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Nomenclatura do Vinho Alemão II

5 de Maio de 2011

O mais alto nível de qualidade do vinho alemão tem haver com a sigla VDP (Verband Deutscher Prädikats), Associação Alemã de Qualidade, desde 1910. A mesma abrange as treze regiões vinícolas da Alemanha com cerca de 200 produtores.

 Logo de qualidade: Águia e cacho de uvas

Nesta classificação procura-se preservar todos os aspectos de terroir, tradição e amadurecimento perfeito das uvas, fator primordial de qualidade no conceito alemão.

Outros aspectos da Pirâmide Alemã

Voltando à classificação VDP, o mais alto grau de qualidade é dado pela expressão Erste Lage,  a qual não é permitida ser mencionada nos rótulos pela atual lei alemã. Contudo, o logo abaixo (número um acompanhado de um cacho de uvas) exprime esta distinção, sendo gravado em relevo na própria garrafa ou impresso de forma discreta no rótulo. As duas fotos abaixo em sequência, mostram estes exemplos.

Em termos de comparação, no próprio site (www.vdp.de) da associação, esta designação equivale aos Grands Crus da Borgonha, por exemplo.

Logo em relevo na garrafa

Além do símbolo gravado em relevo na garrafa ou discretamente no rótulo, é comum o símbolo da águia com o cacho de uvas ser impresso na cápsula, conforme primeira figura deste post.

Logo discreto no rótulo

Dentro da classificação Erste Lage, a qual abrange vários graus de doçura dos melhores produtores, há uma subdivisão quando os vinhos são secos ou em alemão, trocken. Neste caso, existe a expressão Grosses Gewächs, também abreviada por GG. O rótulo abaixo de um grande produtor do Nahe (uma das regiões clássicas da Alemanha), exemplifica o caso. Note que a simples menção GG, já denota que o vinho é seco (trocken).

Dönnhoff: referência do Nahe

Dentro da subdivisão Grosses Gewächs para vinhos secos de qualidade, há uma expressão equivalente só para os vinhos da famosa região do Rheingau denominada Erstes Gewächs. Esta sim, pode ser mencionada no rótulo, conforme foto abaixo:

Robert Weil: Referência obrigatória no Rheingau

Com esses cuidados fica muito mais seguro beber bons rótulos alemães. No fundo, caímos sempre no velho e bom ditado: o produtor (weingut em alemão) consciente e de categoria é que realmente garante vinhos diferenciados.

As uvas para toda esta classificação diferenciada depende da região em questão. Além da onipresente Riesling, outras uvas são autorizadas como a Silvaner na Francônia (Franken), Spätburgunder (Pinot Noir) no Rheingau, Ahr e Pfalz; e Weisser Burgunder (Pinot Blanc) na Francônia. A relação completa das uvas está à disposição no site oficial www.vdp.de (Verband Deutscher Prädikatsweingüter).

Nomenclatura do Vinho Alemão I

2 de Maio de 2011

O medo do desconhecido é o principal empecilho do vinho alemão, sem falar da péssima impressão causada pela malfadada garrafa azul. De fato, a língua já não ajuda, somada à dificuldade do misterioso mundo do vinho, as pessoas evitam de todas as formas em tomar vinhos alemães. Contudo, superados esses obstáculos, o vinho alemão pode ser uma das maiores descobertas para vinhos brancos, sobretudo os rieslings, praticamente insuperáveis em seu terroir de origem.

Rótulo alemão: rico em informações

Para aqueles que estão iniciando no mundo germânico, regiões como Mosel-Saar-Ruwer ou Rheingau são as mais confiáveis, além de apresentarem as melhores e mais variadas ofertas em nosso mercado de importados.

A nomenclatura, de início assusta, mas com um pouco de paciência começamos a nos familiarizar com os nomes, conforme figura abaixo:

Fatores importantes: qualidade e doçura

Na base da pirâmide estão as classificações Landwein, Deutscher Tafelwein e Qualitätswein, que podem apresentar variados graus de doçura e normalmente são chaptalizados (adição de açúcar no mosto para dar início à fermentação). Devem ser evitados, exceto alguns Qualitätswein (QbA) bem elaborados.

Daí para cima, temos a classificação Qualitätswein mit Prädikat (qualidade com predicado) com diferentes graus de doçura (açúcar residual). Começamos com o Kabinett (o mais seco ou menos doce), passando pelos Spätlese, Auslese, Beerenauslese (BA) e Trockenbeerenauslese (TBA), os mais doces.

O fator complicador é quando agregamos os termos Trocken e Halbtrocken, que significam seco e meio seco, respectivamente. A eventual menção no rótulo de um dos termos, significa até 9 gramas/litro de açúcar residual para o Trocken, e de 9 a 18 gramas/litro para o Halbtrocken. Este estilo de vinho alemão mais seco é algo relativamente recente. Até o começo da década de oitenta, os vinhos alemães mais secos não eram elaborados, começando a chegar ao Brasil na década de noventa. Os vinhos de um modo geral, mesmo os QmP (vinhos com predicado) para as categorias Kabinett, Spätlese e raramente para os Auslese, recebiam a adição da chamada Süssreserve (reserva doce), ou seja, mosto de uvas esterelizado (sem qualquer vestígio de levedura, evitando uma eventual refermentação na garrafa). Portanto, mesmo os Kabinett eram levemente adocicados e de baixo teor alcoólico. Contudo, este estilo ainda existe e faz parte da clássica escola alemã.

Do exposto acima, principalmente as categorias Kabinett e Spätlese, podem apresentar três estilos diferentes de açúcar residual, conforme as eventuais menções Trocken ou Halbtrocken. O estilo Kabinett Trocken é muito parecido com o padrão de vinho seco da região francesa da Alsace. Normalmente, não percebemos açúcar residual e o teor alcoólico fica em torno de 12 graus. Quando não há menção no rótulo dos termos Trocken ou Halbtrocken, temos o Kabinett de estilo clássico, com leve açúcar residual e baixo teor alcoólico (em torno de 8 a 9 graus). Evidentemente, na menção Kabinett Halbtrocken, temos o estilo intermediário.

O mesmo raciocínio aplica-se na categoria Spätlese e mais raramente, para a categoria Auslese. Nas categorias Beerenauslese e Trockenbeerenauslese, o estilo é sempre doce, com açúcar residual natural. Não há adição da chamada Süssreserve. Resumindo, não existe Beerenauslese e Trockenbeerenauslese de estilo Trocken, nem Halbtrocken. Obrigatoriamente, são sempre doces. As uvas dessas categorias são afetadas parcial ou integralmente pela Botrytis Cinerea e a diferença entre as mesmas, reside no maior teor de açúcar do mosto para o Trockenbeerenauslese, definido pelas leis alemãs.

Estilos e categorias diferentes com doçura semelhante

O exemplo acima mostra como categorias diferentes (Kabinett e Spätlese) e estilos diferentes (trocken e o estilo clássico) podem numa combinação destes fatores, apresentar sensações de doçura semelhantes. Evidentemente, o estilo Trocken tende a ser mais encorpado que o estilo clássico devido ao maior teor de álcool (praticamente todo o açúcar é transformado em álcool).

Enogastronomicamente falando, procurem calibrar açúcar residual e corpo dos vinhos de acordo com a exigência dos pratos. Num molho agridoce por exemplo, pode ser muito interessante e oportuno a escolha de um estilo clássico ou Halbtrocken.


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