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Borbulhas sem comparação

19 de Dezembro de 2020

Duas champagnes artesanais que valem a pena conhecer

Certas coisas não se replicam. Trufas brancas de Alba, caviar do Cáspio, pata negra da Península Ibérica (para não tomar partido na disputa entre portugueses e espanhois), champagne. A região das melhores borbulhas do planeta vitis não apenas enseja os melhores espumantes como história: foi na catedral de Reims que Napoleão Bonaparte se fez imperador em 1804, rompendo uma tradição histórica e criando um novo paradigma político na Europa do século XIX.

Champagne é para se beber todo o dia, de preferência, seguindo a máxima de madame Lilly Bollinger, mas é nessa época que muitos buscam algumas garrafas especiais. Num ano difícil como 2020, celebrar a chegada de 2021 que se espera melhor, seguem algumas dicas de champagnes disponíveis no mercado brasileiro. Ah, sim, para os leitores habituais, não se falará aqui de Jacquesson, para não se chover no molhado.

Assim como em várias regiões da França, como a Bourgogne, uma geração de jovens viticultores deixou de vender uvas para terceiros e passou a vinificar eles próprios seus “quintais”, o que fez um punhado de excelentes vignerons ganhar destaque, seguindo a esteira de Selosse. Com Agrapart e Cédric Bouchar ainda em vias de chegar ao Brasil, via Clarets, há dois produtores que merecem atenção especial, ambos trazidos pela importadora Anima Vinum.

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Um é a estrela em ascensão Dhondt Grellet, que surgiu em 1986 quando Eric e Edith pararam de vender a terceiros e abriram as portas. Quando o filho do casal, Adrien,nascido em 1991, assumiu o comando nos últimos anos, em pouco tempo chamou a atenção da mídia especializada. William Kelley, o garoto em ascensão, crítico de Champagne e Bourgogne para o site que um dia foi de Robert Parker, falou recentemente que, se você tiver de investir em um novo produtor, aqui está ele. Kelley tem razão. Adrien tem parcelas em duas villages: Cramant (Grand Cru) e Cuis (Premier cru).

Terres Fines é uma assemblage de pequenas parcelas esparramadas por Cuis, um blanc de blancs delicado, mineral, profundo, gastronômico, substantivos que pedem que a garrafa não termine. Excelente pedida para início das refeições ou para brindar o novo ano, que não venha com vírus.

Se a ideia for abrir um champagne rosé, a dica aqui vem dos irmãos Raphael e Vincent Bérêche, cuja casa data de 1847, mas que ganhou espaço mais recentemente, com a revolução das champagnes artesanais há uma década. Em entrevista ao site Pisando em Uvas, Peter Liem, uma das maiores autoridades em borbulhas do planeta, disse que a casa era uma das suas preferidas, com um trabalho excelente nos últimos anos. O destaque aqui vai para a Campania Remensis, o nome romano da região ao redor de Reims. Dois terços do vinho é de pinot noir, incluindo uma porção de vinho seco para ajudar na cor rosé, com um toque de acidez dado pela chardonnay (20%) e o restante de Pinot Meunier. Gastronômico, refinado, complexo, ideal para pratos como um belo pernil, por que não?

Mas não apenas de champagnes artesanais se vive. James Bond sabia das coisas. Sua escolha variou, a depender das décadas dos filmes, entre Tatittinger, Dom Pérignon e Bollinger, mas o agente secreto com licença para matar nunca se deu mal. A safra 2008 da Dom Pérignon não foi experimentada ainda pelo site, mas vem muito bem recomendada por um paladar que esse autor aqui assina embaixo na maioria das vezes: John Gilman. Gilman, que faz a sua trimestral “The View from the cellar” disse que a 2008 é uma das melhores DPs que ele já bebeu jovem, com um futuro extremamente promissor, o que lhe fez dar 97+ . Kelley, na Robert Parker, deu 96 pontos e disse se tratar do melhor lançamento desde a mítica 1996.

Eu, que tive o prazer de beber a Dom Pérignon 1996 P1 e P2 com o Nelson, meu mestre, há uns cinco anos, penso em comprá-la para abri-la em um momento especial. Assim como o agente secreto, o monge sabia das coisas. Se 2008 for como a 1996, o ano passará muito melhor.



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