Saindo de Bordeaux e Bourgogne, o destino natural do vinho francês é o Vale do Rhône, sobretudo quando se pensa em tintos. Fazendo a transição entre o sul da Borgonha e a Provença, o Vale do Rhône divide-se em dois macro-terroirs: o Rhône Norte e o Rhône Sul, conforme mapa abaixo:
Rhône Norte e Rhône Sul
O mapa acima mostra claramente um fator de terroir evidente, a forte mudança de relevo, topografia, entre o norte e o sul da região. A norte, temos escarpas dramáticas junto ao rio, obrigando as vinhas treparem em terraços. A declividade, as inclinações podem chegar a 70%, ou seja, quase sessenta graus em declive. Esta é a razão dos vinhedos do norte estarem muito próximos ao rio, numa faixa estreita de terreno. Já no Rhône Sul, o relevo é bem mais amplo, muito menos acentuado, e as vinhas portanto, podem se espalhar para mais longe do rio. Aqui também, o clima se torna mais quente.
Feita a introdução, passemos a alguns vinhos degustados na importadora Grand Cru (www.grandcru.com.br) sob o comando didático de Hervé Robert, diretor do Domaine Delas Frères. Quatro tintos se destacaram conforme comentários abaixo.
Bela alternativa aos caros Châteauneufs
Vacqueyras Domaine des Genêts 2012
Vacqueyras é uma apelação criada nos anos 90 vizinha ao famoso tinto Châteauneuf-du-Pape, e tem como concorrente uma apelação contígua chamada Gigondas. São cerca de 1.300 hectares de vinhas, bem menor que os 3.000 hectares em Châteauneuf-du-Pape. É uma bela alternativa de preço em relação ao tinto mais famoso do Rhône Sul, e muitas vezes superior a vários Châteauneufs de negociantes, preocupados mais com os preços e a fama, do que com a qualidade em si. Preço na importadora: R$ 138,00 (cento e trinta e oito reais). Vinho em torno de 90 pontos para Robert Parker com seu devido entusiasmo pelo Rhône.
A boa safra de 2012 mostra o corte típico do sul da região, o famoso GSM (70% Grenache, 20% Syrah e 10% Mourvèdre). O vinho passa cerca de 30% em barricas de carvalho, na sua maioria não novas, e o restante com cubas inertes para a preservação da fruta e evitar a micro-oxigenação. Mostra-se num bom momento para consumo, com fruta madura, notas de especiarias, ervas, e defumados lembrando incenso. Bom corpo, macio, caloroso, sendo uma ótima opção para noites frias.
Crozes-Hermitage confiável
Delas Freres Crozes-Hermitage des Grands Chemins 2010
Agora estamos no chamado Rhône Norte, onde impera o reino da Syrah em solo granítico. Muito cuidado com a apelação Crozes-Hermitage com cerca de 1.300 hectares de vinhas em uma vasta área ao redor do astro maior, o grande Hermitage. A diversidade de solos, topografia do terreno, ângulo de inclinação e a filosofia do produtor, podem levar a vinhos bem diversos e ao mesmo tempo, com exemplares decepcionantes. Neste caso, o vinho acima da bela safra de 2010 tem 92 de Robert Parker. Preço: R$ 225,00 (duzentos e vinte e cinco reais).
O vinho degustado, 100% Syrah, mostrou-se novo em cor, praticamente sem evolução. Seus aromas de frutas escuras, notas defumadas (embutidos), minerais e de especiarias estão bem presentes. Vinho de bom corpo, com um belo frescor, taninos presentes e de boa qualidade. Muito bem equilibrado e razoavelmente persistente. Deve evoluir bem em garrafa, sendo sua decantação obrigatória com boa aeração, sobretudo nesta fase de juventude. O vinho passa de 10 a 14 meses em barricas de um a três anos de uso, conforme a potência da safra.
Cornas com boa tipicidade
Delas Freres Cornas Chante Perdrix 2010
Continuando no Rhône Norte, temos a apelação Cornas 100% Syrah, como bela alternativa aos caros e badalados Hermitages. Chamado com certo exagero como Hermitage dos pobres, este terroir trata-se de vinhas encravadas num terreno de anfiteatro de clima quente e forte insolação. São vinhos potentes, densos e com bom poder de longevidade. Parker confere a este exemplar 90 pontos. Preço: 395,00 (trezentos e noventa e cinco reais).
O vinho degustado mostrou-se com uma cor escura, praticamente sem evolução. Seus aromas lembram frutas escuras em licor, alcaçuz, especiarias e traços de torrefação (café). Encorpodo, macio, e com boa tanicidade. Persistente, bem acabado e agradavelmente quente. Pede pratos encorpados. O vinho passa entre 14 e 16 meses em barricas de primeiro a terceiro uso, dependendo da safra.
Saint-Joseph de alta costura
Delas Freres Saint-Joseph Sainte Epine 2011
Neste ultimo exemplar, temos a apelação Saint-Joseph com 100% Syrah. Mais uma vez, cuidado!. Trata-se de uma apelação vasta em área de vinhas a sul de Côte-Rôtie. Novamente, a localização do vinhedo e a filosofia do produtor são fundamentais. Neste caso, estamos falando de um vinho muito especial de um vinhedo único (Vin Parcellaire) chamado Sainte Epine, produzindo apenas 4.000 garrafas por safra, e somente em anos especiais. Parker confere 93 pontos para este vinho. Preço: R$ 485,00 (quatrocentos e oitenta e cinco reais).
A safra de 2011 produziu vinhos agradáveis para beber jovens com taninos bem moldados. O vinho degustado apresentou cor muito semelhante ao Cornas, fato já diferenciado nesta apelação. Os aromas são muito elegantes com madeira fina. Aqui temos uma passagem por barricas novas entre 14 e 16 meses, conforme a safra. Mas de modo algum ela é dominante. Seus aromas mostram uma pureza de fruta, toques lácteos, florais e de especiarias. Relativamente encorpado, belo frescor e boa estrutura tânica. Boa persistência aromática, taninos muito finos e um final muito bem delineado. Falta um pouco de integração entre fruta e madeira, fator que certamente será solucionado com o devido tempo em adega. Um dos melhores Saint-Joseph já degustados.