Fazer um time de Petrus do goleiro ao ponta esquerda não é tarefa corriqueira. O dream team foi composto pelas safras 70, 75, 76, 81, 83, 89, 90, 97, 98, 99, e um 2009, praticamente um feto. Além destes, um Saute-Loup 2010 em Magnum, vinho da família do rei Petrus, pouco conhecido na mídia.
o time todo no restaurante Parigi
Evidentemente, precisamos aguçar as papilas, antes de enfrentar esta seleção. Nada melhor que dois champagnes Dom Perignon safras 96 e 98 de longo tempo sur lies. A primeira 98 trata-se de um Oenothèque, antiga nomenclatura, e um maravilhoso 96 P2, nova nomenclatura para as chamadas “plenitudes”.
12 anos sur lies
Dois champagnes maravilhosos, mas de estilos diferentes. O 96 é extremamente mineral, agudo, de muita leveza, e longa persistência aromática. Já o 98, mais vinoso, mais gastronômico, e cheio de brioches. A preferência é pessoal, mas o 96 impressiona pela vivacidade com 97 pontos.
16 anos sur lies
velhinhos de respeito
Abrindo a degustação, este primeiro flight mostrou didaticamente a evolução de um vinho de guarda. Todos os principais aromas terciários estavam lá, adega úmida, cogumelos, trufas, notas de chá, especiarias, ou seja, os deliciosos aromas etéreos. O 83 é discretamente mais concentrado que o 81, mas ambos deliciosos.
trio de respeito, mostrando a força deste vinho
Neste segundo flight, subimos de patamar. O 97 e 99, num estilo mais abordável, de certa maciez, mostrou bela concentração de aromas e taninos finos. O 99 com um pouco mais de riqueza e estrutura, embora o 97 seja mais prazeroso no momento. Falando agora do 98, um verdadeiro mamute com 98+ pontos e um largo caminho a percorrer, buscando um apogeu esplendoroso. A estrutura tânica deste vinho impressiona e garante esta enorme longevidade. Para toma-lo agora com algum prazer, é necessário uma decantação de pelo menos três horas. Paciência com este monstro!
200 pontos na mesa
Neste terceiro flight, vinhos perfeitos, a despeito de estarem longe de seu apogeu. O 90 tem um lado mais delicado, bela acidez, e um equilíbrio perfeito. Já o 89, um tinto de mais opulência, uma riqueza de fruta extraordinária, e longa persistência final. A garrafa estava um pouco prejudicada com certa turbidez. De todo modo, um embate espetacular sem vencedores.
um trio para selar uma grande degustação
Neste ultimo flight, ficamos com os vinhos mais longevos e de grande pontuação, verdadeiros mitos deste grande terroir. O 76 menos badalado, mostrou bela evolução, com todos os componentes bem balanceados, maciez notável, e grande classe. Ótimo para ser apreciado no momento. O 75 de estilo parecido com o 98 acima descrito, tem um força extraordinária com taninos impressionantes. Já entrando em seu apogeu, é vinho quase imortal, sem nenhum sinal de decadência. Tinto impressionante. Deixamos para o fim, o melhor do almoço, o magnifico e feminino Petrus 70. Uma verdadeira poesia liquida com lindos toques de alcaçuz. Macio, sedutor, envolvente, uma das safras perfeitas de Petrus com 99 pontos. Não me perguntem onde o Parker tirou um ponto desta maravilha. O homem realmente é chato e exigente com os grandes Bordeaux.
Um pouco mais de Petrus …
Petrus: a Chave para o Céu
Petrus está para Pomerol, assim como Yquem está para Sauternes. São Chateaux hors-concours que dispensam apresentações por seus respectivos terroirs únicos. No caso de Petrus, seu solo é composto de uma argila azulada rica em ferro no platô de um outeiro numa altitude de 40 metros em relação ao nível do mar. Isso confere ao vinho uma riqueza de cor extraordinária e muda as características principais da Merlot, uva altamente majoritária na composição do vinho. No caso, é um Merlot rico em taninos, lembrando pela estrutura um Cabernet Sauvignon. Outra curiosidade é que depois de 60 a 80 centimetros abaixo do solo, esta argila se torna dura, não permitindo um aprofundamento das raízes. Portanto, elas crescem lateralmente, fazendo com que o espaçamento entre as vinhas seja maior que o habitual.
É um vinho de maturação lenta, sobretudo nas grandes safras, capaz de envelhecer por décadas. Somente o Chateau Lafleur possui estrutura semelhante.
O sucesso do vinho em termos de história é relativamente recente, já que Pomerol não possui nenhuma classificação oficial em Bordeaux. Somente depois da segunda guerra mundial, Petrus ganhou fama e prestígio no mundo quando foi apresentado na Casa Branca, onde as recepções eram regadas pelo tinto de Pomerol. Em especial, a família Kennedy era fã do vinho.
http://www.rendezvous.com.br/o-mito-petrus-com-olivier-berrouet/
O Link acima traz uma reportagem técnica muito detalhada com o atual enólogo do Petrus, Olivier Berrouet, filho do grande enólogo do Petrus, Jean-Claude Berrouet que produziu 45 safras do mítico vinho.
Por fim, os agradecimentos pela imensa generosidade dos confrades em proporcionar este encontro inesquecível. Independente do alto nível dos vinhos, a conversa e integração do grupo é o mais importante nesses encontros. Saúde a todos!
Etiquetas: dom pérignon, enogastronomia, Harmonização, Nelson Luiz Pereira, oenotheque, olivier berrouet, petrus, pomerol, restaurante parigi, saute loup, sommelier, terroir, vinho sem segredo
Deixe uma Resposta