Nas cuvées de luxo de Champagne, Krug e Salon têm um lugar especial entre os afortunados enófilos que podem comprá-las. Salon é reputada pela sua singularidade: uma uva, um terroir, uma safra, tendo feito isso desde a primeira safra 1905 (74 anos antes da Clos de Mesnil); enquanto Krug tem em seu cartão de visita a arte da assemblage, desejo do fundador da casa, Joseph Krug, cuja visão foi recriar a cada ano, pela mescla de uvas, a melhor expressão do que a região de Champagne pode oferecer.
A intenção veio depois de uma experiência de mais de uma década na Jacquesson, que naquele momento era uma das mais famosas maisons de Champagne, sendo a preferida de Napoleão. “Tínhamos dificuldade para entender por que ele deixou a Jacquesson que era um grande endereço, mas, ao abrir arquivos e encontrarmos algumas cartas que ele escreveu depois de sua saída, vimos que ele escutava muitos reclamando da falta de consistência dos vinhos e que não se conseguia extrair o melhor todo o ano para os clientes. Há cartas dos Jacquessons escrevendo para ele não perder tempo que a safra decide a qualidade”, disse Olivier Krug em entrevista ao vinography.
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Foi assim que ele resolveu empreender em seu próprio endereço e surgiu o cartão de visita: Grande Cuvée, cuja primeira edição foi baseada na safra de 1845 e que pode ser uma mescla de mais de 120 tipos de vinhos de reserva de mais de 15 safras diferentes. A ideia é oferecer um vinho capaz de chamar a atenção ao primeiro gole, com versatilidade para escoltar diferentes tipos de pratos e que possa envelhecer à perfeição. Para cristalizar sua filosofia, Joseph Krug escreveu o que pensava ser as diretrizes de como se fazer um grande champagne em seu caderno pessoal, que pode ser visto ainda hoje em visita à Maison.
Algumas das máximas, escritas em 1848: “sempre vá atrás do melhor produto, nunca conte com o acaso”; “Em princípio, uma boa casa deve oferecer duas safras da mesma composição e qualidade”, continuou Krug. “O primeiro será recriado todos os anos e é o mais difícil de fazer. Equilibraremos o que a natureza nos deu com vinho reservado e maduro, e o blend oferecerá a melhor qualidade em cada ano. A segunda será igual à primeira, mas ligada às circunstâncias do ano em questão.”
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A edição 171, baseada na safra 2015, sete anos de envelhecimento nas caves da Krug, é uma mescla de 131 vinhos de 12 diferentes safras, sendo a mais jovem, 2015, a mais antiga, 2000. É integrada por um corte de 45% Pinot Noir, 37% Chardonnay e 18% Meunier (a Krug se destaca ao usar essa casta, que foi relegada por grande parte das maisons, entrando apenas em quantidades muito pequenas na composição dessas casas).
“Eu fico feliz quando alguém sente os aromas da Krug pela prmeira vez e diz que o que ele está sentindo é diferente e aí quer sentir mais e mais. É uma mescla de uvas da região e uma homenagem ao terroir da Champagne, com cada parcela sendo mantida separada durante a vinificação e a maturação e depois é feita a assemblage”, disse Julie Cavil em entrevista a William Kelley em 2020, quando ela se tornou a primeira mulher a assumir a posição de chefe da cave da Krug.
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Bebidas recentemente, a Krug 171 e a 2003 mostraram por que essa casa é para alguns a melhor da Champagne. A 171 tem um tamanho equilíbrio que denota parecer pronta para o consumo, mas a beleza da juventude irá ao longo dos anos ganhar a maturidade de uma espumante que mescla profundidade e elegância. Nem se sente a dificuldade do ano, quente e com uma chuva providencial em agosto. Num ano que representou dificuldades para Champagne devido a uma certa falta de tensão, ela comentou para a The World of Fine Wine: “Não houve bloqueio de maturidade; estava quente, mas sem extremos durante a maturação. Usamos nossos vinhos de reserva para trazer os famosos limão e toranja. Então tivemos que misturar com 2014, 2008, 2004, que são safras mais frescas.”
O ano de 2003 foi tórrido, a safra da canicule, um calor que assolou a França e matou mais de 50 idosos. Com dez anos de envelhecimento nas caves, é mescla de Pinot Noir (46%), Chardonnay (29%) e Meunier (25%). No nariz, aromas de frutos secos, brioche, leve toque de cogumelos, num ótimo ponto de consumo.
Já dizia o Nelson: “É fácil agradar. Basta servir o melhor. Krug. Irrepreensível.”