, como uma das mais espetaculares do século passado. Muito elegante, aromas delicados e etéreos, num final de boca muito agradável. Já seu companheiro, dez anos mais velho, apresentava sinais de cansaço absolutamente compreensíveis. Contudo, dava para notar sua concentração e com certeza, em algum momento de sua evolução foi um belíssimo branco com muita energia.

A escolha dos mesmos no início da degustação mostra o alto grau de conhecimento deste grupo, aproveitando ao máximo as sutilezas guardadas pelo tempo nestas duas garrafas, ainda com a boca virgem, sem interferência dos demais Montrachets, certamente mais intensos.

amadeus montrachet lafon colin

talvez, o flight do almoço

Vinhos de alto nível com perfis completamente opostos. Você até pode não gostar do Lafon, mas seu estilo é fiel e inconfundível. Vinho sem rodeios, intenso, macio, bem trabalhado na barrica, e extremamente sedutor. Além disso, 2007 é uma safra precoce, favorecendo o estilo deste produtor. Já o branco da esquerda, uma preciosidade, bem ao estilo da safra 2004 de destacada acidez. Yves Colin produz um décimo do que produz Lafon, que já não é muito. Estamos falando aqui de frações de hectares. Voltando ao vinho, sua acidez é impressionante, garantindo boa longevidade para este exemplar. Muito elegante, quase não se percebendo a barrica. Um verdadeiro Montrachet de guarda.

amadeus montrachet ramonet leflaive

disputa de gigantes

Não fosse a sutil tendência oxidativa de Madame Leflaive, seria um embate disputadíssimo. Infelizmente, depois da safra 2004, os brancos Domaine Leflaive não são tão confiáveis, variando muito de garrafa para garrafa. Este 2010 de safra irretocável é bem elucidativo. Percebe-se um belo extrato, longo em boca, mas com aquela pontinha oxidativa desagradável. Em compensação, seu oponente Ramonet estava impecável. Um balanço incrível entre acidez, álcool e madeira, deixando o vinho delicado mas ao mesmo tempo, com profundidade e presença. Delicioso agora, podendo evoluir bem nesta safra histórica de 2010. Nem parece que tinha 14% de álcool, perfeitamente integrado ao conjunto. Sério candidato a vinho do almoço.

amadeus montrachet drc e colin

potência e delicadeza lado a lado

Outra produção minúscula da família Colin numa safra lindíssima, 2005. Muito delicado, cítrico, floral, com final muito bem acabado. Já prazeroso, mas com ótimo potencial de guarda, tal o balanço de seus componentes, sobretudo acidez e álcool. Já o DRC 2011, uma criança a ser alfabetizada, na mais tenra idade. Assim como Lafon, DRC tem seu perfil inconfundível, potente, complexo, e impactante. Pede pratos substanciosos, sobretudo aves com molhos cremosos de cogumelos.

Comidinhas do almoço

amadeus vieiraamadeus camarao

para os Montrachets mais delicados

Os pratos da foto acima primaram pela perfeita textura de seus componentes, vieira e camarão, onde a simplicidade e correta técnica de execução fazem a diferença. Nos pratos da foto abaixo, sabores mais substanciosos. Guarnição de arroz negro para evidenciar a tenra cavaquinha e uma receita exclusiva da família Masano, restaurante Amadeus, de um Capeletti in Brodo surpreendente.

amadeus capeletteamadeus cavaquinha

para os Montrachets mais intensos

O lindo cuscuz de sardinhas apresentado abaixo, especialmente preparado para o grupo, foi outro destaque do almoço. Muito saboroso e extremamente úmido, transmitindo muito frescor dos ingredientes; palmito, azeitonas e ervilhas.

amadeus cuscus sardinha

outro destaque do almoço

Como o pessoal não sai da mesa sem tintos, a eterna disputa entre Borgonha e Bordeaux, para agradar a gregos e troianos. E depois desta avalanche “montrachista”, nada mau alguns goles de Latour 1995 e Richebourg DRC 2007, sem disputas, em convivência amigável.

amadeus richebourg latour

convivência harmoniosa

Falar de Latour é falar de consistência, estilo bem definido, potência com elegância. É o mais autêntico representante do Médoc com seus aromas de cassis, couro bem tratado, tabaco, terra, e vai por aí afora. Safra extremamente prazerosa, sobretudo pela qualidade e agradabilidade de seus taninos. Mais dez anos com folga.

Do lado borgonhês, outra safra prazerosa de 2007. Um Vosne-Romanée de taninos estruturados, viril, próprios dos grandes Richebourgs. Cerejas, especiarias doces e os toques florais de rosa negra, são avassaladores. Decantado por uma hora, já transmite muito prazer.

amadeus tokaji 5 puttonyosamadeus taça tokaji 80 anos

quando um branco vira tinto

Quando se começa em alto nível, não há espaço para deslizes. Encerrando este lauto almoço, a Hungria se faz presente. E que presente! um Tokaji 5 Puttonyos de mais ou menos 80 anos, pois o rótulo se perdeu no tempo. A uva Furmint, protagonista deste vinho, mostra toda sua estrutura e incrível acidez para suportar dignamente décadas a fio. Todos os empireumáticos e defumados presentes no aroma, textura delicada, e um frescor que só os grandes vinhos são capazes de manter.

amadeus charutos

Puros para três sobreviventes

Ivan, o terrível, nos proporcionou estas maravilhas. H. Upmann torpedo, pai do famoso Montecristo nº2, só que de uma reserva especial, conforme anilha dupla. Fluxo perfeito e potência na medida certa.  Entre Portos, cafés e rums, mais um pouco de conversa. Faltou uma pessoa neste crepúsculo, igualmente amante de Vuelta Abajo, que tem saído pela tangente ultimamente. Fica minha cobrança enfumaçada. Abraços a todos! até breve.


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