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La Valpolicella Classica: Allegrini

28 de Agosto de 2014

As principais regiões vinícolas do mundo, sobretudo as europeias, têm sempre um grupo de produtores que são suas respectivas referências. Na Itália, especificamente no Vêneto, sob a região demarcada do Valpolicella Classico, Allegrini é uma destas referências. Localizado no vale Fumane, um dos três clássicos vales, além de Marano e Negrar, a vinícola apresenta um portfolio de vinhos muito além dos Valpolicellas e Amarones. As condições geográficas e climáticas deste vale geram os vinhos mais robustos da região por receber mais luz solar. O solo é predominantemente calcário.

Vinhedo Podere Palazzo dela Torre

O primeiro vinho fora dos padrões clássicos é o acessível Palazzo dela Torre, uma mistura de técnicas do Valpolicella e Amarone. O vinho passa por duas fermentações de acordo com a sequência de duas colheitas distintas. Apresenta-se sob a denominação Veronese IGT (Indicazione Geografica Tipica). Trata-se de vinhedos de pouco mais de 26 hectares onde ocorre a primeira colheita no início de setembro destinada ao appassimento, como se fosse elaborar um Amarone. As uvas são predominantemente Corvina, que fornece estrutura ao vinho, complementadas com Rondinella, outra uva autóctone (própria da região) e uma pitada de Sangiovese (onipresente em toda a Itália). A idade média da vinhas chega a quarenta anos, a qual fornece uma boa expressão deste terroir. Posteriormente, no final de setembro, colhe-se o restante das uvas para serem imediatamente vinificadas na intenção de se elaborar um Valpolicella Classico. Ao final desta fermentação, adiciona-se ao vinho aquelas uvas que foram colhidas para appassimento, as quais perderam água e concentraram  açúcar. Portanto, dá-se uma segunda fermentação ao vinho. Finalmente, o vinho é amadurecido em barricas de carvalho francês de segundo uso (para não marca-lo em demasia pela madeira) por quinze meses. É um vinho de bom corpo, aromas e sabores marcantes, fazendo um meio de campo entre um Valpolicella e um Amarone. Acompanha muito bem massas de sabores mais intensos, bem como carnes guarnecidas por risotos, especialmente os de funghi porcini.

Ótima relação Custo/Benefício

Vinhedo La Grola: Sant´Ambrógio di Valpolicella

Sob a mesma denominação do vinho anterior, Veronese IGT, os vinhedos em torno de 30 hectates estão localizados em Sant´Ambrogio di Valpolicella, um terroir a sul de Fumane, próximo ao rio Adige. A proporção de Corvina aumenta para cerca de 80%, embora misture-se Corvinone (uma variação da Corvina numa versão menos tânica). Complementa-se com pequenas parcelas de Oseleta (uva autóctone) e Syrah. Os vinhedos têm media de idade de 25 anos e o solo é composto de argila, calcário, com boa pedregosidade. A vinificação é feita em aço inox com intensa maceração e remontagens. O vinho amadurece por cerca de 16 meses em barricas de carvalho francês de segundo uso (novamente a preocupação de não marcar muito a madeira). Vinho mais encorpado que o anterior, acompanhando bem os assados clássicos como cabrito e cordeiro.

La Poja: Pequeno vinhedo de 2,65 Ha

Este é o grande vinho da vinícola fora dos padrões clássicos sob a denominação mais uma vez, Veronese IGT. Trata-se de um pequeno vinhedo plantado em 1979 na região de Sant´Ambrogio di Valpolicella com uvas 100% Corvina. La Poja pronuncia-se La Poia. O solo deste pequeno pedaço de terra é diferenciado com grande predominância de calcário, sobretudo em forma de pedras. Este fator fornece elegância e frescor, além da natural estrutura tânica da Corvina. A colheita é feita tardiamente para a plena maturação das uvas. A vinificação é intensa com longa maceração e finalizada com temperaturas mais altas (em torno de trinta graus) para uma melhor extração de taninos. O vinho com essa estrutura passa vinte meses em barricas francesas novas de Allier antes do engarrafamento. Este é o vinho mencionado no livro de Enrico Bernardo (A arte de degustar o vinho) para representar o Veneto. Ele sugere pelo menos duas horas de decantação e pode ser servido com Pombo Assado e Recheado, acompanhado de Risoto de Rabanetes de Treviso. Vinho de grande mineralidade, expressando a força de seu terroir.

Alguns destes vinhos foram degustados na ABS-SP, incluindo Amarones e Valpolicellas. A vinícola possui vinhedos em Montalcino (Toscana), produzindo ótimos Brunellos,  os quais foram bem avaliados nesta mesma degustação. Estes vinhos são importados atualmente pela Inovini (www.inovini.com.br).

Lembrete: Vinho Sem Segredo na Radio Bandeirantes (FM90,9) às terças e quintas-feiras. Pela manhã, no programa Manhã Bandeirantes e à tarde, no Jornal em Três Tempos.

Diferenças II: Bardolino, Valpolicella e Amarone

31 de Janeiro de 2014

No artigo anterior, falamos um pouco sobre as diversas denominações acima citadas, mostrando aspectos de seus respectivos terroirs, principalmente em termos de solos e climas. Agora vamos efetivamente falar sobre as diferenças entre as três denominações.

O aspecto visual dos vinhos abaixo nos dá uma ideia das diferenças aromáticas e gustativas dos mesmos. É evidente que não estamos falando de exceções, mas a cor de um Bardolino típico vai intensificando-se para um Valpolicella típico, e mais ainda para um Amarone clássico da região, supondo que todos eles sejam jovens com aproximadamente a mesma idade.

Bardolino

Valpolicella

Amarone

Levando em conta os quatro elementos do conceito de terroir (uva, solo, clima e homem), sendo que as uvas são as mesmas nos três casos, a diferença fundamental entre Bardolino e Valpolicella está nos fatores de clima e solo. De fato, a proximidade da denominação de origem Bardolino com o lago de Garda aliada ao solo, proporciona uvas mais frescas, de menor concentração e quantidades modestas de matéria corante (sobretudo em antocianos e taninos).

No terroir de Valpolicella, em especial na zona clássica, as altitudes, declives, influência maior dos alpes e solos com maior proporção de calcário e material vulcânico, propiciam vinhos mais concentrados e em alguns casos, até com certa longevidade. Os famosos vales de Negrar, Marano e Fumane, exprimem com mais eloquência estas características.

Já as diferenças entre Valpolicella e Amarone ficam por conta da intervenção humana no conceito de terroir. As uvas, o clima e o solo, são de mesma origem. Contudo, a forma de elaborar o vinho muda radicalmente. As uvas colhidas para a concepção do Amarone são secadas por alguns meses (normalmente três ou quatro meses) com a ajuda e influência dos ventos na região. Com isso, há uma forte concentração de açúcar nas uvas por consequência da desidratação das mesmas. 

A fermentação bem particular deste grande vinho é lenta, levando dezenas de dias para seu término. Com isso, o vinho ganha destacado teor alcoólico, chegando naturalmente na faixa dos quinze graus. Tinto de grande concentração e potência, apto a longo envelhecimento em garrafa. Sua passagem por madeira é destacada, embora a mesma seja normalmente bem integrada à estrutura do vinho. Neste mesmo blog há uma artigo específico sobre a elaboração deste grande tinto do Veneto, Amarone.

Nestas denominações é preciso procurar por produtores confiáveis e com grande tradição neste terroir. Alguns deles são: Allegrini, Zenato, Masi, além de Dal Forno Romano e Quintarelli. Esses dois últimos são pontos fora da curva (excepcionais). As importadoras Mistral (www.mistral.com.br), Grand Cru (www.grandcru.com.br) e World Wine (www.worldwine.com.br), comercializam  esses vinhos.

Vinho em destaque: Allegrini Amarone 2006

24 de Março de 2011

Com o final do verão, os vinhos tintos tendem a ganhar mais força ainda, e para aqueles que gostam de Amarone, o grande tinto do Veneto, a safra de 2006 foi excepcional. Prova disso, é o Amarone do produtor Allegrini, um dos mais reputados em Valpolicella. Seu estilo está entre o moderno e tradicional.

Concentrado e Equilibrado

A safra de 2006 apresentou chuvas na medida e hora certas, ótima maturação fenólica e destacada amplitude térmica (diferença de temperatura entre dia e noite) no período de maturação das uvas, proporcionando um bom desenvolvimento de aromas e preservação da acidez.

Em artigo passado (ver post: Amarone: a DOCG mais esperada), falamos da elaboração do Amarone que envolve o processo de appassimento (período de três a quatro meses em que as uvas ficam secando em galpões arejados). A elevada porcentagem de Corvina (uva local) fornece corpo e estrutura ao vinho. Neste exemplar, temos 80% de Corvina, complementada pelas uvas autóctones, Rondinella e Oseleta.

Este Amarone apresente um cor rubi intensa, sem halo de evolução. Seus aromas ainda um pouco fechados, mostram frutas em geléia, chocolate, alcaçuz e notas de especiarias. Encorpado, intenso, macio e persistente. Apesar de um pouco quente (teor alcoólico de 15,9º), característica bem típica deste tipo de vinho, sua acidez se faz presente com boa presença de taninos bem trabalhados, proporcionando um conjunto harmônico. Deve ser obrigatoriamente decantado por pelo menos uma hora. Sua estrutura permite uma guarda de pelo menos dez anos.

Robert Parker confere a este vinho 94 pontos, comparados somente à mítica safra de 1990. Embora Parker goste de vinhos potentes, concordo plenamente com sua nota, podendo eventualmente ter uma margem de erro de dois pontos. Grande exemplar desta denominação. Importado pela Grand Cru (www.grandcru.com.br).


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