Os grandes Bordeaux são sempre momentos de raro prazer, sobretudo quando você degusta um dos seus preferidos. Pessoalmente, Chateau Haut Brion está entre os três que mais aprecio, principalmente por sua regularidade, além de Latour e Cheval Blanc. Este último a propósito, teremos um artigo detalhado em breve.
Haut Brion tem uma particularidade sobre os tintos do Médoc por elaborar brancos de rara complexidade. A única exceção clássica seria o Pavillon Blanc du Chateau Margaux, elaborado de longa data. Voltando ao tema, vamos aos pormenores desta degustação fantástica ocorrida no restaurante Mani.
Antes porém, aquele champagne para preparar as papilas. Nosso Camarguinho está nos acostumando mal. Agora ele elegeu Dom Perignon P3 como champagne oficial do grupo. A confraria agradece, mantendo o habitual nível na sequência de vinhos.
Este P3 safra 1985 passou mais de 25 anos sur lies, cumprindo o protocolo de terceira plenitude. De caráter mais vinoso que outras safras provadas, tinha uma textura incrível na boca com mousse ultra delicada. Seus aromas e sua expansão em boca eram notáveis. Um champagne de exceção!
Os brancos do Chateau
A raridade do Chateau Haut Brion Blanc começa com sua diminuta área de vinhedo, apenas 2,9 hectares de vinhas com as uvas Sémillon e Sauvignon Blanc, plantadas em proporções praticamente iguais. Os solos argilo-arenosos são notavelmente pedregosos, justificando o nome da região “Graves”. A média de idade das vinhas são de 30 anos. Os vinhedos ficam em Pessac, praticamente nos subúrbios da cidade de Bordeaux. O vinho passa por um interessante trabalho com barricas francesas, boa parte novas, tanto na fermentação, como no amadurecimento entre 13 e 16 meses. A produção anual dos brancos não passam de 600 caixas.
começo arrasador
Já no primeiro flight, os dois melhores brancos da história do Chateau. Reparem na foto acima, a mudança do nome da apelação. Até 1987, temos Graves AOC. No caso do 89, já aparece Pessac-Leognan AOC. Voltando aos brancos, o 85 estava super evoluído, mas não oxidado. Começando pela cor, seu dourado estava bem presente e evoluído. Os aromas também com frutas como damasco e outras frutas secas. O mais interessante, era um curioso aroma de Cognac, confirmando sua plena evolução. Ficou muito bem com uma entradinha composta por atum, creme de abacate, e torrada de milho.
combinação inusitada
Agora o Haut Brion Blanc 89 estava um arraso. Pleno de aromas e sabores, tinha uma textura untuosa incrível que lembrava alguns Meursaults. Bela evolução, belo momento para apreciação, num equilíbrio notável e uma expansão em boca memorável. Eu o harmonizaria com um belo prato de Haddock com molho cremoso. Nota 100 com louvor!
outra dupla de respeito
Pena que o 2008 estivesse oxidado, pois é bem cotado com 94 pontos Parker. Em compensação, o Haut Brion 2010 estava em plena forma. Não tem a estrutura do 89, mas será certamente um grande Haut Brion. Sua acidez, sua vivacidade e mineralidade, são notáveis. Os aromas mais cítricos, de carambola, de mel, além de um perfeito equilíbrio, o credencia a bons anos em adega.
Os tintos do Chateau
dois clássicos do Chateau
Começando agora com os tintos, o Haut Brion 82 estava uma maravilha, garrafa perfeita. Os aromas clássicos do Chateau com notas terrosas, de curral, tabaco, trufas, especiarias, e uma fruta decadente (bem madura). Sem nenhum sinal de fragilidade, pode permanecer neste platô por muitos anos. O Haut Brion 85 segue no mesmo caminho, mas sem todo esplendor de seu par no flight.
trio parada dura!
Acima temos praticamente 300 pontos na mesa, cada qual em seu momento de evolução. O Haut Brion 2000 foi o infanticídio do almoço. Parker vem aumento sua nota paulatinamente e sua ultima avaliação foi 99+, quase perfeito. De fato, seus aromas elegantes com muita fruta, taninos finíssimos, e equilíbrio perfeito, justificam a nota. O Haut Brion 90 também com notas seguidamente aumentadas, bate 98 pontos Parker. Esse já numa bela evolução, embora ainda com chão pela frente. Poderia ter deixado ainda mais saudades, se não fosse pela presença ao lado de um monstro chamado Haut Brion 1989. Se alguém coloca-lo como um dos cinco melhores Bordeaux já degustados, assino embaixo. Uma verdadeira obra de arte!
merece uma foto exclusiva
O mais impressionante neste 89 é sua rica textura, quase glicerinada. Aqueles aromas clássicos estão lá, mas com uma força, pujança, e persistência aromática extraordinárias. Um tinto que deve evoluir por décadas, mas já absolutamente delicioso. Será certamente um dos grandes Haut Brion da história!
bela combinação!
Um dos melhores pratos do almoço, leitoa assada, pururucada, com farofa e purê de maça, foi muito bem com os tintos evoluídos, especialmente o 82. Os aromas defumados do prato e a textura delicada da carne casaram perfeitamente com os aromas e sabores do vinho.
texturas harmônicas
Passando a régua, um Yquem de uma safra solar, 2003. Às cegas, parecia um Yquem mais antigo, sobretudo pela cor já evoluída. De rica textura, a qual combinou bem com o chocolate, e acidez discreta, mostrou-se rico em aromas e sabores, e perfeitamente agradável para consumo imediato. Pode ser temeroso em guarda-lo por muito tempo em adega.
Enfim, mais uma batalha vencida com nobres soldados sempre unidos. Agradecimentos especiais ao nosso Maestro-General por sua generosidade infinita. Que Bacco nos proteja nesta guerra sem fim! Continência a todos!
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