Posts Tagged ‘clarets importadora’

O outro lado da RN 74

2 de Fevereiro de 2021

A Route Nationale 74, ou a D974, interliga alguns dos vinhedos mais míticos de pinot noir e chardonnay do planeta. O dólar alto e a disparada de preço na Bourgogne (um Bourgogne blanc sai da adega de Coche Dury por 40 euros e é vendido em NY por mais de US$ 200) têm deixado Chambolles, Vosnes, Volnays, Chassagnes e Pulignys cada vez mais caros no Brasil. Selecionar rótulos e produtores de regiões menos badaladas se tornou essencial para continuar a beber bem.

Maranges

Maranges fica ao sul de Beaune. Seus tintos são muito mais reputados que os brancos. Nas palavras de Clive Coates, produzem-se ali vinhos “honestos, robustos e rústicos, no melhor sentido”. Pablo e Vincent Chevrot são o principal nome desse terroir. Sur le Chêne é um dos vinhedos que têm ganho atenção da crítica francesa e inglesa. Por cerca de R$ 350 na Anima Vinum, esse é bom borgonha, com um toque animal, fruta bem moldada. Se os Chevrots seguirem nesse caminho, o primeiro pelotão da Bourgogne está logo ali. Quem disse não fui eu, mas William Kelley. Assino embaixo.

Auxey-Duresses

Auxey Duresses é mais conhecido por ter resultados estelares nas mãos de madame Lalou Bize Leroy. Há vida, muita aliás, fora de Auvenay. Esse rótulo branco é uma prova. Les Crais é um bom custo benefício de vinho branco da Bourgogne. Feito pelo Prunier-Bonheur, na @claretsbrasil, por cerca de R$ 350. Muita energia nesse 2017, ganhou muito depois de aberto. Boa opção para 2021. Não foi mal com a salada de salmão defumado.

Cote de Nuits-Villages

Côte_de_Nuits-Villages-Les_Chaillots

Os vinhos de Gachot Monot têm um avalista de peso: m. Aubert de Vilaine, que gerencia o Domaine Romanée Conti e é proprietário de ótimo domaine que produz excelentes vinhos na Côte Chalonaise. Foi Aubert quem chamou a atenção da importadora americana Kermit Lynch sobre Damien Gachot, que tem 12 hectares em Corgoloin, entre Nuits Saint Georges e Beaune. Esse Côte de Nuits ‘Les Chaillots’, que estava em promoção a R$ 315 na Govin, reforça a tese de que o estudo dos vinhos desse domaine deve ser aprofundado.

Bourgogne blanc 2015 Berlancourt

Se um dia visitar esse pequeno domaine em Meursault, que também hospeda, não se assuste se encontrar Jean Francois Coche degustando ali. O dono de um dos domaines míticos da Cote d’Or gosta bastante dos vinhos de Pierre e Adrien Berlancourt. Veio no fim do ano passado numa pequena quantidade pela @uvavinhos. Uma nova remessa deverá chegar em breve. Frutas brancas em profusão, leve toque de fruta seca, um vinho que tem tudo de Meursault e com um pouco mais de persistência e complexidade passaria por um bom premier cru da village.

Bourgogne Côte d´Or Cuvée Gravel 2018 – Claude et Catherine Maréchal

Ótima porta de entrada do domaine Catherine e Claude Marechal, criado em 1981 e cujo mentor foi a lenda Henri Jayer. Produz em 12 hectares.A cuvée Gravel é situada em Pommard et Bligny-les-Beaune. Por R$ 280 na Delacroix, um dos melhores bourgognes disponíveis no mercado brasileiro. Na Delacroix.

Bourgogne Roncevie

Quando se visita o domaine Arlaud (texto da visita no site pisandoemuvas.com) uma das primeiras histórias escutadas é a excelência desse terroir. Roncevie está Gevrey-Chambertin, mas do lado errado da RN 74, ou seja, distante dos grands crus. Até 1964 era considerado “Villages”, mas na disputa política ficou com parcelas fora da classificação. Pére Arlaud não se fez de rogado. Comprou bourgogne sabendo que tinha um Gevrey disfarçado. O domaine tem excelentes vinhos, a única pena é o preço, que tem subido muito nos últimos dois anos. Vêm pela Cellar. Por R$ 375.

Borbulhas não apenas para o fim do ano

3 de Dezembro de 2020

O consumo de espumantes ainda está muito ligado às festas de fim de ano, mas cabe aqui sempre repetir a máxima de Lilly Bollinger sobre Champagne. “Bebo-a quando estou feliz e quando estou triste. Algumas vezes, também quando estou só. Quando tenho companhia a considero obrigatória. Brinco com ela quando estou sem apetite e a bebo quando estou com fome. Fora isso, nunca a toco, a menos que esteja com sede”.

Versatilidade ímpar, da entrada às sobremesas, apenas mudando a dosagem de açúcar, os espumantes vão muito bem com as entradas, das mais simples às mais complexas, como salgadinhos, canapés de salmão defumado, vieiras grelhadas. Nos pratos principais, dependendo de safras e qual a uva é a principal no corte (pinot noir vai muito bem com aves; chardonnay faz maravilhas com boa parte dos frutos do mar), eles também escoltam excepcionalmente bem.

Ferrari Perle 2006

Dito isso, quais são as opções existentes no mercado brasileiro? (As champagnes ganharão post específico na próxima semana)

Brasil

Você quer um espumante brasileiro versátil, bem feito, com bom preço? A preferência recai sobre Adolfo Lona, cujos rótulos são coringas à mesa,sendo boa parte abaixo de R$ 80. Argentino, Lona veio para o Brasil na década de 1970 trabalhar com as multinacionais que começavam a investir no terroir gaúcho. Ficou por lá. Produz bons espumantes, talvez os melhores do Brasil. Diego representa os vinhos em SP: 11.95133.4000 diego_graciano@hormail.com

Espanha

Se você estiver procurando uma opção estrangeira de boa relação qualidade preço, a Clarets traz as melhores borbulhas espanholas: Juvé Camps, situada em Sant Sadurní d´Anoia, a melhor região de Cavas, controla todo o processo de elaboração, desde vinhedos próprios, até todas as fases de vinificação. A Cinta Purpura sai por cerca de 100 reais.

Portugal

Na Bairrada, terra do famoso leitão, Luis Pato elabora com a casta local Maria Gomes um dos bons espumantes da terrinha. Na Mistral, por cerca de R$ 170.

Itália

Em Trento, a italiana Ferrari faz excelentes espumantes, em todas as gamas de preços. Às cegas,é duro dizer que não se trata de Champagne. Gosto é subjetivo, mas não troco um Ferrari por uma básica Moet nem por uma Veuve Clicquot. Na Decanter.

França

Alsace

Quem tem terroir tem tudo. Não se vive apenas de Champagne na França. Olho nos crémants. Os mais famosos estão na Alsace, terroir mais conhecido pela produção dos melhores rieslings franceses. São elaborados com as uvas Pinot Blanc, Pinot Gris, Pinot Noir, Riesling, Auxerrois e Chardonnay. Existe a versão rosé, elaborada com Pinot Noir. O vinho permanece pelo menos nove meses sur lies antes do dégorgement (expulsão dos sedimentos e colocação da rolha definitiva). Na ótima importadora franco-carioca Taste Vin, o bom espumante de René Muré para entradas e para abrir os trabalhos: https://www.tastevin.com.br/produto/cremant-d-alsace-brut/

Languedoc

Blanquette Antech Réserve Brut, 2017 - Espumante - Rótulo de garrafa de vinho da França da região Languedoc

Elaborado na região do Languedoc, perto de Carcassonne. As uvas para o Crémant são: Chardonnay e Chenin Blanc, as principais, complementadas por Mauzac e Pinot Noir. Permanece pelo menos quinze meses sur lies. A importadora Delacroix traz o Blanquette Antech Réserve Brut, 2017, um corte de 90% Mauzac, 5% Chenin e 5% Chardonnay. https://www.delacroixvinhos.com.br/products/blanquette-antech-reserve-brut-2017-1295-940-espumante

Bourgogne

A terra do pinot noir e do chardonnay, berço de Romanées e Montrachets, tem opções de borbulhas. São os crémants de Bourgogne, apelação da Borgonha com as uvas Pinot Noir e Chardonnay, podendo ter eventualmente as uvas Gamay e Aligoté. Permanece pelo menos nove meses sur lies.Uma opção na Cellar é o crémant do domaine Edouard. https://www.cellarvinhos.com/cremant-de-bourgogne-nature.

Em tempo: As champagnes ganharão post específico na próxima semana

Garimpo – R$ 321 a R$ 500

7 de Setembro de 2020

Por ser uma faixa de preço mais alta, aqui se escolheram garrafas que às cegas, e mesmo às claras, trarão problemas para gente que custa muito mais. Tem bourgogne de terroir menos badalado que encara muita gente famosa de igual para igual.

Champagne

A Delacroix dá desconto de 10% à vista ou 8% no cartão de crédito. A Jacquesson 742 sai então por volta de R$ 480. Não é barato, mas é a minha marca favorita, aprendida com o Nelson, fundador do site, que sempre dizia que eram borbulhas emocionantes. Gosto é subjetivo, mas esse é o rótulo com meu número na Champagne e sem eu ter o bolso para beber Krug quando eu quisesse. Os irmãos Chiquet são craques e criaram a linha 700 com a intenção de capturar as diferenças dos anos e não fazer uma assemblage característica da marca. São champagnes gastronômicos, refinados, elegantes e com alta capacidade de envelhecimento. Com a Agrapart fora do mercado brasileiro e bem mais cara, a solução está aqui.
https://www.delacroixvinhos.com.br/champagne/champagne-jacquesson-cuvee-742.html

Brancos
Já se fez post aqui sobre Sylvain Pataille (https://vinhosemsegredo.com/2020/08/15/em-destaque-sylvain-pataille/). O marsannay branco custa R$ 488 na Anima Vinum. O que Pataille faria em Puligny Montrachet? Tensão, toques cítricos, florais.
Tudo que se espera de um branco da Bourgogne. Parece vindo da Côte de Beaune.

Quer fugir do lugar comum de chardonnay e afins? Nicolas JOly é um dos pais da biodinâmica e faz grandes vinhos no Loire. O Vieux Clos 2018 é uma ótima porta de entrada para conhecer quem faz um dos vinhos míticos brancos franceses: o Coulée de Serrant, cuja capacidade de envelhecimento é lendária. Na @claretsbrasil

PREM1UM - Clemens Busch - Biodinâmico
O Mosel é a Chambolle dos vinhos alemães

A rainha das uvas, a riesling, produz grandes resultados na Alemanha. Estão entre os melhores do mundo dos brancos, com capacidade para rivalizar com qualquer Montrachet, seja ele de madame Leflaive, de père Ramonet ou do DRC. Clemens Busch faz no Mosel alguns dos melhores vinhos da Alemanha. Estão em falta vários rótulos na importadora Premium, mas o Ortswein Riesling Vom Roten Schiefer Trocken 2016 é daqueles vinhos que você harmonizaria com comida chinesa com extremo prazer. No Pfalz, a premium também traz os excelentes vinhos da Koehler-Ruprecht. O Kabinett Trocken de cerca de 200 reais é uma beleza, o spatlese 2016 de uns 400 é uma maravilha.

Tintos

Desculpe a repetição: falei acima do marsannay branco do Pataille, na Anima Vinum. Agora é hora do tinto, que infelizmente pulou de preço em setembro, para R$ 488 (era R$ 385). O que Pataille faria em Chambolle-Musigny? O que capturaria em Les Amoureuses?

Bordeaux? Aqui é bom olhar segundos vinhos de nomes reputados. Uma opção com bom preço é o Connétable do Talbot, o segundo vinho de uma propriedade classificada como 4ème Grand Cru Classé de Saint Julien, onde o craque mor é o Léoville Las Cases. O 2017 sai por volta de uns 350 reais na Clarets, decantação de umas 2 horas, pelo menos.

E um italiano com ar aristocrático de Bordeaux? Ornellaia é uma das ais famosas vinícolas italianas. Faz grandes vinhos. O terceiro da propriedade, o le Volte, por volta de uns R$ 250, é uma ótima pedida para pratos de massa com carnes. Também na Clarets.



Facetas da Sauvignon Blanc

5 de Julho de 2020

Na metade da década de 1980, a Nova Zelândia ganhou destaque nas cartas de vinhos e nas gôndolas de importadoras. Uma das forças por trás desse sucesso foi a uva sauvignon blanc, que no terroir dos hobbits enseja um vinho com personalidade bastante frutada, com aromas de frutas (maracujá ou de limão), acidez marcante.

Bem distinto da escola francesa. Ao contrário da variedade plantada na França, que atinge seu ápice no Loire nas mãos de Didier Dagueneau, esse é um vinho expansivo, frutado, que vai bem com ceviche ou saladas em que o queijo de cabra dá um toque mais ácido.

Estilo mineral, o Loire

No centro do Loire, as apelações Sancerre e Pouilly-Fumé se destacam num clima mais continental com a uva Sauvignon Blanc, que adquire características difíceis de reprodução em outro terroir do mundo e que a colocam em um mundo à parte dos rótulos frutados do Novo Mundo. Aqui o solo dá as cartas e a mineralidade é expressa ao máximo. Os dois vinhos são muito frescos e minerais, mas Pouilly-Fumé costuma ser mais incisivo sobretudo por boa parte da área possuir solos de Sílex e do tipo Kimmeridgiano, o mesmo solo de Chablis.

São vinhos próximos ao estilo Chablis, minerais e cortantes, acompanhando peixes e frutos do mar in natura como sashimi e ostras frescas. O ápice é Didier Dagueneau e seu Silex, importados pela casa Flora. Dagueneau morreu há alguns anos em um acidente de ultraleve, a vinícola agora é comandada por seu filho, Benjamim, um dos mais talentosos vinicultores do Loire, notadamente da apelação Pouilly-Fumé, que seu pai fazia questão de nominá-la Blanc Fumé de Pouilly.

A cuvée Silex faz menção a um dos famosos terroirs da apelação com solo pedregoso de nome homônimo. A safra 2004, bebida há três anos, ainda tinha muita vida pela frente, com mineralidade extremamente elegante. A tensão, a grande marca dos grandes brancos, está em cada gole. Aqui no Brasil dois outros produtores fazem bons vinhos nesse estilo: Alphonse Mellot, cujos sancerres vêm pela Cellar (www.cellarvinhos.com.br), e Vacheron, vindo pela Clarets (www.clarets.com.br).

vacheron taças zalto

O estilo mineral na América do Sul

É difícil reproduzir este estilo mundo afora, pois as questões de solo e clima são muito específicas. No entanto, algumas versões alcançam sucesso, mesmo parcialmente. É o caso da linha Terrunyo da Concha y Toro no Chile. Este Sauvignon por estar próximo ao oceano Pacifico, região de Casablanca, partilha de um clima bastante frio, além de um sub-solo granítico. Seu perfil mostra mineralidade, grande acidez e fruta mais contida de características cítricas. Em relação ao original, mostra-se um pouco mais encorpado e menos austero.

Estilo Bordeaux

Embora os Bordeaux clássicos envolvam duas uvas, sabidamente Sauvignon Blanc e Sémillon, às vezes com pitadas de Muscadelle, a técnica de elaboração em cantina, além do clima mais ameno em relação ao Loire, molda vinhos mais macios e com toques elegantes da barrica, quando bem feitos. Para aqueles que queiram comprovar este estilo de um Bordeaux 100% Sauvignon Blanc, fato raro, e ainda por cima de custo modesto, basta provar o consistente Chateau Reynon do saudoso mestre Denis Dubourdieu, um dos maiores enólogos bordaleses das últimas gerações. Importadora Casa Flora (www.casaflora.com.br).

Neste caso, embora não haja interferência de barricas, o vinho é protegido até seu engarrafamento em tanques com contato sur lies (com as leveduras) entre cinco e oito meses. Este procedimento confere textura agradável em boca com certa maciez, sem perder o importante frescor da casta. Além disso, o vinho ganha complexidade aromática tendo normalmente uma nota chamada cat´s pee (pipi de gato), bem típica e bem particular desta uva.

Por esta nota de frescor e textura delicada, este estilo de vinho acompanha bem peixes e carnes brancas com molhos delicados, levemente acídulos e/ou gordurosos como beurre blanc, por exemplo. Molhos que envolvam maracujá ou carambola também são apropriados para o vinho.

Cloudy Bay Marlborough Chardonnay

Estilo Tropical

Este é o estilo forjado pela Nova Zelândia quando nos anos 80, Marlbourough (região nordeste da Ilha Sul) mostrou ao mundo um novo estilo de Sauvignon Blanc com o incrível Cloudy Bay.  O clima deste cenário é o ponto chave do sucesso com grande amplitude térmica, ou seja, dias ensolarados e noites frias. Ao mesmo tempo que o vinho mostra um frutado tropical exuberante (o clássico maracujá), sua acidez, seu frescor, é algo notável e fundamental ao equilíbrio do vinho. Uma boa indicação é o Sauvignon Blanc Jackson Estate, trazido pela importadora Premium (www.premiumwines.com.br).

Pratos de sabores mais ricos com toques agridoces, ensopados de peixes como moquecas, sobretudo a capixaba, risotos de camarões com aspargos, por exemplo, são boas indicações para este estilo de vinho.

Estilo Chardonnay

Pode parecer estranho, mas um Sauvignon Blanc com estágio em barricas marcando um estilo amadeirado, lembra o clássico Chardonnay com madeira. Neste caso, a técnica de vinificação e amadurecimento sobrepuja a individualidade da fruta. Este estilo americano criado na Califórnia ficou conhecido como Fume Blanc. As notas tostadas, de baunilha, especiarias, são bem marcadas. O vinho ganha corpo e estrutura com passagem pela barrica. O comentário de uma pessoa degustando este tipo de vinho foi compara-lo a um Meursault, apelação francesa famosa da Côte de Beaune. Eu não chegaria a tanto, embora haja Meursaults e Meursaults …

Um bom exemplo deste estilo de vinho é o chileno Amayna Barrel Fermented trazido pela Mistral (www.mistral.com.br). Como harmonização, valem as mesmas sugestões de um Chardonnay com madeira. Carnes brancas como aves, peixes e frutos do mar com molhos cremosos.


%d bloggers gostam disto: