Em 2010, quando Aubert de Villaine ganhou o prêmio de homem do ano da revista inglesa decanter, ligou para Didier Dupond, presidente da maison de champagne Salon. Vilaine, então responsável pelos vinhos do Domaine Romanée Conti, é apreciador da champagne, que há 120 anos subverteu a ordem: criou uma champagne de uma uva, um terroir e uma safra (Krug faria isso com Clos de Mesnil 75 anos depois). Queria que fosse servida na recepção, que contou com um time de pesos pesados da Bourgogne, como Frédéric Mugnier, Michel Lafarge. Há uma piada interna entre Villaine e Dupond. O primeiro gosta de dizer que Dupond se daria bem na Borgonha fazendo vinhos como os que faz na Champagne.
Na cerimônia, em Londres, em maio de 2010, organizada pela tradicional importadora corney and barrow, uma das fornecedoras da Coroa inglesa, o pedido de Villaine foi atendido. A escolha? Salon 1997. Madame Lalou Bize Leroy também apareceu (ela foi protagonista de uma briga nos anos 80 em razão dos rumos do drc e se afastou, especula-se por questões comerciais ligadas à importação de vinhos do domaine no mercado japonês, o que levou o voto de Villaine por afastá-la do DRC).
Dupond se aproximou de Lalou Bize Leroy com a garrafa de salon.
“Madame, uma taça de champagne?”
“Nao bebo champagne” – a rispidez no tom fez Dupond levantar as sobrancelhas, mas não o fez perder as palavras.
“Quer um suco ou água?”
“O senhor é Didier Dupond?”
“Sim”
“Me dê uma taça”
Ao beber uma taça de Salon 1997 em magnum, ela logo disse.
“Você produziu esse vinho?”
“Vinho e as uvas.”
Ela, ao perceber que suas palavras poderiam ter soado mal, logo se corrigiu.
“Não bebo nunca champagne, a efervescência faz mal ao meu estômago, mas aqui está um grande vinho.”
“Vindo da senhora é um elogio!”
Essa história foi contada por Didier em sua visita a São Paulo e é sempre recontada por ele, não é difícil de entender a razão. Dupond, que esteve recentemente no Brasil, está à frente de uma maison que produziu em 120 anos apenas 43 safras e introduziu Mesnil sur Oger no lugar mais alto da hierarquia das borbulhas. O terroir, no coração da Côte des Blancs, onde nascem algumas das melhores videiras de chardonnay do planeta, enseja vinhos que demandam tempo para serem apreciados, tamanha estrutura e acidez. São champagnes para se completar, diz Dupond, que diz que eles precisam de mais de dez anos para esbanjar a complexidade e profundidade. Parceiro ideal para pratos de trufas brancas de alba? “Ou talvez apenas para a contemplação”, responde sorrindo.
São cerca de 50 mil garrafas em uma safra, sendo o Japão e a Itália dois dos maiores mercados. “É uma forma de o público ter a França sobre a mesa”, diz. Há uma clientela fiel. Dias desses, Dupond foi ao Palácio dos Elísios, em Paris, sede do governo francês. Foi levar uma Salon 1948, ano de nascimento do rei Charles III, amante da marca. Será um presente do governo francês ao velho aliado.
Sobre o vinho? As palavras do Nelson: “Apesar de possuir um único estilo de champagne, Blanc de Blancs, seu rigor na elaboração é obsessivo. Se você fizer questão da mais pura mineralidade e não se importar com preços, este é o caminho.”
Sobre o Salon 1997, que abriu o artigo, Nelson em dobro: “Salon 97 ainda uma criança. Cheio de tensão e mineralidade, suas borbulhas exibiam a delicadeza de um dos mais longevos champagnes.“
Sobre uma Salon 2002, mais uma vez: “Para começar os trabalhos, nada melhor que um belo champagne. Se for um Blanc de Blancs, c´est parfait, com muito frescor e mineralidade. Toda vez que provo Salon, vem aquela dúvida cruel imediatamente: Salon ou Clos du Mesnil da Krug?. As duas são realmente a perfeição neste estilo tão elegante e delicado, onde a força do calcário no solo, imprime uma mineralidade sem igual. São champagnes que envelhecem muito bem, haja vista esta Salon da safra 2002. Ainda um bebê na garrafa com cores vibrantes, extremamente brilhante e reflexos verdeais. Seguramente pela qualidade da safra, tem pelo menos mais quinze anos de boa evolução. Salon costuma ficar dez anos sur lies, antes do dégorgement.“