Para quem gosta de peixes e frutos do mar, mesmo no inverno há receitas reconfortantes, de sabores intensos, que chegam borbulhando nas mesas. É o caso das moquecas, tão populares no Brasil, sobretudo as capixaba e baiana. Além delas, as famosas caldeiradas, além de risotos e outros arrozes com frutos do mar. Neste artigo, vamos passar por essas iguarias, propondo as melhores harmonizações.
Moquecas
Se você não gosta de leite de coco e dendê, vá de moqueca capixaba. Muito aromática e saborosa, costuma ter menos corpo e textura mais delicada que a baiana. O caminho é ir por brancos aromáticos, de boa acidez, e que tenham sabores de ligação com o prato. Um belo Sauvignon Blanc do Novo Mundo vai muito bem, e os chilenos estão bem do lado. Procure pelos vales frios do Chile como Casablanca, San Antônio ou Limari. O Sauvignon Blanc Terrunyo da gigante Concha Y Toro é uma bela pedida. Um Alvarinho de boa textura como Soalheiro ou Palácio da Brejoeira são opções muito interessantes também. Vinhos das importadoras Mistral e Vinci, respectivamente.
moqueca capixaba e a famosa panela de barro
Partindo agora para a moqueca baiana, mais encorpada, mais intensa, mais apimentada, o branco precisa ter mais força e textura para aguentar o prato. Evidentemente, os bons Chardonnays com alguma passagem por madeira são a primeira escolha. Alguns Chenin Blanc do Loire com certo envelhecimento também dão bom casamento. Os traços de marmelo e notas amendoadas destes vinhos casam bem com os sabores do dendê. Vinhos elaborados com Sémillon fermentado em barricas também têm sucesso com o prato. Como dica, Bodega Ritticelli faz um ótimo Sémillon na Patagônia argentina importado pela Winebrands que vale a pena.
Caldeiradas, Ensopados
A receita original da caldeirada leva uma série de ingredientes em camada incluindo cebola, pimentão, temperos, batatas em rodelas não muito finas, peixes e frutos do mar crus, além de água. Tudo é cozido junto. No final, torna-se quase uma sopa de frutos do mar. Neste caso, o vinho deve ter uma textura mais delgada, boa acidez, e mineralidade presente. Os vinhos verdes mais leves são boas pedidas, além de bons exemplares dos brancos do Dão. Brancos de Rueda e alguns albariños espanhóis mais leves podem acompanhar bem.
bordaleses de elite como Pape Clément
(os brancos bordaleses são baseados na Sémillon que dão textura e estrutura ao vinho, enquanto a Sauvignon Blanc fornece acidez e aromas ao conjunto)
Outros ensopados inspirados na caldeirada podem ter sabores mais pronunciados e textura do caldo mais espessa. O vinho deve acompanhar esta crescente, ganhando corpo e estrutura. Um bom branco bordalês da região de Pessac-Leognan (antigamente Graves) é uma pedida original e surpreendente.
Caldeirada: Cantina do Marinheiro
Uma das mais tradicionais Caldeiradas na Cantina do Marinheiro, bairro do Brás, fundada em 1942. Pratos bem servidos, à moda antiga.
Risotos, Arrozes
Neste caso onde o arroz está presente, tudo é uma questão de textura e intensidade de sabores dos caldos. Os chamados arrozes caldosos, onde o aspecto fica entre um risoto e uma sopa, geralmente são mais delicados. Os vinhos devem acompanhar estas características, sendo relativamente leves, minerais e elegantes. Rieslings alemães do Mosel, e até alguns austríacos podem surpreender.
arroz de mariscos
(uma das sete maravilhas de Portugal da região de Leiria. Um arroz caldoso muito saboroso. Juntamente com o leitão da Bairrada e outras iguarias, são patrimônios gastronômicos de Portugal)
À medida em que vamos dando mais untuosidade e sabores ao arroz, chegamos aos belos risotos com arroz arborio ou carnaroli que dão aquela textura aveludada no prato. Brancos à base de Chardonnay, Sémillon, e Viognier, têm textura e intensidade de sabor para o prato.
Chateauneuf-du-Pape Blanc de elite
(Uma obra-prima do Chateau de Beaucastel elaborado com 100% Roussanne, uva de difícil cultivo e baixos rendimentos. Sabores exóticos e marcantes)
Uma harmonização original seria com os brancos do Rhône. Os do Rhône-Norte como Hermitage e Condrieu, são mais elegantes e com mais acidez. Os Hermitages precisam de tempo para envelhecer. Já os Condrieu (elaborado com Viognier) são mais aromáticos e florais. Quanto aos do Rhône-Sul, emblematizados sob a apelação Chateauneuf-du-Pape, são mais gordos, aromáticos, e macios. Alguns carecem de acidez e muitas vezes não envelhecem adequadamente. Portanto, prefira os mais jovens.
Enfim, uma ampla seleção de pratos de inverno com peixes e frutos do mar, fazendo uma refeição saborosa e saudável. Não caia nas indicações de vinhos tintos que alguns “professores pardais” indicam por aí. Nós já consumimos tão pouco os vinhos brancos que não vale a pena correr riscos. Afinal, belas e variadas opções não faltam no mercado, conforme explanação acima. Bom Apetite!
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