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Top Ten Wine Spectator: Parte I

11 de Novembro de 2015

Apesar de toda a polêmica que envolve a revista Wine Spectator é inegável seu poder de marketing. A famosa lista dos Top 100 é esperada e comentada por todos. Antes porém, há a lista seleta dos Top Ten, onde os vinhos ficam mais em evidência. A seguir vamos comentar esses vinhos um a um.

10º lugar – Klein Constantia Vin de Constance 2009 – 95 pontos

É um dos mais famosos Late Harvest do mundo. A despeito desta safra em especial, este é um verdadeiro clássico no mundo do vinho. Enaltecido por Napoleão Bonaparte, fez parte da elite dos vinhos de sobremesa nos séculos 18 e 19 juntamente com Yquem, Tokay e Madeira.

Elaborado com uvas moscatéis (Muscat de Frontignan), sua produção foi interrompida com a chegada da filoxera no final do século dezenove. Assim ficou a lembrança por muito tempo do lendário vinho de Constantia. A partir de 1980, sua produção foi retomada, tentando pouco a pouco tornar o mito em realidade. As uvas são colhidas tardiamente com várias passagens pelo vinhedo. O clima frio de Constantia, bem junto à cidade do Cabo, conserva uma boa amplitude térmica para as uvas no período de maturação. Depois de lenta fermentação, o vinho é amadurecido em barris de carvalho parcialmente novos de várias origens por quatro anos em contato com as leveduras. Nesta safra de 2009, o açúcar residual é de 160 gramas por litro e acidez tartárica de 7,8 g/l.

9º lugar – Clos Fourtet 1º Gran Cru Classé de St-Emilion 2012 – 94 pontos

Trata-se de um belo vinho, mas não está entre o primeiro pelotão de elite em St-Emilion. Pessoalmente, vinhos como Cheval Blanc, Ausone, Figeac, Angelus, Canon, e Pavie, estão um passo a frente. De todo modo, é um dos Premiers Grands Crus Classés, segundo a atual classificação de St-Emilon.

Apesar da safra 2012 não ter sido das melhores em Bordeaux, os vinhos de margem direita saíram-se melhor. A precocidade da Merlot favoreceu muito este fator. No caso específico do Fourtet 2012, tivemos rendimentos baixos (35 hl/ha) e uma alta porcentagem de Merlot no corte (86%). O vinho estagiou por 18 meses em barricas, sessenta por cento novas.

8º lugar – Masi Vaio Amaron Amarone dela Valpolicella Classico 2008 – 95 pontos

Masi é uma das referências na denominação Amarone, o grande tinto do Veneto. Vaio Amaron é um vinhedo histórico que já pertenceu à família Alighieri, a mesma do grande poeta italiano, Dante Alighieri.

Os tintos Amarones são vinhos de alta graduação alcoólica, normalmente com 15 a 16º de álcool. Isso deve-se ao processo de elaboração. Além das uvas serem colhidas com bom teor de açúcar, as mesmas são postas para appassimento (deixadas para secarem como uvas passas) de três a quatro meses. Evidentemente, esta concentração de açúcares vai se refletir em vinhos agradavelmente alcoólicos. Tintos típicos de inverno, para pratos robustos.

7º lugar – Escarpment Kupe Single Vineyard Pinot Noir Martinborough 2013 – 95 pontos

Martinborough, setor sul da Ilha Norte da Nova Zelândia, juntamente com Central Otago na Ilha Sul, são os melhores terroirs para a temperamental Pinot Noir. O vinhedo Kupe tem alta densidade de plantio (6600 pés/hectare) num solo de aluvião pedregoso.

A fermentação dá-se em cubas de madeira e posteriormente o vinho amadurece por 18 meses em barricas de carvalho francês, sendo 50% novas. O vinho mescla concentração e complexidade, num estilo intermediário entre Velho e Novo Mundo.

Dal Forno Romano: o que é Valpolicella?

11 de Outubro de 2012

Quando falamos em terroir, abordamos tanto fatores naturais, como fatores humanos. Esses últimos podem ter importância capital, permitindo a frase: “o homem faz o terroir ou o desfaz”. Dal Forno Romano é a grande vinícola na região de Valpolicella que colocou em xeque este conceito. Inconformado com os indiferentes Valpolicellas da região, resolveu mudar esta história quando jovem, moldando vinhos dentro desta denominação com caráter e personalidade. Partindo das mesmas uvas utilizadas (Corvina e Rondinella, principalmente) no grande vinho da região, o venerado Amarone, Romano Dal Forno acreditou que um Valpolicella poderia chegar mais longe, com mais caráter, com mais concentração, com mais alma.

Valpolicella: um Mini-Amarone

O caminho não foi fácil. Pelo contrário, foi bastante desafiador. Era preciso fazer um novo trabalho de campo e posteriormente de cantina para atingir seus objetivos. O mais trabalhoso, que exigiu paciência e principalmente coragem foi promover um forte adensamento em suas vinhas, ou seja, replantar tudo de novo. Sabemos que adensamento em vinhas significa um número técnico de tantos pés por hectare. Um forte adensamento, promove uma competição muito mais acirrada entre as vinhas, aprofundando raízes e buscando sustento em camadas mais profundas do solo. Com isso, obtemos uvas mais concentradas e de melhor qualidade. No caso de Romano Dal Forno, significava partir de adensamentos entre três, quatro ou cinco mil pés por hectare, para números como onze, doze, treze mil pés por hectare. Um dos primeiros impactos sobre o trabalho de campo é a extinção de qualquer tipo de máquina no trabalho dos vinhas, ou seja, tudo deve ser manual. O resultado final na colheita das uvas são rendimentos baixíssimos, em torno de meio quilo de uvas por planta. É bom que se diga, que estes vinhedos estão localizados na região de Illasi, a leste da região de Valpolicella Classico, teoricamente um terroir menos apropriado.

Com esse resultado de campo, Romano dal Forno ainda não estava satisfeito com a concentração da uvas. Respeitando a legislação da denominação Valpolicella, resolveu fazer um breve appassimento nas uvas nos mesmos moldes de um Amarone. Contudo, o vinho deve ser elaborado até o final de novembro. Já para o Amarone, este appassimento dura três, quatro ou cinco meses. De todo modo, obtém-se um mosto ainda mais concentrado. Para se ter uma idéia, de cada 100 kg de uvas, temos de 30 a 34 litros de Valpolicella ou 15 a 17 litros de Amarone. Começa então o trabalho na cantina.

Sala de Barricas

Diante desta matéria-prima de tamanha riqueza, começa o processo de fermentação com macerações intensas e frequentes através de sucessivas remontagens do mosto, extraindo cor, taninos e polifenóis. O resultado é um vinho intenso, estruturado, mas ainda por ser lapidado. Vem aí mais uma inovação, a utilização de barricas de carvalho novas. Alguém advertiu Romano Dal Forno sobre o cuidado com barricas novas por serem um tanto invasivas, sobrepondo  de certa maneira a riqueza aromática do vinho. Romano Dal Forno não deixou por menos e disse: se a barrica invade o vinho é porque o vinho não está à altura da barrica. Portanto, seus Valpolicellas passam três anos em barricas novas de carvalho americano confeccionadas na França.

Quem quiser provar seus vinhos, estão disponíveis na Mistral (www.mistral.com.br), inclusive seu soberbo Amarone. São vinhos realmente impressionantes, cheios de concentração, intensos e extremamente longevos. Quem provar pela primeira vez, certamente dirá: “Isso é Valpolicella?”

Vinho em destaque: Allegrini Amarone 2006

24 de Março de 2011

Com o final do verão, os vinhos tintos tendem a ganhar mais força ainda, e para aqueles que gostam de Amarone, o grande tinto do Veneto, a safra de 2006 foi excepcional. Prova disso, é o Amarone do produtor Allegrini, um dos mais reputados em Valpolicella. Seu estilo está entre o moderno e tradicional.

Concentrado e Equilibrado

A safra de 2006 apresentou chuvas na medida e hora certas, ótima maturação fenólica e destacada amplitude térmica (diferença de temperatura entre dia e noite) no período de maturação das uvas, proporcionando um bom desenvolvimento de aromas e preservação da acidez.

Em artigo passado (ver post: Amarone: a DOCG mais esperada), falamos da elaboração do Amarone que envolve o processo de appassimento (período de três a quatro meses em que as uvas ficam secando em galpões arejados). A elevada porcentagem de Corvina (uva local) fornece corpo e estrutura ao vinho. Neste exemplar, temos 80% de Corvina, complementada pelas uvas autóctones, Rondinella e Oseleta.

Este Amarone apresente um cor rubi intensa, sem halo de evolução. Seus aromas ainda um pouco fechados, mostram frutas em geléia, chocolate, alcaçuz e notas de especiarias. Encorpado, intenso, macio e persistente. Apesar de um pouco quente (teor alcoólico de 15,9º), característica bem típica deste tipo de vinho, sua acidez se faz presente com boa presença de taninos bem trabalhados, proporcionando um conjunto harmônico. Deve ser obrigatoriamente decantado por pelo menos uma hora. Sua estrutura permite uma guarda de pelo menos dez anos.

Robert Parker confere a este vinho 94 pontos, comparados somente à mítica safra de 1990. Embora Parker goste de vinhos potentes, concordo plenamente com sua nota, podendo eventualmente ter uma margem de erro de dois pontos. Grande exemplar desta denominação. Importado pela Grand Cru (www.grandcru.com.br).

Amarone: a DOCG mais esperada

18 de Junho de 2010

Appassimento: Detalhes de um grande vinho

A justiça falha, mas não tarda! Um velho ditado mais que apropriado para o grande tinto do Veneto, Amarone della Valpolicella.

Em pé de igualdade com o Barolo e o Brunello di Montalcino, o marcante Amarone completa o que podemos chamar de Santíssima Trindade da enologia tradicional italiana.

Elaborado basicamente com as uvas Corvina, Rondinella e Molinara, corte típico também dos Valpolicellas e Bardolinos, é um vinho de grande personalidade e peculiar ritual de elaboração. A alta porcentagem de uvas Corvina nos dá uma bela idéia da estrutura do vinho. É a espinha dorsal deste famoso corte.

Após a colheita das uvas, as mesmas são colocadas geralmente em caixas plásticas em galpões de boa ventilação, para secarem por até quatro meses, perdendo água e concentrando açúcares (o peso das uvas  normalmente cai em 40%). Evita-se ao máximo a formação da Botrytis (o famoso fungo dos vinhos de Sauternes), procurando sempre locais bem arejados.

Findo o período de appassimento (vide uvas enrugadas na foto acima), inicia-se o longo processo de fermentação. A quantidade  brutal de açúcares nas uvas e a baixa temperatura nesta época na região, são os dois principais fatores que dificultam a fermentação total do mosto. Portanto, é comum esta fermentação acontecer em duas etapas, sendo que na segunda, incorpora-se ao mosto, já com destacado teor alcoólico, a particular levedura Saccharomyces Bayanus, uma das mais resistentes para prosseguir a fermentação em meio fortemente alcoólico. Aí sim, praticamente ou totalmente, os açúcares são todos transformados em álcool, tornado o vinho seco, com teores discretos de açúcar residual. A legislação exige um teor mínimo em álcool de 14 graus.

Em seguida, o vinho recém acabado passa por um estágio considerável em madeira, de acordo com a filosofia de cada produtor. Pode comumente haver passagem por barricas e tonéis maiores, visando um aporte equilibrado de madeira em relação à estrutura do vinho.

O resultado é um vinho vigoroso, quente, macio, com acidez moderada e taninos bastante dóceis. É quase um vinho do Porto seco. De qualquer modo, é grandioso, e por isso sempre lembrado como um vinho de meditação. Faz parceria perfeita com o grande queijo regional Grana Padano.

Quintarelli: um mito da denominação Amarone

Conforme decreto do Ministero delle Politiche Agricole Alimentari e Forestali em 24 de março de 2010, a DOC Amarone della Valpolicella foi promovida a DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita). A nova legislação vale a partir da colheita de 2010, a qual após ser vinificada e devidamente amadurecida em madeira, estará pronta para a comercialização em final de 2012 e início de 2013. Portanto, há um período de transição até que os futuros Amarones apresentem o característico selo DOCG junto às capsúlas das garrafas.

Alguns detalhes técnicos da denominação:

  • As uvas passificadas não podem ser vinificadas antes do dia primeiro de dezembro.
  • O período mínimo de amadurecimento após a vinificação não deve ser inferior a dois anos a partir de primeiro de janeiro do ano sucessivo à colheita. No caso da especificação Riserva, este período passa para quatro anos.
  • A versão doce do Amarone denominada Recioto della Valpolicella, a qual também foi promovida à DOCG, prevê um teor mínimo em álcool de 12 graus e açúcar  residual equivalente a 2,8 graus de álcool potencial.

Evidentemente, os produtores de destaque superam e muito as exigências mínimas.

Neste inverno, pode ser um dos vinhos mais românticos e apropriados à mesa. Afinal, os famosos vale de Negrar, Fumane, Marano e Valpantena,  onde nascem essas belas uvas, estão muito próximos à Verona, marco de Romeu e Julieta.

Toscana: Vin Santo

27 de Maio de 2010

Vinsanto e Cantucci: harmonização clássica

Vinsanto ou Vino Santo é uma especialidade toscana. Pouco consumido no Brasil, muito mais pelo desconhecimento do que propriamente o preço, embora não seja uma pechincha. É elaborado com uvas passificadas, uma técnica amplamente difundida na Itália para vinhos doces, além de procedimentos inerentes à sua elaboração, o que o torna extremamente peculiar.

Atualmente é uma DOC (Denominazione di Origine Controllata) com várias subdivisões na Toscana: Colli dell´Etruria Centrale, Vin Santo del Chianti, Vin Santo del Chianti Classico, Vin Santo di Carmignano e Vin Santo di Montepulciano, com pequenas variações de uma legislação para outra.

Normalmente as uvas para sua elaboração baseiam-se  em Trebbiano, Malvasia, complementadas conforme a região por Pinot Bianco, Pinot Grigio, Sauvignon, Chardonnay e Grechetto. As uvas depois de colhidas são colocadas para passificar em lugares secos e de boa circulação de ar sobre esteiras, caixas ou dependuradas em estruturas apropriadas (treliça de ferro ou madeira). Este período vai de dezembro a março, onde ocorrem perdas significativas de água intrínsecas aos grãos de uva, concentração de sabores e açúcares. São necessários pelo menos 3 kg de uvas frescas para 1 kg de uvas passificadas.

Appassimento

Este mosto (produto da espremedura das uvas) extremamente concentrado e rico em açúcares é lentamente fermentado em pequenas barricas toscanas denominadas caratelli (50 a 200 litros). Pela legislação, este período de fermentação e envelhecimento não pode ser inferior a três anos, antes do engarrafamento.

Vinsantaia

 

Particularidades na elaboração

Embora a Trebbiano, conhecida na França como Ugni Blanc, seja uma uva sem grandes atrativos e certa neutralidade, é utilizada majoritariamente pelas características do processo oxidativo. De fato, os longos anos de permanência em caratelli permitem que o caráter oxidativo sobrepuje  características particulares das uvas, sendo inócuo a utlização de castas mais nobres.

No processo de passificação (appassimento) é fundamental que as uvas escolhidas tenham bom nível de acidez e peles (cascas) relativamente espessas, preservando um bom equilíbrio gustativo e a integridade dos grãos.

As pequenas barricas (caratelli) precisam ter madeira de baixa porosidade e extremamente bem vedadas para evitar sempre uma oxidação excessiva.

A fermentação extremamente lenta (pode levar alguns anos em certos casos) é favorecida por uma seleção natural de leveduras, resistentes a teores sempre crescentes de álcool e capazes de trabalhar num meio muito rico em açúcares. Em muitos casos, a madre (massa residual contendo leveduras de um processo anterior) é utilizada em um novo lote, facilitando principalmente o início da fermentação.

Características

Pode apresentar-se nas versões secco, abboccato, amabile e dolce, com níveis crescentes de açúcar residual, respectivamente. Normalmente,  possui teor alcoólico em torno de 16º natural. Não há fortificação neste tipo de vinho.

A cor vai do dourado ao âmbar acentuado, dependendo do grau de envelhecimento do vinho. Seus aromas de caráter oxidativo lembram frutas secas (damascos, nozes, amêndoas), toques de mel, notas balsâmicas e empireumáticas (café, caramelo).

O Vin Santo denominado Occhio di Pernice (olho de perdiz – tonalidade de cor mais acentuda), especialidade de Montepulciano, é elaborado com Sangiovese (mínimo 50%), além de outras uvas locais autorizadas. Neste caso, é previsto por lei um envelhecimento mínimo de oito anos em caratelli.


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