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Charutos e seus Parceiros

2 de Outubro de 2019

Embora a turma do charuto diga que existem charutos leves, medianamente potentes, e os declaradamente potentes, charuto leve é como feijoada light, acredita quem quiser. De todo modo, um bom charuto, e pessoalmente falo dos cubanos, após uma bela refeição, é um prolongamento gourmet que se estende fora da mesa, para uma boa conversa, uma boa música, ou uma boa leitura. Na mesa ficaram os vinhos, as cervejas, os acompanhamentos naturais dos mais variados pratos. E é nessa hora, fora da mesa com os charutos, que os destilados reinam como nenhuma outra bebida. O estômago está preparado para recebe-los, assim como os charutos. Essas bebidas têm potência e força aromática compativeis com os charutos, sobretudo aquelas com passagem por algum tipo de madeira. Entre elas o carvalho, que além de promover uma micro-oxigenação na bebida, fornece deliciosos aromas de baunilhas, especiarias, e toda a sorte de empireumáticos. É a hora certa com o parceiro certo.

Dentre uma infinidade de destilados, existem três de grande projeção internacional, encontrados com facilidade mundo afora. São eles: Brandies, Cognac e Armagnac, num primeiro grupo, Whiskies escoceses e fora da Escócia num segundo grupo, e a bebida nativa da terra caribenha e do charuto, o delicioso rum nos mais variados estilos, sempre añejo, viejo. Para nós brasileiros, contamos com um quarto grupo que são as nossas cachaças artesanais, envelhecidas nas mais variadas madeiras. Uma harmonização muito interessante.  Um outro grupo de destilados que não devemos nos esquecer são as Grappas.

Brandy

img_6687-1um dos mais excluvivos Brandies (Bourgogne DRC)

Os mais interessantes encontrados no Brasil são os Brandy de Jerez, região espanhola especializada na bebida. Os brandies nacionais de vinícolas importantes da Serra Gaúcha, fazem bons exemplares com certo grau de sofisticação. Por fim, os Cognac e Armagnac, também bastante difundidos no mercado, para todos os gostos e todos os bolsos. Os mais sofisticados são sublimes e imbatíveis. 

Whisky

img_6460um dos mais consistentes Bourbons

É realmente um mundo à parte. O destilado mais poderoso do planeta tem seu reino na Escócia. Além dos famosos Blended Scotch amplamente divulgados no mercado, temos um nicho bem mais sofisticado dos Single Malts nos mais variados estilos. Dentre eles, um bem particular, os poderosos Single Malts de Islay como Ardbeg, Laphroaig, e Lagavulin. Nestes Malts de Islay não tem meio termo: ou você ama, ou odeia. São bebidas altamente turfadas que dão um caráter fortemente esfumaçado e um toque medicinal. Exclusivamente indicadas para charutos potentes como Partagas e Bolívar. Para aqueles que preferem Malts mais macios e frutados, Speyside é uma ótima alternativa.

Fora da Escócia, os Bourbons americanos também têm uma clientela fiel. Wild Turkey e Buffalo Trace são pedidas certas e extremamente bem elaboradas. Ainda temos Irlanda e Canadá com alguns exemplares de Whiskies mais leves.

Rum

img_5921Um trio de destilados imbatíveis

Todo o Caribe e América Central têm uma infinidade de runs nos mais variados estilos. A escola inglesa elabora runs mais pesados, mais escuros e com certa tendência adocicada. O escola espanhola faz um rum de certa potência com mais equilíbrio. Vão muito bem com a maioria dos charutos. Por fim, o rum mais delicado da escola francesa, o rum agricole. Indicado para charutos de leve e média fortaleza.

Contudo, um dos melhores runs em nosso mercado é o guatemalteco Zacapa. Um rum elaborado nas altitudes com canaviais altamente selecionados e uma série de barricas especiais, algumas que envelheceram grandes cognacs. Potente, mas muito bem equilibrado.

Grappa, Bagaceira, Marc

img_3131Grappas nobres (Sassicaia e Torcolato, um belo vinho de sobremesa do Veneto)

Cada país tem seu nome, mas a Itália é mestra neste tipo de bebida. Um grupo destilado à base do bagaço de uvas que sobram da fermentação dos vinhos. Aqui se separam os homens dos meninos. Um bebida potente que deve se ter respeito. Talvez o único destilado à sua altura de potência, são os whiskies de Islay turfados, acima mencionados. Indicada exclusivamente para charutos de grande fortaleza.

Alternativas

Por uma série de razões, há pessoas que não tomam destilados, preferem vinhos, cervejas, drinks, licores, entre outras bebidas. Outras pessoas nem tomam bebida alcoólica, partindo então para cafés, chás, ou achocolatados.

Além disso, épocas do ano mais quentes afugentam um pouco os destilados, abrindo caminho para os drinks. A frequência e o número de charutos fumados por dia, podem limitar o consumo de destilados, sob pena da pessoa virar alcoólatra.

Drinks, Cocktails

img_5828Mojito e Negroni

Esse tipo de bebida para quem gosta de destilados e por uma questão de temperatura prefere consumi-los mais gelados e mais diluídos, os drinks são ótimas alternativas. Pessoalmente, o Negroni (partes iguais de vermute, campari, e gin), um dos mais clássicos da coquetelaria internacional, vai bem com o charuto, exibindo aromas e sabores compatíveis. 

A nossa caipirinha, o mojito, e outros drinks à base de cachaça ou rum, são acompanhamentos clássicos. Embora eles não tenham uma semelhança de aromas com os charutos, acabam sendo refrescantes e não comprometendo a apreciação do charuto.

Vinhos

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De modo geral, os vinhos não têm potência para acompanhar charutos. O baixo teor alcoólico e as delicadas nuances da bebida são geralmente atropeladas pelo charuto. Portanto, charutos de fortaleza elevada estão fora do páreo. Os charutos mais leves como Hoyo de Monterrey podem acompanhar até certo ponto os vinhos chamados de fortificados. São vinhos de maior teor alcoólico como Porto, Madeira, Jerez, Moscatel de Setúbal, sobretudo.

Cervejas

Para os amantes das cervejas, a mesma dica dos vinhos. Normalmente, elas não têm potência para os charutos. As chamadas Lagers, definitivamente estão fora de combate, a não ser para refrescar o palato. Já as chamadas Ales, têm mais chance. As complexas belgas trapistas e os estilos de cerveja escura como as Stouts, têm maior afinidade com o charuto e nos dois primeiros terços, ainda podem aguentar a potência do mesmo.

Cafés, chás, Achocolatados

img_6508café e charuto: inseparáveis

Sem dúvida o café, é grande companheiro do charuto a qualquer momento. Embora não tenha álcool, é uma bebida de sabor e personalidade marcantes, além de seus aromas terem tudo a ver com o charuto. Basta escolher a fortaleza, o ponto de torrefação, e a origem da bebida (Arábica ou Roubusta), é sempre um porto seguro.

Já os chás, prefira os pretos, geralmente com mais sabor e aromas compatíveis com charutos mais leves. Curiosamente, o chá é a bebida indicada para degustação técnica de charutos, pois ele incrivelmente neutraliza a bebida, limpando o palato para o próximo charuto.  Earl Grey é uma boa pedida. Além disso, é digestivo e hidratante.

Por fim, os achocolatados. Parece meio infantil, mas tem gente que gosta. Mais uma bebida não alcoólica onde o chocolate é a ponte de ligação para os aromas e sabores do charuto. Se você não for tão radical, experimente o Irish Coffee, uma bebida que vai café, uísque irlandês, açúcar e chantilly. Tem a cremosidade e textura dos achocolatados, mas é um salto de evolução. Deilcioso no inverno.

Exportações Francesas: Vinhos e Destilados

16 de Setembro de 2013

Os últimos números das exportações francesas de vinhos e destilados referentes ao ano de 2012, segundo a Federação de Exportações de Vinhos e Destilados da França, serão analisados conforme dados abaixo descritos:

FEVS EXPORTAÇÃO2º item das exportações francesas

De acordo com o quadro acima, pouca gente sabe que o setor aeronáutico é o primeiro item na pauta de exportações francesas. O prazer vem logo em seguida, com vinhos, destilados e perfumes. No setor de vinhos, Champagne e Bordeaux são fundamentais para as respectivas cifras, como veremos mais à frente. No setor de destilados, Cognac reina absoluto com grande prestígio para mercados influentes.

FEVS VIN SPIRITUEUXVinhos: Dois terços das exportações

Neste mercado de vinhos e destilados, o primeiro fica com praticamente 70% dos valores, com cifras acima de sete bilhões de euros. Os detalhes destes dois grandes grupos, veremos nos quadros abaixo:

FEVS EXPORTAÇÃO VALORESChampagne, Bordeaux e Cognac: itens de peso

O trio de ferro, Champagne, Bordeaux e Cognac, tem grande impacto nos valores exportados. A Borgonha vem logo em seguida com valores bem menos expressivos. De fato, a produção na região borgonhesa é bem  menor em comparação a Bordeaux, por exemplo.

FEVS EXPORTAÇÃO VINHOSChampagne e Bordeaux: 60% das exportações

Especificamente, com relação aos vinhos, a participação de Beaujoalais e do Rhône é bastante inexpressiva. São vinhos muito consumidos na França no seu dia a dia. São fáceis de beber e com preços habitualmente atrativos. Vejam que os franceses fazem questão de separar Beaujolais da Borgonha, embora muitos livros sobre vinhos tentem mostrar o contrário. Bordeaux e Champagne perfazem 60% das exportações vinícolas em valores. Não é à toa que estas apelações são conhecidas e prestigiadas no mundo inteiro, tanto para os vinhos mais sofisticados, como para vinhos mais rotineiros.

FEVS EXPORTAÇÃO DESTILADOSCognac: absoluto nas exportações

Se você tirar Cognac das exportações francesas de destilados, os valores ficam bem menos expressivos. Este famoso destilado francês abocanha quase 70% dos valores exportados. Vejam que Armagnac, seu grande rival em qualidade, possui produção praticamente artesanal, com pouca expressão no cenário internacional, embora na França tenha grande prestígio.

FEVS PAÍSES VINHOSO trio de ferro das importações em destaque

Os principais mercados de vinhos estão concentrados na famosa trilogia, ou seja, Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha. A China, embalada num forte crescimento, deve em pouco tempo ocupar o quarto lugar dentre os maiores importadores de vinho.

FEVS PAÍSES DESTILADOSSingapura e China em destaque

No setor de destilados, Estados Unidos reina com folga. Os asiáticos, Singapura e China, vêm logo em seguida, com forte crescimento. Os demais países mostrados no gráfico acima formam uma escadinha que sugere troca de posições a qualquer momento.

Os dados acima referem-se à última conferência da federação realizada em fevereiro de 2013. Apesar de ser difícil chegar ao primeiro lugar na pauta de exportações francesas, este país continua disputando ano a ano os postos de maior produtor e exportador mundiais de vinhos.

Destilados: Marc e Fine Bourgogne

20 de Junho de 2011

Além dos grandes vinhos, a Borgonha revela belos destilados. O bagaço das uvas na elaboração dos vinhos podem dar origem ao que os franceses chamam de Marc, os portugueses de Bagaçeira e os italianos de grappa. O sumo destes bagaços são destilados e podem ser amadurecidos em madeira por vários anos. O preço nunca é barato, pois o rendimento é muito baixo. Na média, para cem quilos de bagaço é possível obter cinco litros de destilado.

Já o chamado Fine de Bourgogne, é obtido da destilação de vinho. Os melhores sofrem dupla destilação como o Cognac e podem originar-se de sobras de vinho ou de uvas  rejeitadas para o vinho principal da Domaine e destinadas a um vinho próprio para destilação. Recém-saída do alambique, a eau-de-vie costuma passar um período relativamente longo em madeira.

O termo Fine de Bourgogne juntamente com Fine de Bordeaux e Fine de la Marne (Champagne), é utilizado para aguardentes de vinho francesas de grande categoria a exemplo de Cognac e Armagnac, que possuem denominações próprias.

Outros tesouros da DRC (Romanée-Conti)

Os rótulos acima são exemplos superlativos de Marc e Fine de Bourgogne elaborados pela Domaine de La Romanée-Conti. O primeiro é obtido dos bagaços  que sobram nas fermentações dos seis grands crus de Vosne-Romanée, e envelhecido por vários anos em madeira. Uma maravilha no final de uma bela refeição, sobretudo com charutos.

O segundo (Fine Bourgogne) é elaborado a partir de uvas rejeitadas na colheita dos famosos grands crus. Muitas vezes, por não estarem perfeitamente maduras, apresentam uma acidez exagerada, mas muito bem vinda para os vinhos bases que serão destilados. Também depois de elaborados, passam vários anos em madeira. É páreo duríssimo para belos Cognacs no mercado, com todo o respeito.

Como se vê, Lavoisier está presente na Domaine. Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Santé à tous!

Harmonização: Charutos

26 de Agosto de 2010

 

 Grande final de uma bela refeição

Primeiramente, vou pedir licença ao meu amigo Marcello Borges, expert no assunto,  para discorrer sobre o tema.

Sou adepto exclusivamente do charuto gastronômico, aquele apreciado após um bom jantar, por exemplo. Seja solitariamente para ler um bom livro, seja como combustível para uma boa conversa entre amigos, o charuto é um dos melhores digestivos que conheço. Atualmente, seu consumo está restrito a residências, já que a lei antifumo não permite este prazer tão mal compreendido.

Dentro deste contexto, sua apreciação obedece as regras básicas de convivência social. Fora da mesa de refeição, num ambiente de bom fluxo de ar, próximo a janelas, varandas ou sacadas, chega seu momento concomitantemente a um bom expresso.

Pessoalmente, só fumo puros (legítmos cubanos), não por exnobismo, mas por convicção. Acho que não devemos perder tempo com alternativas sem emoção. Você tem três momentos para confirmar a supremacia de um puro: No primeiro terço, você diz, pode ser um puro. No segundo terço, acho que é um puro. Finalmente, no terço final, tenho certeza que é um puro! 

Quanto à harmonização, não há dúvida que os destilados, especialmente os runs envelhecidos, brandies e principalmente o cognac, combinam perfeitamente. É o chamado encontro dos espíritos, o terceiro estado da matéria.

Fortificados: os vinhos ideais

Se você não abre mão dos vinhos ou tem problemas com destilados, sempre há uma boa alternativa. Os vinhos fortificados parecem ser a solução perfeita, sobretudo quando se tratam de Portos e Madeiras. O charuto, além de aroma e sabores potentes, principalmente no terço final, costuma ressecar muito a boca. Portanto, o vinho precisa ser potente, mas além disso, dotado de componentes que apontem para a maciez, ou seja, álcool e uma dose de açúcar residual, combatendo um eventual amargor do tabaco. Para uma melhor afinidade de sabores, prefira Portos no estilo Tawny que enfatizem aromas mais etéros, lembrando frutas secas, toques empireumáticos e baunilha. Os Madeiras nas versões Bual e Malmsey são quase imbatíveis na sintonia de aromas. Procure evitar Portos no estilo Ruby, a menos que o charuto ensinue aromas achocolatados como o Vegas Robaina, por exemplo.

Após as baforadas, para finalizar, chás de boa procedência (pessoalmente prefiro darjeeling ou earl grey) ajudam a limpar o paladar, revigorando o organismo para uma boa noite de sono, ou enfrentar o restante do dia.  


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