Por uma questão cultural, muitos pratos brasileiros ficam à margem do vinho, preferindo outras bebidas como cerveja ou cachaça. Entretanto, Chefs como Rodrigo Oliveira do Mocotó e Mara Salles do Tordesilhas, elevam o patamar de certos pratos tradicionais com muita técnica e conhecimento profundo da gastronomia regional brasileira. Foi o caso de um belo jantar privado, onde Mara Salles desfilou alguns de seus pratos como a tradicional moqueca e o típico barreado de Morretes, estado do Paraná.
delicadas borbulhas e exóticos decanters
Iniciando os trabalhos com alguns pasteizinhos, dadinhos de tapioca e casquinha de siri, o Dom Pérignon 2000 em sua maioridade fez bela parceria, mantendo aguçado o paladar dos convivas. Muito fresco, bela acidez, e a elegância de sempre, sem jamais parecer pesado.
sutilezas nos sabores de ambos
Na combinação acima, é preciso aliar texturas para o alto grau de refinamento tanto do prato, como do vinho. O vinho embora já com seus 20 anos, apresenta um frescor incrível, mesclando algumas notas terciárias de frutas secas. A delicadeza do vinho permite ressaltar as notas aromáticas do prato como especiarias (pimenta) e ervas (coentro). No rótulo acima, a menção Corton-Vergennes refere-se a um Grand Cru branco de Corton do lieu-dit chamado Les Vergennes, pertencente à comuna de Ladoix-Serrigny. Em linhas gerais, trata-se de um Corton com um pouco mais de corpo que o clássico Corton-Charlemagne, devido a uma proporção um pouco maior de argila sobre o calcário. Para entender melhor estes detalhes de terroir e legislação, o mapa abaixo tenta elucidar o fato.
o intrincado mosaico bourguignon
A apelação Corton é um tanto complicada. Primeiramente, existe a apelação Corton-Charlemagne somente para brancos. Já a apelação Corton, predominantemente para tintos está dividida entre três comunas: Aloxe-Corton, Ladoix-Serrigny, e Pernand-Vergelesses. Uma pequena porcentagem de brancos pode ser feita sob a apelação Corton. No caso da garrafa acima, Les Vergennes é um lieu-dit da comuna de Ladoix-Serrigny, bem à direita em vermelho no mapa acima.
o tradicional Barreado de Morretes
Para o prato principal, o clássico Barreado de Morretes, Paraná, onde carnes de boi mais duras são submetidas a longo cozimento em panelas com vedação de barro por várias horas até o ponto em que as carnes começam a desmanchar. O prato é rico em temperos, acompanhado de banana-da-terra e arroz.
Para acompanhar um prato tão substancioso e ao mesmo tempo, agregando o talento e técnica de Mara Salles, foi escolhido um Vega-Sicilia Reserva Especial, normalmente um blend de três safras antigas do maior tinto espanhol. Neste caso, trata-se de uma partida de pouco mais de treze mil garrafas das safras 1965, 1967 e 1972, formando 45 barricas. Esses Vegas Reserva Especial são realmente espetaculares, pois todos aqueles aromas terciários do vinho estão presentes com lindos toques balsâmicos e de especiarias. Um tinto com força e elegância para acompanhar o prato.
um dos grandes Yquems da história
Encerrando o jantar, um Yquem histórico da grande safra 2001. Untuoso, cheio de Botrytis, e um equilíbrio perfeito. Ainda em tenra idade, mostra toda sua suntuosidade numa evolução lenta e progressiva. Seu apogeu está previsto para 2100. Acompanhou muito bem um sorvete de tapioca com cocada e calda de tamarindo. A untuosidade do vinho caiu como uma calda com o sorvete. Além disso, a doçura da cocada e a acidez do tamarindo foram bem confrontados pelo açúcar e frescor deste Yquem. Um fecho de ouro.
Porto Vintage e toda a turma reunida
Foram quatro garrafas de Vega regando o jantar com o prato principal. No finalzinho do encontro, eis que surge um Vintage Port da tradicional Casa Grahams numa das mais belas safras de Porto, 1977. Um Vintage com quase 50 anos entra naquela fase balsâmica, onde a textura e o tipo de fruta tornam-se um licor. Equilíbrio perfeito e um persistência final dos grandes vinhos. Não há forma melhor de encerrar um grande encontro.
Etiquetas: barreado, corton, corton charlemagne, corton vergennes, dom pérignon, enogastronomia, grahams, Harmonização, maison leroy, mara salles, moqueca, Nelson Luiz Pereira, porto vintage, sommelier, terroir, vega sicilia, vinho sem segredo, yquem
Deixe uma Resposta