Degustar um La Tache é sempre momento de reverência. Um vinho cheio de energia, opulência, mais óbvio que seu arquirrival Romanée-Conti, mas sempre grandioso. Da família DRC, é o mais superlativo, entregando generosidade, profundidade, além da elegância e mistério dos vinhos de Vosne. Foi o que aconteceu num belo jantar entre amigos numa vertical do mito contemplando anos de várias décadas. La Tache tem um rica história que começa com seu vinhedo original de 1,43 ha, acrescidos posteriormente com os vinhedos Les Gaudichots de 4.63 ha. Ver artigo la tache .
um arsenal de taças
Para iniciar os trabalhos, nada como champagne da Belle Époque, Perrier Jouet Rosé 2005 em Magnum. Um champagne mantendo a elegância da Maison com partes equivalentes de Chardonnay e Pinot Noir. Passa pelo menos cinco anos sur lies, antes do dégorgement. Perfeito para aguçar as papilas.
uma noite mágica!
Enquanto isso, time em campo já perfilado. Parece que o camisa 10 vai ser o 76, mas haverá belas surpresas. Afinal, treino é treino, e jogo é jogo. Flights às cegas.
a imponência de uma bela adega
A degustação seguiu em quatro flights com três safras cada um. Como tivemos dois 88 e dois 00, eles foram separados entre os flights provando que em safras antigas, vale a garrafa e não exatamente a safra. Um dos 88 estava claramente cansado, enquanto o outro permitia uma análise mais apurada. Já os dois safra 2000 brilharam, mostrando o lado feminino deste Monopole DRC.
dada a largada …
De cara, a grande surpresa da noite, La Tache 1981, safras dos amigos Pedro e Ivan. Um tinto que envelheceu maravilhosamente numa garrafa muito bem conservada. Os aromas de adega úmida, toques terrosos, de especiarias, e notas de chá, permeavam a taça. Tudo que se espera dos grandes vinhos de Vosne. Não é uma safra potente, mas de uma elegância ímpar. Levou o flight com folga. Já o 94, um vinho mais duro, viril, de acordo com os taninos da safra. É resistente ao tempo e precisa de pratos suculentos para equilibra-lo. Por fim, o 88 prejudicado. Claramente cansado, não permitiu uma abordagem mais precisa.
mais uma bela surpresa neste 2000
Neste flight, o segundo 88 estava mais inteiro. É uma safra dura, difícil, mas já está devidamente evoluído. Mostra um lado mais masculino do La Tache. Já o 89, um vinho adorável, de taninos docéis. Não é um vinho de tanta potência, mas muito prazeroso. Por úlitmo, o belo La Tache 2000. Um vinho extremamente delicado com toques florais, lembrando um Saint Vivant. Um vinho de muita energia e frescor, mostrando que delicadeza também pode ser marcante. Vinho de grande profundidade, equilíbrio, e longevidade. Vai fácil em mais dez anos de adega.
Expressões opostas de uma mesma uva
Uma pausa para brancos, e que brancos! Num clima frio e austero, Raveneau faz um Chablis de exceção, verdadeira referência para esta nobre apelação que traz mineralidade e tensão a um branco cheio de energia. Já o DRC no sagrado santuário de Montrachet, mostra opulência, maciez, com plenos sabores e longa persistência. Aqui a diferença entre os terroirs não precisa ser explicada. As taças falam por si.
Isa e suas criações …
Para acompanhar essas maravilhas, a anfitriã Isa nos brindou com um caldo de morilles para os flights iniciais do La Tache, enaltecendo os toques terciários dos vinhos. Já para a dupla de brancos, vieiras magistralmente ao ponto, estavam à altura dos grandes brancos da Borgonha.
flight equilibrado
Voltando à cena, este foi o flight mais equilibrado, embora o 2000 tenha dado mais um show. A safra 97 assim como 89, gerou vinhos de grande prazer, sem arestas, e muito agradáveis. No caso do 97, parece ter um pouco mais de extrato e estrutura. Ainda deve evoluir bem. Terminando com o 2001, este chega muito perto do 97. Um vinho ainda em evolução, mas com futuro promissor. No momento, ainda um pouco misterioso. Afinal, estamos falando de La Tache, um vinho que evolui por décadas.
grandes promessas
Neste último flight, mais promessas que plenos prazeres, tendo claramente um infanticídio, La Tache 98. Uma safra de evolução lenta, um pouco duro no momento, e aromas ainda difíceis de se abrirem. No entanto, tem um bela estrutura para longa guarda. Entre os 93 e 96, percebemos claramente a diferença de uma grande safra e outra de taninos mais duros como 93. Um vinho de grande extrato, mas que deve ser lapidado pelo tempo, amansando um pouco esses taninos um tanto nervosos. Já o 96 tem taninos e energia de sobra para galgar altos voos, mas a qualidade destes taninos é a diferença entre o couro rustico e a pelica. Uma textura prazerosa em boca neste 96 que merecidamente tem notas entre 94 e 97 pontos. O grande La Tache da noite em termos potenciais.
a apoteose
Deixamos para o final, o La Tache 1976, um senhor de 43 anos e uma bela história de vida. Não teve como não lembrar do 81, o primeiro vinho do primeiro flight. Sem tecer comparações, pois obras de arte não se comparam, este senhor tem os traços da idade revelados em aromas terciários incríveis, pacientemente moldado pelo tempo. A boca é harmoniosa sem ser potente, mas com final tocante e bem acabado. O silêncio depois de toma-lo diz tudo.
Para arrematar os últimos flights e este belo jantar, foi servida uma leitoa assada em seu próprio molho com couve e purê de banana da terra. A Isa realmente se superou!
combinação divina
final à francesa: prato de queijos
Fazendo um parêntese, entremeando o jantar foi servido uma porção de foie gras in natura com calda de caramelo e flor de sal. Nem precisa falar que acompanhou divinamente um belo Sauternes em garrafa double Magnum da histórica safra 2001. Nada mais, nada menos, que Chateau Climens, rei de Barsac. Embora de sub-regiões contiguas, os vinhos de Barsac costumam ser mais delicados que os untuosos Sauternes. Este em especial é 100% Semillon e um estágio em barricas por cerca de 20 meses. A delicadeza e profundidade deste vinho são marcantes com notas de mel, pâtisserie, e toques florais. Além do foie gras, o vinho arrematou bem a sobremesa, p prato de queijos, e o final de prosa à mesa.
Agradecimentos a todos os confrades, especialmente aos anfitriões da casa que tão bem nos receberam. Degustação que deixará saudades, motivando os confrades a manter o alto nível dos temas que se segundo rumores, será Le Pin. Que Bacco nos ilumine!
Etiquetas: barsac, chablis, champagne rosé, chateau climens, enogastromia, foie gras, Harmonização, la tâche, leitoa, montrachet, morilles, Nelson Luiz Pereira, perrier-jouet, raveneau, sauternes, sommelier, tabua de queijos, terroir, vieras, vinho sem segredo
27 de Junho de 2019 às 6:25 PM |
Gostei, parabéns.
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