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R.J. Viñedos: Uma bodega familiar

17 de Setembro de 2014

Os vinhos argentinos cada vez mais inundam nosso mercado com as mais variadas opções. Neste terreno minado, é preciso separar o joio do trigo. É o caso da bodega Raul Joffré (RJ) destinada  a suas quatro filhas. Já dissemos em outras oportunidades os dois melhores terroirs de Mendoza: Valle de Uco e Zona Alta de Mendoza, emblematizada por Lújan de Cuyo e Maipú, onde muitas vezes encontramos vinhas antigas. Valle du Uco é uma zona relativamente nova, mas muito promissora, pois as altitudes podem atingir mais de 1300 metros, provocando com frequência a bem-vinda amplitude térmica (diferença de temperaturas entre o dia e a noite), e por conseqûencia, mantendo um ótimo frescor nas uvas com elevados níveis de acidez.

Início dos trabalhos

No caso desta bodega, os vinhedos situam-se em Valle de Uco com plantações de Malbec, Bonarda, Merlot, Cabernet Sauvignon, entre outras variedades. O início da degustação teve como vinho de entrada um Merlot de uma linha relativamente básica com apenas seis meses em madeira para 15% do vinho, ou seja, 85% do mesmo permanece em aço inox. Tinto de boa fruta, bom equilíbrio e evidentemente, sem complexidade. Pelo preço, R$ 48,00 a garrafa, é uma bela opção para eventos onde o consumo é elevado.

Bonarda: Bela surpresa da degustação

A uva Bonarda sempre teve um conotação negativa para vinhos de alta gama na Argentina. De origem italiana, sempre foi cultivada com altos rendimentos, para misturas de vinhos baratos e de grande volume. Neste caso, estamos falando de vinhas com cerca de sessenta anos de idade, plantadas no belo terroir de Agrelo, Lújan de Cuyo. Vinificação cuidadosa com longa maceração, o vinho é amadurecido em barricas de carvalho francês por dez meses.

Apresentou-se com uma cor jovem de muito boa intensidade. Os aromas, bem mesclados com a madeira, mostra fruta de muita pureza, aromas terrosos, de tabaco, ervas e notas de chocolate. Boa persistência aromática com taninos bem moldados. Ótima opção para fugir da mesmice dos Malbecs. Neste preço, R$ 75,00 a garrafa, talvez seja o melhor Bonarda argentino.

RJ Distinto: O ícone da bodega

Aqui estamos falando de um vinho de guarda. Apesar de quase dez anos (safra 2005), mostra-se ainda muito jovem. É imprescindível uma boa decantação. As vinhas antigas perfazem apenas um hectare. O blend favorece a guarda mesclando Malbec (40%), Cabernet Sauvignon (30%) e Merlot (30%). Vinificação pouco intervencionista com longa maceração das cascas. O vinho amadurece em barricas francesas novas por dezoito meses.

A cor não denota a idade, vislumbrando muita vida pela frente. Os aromas elegantes remetem a frutas maduras, madeira elegante e jamais invasiva, notas balsâmicas, de ervas e especiarias. Boca sedosa com um belo equilíbrio (agradavelmente quente). Vinho expansivo, taninos finos e um prazeroso final. Realmente, um vinho “distinto”. Para aqueles que estão acostumados aos tops argentinos (R$ 320,00 a garrafa), é uma instigante experiência.

Os vinhos são importados pela importadora Grand Cru (www.grandcru.com.br) e apresentam diversas linhas e muitas opções entre varietais e blends.

Lembrete: Vinho Sem Segredo na Radio Bandeirantes (FM 90,9) às terças e quintas-feiras. Pela manhã, no programa Manhã Bandeirantes e à tarde, no Jornal em Três Tempos.

Mendoza: Zonas, Departamentos e Distritos

15 de Agosto de 2013

Há muita confusão quando se fala de Mendoza como uma das províncias argentinas, desmembrada em dezoito departamentos, conforme quadro abaixo. Cada um destes por sua vez, são divididos em vários distritos. Fazendo uma correlação com nosso país (Brasil), províncias equivaleriam a estados, departamentos a cidades, e distritos a bairros.

Mendoza: dezoito departamentos

No mesmo mapa acima, podemos marcas as cinco regiões ou zonas  vitícolas de Mendoza, conforme mapa abaixo. Vejam que elas interseccionam alguns departamentos, gerando uma certa confusão. Nosso estudo vai concentrar-se em três das cinco zonas, ou seja, Zona Alta del Rio Mendoza (também chamada Zona Centro), Zona Este (Leste), e Valle de Uco. As zonas Norte e Sul não apresentam condições de terroir favoráveis à elaboração de vinhos de alta qualidade. Não é à toa, que a bodega Catena Zapata concentra seus vinhedos nas duas melhores zonas: Centro e Valle de Uco.

Oasis Vitivinícola de Mendoza Mendoza Wine Tours & Travel

Mendoza: cinco zonas

Cada um destes departamentos tem seus distritos muito bem definidos, conforme mapa abaixo. Maipú é um departamento importante que faz parte da Zona Alta del Rio Mendoza. Seus distritos de Las Barrancas e Lunlunta são famosos e muitas vezes mencionados em fichas técnicas de vinho. Da mesma forma, o departamento de Luján de Cuyo possui distritos famosos como Perdriel, Agrelo, Vistalba e Las Compuertas.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1b/DIVISION_POLITICA_DE_MAIPU.jpg

Clique acima: detalhe de Maipú, com alguns dos 205 distritos de Mendoza.

Em Valle de Uco temos três departamentos: Tupungato, San Carlos e Tunuyán. Seguem alguns distritos famosos: La Consulta (San Carlos), Vista Flores (Tunuyán), Gualtallary e Villa Bastías (Tupungato).

Terroir pesquisado por Pedro Parra

Pedro Parra é considerado um dos maiores especialistas em terroir na América do Sul. O vinho acima é elaborado a partir de um vinhedo no distrito de Vista Flores no Valle de Uco a 1250 metros de altitude. Depois de exaustivos estudos, este vinhedo foi selecionado pela boa mescla de argila com muitas pedras e boa profundidade, fornecendo um raro caráter mineral. Este vinho é comercializado pela World Wine (www.worldwine.com.br). 

Achaval Ferrer: bela linha de vinhos

Já falamos deste excelente produtor em artigo especial neste mesmo blog. Um de seus melhores vinhos, Finca Altamira, é elaborado a partir de um vinhedo de seis hectares no distrito de La Consulta com parreiras de mais de oitenta anos em pé franco a 1050 metros de altitude. A concentração deste vinho é explicada com rendimentos baixíssimos em torno de 400 gramas de uva por parreira. Esta bodega é comercializada pela Inovini (www.inovini.com.br).

Mendoza: Regiões

12 de Agosto de 2013

Guardada as devidas proporções, Mendoza está para a Argentina, assim como Califórnia está para os Estados Unidos. Região de grande produção e qualidade, acima da média das demais. Entretanto, foi-se o tempo em que vinhos de Mendoza eram um só pacote. A área está dividida em sub-regiões entre as quais, três destacam-se no cenário abaixo ilustrado: Região Leste, Região Central e Valle de Uco.

map-regions

Mendoza: fatores de solo e altitude

O clima mendocino é explicado com o esquema abaixo, mostrando a insolação eficiente, o baixo índice pluviométrico e a compensação da altitude. Aliás, artigos anteriores deste blog tratam de Chile e Argentina sob os títulos: Terroir Chileno e Terroir Mendocino.

Lluvias Anuales

Mendoza: região seca, quase desértica

Voltando ao primeiro mapa, vemos a cordilheira dos Andes ao fundo. Das três zonas mais nobres de Mendoza, a zona Leste, mais longe da cordilheira e com menor altitude média é a mais produtiva, elaborando vinhos bastante frutados, macios, mas sem grande complexidade. Os departamentos desta zona que podem estar mencionados nos rótulos dos vinhos ou em suas respectivas fichas técnicas são: Rivadavia, San Martín, La Paz e Santa Rosa.

Na chamada zona Central de Mendoza, mais próxima à cordilheira e com maior altitude média, temos os famosos departamentos de Luján de Cuyo e Maipú. Os solos são mais pobres e pedregosos e com boa área plantada de vinhas antigas. Enquanto aqui podemos ter altitudes de mil metros, na zona Leste não passa de setecentos metros em relação ao nível do mar.

Mendoza: Supremacia na produção argentina

Ao sul da zona Central e com vinhedos mais próximos à cordilheira, chegamos à nobre zona do Valle de Uco com departamentos famosos como Tupungato, Tunuyán e San Carlos. Aqui estamos falando em altitudes de mil e duzentos metros ou mais. O clima é mais fresco e as noites são mais frias, proporcionando alto nível de acidez nas uvas. A maturação das uvas tintas é lenta, fornecendo uma bela estrutura fenólica (taninos e antocianos). Os solos são bastante pobres, bem drenados e com alto teor de pedras.

Além da diferenciada altitude entre estas três zonas principais, os solos têm papel fundamental na qualidade e concentração das uvas. Na zona Leste, os solos apresentam tendência arenosa, certa salinidade e pouco material pedregoso. Na chamada zona Central ou zona Alta do rio Mendoza, temos solos franco-argilosos com grande proporção de material pedregoso (canto rodado ou pedras arredondadas) de grande capacidade de drenagem. Por último, Valle de Uco apresenta solos com areia grossa, limo (solo com granulosidade entre areia e argila) e grande quantidade de pedras, proporcionando excelente drenagem.

As chamadas zonas Norte e Sul, fora do mapa inicial, não merecem um estudo mais detalhado. São áreas com solos impróprios, altitudes e temperaturas inadequadas para uvas de grande qualidade e concentração.


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