Voltando aos temas regionais sobre vinhos, vamos abordar a partir deste artigo os vinhos franceses do Jura. Terra de Louis Pasteur, do famoso Vin Jaune (vinho amarelo), onde o Château Chalon conquistou fama e glamour como um dos melhores vinhos franceses de toda a história. Aliás, Château Chalon já comentado neste blog, é o único tema mencionado sobre a região. Contudo, por sugestão de um amigo e percebendo uma maior oferta destes vinhos em nosso mercado, vale a pena uma análise mais profunda sobre o assunto.
Jura: Leste francês próximo à Suíça
Só para nos situarmos, Jura é uma região montanhosa localizada a leste da Borgonha, vizinha à região de Savóia e à Suíça. De clima continental, seu inverno é rigoroso e seus verões secos. As informações e comentários estão baseados no site oficial da região: http://www.jura-vins.com
Principais Uvas
Para começar, vamos às principais uvas da região. Começando pelas tintas, temos as seguintes uvas: Le Poulsard, Le Trousseau e a nossa conhecida Pinot Noir. A Poulsard gera vinhos de pouca pigmentação, tendendo ao rosé. Porém, apresenta taninos destacados, aromas de frutas vermelhas e escuras e uma tendência ao sous-bois, sobretudo no envelhecimento. Já a Trousseau, tem uma intensidade de cor destacada, aromas de frutas e especiarias. Em boca, costuma ser mais macia que sua concorrente acima. Por último, um Pinot Noir de clima frio. Em comparação com a Borgonha, costuma ter menos corpo, menor estrutura, lembrando de certo modo um bom Hautes Côtes de Nuits.
No campo das brancas, temos a familiar Chardonnay e a grande uva local Savagnin, a qual dá origem ao típico Vin Jaune. A primeira adapta-se bem ao clima frio, a vários tipos de solo e sua maturação é precoce. Pode dar origem a vinhos varietais ou mesclados com a Savagnin, os quais são denominados “Tradition”, inclusive no rótulo das garrafas. Quanto à Savagnin, trata-se de uma cepa mais exigente, sobretudo aos solos, preferencialmente o marga (mistura de argila e calcário) cinzento. Outro complicador é sua maturação tardia, sujeita às condições de cada safra.
Aspectos Gerais
Apesar de pouco conhecida e pouco glamorosa, Jura é uma região antiquíssima e conhecida pelos seus vinhos desde o início da era cristã. Sua estrutura vinícola está formatada entre pequenos produtores (37% da produção), negociantes (39%) e cooperativas (24%). São dois mil hectares de qualidade superior divididos em seis apelações: Arbois, Côte du Jura, L´Étoile, Crémant du Jura, Macvin e o famoso Château-Chalon. Essas apelações veremos em detalhes nos artigos seguintes.
Em termos de solo, há uma diversidade imensa com presença de calcário e vários tipos de marga, conforme a origem e o período geológico de formação das argilas multicoloridas. Há terrenos de grande declividade e outros menos íngremes.
Abaixo, uma pequena ideia de produção dos vinhos do Jura, tanto em termos de tipo, como em termos de apelação. Os brancos e tintos de secos dominam a produção, seguidos pelo Crémant (espumante elaborado pelo método tradicional, ou seja, espumatização em garrafa). O grande vinho do Jura, Château Chalon, não chega a três por cento da produção. Acompanhando o raciocínio, as apelações Arbois e Côtes du Jura dominam a cena na elaboração de brancos e tintos secos.
A área cultivada não chega a dois mil hectares
No quesito exportação, dos oito mil hectolitros exportados, mais da metade refere-se ao Crémant. Os brancos e tintos secos sob as apelações Arbois e Côte du Jura chegam próximos ao Crémant, enquanto os Vin de Paille, Macvin, Château Chalon têm exportações ínfimas, devido sobretudo à baixa produção. As repartições quanto ao tipo de vinho acompanham o mesmo raciocínio.
Crémant du Jura é o grande vinho de exportação
Como última curiosidade, os brancos secos do Jura podem ter a menção no rótulo com as expressões “Blanc Floral” e “Blanc Tradition”. O primeiro refere-se a vinhos jovens, delicados e com boa vivacidade. O segundo termo refere-se a brancos com certo grau de oxidação, de envelhecimento, apresentando um dourado intenso, ou mesmo um âmbar em sua cor. São mais macios, mais estruturados e mais gastronômicos.